PROVÉRBIOS - DE ENTRE MIL, ESCOLHA UM. Provérbios. de entre mil, escolha um. Alfredo Cabral. Obra póstuma de Alfredo Cabral 3



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Transcrição:

Provérbios de entre mil, escolha um. Alfredo Cabral Obra póstuma de Alfredo Cabral 3

EDIÇÃO : Alfredo Nuno Martins Branco Cabral E-mail: as1555543@sapo.pt TÍTULO : PROVÉRBIOS de entre mil, escolha um AUTOR : Alfredo Cabral REVISÃO E FORMATAÇÃO : Alfredo Nuno Martins Branco Cabral CAPA : Alfredo Nuno Martins Branco Cabral 1ª Edição LISBOA, 2011 IMPRESSÃO E ACABAMENTO : Agapex ISBN: 978-989-20-2444-8 DEPÓSITO LEGAL : 327334/11 Alfredo Cabral PUBLICAÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO : Sítio do Livro, Lda. Lg. Machado de Assis, lote 2, Porta C 1700-116 Lisboa www.sitiodolivro.pt Obra póstuma de Alfredo Cabral 4

Introdução No meio do espólio literário de Alfredo Cabral, encontravam-se maços de verbetes contendo alguns dos mais conhecidos ditados populares e junto uma lista de palavras que exprimiam profissões, estações do ano, actividades agrícolas e outras. A finalidade de tudo isto era coleccionar provérbios e arrumá-los por diversas rubricas de acordo com o sentido predominante de cada um. Estava ali o embrião de qualquer sonho, possivelmente para preparar mais uma publicação. Sem pretensões de trazer a lume uma obra de mérito, esta recolha é um simples desejo de homenagear a memória de Alfredo Cabral. Foi na sua modéstia de Técnico Superior do Ministério da Educação, um incansável defensor do nosso maior património nacional, que é a nossa língua. Formado, primeiro pela Escola do Magistério Primário, depois pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, no grupo de Filologia Clássica, a sua luta na vida, foi porfiada, em busca do ideal que o norteava, o bem estar da humanidade, começando pelo bem estar da família, não se poupando a trabalhar dia e noite nas mais diversas actividades. A corroborar parte desta afirmação basta dizer que durante muitos anos foi, comulativamente, funcionário do Ministério da Educação e professor de Português, em horário nocturno, na Escola Industrial Marquês de Pombal, hoje Escola do Ensino Secundário e ao mesmo tempo ainda conseguia preparar particularmente alunos na discíplina de latim. Numa primeira fase recriou alguma poesia lírica que a mocidade e a sensibilidade de um coração bondoso lhe inspiravam e voltou-se mais tarde para matérias pedagógicas (Tabuada Ratinho) e sobretudo linguísticas, das quais deixou algumas publicações. Assim, foi durante vários anos Director e principal colaborador do Jornal O Educador, para passar a escrever unicamente na Escola Portuguesa, boletim oficial do mesmo Ministério, isto para além de outras actividades inerentes à categoria de Chefe de Secção. Para além de muita outra colaboração nesse boletim, mantinha a rubrica Lingua e Linguagem de especial agrado para os leitores pelos ensinamentos que dela colhiam. E foi, este exemplo de trabalho permanente, em que 71 anos de vida não lhe devem ter proporcionado 71 dias de descanso que me fez pegar numa dezena de rifões e deitar mãos à obra, obra sem mérito, certamente, mas também sem qualquer espécie de ambições. Não está a bibliografia portuguesa desprovida de autores que se tenham dedicado à recolha de provérbios, rifões, adágios ou anexis. Não pretendemos, portanto, trazer novidades. Provérbios são valores da cultura popular, que temos obrigação de preservar e divulgar. Na verdade ditados velhos, são evangelhos e fica sempre o rifão e o bom conselho não. Eles são uma riqueza de ensinamentos. Na generalidade dos casos de forma rimada, musicada, fixam-se com muito menos esforço e mais agrado que qualquer outra lição. E, em tão poucas palavras há, tantas vezes, uma tão grande amplitude de pensamentos!... Bem podiam as escolas utilizar o nosso rifoneiro, com mais frequência no ensino da Língua Mãe, pois ao mesmo tempo estariam a ensinar moral, ciência da natureza, regras da alimentação, de higiene, em suma, regras de bem viver. Alda Branco (a teu pedido, e à tua memória, querida mãe) - Alfredo Nuno Cabral Obra póstuma de Alfredo Cabral 5

