CÁLCULO DE CO 2 GERADO APÓS O TRATAMENTO DE METANO NA USINA SÃO JOÃO E USO COMO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO



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Transcrição:

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI MONIQUE MORONE NUNES CÁLCULO DE CO 2 GERADO APÓS O TRATAMENTO DE METANO NA USINA SÃO JOÃO E USO COMO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO SÃO PAULO 2009

MONIQUE MORONE NUNES CÁLCULO DE CO 2 GERADO APÓS O TRATAMENTO DE METANO NA USINA SÃO JOÃO E USO COMO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia de Produção da Universidade Anhembi Morumbi Orientadora: Professora Dra. Adir Janete Godoy dos Santos

MONIQUE MORONE NUNES CÁLCULO DE CO 2 GERADO APÓS O TRATAMENTO DE METANO NA USINA SÃO JOÃO E USO COMO MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO LIMPO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Graduação do Curso de Engenharia civil com ênfase Ambiental da Universidade Anhembi Morumbi Trabalho em: de de 2009. Nome do Orientador Nome do professor da banca Comentários: SÃO PAULO 2009 Fonte arial tamanho 14

Dedico este trabalho aos meus pais José Carlos e Marisa e ao meu noivo Fernando.

AGRADECIMENTOS À Universidade Anhembi Morumbi, na pessoa do Magnífico Reitor Dr. Gabriel Mário Rodrigues. À Escola de Engenharia e Tecnologias da Universidade Anhembi Morumbi na pessoa do Professor Dr. Fabiano do Prado Marques. Ao Curso de Engenharia de Produção da Universidade Anhembi Morumbi na pessoa do Coordenador Professor Msc. Carlos Roberto Carneiro. Ao corpo docente pelo excelente trabalho realizado na minha preparação para enfrentar os desafios pessoais e profissionais. À minha orientadora, Professora Dra. Adir Janete Godoy dos Santos por orientar-me com competência, compreensão e objetividade. Ao Professor Msc. Francisco Carlos Damante pelo auxílio dado para a realização deste trabalho. Aos meus familiares que sempre me apoiaram. Ao meu noivo pela paciência e compreensão. A todos aqueles que contribuíram de alguma forma para a conclusão deste trabalho.

RESUMO Um dos mais graves problemas encontrados nos dias de hoje é a forma de disposição final dos resíduos sólidos, o que leva aos municípios a adotarem o aterro sanitário como destinação final por ser o método que menor impacta no meio ambiente e também por ser o de melhor custo benefício. O gás decorrente da decomposição do lixo pode causar diversos impactos ao meio ambiente, tal como a emissão do gás à atmosfera, causando o efeito estufa e conseqüentemente o aquecimento global. Porém este gás pode ser controlado em aterros sanitários evitando que este e outras ameaças ao meio ambiente ocorram, tais como a contaminação do solo, do ar e dos lençóis freáticos. O uso do biogás proveniente dos aterros sanitários, que é composto de 50% a 70% de metano, pode trazer benefícios para a região local com a geração de energia elétrica e com a venda de créditos de carbono, que está previsto no Protocolo de Quioto como um Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Neste estudo são apresentados conceitos presentes na literatura sobre o assunto que mostram como estes projetos contribuem com o desenvolvimento sustentável. O estudo de caso foi baseado na Usina Termelétrica da Biogás Energia Ambiental S/A, localizada junto ao aterro sanitário São João, com capacidade de produção instalada de 24,64MW.de energia, onde foram descritas as etapas desde a captação do gás até a geração de energia elétrica nos geradores. Concluiu-se que o projeto da Usina Termelétrica é viável sócio-economicamente, além de trazer benefícios ao meio ambiente, por ser energia limpa e sustentável. Palavras Chave: Aterro Sanitário, Lixo, Biogás, Usina Termelétrica, Créditos de Carbono.

ABSTRACT One of the most serious problems encountered today is the final disposal of solid waste, which leads to the municipalities to adopt the landfill as a disposal method that will be the lesser impacts on the environment and also for being the best cost benefit. The gas resulting from the decomposition of waste can cause several environmental impacts, such as sending gas to the atmosphere, causing the greenhouse effect and consequently global warming. But this gas can be controlled in landfills preventing this and other threats to the environment occur, such as soil contamination, air and groundwater. The use of biogas from landfills, which is composed of 50% to 70% methane, can benefit the local region with electricity generation and sale of carbon credits, which is set in the Kyoto Protocol as a Clean Development Mechanism. In this study are presented concepts being in the literature about the subject that show how these projects contribute to sustainable development. The case was based on the Power Plant of Biogas Energia Ambiental S/A, located in the São João landfill, with production capacity of 24.64 MW of energy, where been described the steps since the gas capture until the generation of electricity in the group generators. It was concluded that power plant project is socio-economically viable, and bring benefits to the environment because it is clean and sustainable energy. Key Worlds: Sanitary Landfill, Waste, Biogas, Power Plant, Carbon Credits.

