BOLETIM PRESENÇA ANO II, nº 03, 1995



Documentos relacionados
OS CLIMAS DO BRASIL Clima é o conjunto de variações do tempo de um determinado local da superfície terrestre.

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PODCAST CIÊNCIAS HUMANAS

CLIMATOLOGIA. Profª Margarida Barros. Geografia

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM VASSOURAS - RJ

O Clima do Brasil. É a sucessão habitual de estados do tempo

PAUTA DO DIA. Acolhida Revisão Interatividades Intervalo Avaliação

Os principais tipos climáticos mundiais

CLIMAS DO BRASIL MASSAS DE AR

CAPÍTULO 13 OS CLIMAS DO E DO MUNDOBRASIL

Os diferentes climas do mundo

COLÉGIO SÃO JOSÉ PROF. JOÃO PAULO PACHECO GEOGRAFIA 1 EM 2011

Climas do Brasil GEOGRAFIA DAVI PAULINO

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM ITAPERUNA - RJ

Climas e Formações Vegetais no Mundo. Capítulo 8

Climatologia GEOGRAFIA DAVI PAULINO

AS FORMAÇÕES VEGETAIS DO GLOBO E DO BRASIL

CAPÍTULO 8 O FENÔMENO EL NIÑO -LA NIÑA E SUA INFLUENCIA NA COSTA BRASILEIRA

Geografia do Brasil - Profº Márcio Castelan

Exercícios sobre África: Características Físicas e Organizações Territoriais

MAS O QUE É A NATUREZA DO PLANETA TERRA?

Os Grandes Biomas Terrestres. PROF Thiago Rocha

Elementos e fatores climáticos

FATORES CLIMÁTICOS ELEMENTOS ATMOSFÉRICOS ALTERAM A DINÂMICA LATITUDE ALTITUDE CONTINENTALIDADE MARITIMIDADE MASSAS DE AR CORRENTES MARÍTIMAS RELEVO

BRASIL NO MUNDO: FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL. Nossas fronteiras-problema : Fusos horários Mundiais

PROGNÓSTICO TRIMESTRAL (Setembro Outubro e Novembro de- 2003).

Exercícios Tipos de Chuvas e Circulação Atmosférica

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MAPA Instituto Nacional de Meteorologia INMET Coordenação Geral de Agrometeorologia

Classificações climáticas

Climatologia. humanos, visto que diversas de suas atividades

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA CONCEITOS INICIAIS. Professor: Emerson Galvani

PROGNÓSTICO DE ESTAÇÃO PARA A PRIMAVERA DE TRIMESTRE Outubro-Novembro-Dezembro.

Ciências Humanas e Suas Tecnologias - Geografia Ensino Médio, 3º Ano Bacias Hidrográficas Brasileiras. Prof. Claudimar Fontinele

Distribuição e caraterização do clima e das formações vegetais

Elementos Climáticos CLIMA

Prof: Franco Augusto

Projeto Facilita. Queiroz foi levado para o Pinel porque estaria muito exaltado

Data: / / Analise as proposições sobre as massas de ar que atuam no Brasil, representadas no mapa pelos números arábicos.

EXERCÍCIOS DE REVISÃO - CAP. 04-7ºS ANOS

IT AGRICULTURA IRRIGADA. (parte 1)

INFORMATIVO CLIMÁTICO

2 Caracterização climática da região Amazônica 2.1. Caracterização da chuva em climas tropicais e equatoriais

a) Cite o nome do estado brasileiro onde aparece a maior parte do domínio das araucárias. R:

GEOGRAFIA Questões de 35 a 42

Conteúdo: Aula 1: Movimentos da Terra: movimento de Translação e as estações do ano. Aula 2: Solstícios e Equinócios FORTALECENDO SABERES

Colégio São Paulo Geografia Prof. Eder Rubens

REGIÃO NORDESTE. As sub-regiões do Nordeste 2ª unidade

Fitogeografia do Brasil.

Fenômeno El Niño influenciará clima nos próximos meses

O CLIMA PORTUGUÊS: Noções básicas e fatores geográficos Regiões climáticas portuguesas

BLOQUEIOS OCORRIDOS PRÓXIMOS À AMÉRICA DO SUL E SEUS EFEITOS NO LITORAL DE SANTA CATARINA

Colégio Policial Militar Feliciano Nunes Pires

Domínios Florestais do Mundo e do Brasil

O MEIO AMBIENTE CLIMA E FORMAÇÕES VEGETAIS

01- O que é tempo atmosférico? R.: 02- O que é clima? R.:

ANÁLISE MULTITEMPORAL DO PADRÃO DE CHUVAS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO NO ÂMBITO DOS ESTUDOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

NOTA TÉCNICA: CHUVAS SIGNIFICATIVAS EM JUNHO DE 2014 NA REGIÃO SUDESTE DA AMÉRICA DO SUL

Sistema Sol-Terra-Lua

Características Climáticas da Primavera

VARIAÇÃO DA AMPLITUDE TÉRMICA EM ÁREAS DE CLIMA TROPICAL DE ALTITUDE, ESTUDO DO CASO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL, SP E SÃO PAULO, SP