Obra póstuma de Alfredo Cabral 6

A Obra póstuma de Alfredo Cabral 7

A ADMI ISTRAÇÃO Bem sabe mandar quem bem sabe obedecer. Casa que não é ralhada não é bem governada. Em sua casa governa o sapateiro como o galo em seu poleiro. Empreitada, quer-se vigiada. Faz-se a roupa conforme o pano. Governar cobiçoso faz desvergonhada a justiça. Mais faz a vista do amo que as suas mãos. Mais vale bom administrador que bom trabalhador. Mais vale um que bem mande do que dois que bem façam. Mais vale uma vista do dono que em brados do abegão. Não sabe governar quem a todos quer contentar. Novo rei, nova lei. Nunca falta rei que nos governe nem papa que nos excomungue. Poucas leis, bom governo. Pouco mande quem quer que muito lhe obedeçam. Só quem a si se governa pode governar os outros. Uma boa cabeça vale cem mãos. Vale mais um bom mandador que um bom trabalhador. AMBIÇÃO A ambição cerra o coração. A ambição enche a cabeça e o coração. A boca do ambicioso só se enche com terra de sepultura. A filha do oleiro não quebra a bilha sem proveito. A quem tudo quer nada se lhe dá. Ao avarento tanto lhe falta o que tem como o que não tem. Ao pobre falta muito e ao avaro tudo. Aquele que traz é sempre bem vindo. Cada qual chega a brasa à sua sardinha. Da feia e da formosa a mais proveitosa Do alto cai quem alto sobe. É da proibição que nasce a tentação. É de pouco saber quem se mata pelo que não pode haver. Galgo que muitas lebres levanta, nenhuma apanha. Mais mata a gula que a espada. Mau é ter os olhos maiores que a barriga. Minha filha Teresa quanto vê quanto deseja. Muita cobiça e muita diligência, pouca vergonha e pouca consciência. Na arca do avarento o diabo jaz dentro. Nada tem quem se não contenta com o que tem. Não é pobre o que tem pouco senão o que deseja muito. Não há maior tolice que viver pobre para morrer rico. Não tem nada quem nada lhe basta. Obra póstuma de Alfredo Cabral 8

O ambicioso porfia e não confia. O avarento onde tem o tesouro tem o entendimento. O avarento por um euro perde um cento. O avarento rico não tem parente nem amigo. O demasiado rompe o saco. O escasso cuida que poupa um e gasta quatro. O fruto proibido é o mais apetecido. O mel é pouco e os lambedores muitos. O que chega para o pequeno não basta para o grande. O que corre atrás de duas lebres, nenhuma apanha. O ventre sacia-se; os olhos não. Os homens sobem por ambição e por ela vêm ao chão. Padres e patos nunca estão satisfeitos. Pedir a avarento é cavar no mar. Por melhoria minha casa deixaria. Quando todo o vício envelhece, avareza reverdesce. Quanto maior é a riqueza, maior é a ambição. Quanto mais alta a ambição maior a queda. Quanto mais temos, mais queremos. Quem compra sem ter, vende sem querer. Quem de mais avança pouco alcança. Quem deixa o certo pelo incerto, nas coisas do mundo é pouco esperto. Quem mais tem mais quer. Quem menos merece mais deseja. Quem muito abarca pouco abraça. Quem quer mais do que lhe convém, perde o que quer e o que tem. Quem tudo quer vingar, cedo quer acabar. Quem tudo quer, tudo perde. Rico avarento é arvore sem fruto. Rompe-se o saco à força de querer enchê-lo. Se no pombal houver milho, pombas não faltarão Tudo falta a quem tudo quer. Vêem os olhos o que o coração deseja. (MESES DO) A O - Janeiro A lebre em Janeiro está na cama ou no lameiro. Água de Janeiro vale dinheiro. Ao galgo mais lebreiro, foge a lebre em Janeiro. Ao luar de Janeiro se conta o dinheiro. Bácoro de Janeiro com seu pai vai ao fumeiro. Bons dias em Janeiro enganam o homem em Fevereiro. Bons dias em Janeiro, vêm-se a pagar em Fevereiro. Canta o melro em Janeiro, temos neve até ao rolheiro. Chuva em Janeiro e não frio, vai dar riqueza ao estio. De flor de Janeiro, ninguém enche o celeiro. Em dia de Santa Luzia mingua a noite e cresce o dia. Obra póstuma de Alfredo Cabral 9

