PRODUÇÃO HIDROPÔNICA DE ALFACE CRESPA UTILIZANDO ÁGUAS SALOBRAS DO SEMIÁRIDO E DO RECÔNCAVO BAIANO 1 J. S. Silva 2 ; V. P. S. Paz 3 ; T. M. Soares 3 ; J. P. Fernandes 4 ; C. A. Santos 4 ; J. O. Mendonça 4 RESUMO: O processo de dessalinização gera além da água potável um rejeito salino e de poder poluente elevado, o qual pode ser utilizado na produção agrícola rentável dependendo das práticas culturais adequadas. Atualmente, os sistemas hidropônicos de cultivos são considerados mais eficientes no uso de água. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a viabilidade de utilização de águas subterrâneas salobras do Semiárido e do Recôncavo Baiano na produção hidropônica de alface crespa. O experimento foi composto por sete tratamentos, sendo T1 água doce; T2 - água de poço UFRB; T3 rejeito do poço Caminhoá; T4 água de poço Sapeaçu; T5 - rejeito do poço Sapeaçu; T6 - rejeito poço Conceição do Coité e T7 água salobra preparada com NaCl, resultando em valores de condutividade elétrica (CE SN ): 2,09; 2,94; 5,00; 4,85; 7,08; 11,17 e 11,80 ds m -1, respectivamente. O uso de águas salobras com a salinidade inferior a 3,0 ds m -1 proporcionou um incremento de produtividade de 17% da MFPA e não foi prejudicial às características de produção e qualidade visual da alface. A utilização de rejeito com a salinidade inferior a 7,0 ds m -1 proporcionou um incremento de produtividade de 4% da MFPA na alface crespa. Palavras chave: Hidroponia, águas subterrâneas, Lactuca sativa L. HYDROPONIC LETTUCE PRODUCTION USING BRACKISH WATERS SEMIARID AND RECÔNCAVO BAIANO ABSTRACT: The desalination process produces in addition to drinking water a saline waste and high-polluting power, which can be used in agricultural production profitable depending on the proper cultural practices. Currently crop hydroponic systems are considered one of the most efficient use of water. The objective of this study was to evaluate the technical feasibility of using brackish groundwater Semiarid and Recôncavo Baiano in the production of hydroponic lettuce. The experiment consisted of seven treatments, T1 - freshwater, T2 - well water UFRB, T3 - reject the well 1 Parte da Dissertação de Mestrado em Ciências Agrárias. 2 Mestre em Ciências Agrárias, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Campus de Cruz das Almas, CEP 44380-000, Cruz das Almas, BA. Fone (75) 3621-2798. E-mail: jucicleiass@gmail.com 3 Professor, Núcleo de Engenharia de Água e Solo, UFRB, Campus Cruz das Almas, BA. 4 Graduando em Agronomia, Núcleo de Engenharia de Água e Solo, UFRB, Campus Cruz das Almas, BA.
Caminhoa, T4 - well water Sapeaçu; T5 - reject the well Sapeaçu T6 - reject the well Conception of Coité and T7 - brackish water prepared with NaCl, resulting in electrical conductivity values (CE SN ): 2.09, 2.94, 5.00, 4.85, 7.08, 11.17 and 11.80 ds m -1, respectively. The use of brackish water with salinity less than 3.0 ds m-1 resulted in a productivity increase of 17% of the MFPA and was not detrimental to production characteristics and visual quality of lettuce. The use of waste with a salinity less than 7.0 ds m -1 to an increment of productivity 4% of the crisphead lettuce MFPA. Key words: Hydroponics, groundwater, Lactuca sativa L. INTRODUÇÃO Por muito tempo a população do Semiárido vem sofrendo com a escassez hídrica. No entanto, existem reservas subterrâneas nessas regiões, que podem ser exploradas. O Semiárido é coberto por rochas do embasamento cristalino, onde os poços utilizados para captação de água subterrânea geralmente são de baixas vazões e têm águas salobras, tornando restritivo o seu uso para a agricultura, além do elevado potencial de salinização dos solos e de águas receptoras. Em virtude da crescente demanda por água, cada vez mais se tem recorrido ao uso de águas salobras, mesmo em regiões onde se tem maior disponibilidade de águas superficiais e subterrâneas de boa qualidade, como o Recôncavo Baiano. Uma alternativa que pode favorecer o uso das águas salobras para o consumo humano é a sua dessalinização por osmose reversa. Por outro lado, o processo de dessalinização produz tanto água doce como rejeito, cuja salinidade frequentemente pode ter o dobro da concentração inicial. Recentes pesquisas vêm sendo realizadas com intuito de avaliar em cultivos hidropônicos a viabilidade de uso de águas salobras e rejeitos, que até então eram consideradas pouco recomendadas ou inadequadas para uso produtivo. Frente a esse quadro, a hidroponia se apresenta como uma alternativa que pode promover melhores condições de crescimento às plantas. Dentre suas vantagens, o uso eficiente da água e a contribuição nula ou inexistente do potencial mátrico sobre o potencial total da água podem contribuir para uma maior tolerância das plantas à salinidade. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a viabilidade técnica da utilização de águas subterrâneas salobras do Semiárido e do Recôncavo Baiano na produção hidropônica de alface crespa Verônica. MATERIAIS E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido na Unidade Experimental do Núcleo de Engenharia de Água e Solo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) no Município de Cruz das Almas BA (12º40 19 de latitude Sul, 39º06 23 de longitude Oeste, altitude média de 225 m). O experimento foi realizado em casa de vegetação no período de 05 de julho a 29 de agosto de 2011. A estrutura de hidroponia foi composta por 42 unidades experimentais, baseando-se
naquela descrita por SOARES et al. (2009). Cada parcela representou um sistema hidropônico NFT (técnica do fluxo laminar de nutrientes) independente. O experimento foi composto por sete tratamentos, sendo T1 (Testemunha) - água doce; T2 - água subterrânea de poço instalado na UFRB em Cruz das Almas (UFRB); T3 - rejeito da dessalinização da água de poço perfurado no distrito de Caminhoá, em Cruz das Almas (Caminhoá); T4 Combinação de 50% de água subterrânea de poço perfurado em Sapeaçu (distrito de Brito) + 50% de água doce; T5 - rejeito da dessalinização da água do poço de Sapeaçu; T6 - rejeito da dessalinização da água do poço de Conceição do Coité (distrito de Ipiranga) e T7 - água salinizada artificialmente com NaCl, com respectivos valores de condutividade elétrica da água (CE a ): 0,26; 1,28; 2,86; 3,06; 5,44; 10,19 e 10,25 ds m -1 e da solução nutritiva (CE SN ): 2,09; 2,94; 5,00; 4,85; 7,08; 11,17 e 11,80 ds m -1. Os sete tratamentos foram aleatorizados em seis repetições, coincidentes com o número de blocos, e ocuparam 42 parcelas. A água doce foi considerada tratamento controle água. Para o preparo da solução nutritiva foi utilizada a formulação apresentada por Furlani et al. (1999). Antes do preparo das soluções nutritivas, o ph das águas foi devidamente corrigido. Durante o experimento foram coletadas, a cada dois dias, amostras da solução nutritiva de cada parcela para determinação e monitoramento da condutividade elétrica (CE SN ) e do ph. Foram cultivadas três plantas de alface Verônica por perfil hidropônico. A colheita da alface crespa Verônica foi realizada aos 25 dias após o transplantio (DAT), sendo contado o número de folhas (NF), pesada a massa de matéria fresca da parte aérea (MFPA) e os valores de massa de matéria seca da parte aérea (MSPA) após secagem em estufa. Como ambos os fatores de avaliação constituíram tratamentos qualitativos, a análise dos dados foi executada mediante análise de variância e teste de média (Tukey a 5% de probabilidade) com o programa SAS. O rendimento relativo da alface em função do tipo de água salobra foi calculado em relação à produção obtida com o tratamento testemunha. RESULTADOS E DISCUSSÃO O ph da solução foi ajustado para a faixa considerada ideal (5,5 a 6,5) no dia do transplantio (DAP) e no 8º (DAP), no entanto, próximo à colheita houve aumento do ph; apenas a água salinizada artificialmente (T7) manteve-se na faixa ideal após a 2ª correção (Figura 1a). Foram registrados aumentos nos níveis solução ao longo do ciclo de cultivo, com exceção do tratamento controle (T1) em que de salinidade da à salinidade tendeu a diminuir e o tratamento T4 que foi praticamente constante ao longo do ciclo (Figura 1b). Em função das diferentes salinidades da solução nutritiva produzidas pelas águas salobras e rejeitos, o número de folhas por planta ficou entre 20 e 26 folhas (Figura 2a), a massa de matéria fresca da parte aérea por planta de alface crespa variou entre 78 e 210 g (Figura 2b) e a os valores obtidos em termos de massa de matéria seca variaram entre 6,0 e 12,4g (Figura 2b). Resultados semelhantes para essas variáveis foram encontrados por Blat et al. (2011). O número de folhas e as massas de matéria fresca e seca da parte aérea da alface crespa submetida às águas salobras naturais do Recôncavo Baiano, seja a de Cruz das Almas da UFRB (T2) ou de Sapeaçu (T4), não diferiram da testemunha (T1). O rejeito da dessalinização da água de Cruz das Almas do distrito de Caminhoá (T3) também não prejudicou a alface.