1. o ANO ENSINO MÉDIO. Prof. Jefferson Oliveira Prof. ª Ludmila Dutra

DIVERSIDADE DE CLIMAS = DIVERSIDADE DE VEGETAÇÕES

PROF. JEFERSON CARDOSO DE SOUZA

Clima e Formação Vegetal. O clima e seus fatores interferentes

INFLUÊNCIA DE FASES EXTREMAS DA OSCILAÇÃO SUL SOBRE A INTENSIDADE E FREQUÊNCIA DAS CHUVAS NO SUL DO BRASIL

Massa de ar é um grande volume de ar atmosférico com características semelhantes de temperatura,pressão e umidade.suas características correspondem

Respostas das questões sobre as regiões do Brasil

Fenômenos e mudanças climáticos

AS CHUVAS E AS SECAS INFLUENCIADAS PELO EL NIÑO E LA NIÑA NO SUL E NORDESTE BRASILEIRO

GEOGRAFIA - RECUPERAÇÃO

GEOGRAFIA DO BRASIL CLIMA

Pesquisa da EPAMIG garante produção de azeitonas

Cap. 4 Paisagens Climatobotânicas

Cobertura de saneamento básico no Brasil segundo Censo Demográfico, PNAD e PNSB

Geografia QUESTÕES de 01 a 06 INSTRUÇÕES: Questão 01 (Valor: 15 pontos)

TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRNTE 8 A - aula 25. Profº André Tomasini

vegetação massas líquidas latitude altitude maritimidade

ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA RMSP. Col. Santa Clara Prof. Marcos N. Giusti

A BIOSFERA DO BRASIL (I) AULAS 34 E 35

vegetação massas líquidas latitude altitude maritimidade

A diversidade de vida no planeta. Que animais selvagens você conhece? Em que ambiente natural e continente você acha que eles tem origem?

PROVA DE GEOGRAFIA 4 o BIMESTRE DE 2012

COLÉGIO MARQUES RODRIGUES - SIMULADO

AMÉRICA: ASPECTOS NATURAIS E TERRITORIAIS

Análise do comportamento da temperatura e da umidade relativa do ar em diferentes locais da cidade de Mossoró-RN durante as quatro estações do ano.

Profª:Sabrine V.Welzel

reverse speed, results that it showed an increase of precipitations in the rainy

Enchente - caracteriza-se por uma vazão relativamente grande de escoamento superficial. Inundação - caracteriza-se pelo extravasamento do canal.

DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES FORTALECENDO SABERES GEOGRAFIA DESAFIO DO DIA. Aula 21.1 Conteúdo. Região Sudeste

Instituto de Educação Infantil e Juvenil Verão, Londrina, de. Nome: Turma: Tempo: início: término: total: MUDANÇAS CLIMÁTICAS

A interdependência entre os elementos na BIOSFERA.

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

FACULDADE SUDOESTE PAULISTA CURSO - ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA- HIDROLOGIA

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS. Elaborado por: Aziz Ab Saber Contém as seguintes características: clima relevo Vegetação hidrografia solo fauna

VARIAÇÃO DA RADIAÇÃO SOLAR AO LONGO DO ANO EM PORTUGAL

FORMAÇÃO VEGETAL BRASILEIRA. DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS Aziz Ab`Saber. Ipê Amarelo

7. o ANO FUNDAMENTAL. Prof. a Andreza Xavier Prof. o Walace Vinente

A distribuição da população mundial

GEOGRAFIA. O espaço brasileiro

Capítulo 5 A Geografia da União Europeia

VEGETAÇÃO. Página 1 com Prof. Giba

Transcrição:

BOLETIM PRESENÇA ANO II, nº 03, 1995 UNIR

COLONIZAÇÃO, SENSO COMUM E O CLIMA DE RONDÔNIA MARCOS CORTES COSTA * Resumo A variação das precipitações o grande diferenciador das estações climáticas de Rondônia. Praticamente não há primavera e outono definidos. A despeito da quantidade maior de precipitações em Rondônia, se comparado ao Centro-oeste, o clima (de Rondônia) se apresenta semelhante àquela área, com duas estações bem marcadas. O lençol freático e o nível dos rios apresentam uma notável variação entre o período chuvoso e o período seco. Esta variação provoca áreas de inundação em suas margens, e problemas na perfuração de poços para obtenção de água. Um poço perfurado no período chuvoso terá que ser aprofundado, e muito, no período seco. Palavras-Chave: Lençol Freatico, Profundidade e Manutenção. Abstract The variation of the precipitations the big differentiating of the climatic stations of Rondônia. Practically there are not spring and autumn defined. In spite of the larger amount of precipitations in Rondônia, if compared to the Center-west, the climate (of Rondônia) he/she comes similar the that area, with two stations well marked. The sheet freático and the level of the rivers present a notable variation between the rainy period and the dry period. This variation provokes flood areas in your margins, and problems in the perforation of wells for obtaining of water. A well perforated in the rainy period he/she will have to be deepened, and a lot, in the dry period. Words-Key: Sheet Freatico, Depth and Maintenance. 1