Em Janeiro pasta a lebre no lameiro e o coelho à beira do regueiro. Em Janeiro deixa o rábano ao rabaneiro. Em Janeiro mete obreiro, mês meante que não ante. Em Janeiro sete capelos e um sombreiro. Em Janeiro todo o cavalo é sendeiro. Em Janeiro um porco ao sol outro ao fumeiro. Em Janeiro, cada ovelha com seu cordeiro. Em Janeiro, sobe ao outeiro; se vires verdejar põe-te a chorar; se vires branquear põe-te a cantar. Escalos em Janeiro têm o sabor de carneiro. Galinha de Janeiro vai pôr com sua mãe ao poleiro. Goraz de Janeiro, vale carneiro. Janeiro geoso, Fevereiro nevoso, Março molinhoso Abril chuvoso, fazem o ano formoso. Janeiro quer-se geadeiro. Janeiro aumenta uma hora por inteiro. Janeiro e Fevereiro enchem ou vazam o celeiro. Janeiro frio ou temperado, passa-o enroupado. Janeiro greleiro, não enche o celeiro. Janeiro molhado, se não é bom para o pão, não é mau para o gado. Janeiro quente, traz o diabo no ventre. Janeiro fora, mais uma hora, e quem bem contar, hora e meia há-de achar. Janeiro frio e molhado, enche a tulha e farta o gado. Luar de Janeiro não tem parceiro, mas lá vem o de Agosto que lhe dá de rosto. Mais vale laranja de Janeiro, que maçã do madureiro. O boi e o leitão em Janeiro criam rinhão. (gordura) O mês de Janeiro, como bom cavaleiro, assim acaba como à entrada. Obreiro de Janeiro pão te comerá, mas obra te fará. Pescada de Janeiro, vale carneiro. Por São Sebastião laranjinha na mão. Por São Vicente alça a mão da semente. Quem azeite colhe antes de Janeiro, azeite deixa no madeiro. Quem em Janeiro lavrar tem sete pães para o jantar. Quem no Ano Novo não estria*, todo o ano pia ( * forma popular de estreia) Quem traz calça branca em Janeiro, ou é tolo ou tem pouco dinheiro. Se o Inverno não faz o seu dever em Janeiro, faz Fevereiro. Se queres bom alheiro, planta os alhos em Janeiro. Se queres bom madeiro, corta-o em Janeiro. Se queres ter bom ervilheiro, semeia no crescente de Janeiro. Seda em Janeiro, ou fantasia ou pouco dinheiro. Sol da Janeiro sempre anda detrás do outeiro. Sol de Janeiro, sai tarde e põe-se cedo. Solha em Janeiro é melhor que carneiro. Trovão em Janeiro, nem bom prado nem bom palheiro. Uma invernia de Janeiro e uma seca de Abril, deixam o lavrador a pedir. (MESES DO) A O - Fevereiro Obra póstuma de Alfredo Cabral 10