Por outro lado, tanto o rejeito da dessalinização da água do poço de Sapeaçu (T5) quanto o rejeito da dessalinização de Conceição do Coité (T6) prejudicaram o número de folhas e as massas de matéria fresca e seca da parte aérea da alface, quando comparados com a testemunha (T1). O mesmo resultado negativo foi obtido com a água salinizada artificialmente (T7), para as mesmas variáveis (Figura 2a; Figura 2b). Em termos de produção relativa da massa de matéria fresca da parte aérea, em comparação com a testemunha, foram determinados os seguintes rendimentos: incremento de 17% e 4% para o tratamento com água salobra do poço da UFRB (T2) e rejeito do poço do Caminhoá (T3). Para os tratamentos com água salobra de Sapeaçu (T4); rejeito do poço de Sapeaçu (T5); rejeito do poço de Conceição do Coité (T6) e água salinizada artificialmente com NaCl (T7) ocorreu redução de produtividade de 11%, 46%, 53% e 57%, respectivamente. (Figura 3a). Portanto, o uso dessas águas pode reduzir pela metade o rendimento da alface crespa, o que deve inviabilizar a produção comercial. Um atenuante para esse prejuízo pode ser a redução do espaçamento entre as plantas, de forma a aumentar a densidade e compensar a redução da produção por unidade de planta. A partir da MSPA foi calculada a produção relativa da alface crespa observou-se um incremento de produção nos tratamentos com água salobra do poço da UFRB (T2), rejeito do poço do Caminhoá (T3) e água salobra de Sapeaçu (T4) de 1,0%, 5,0% e 2,0%, ocorrendo reduções nos demais tratamentos de 35,4%, 35,1% e 49,5%, respectivamente, nos tratamentos com rejeito de Sapeaçu (T5); rejeito de Conceição do Coité (T6) e água salinizada artificialmente com NaCl (T7), para a alface crespa (Figura 3b). Assim como verificado para MFPA, acúmulo de MSPA não foi prejudicial pelo uso de águas salobras naturais (UFRB e Sapeaçu) e rejeito de Caminhoa, em relação à água doce; por outro lado os rejeitos de Sapeaçu e Conceição do Coité e, sobretudo a água salinizada artificialmente reduziram significamente a MSPA. CONCLUSÕES A utilização de águas subterrâneas salobras exploradas dos poços tubulares profundos da UFRB, de Sapeaçu e o rejeito da dessalinização do poço Caminhoá no Recôncavo Baiano, mostraram-se viável tecnicamente para produção de hortaliças como alface crespa Verônica. O uso dos rejeitos da dessalinização obtidos em Conceição do Coité (Semiárido) e em Sapeaçu (Recôncavo Baiano) produziu forte queda de produção e sintomas de toxidez no cultivo da alface crespa Verônica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLAT, S.F.; SANCHEZ, S.V.; ARAÚJO, J.A.C.; BOLONHEZI, D. 2011. Desempenho de cultivares de alface crespa em dois ambientes de cultivo em sistema hidropônico. Horticultura Brasileira, v. 29, n. 1, p. 135-138, 2011. FURLANI, P. R; SILVEIRA, L. C. P.; BOLONHEZI, D.; FAQUIN, V. Cultivo hidropônico de plantas. Campinas: IAC, 1999. 52p. (Boletim técnico, 180). SOARES, T. M.; DUARTE, S. N.; SILVA, E. F. F.; MELO, R. F.; Jorge, C.A. ; Oliveira, A. S.. Experimental structure for evaluation of saline water use in lettuce hydroponic production. Irriga, v. 14, p. 102-114, 2009.
Figura 1. Valores de ph (a) e condutividade elétrica (b) das soluções ao longo do ciclo em função do tipo de água. Figura 2. Número de folhas (a) e massas de matéria fresca e seca da parte aérea (b) da alface crespa em função dos tipos de água. Figura 3. Produção relativa de massas de matéria fresca (a) e seca da parte aérea (b) da alface crespa em função dos tipos de água.