Ao analisarmos o clima de Rondônia, alguns aspectos curiosos se destacam. Um deles diz respeito à questão das estações do ano. Devido à sua proximidade com o equador, Rondônia apresenta-se quente durante todo o ano, não apresentando variações térmicas que possam marcar as estações. As variações térmicas estão associadas à nebulosidade, ao movimento das massas de ar e às chuvas, o que torna difícil definir o tipo de estação que se apresenta em dado período do ano. Rondônia apresentou duas fases de colonização: A primeira, mais antiga, foi durante a fase da borracha quando o Estado recebeu imigrantes, principalmente nordestinos. Por uma questão cultural, na linguagem popular, a palavra "inverno", passou a ser sinônimo de "chuvas" e o período chuvoso, que vai de novembro a março, passou a ser conhecido como inverno. Posteriormente na fase mais recente da colonização, o Estado passou a receber imigrantes oriundos do Sul do Brasil e para essas pessoas o inverno era o período seco do meio do ano. Isto gerou um pequeno "choque cultural" entre aqueles que se acostumaram a associar a estação chuvosa com o inverno, e os novos colonos que não associavam o inverno à chuvas e sim ao frio. De fato, as estações do ano são muito determinadas em áreas temperadas e subtropicais, que apresentam quatro estações claramente definidas. Como Rondônia apresenta temperaturas estáveis ao longo do ano, as chuvas são o único elemento capaz de provocar diferenças visíveis na determinação das estações do ano. Desta forma o Estado apresenta duas estações: uma seca no meio do ano; e outra chuvosa, de novembro a março. Na medida em que o clima da região está sendo melhor conhecido, passase a notar que apesar de apresentar influências equatoriais com atuação da massa de ar equatorial na estação chuvosa, o clima é tipicamente tropical com duas estações bem definidas: Seco no inverno e chuvas de verão. É desta forma que NIMER (1989), classifica o clima dessa área: "clima quente, tropical úmido com três meses secos" (vide mapa pag. 387, op. cit.). Portanto, por esta área estar situada no hemisfério sul, a forma correta de considerar as estações é: Verão chuvoso e inverno seco. De fato, é a variação das precipitações o grande diferenciador das estações climáticas de Rondônia. Praticamente não há primavera e outono definidos. A 2

despeito da quantidade maior de precipitações em Rondônia, se comparado ao Centro-oeste, o clima (de Rondônia) se apresenta semelhante àquela área, com duas estações bem marcadas. Isto nos remete a um outro problema com consequências ambientais: A grande variação hídrica apresentada entre o período chuvoso e o período seco. Isto tem consequências no lençol freático e, por conseguinte, no estabelecimento de práticas agrícolas e na ocupação do solo. O lençol freático e o nível dos rios apresentam uma notável variação entre o período chuvoso e o período seco. Esta variação provoca áreas de inundação em suas margens, e problemas na perfuração de poços para obtenção de água. Um poço perfurado no período chuvoso terá que ser aprofundado, e muito, no período seco. Os poços de Rondônia devem ser necessariamente muito profundos para acompanhar a variação do lençol freático. Tal variação traz problemas no estabelecimento de práticas agrícolas e culturas permanentes que tendem a sofrer falta d'água no período seco apresentando seca fisiológica e necessitando de irrigação para manutenção de níveis de produção elevados. Outra consequência é a ocupação do solo pois uma área aparentemente boa para ocupação humana no período seco vai se transformar num terreno alagado no período das chuvas. Isto afeta, sobretudo, populações de baixa renda, a exemplo do bairro "Cai- N'agua", em Porto Velho. Esse bairro por estar situado em área sujeita a inundação provocada pela cheia do Rio Madeira, apresenta sérios problemas com ocupação no período seco e ficando alagada no período chuvoso. Por outro lado, uma área agrícola poderá apresentar-se como área de boa "aguada" no período chuvoso para se revelar como área muito seca no meio do ano. Muitos colonos que vieram para Rondônia comprar terra agrícola cometeram este tipo de engano, com isto alguns descobriram que sua área era muito seca no meio do ano, o que inviabilizava certas culturas permanentes, enquantos outros descobriram que compraram um "brejo", onde esperavam terreno seco. Finalmente, o clima de Rondônia necessita ser melhor conhecido para se adequar às culturas e práticas agrícolas no Estado, pois a área não é boa para o cultivo de certos produtos que produzem bem em áreas do sul do País, mas que apresentam sérios problemas quando transplantados para Rondônia. Somente com o tempo é que o Estado poderá melhor determinar sua vocação agrícola para 3

abastecer o mercado consumidor com produtos próprios de Rondônia. Poderá, assim, adequar melhor o homem ao clima da região. * Prof. do Departamento de Geografia/UNIR BIBLIOGRAFIA: NIMER, Edmon. Climatologia do Brasil. 2º edição, IBGE, R.J., 1989. 4