A castanha e o besugo em Fevereiro não tem sumo. Ai vem meu irmão Março, que fará o que eu não faço. Ao Fevereiro e ao rapaz perdoa-se quanto faz, se o Fevereiro não for secalhão nem o rapaz ladrão. Aveia de Fevereiro, enche o celeiro. Chuva de Fevereiro vale por estrume. Dia de São Brás a cegonha verás e se a não vires, o Inverno vem atrás. Em dia de São Matias, começam as enxertias. Em Fevereiro, cada sulco um regueiro. Em Fevereiro, mete obreiro. Fevereiro coxo, em seus dias vinte e oito. Fevereiro quente traz o diabo no ventre. Fevereiro, o mais curto mês, e o menos cortês. Lá vem Fevereiro que leva a ovelha e o carneiro. Não chovendo em Fevereiro, nem bom prado nem bom lameiro. Ou no começo ou no fundo, em Fevereiro vem o Entrudo. Para parte de Fevereiro, guarda o teu medeiro. Por São Brás, atirarás. Quando a Candelária chora, o Inverno já está fora; quando a candelária rir, o Inverno está para vir. Quando não chove em Fevereiro, nem bom prado nem bom centeio. Quer no começo quer no fundo, em Fevereiro vem o Entrudo. Se em Fevereiro houver neve e frio, é de esperar calor no estio. Vai-te embora Fevereiro, que não deixaste nenhum cordeiro. (MESES DO) A O - Março Água de Março é pior que nódoa no pano. Água de Março, quanta o gato molhe o rabo. De Março a Abril não há que rir. Em dia de São José, come-se, bebe-se e bate-se o pé. Em Março chove cada dia um pedaço. Em Março espetam-se as rocas e sacham-se as hortas. Em Março queima a velha o maço. Em Março tanto durmo como faço. Enxame de Março apanha-o no regaço; o de Abril não o deixes ir, o de Maio deixai-o. Entre Março e Abril o cuco há-de vir. Inverno de Março e seca de Abril deixam o lavrador a pedir. Mais vale uma chuvada entre Março e Abril., do que o carro, os bois a canga e o canil. Março duvidoso, São João furioso. Março liga a noite com o dia, o Manuel com a Maria, o pão com o mato e a erva com o sargaço. Março ventoso, casa a filha ao lavrador. Março virado de rabo é pior que o diabo. Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão. Março, marçagão, de manhã cara de cão à tarde de rainha e à noite de fuinha. Obra póstuma de Alfredo Cabral 11

Nasce erva em Março ainda que lhe dêem com um maço. No tempo do cuco tanto está molhado como enxuto. Páscoa em Março, fome ou martaço. Poda em Março, vindima no regaço. Quando em Março arrulha a perdiz, ano feliz. Quando florir o maracotão, os dias iguais são. Podar em Março é ser madraço. Quando o Março sai ventoso sai o Abril chuvoso. Se queres bom cabaço, semeia em Março. Secura de Março, ano de vinho. Sol de Março, pega como masso e fere com o maço. Tardes de Março, recolhe o teu dado. Temporã é a castanha, que por Março arreganha. Vento de Março, chuva de Abril, fazem o Maio florir. (MESES DO) A O - Abril A Aveia até Abril está a dormir. A rez perdida, em Abril cobra a vida. A ti chora todo o ano e a mim em Abril e Maio. A três de Abril o cuco há-de vir e se não vier até oito, está preso ou morto. Abril e Maio, chaves do ano. Abril frio e molhado enche o celeiro e farta o gado. Abril frio, trás pão e milho. Altas ou baixas em Abril vêm as Páscoas. Antes a estopa de Abril que o linho de Março. Chuvas na Ascenção das palhinhas fazem pão. Depois de Ramos, na Páscoa estamos. Do Grão te sei contar: que em Abril não há-de estar nascido, nem por semear. Domingo de Ramos molhado, ano melhorado. Em Abril abre a porta à vaca e deixa-a ir. Em Abril águas mil. Em Abril deixa o gado e vai onde tens de ir. Em Abril dorme o moço ruim e em Maio dorme o moço e o amo. Em Abril lavra as altas, mesmo com água pelo machil. Em Abril queijo mil e em Maio três ou quatro. Em Abril sai a cobra do covil. Em Abril, cada pulga dá mil. Em Abril, pelos favais vereis o mais. Em Abril, queima a velha o carro e o carril; e uma camba que guardou, em Maio a queimou. Em Abril, vai onde tens de ir e a casa vem dormir. Em tempo de cuco, pela manhã molhado e à noite enxuto. Enxame de Maio, dai-o; o de Abril guarda-o para ti. Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir. Manhãs de Abril, boas de andar e doces de dormir. Na semana de Ramos, lava teus panos; na da Ressurreição, lavarás ou não. Obra póstuma de Alfredo Cabral 12