LISTA DE FIGURAS Figura 5.1 - Disposição final dos resíduos sólidos no Brasil (CETESB, 1994)...25 Figura 5.2 Corte da Seção de aterro sanitário (CONDER, 2009)...31 Figura 5.3 Efeito Estufa (Rudzerhost, 2009)...39 Figura 5.4 Aumento de CO 2 na atmosfera (Ecodebate, 2009)...40 Figura 5.5 Variação de temperatura da Terra (Notícia Proibida, 2007)...41 Figura 5.6 - Protocolo de Quioto em 2009 (Oliveira; Reis; Pereira, 2009)...44 Figura 5.7 RCE (Desenvolvido pela autora)...46 Figura 5.8 - Ciclo de um projeto de MDL (BVRJ, 2009)...46 Figura 5.9 - Conceito de adicionalidade (MCT, 2006)...48 Figura 6.1 Aterro São João (Gasnet, 2008)...54 Figura 6.2 Vista aérea da usina (Gasnet, 2008)...56 Figura 6.3 Usina Biogás Aterro São João (ARCADIS, 2009)...57 Figura 6.4 Diagrama Operacional (Biogás, 2009)....58 Figura 6.5 Poços de coleta (Gasnet, 2008)...58 Figura 6.6 Tubos de polietileno de alta densidade...59 Figura 6.7 Coletor Central...60 Figura 6.8 Trocador de Calor...60 Figura 6.9 Sistema de troca de água do trocador de calor...61 Figura 6.10 Tubos de condução de gás...62 Figura 6.11 Sopradores...62 Figura 6.12 Flares...63 Figura 6.13 Gerador a Diesel...64 Figura 6.14 Sala dos geradores...65 Figura 6.15 Gerador Caterpillar...66 Figura 6.16 Subestação (ARCADIS, 2009)...67 Figura 6.17 Linha de transmissão (UNFCCC, 2009 c)...68 Figura 6.18...69 Figura 6.19...70 Figura 6.20...70

Figura 6.21!" #$...71 Figura 6.22 Gráfico de Emissões de CO 2...76 Figura 6.23 Gráfico Estimado X Real...77

LISTA DE TABELAS Tabela 5.1 - Composição do biogás de aterro...26 Tabela 5.2 - Lista de EODs...49 Tabela 5.3 - Status dos Projetos na AND Brasileira...50 Tabela 5.4 - Status das atividades de projeto brasileiros no Conselho Executivo...51 Tabela 6.1 Dados sobre o período...72 Tabela 6.2 Parâmetros adotados...73 Tabela 6.3 Total de CO 2 referente ao MDprojeto...75 Tabela 6.4 Total de CO 2 referente a Eletricidade deslocada...75 Tabela 6.5 Total de CO 2 referente a Eletricidade Consumida pelo Gerador a Diesel...75 Tabela 6.6 Total de Emissões de CO 2...76

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRELPE AES AND ANEEL BM&F BNDES CDM CETESB CIMGC COP COP/MOP COP3 CQNUMC DCP DNV EOD FA GDL GEE IBGE IPCC MCT MDL Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais American Electrical Systems Autoridade Nacional Designada Agência Nacional de Energia Elétrica Bolsa de Mercadorias & Futuros Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Clean Development Mechanism (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima Conferência das Partes Conferência das Partes e Reunião das Partes 3 Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima Documento de Concepção do Projeto Det Norske Verita Entidades Operacionais Designadas Fator de Ajuste Gás do Lixo Gás de Efeito Estufa Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Intergovernmental Panel on Climate Change Ministério da Ciência e Tecnologia Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MMA NOAA PDD PEAD RCEs RSU UNFCCC Ministério do Meio Ambiente National Oceanic and Atmospheric Administration Project Design Document Polietileno de Alta Densidade Reduções Certificadas de Emissões Resíduos Sólidos Urbanos United Nations Framework Convention on Climate Change

LISTA DE SÍMBOLOS C Graus Celsius CH 4 Metano CO 2 Dióxido de Carbono CFC Clorofluorcarbono H 2 H 2 S kcal/m 3 kg/habitante.dia Km m 2 m 3 mg/l MJ/m 3 MW MW/h N 2 N 2 O NH 3 O 2 ppm ppm/ano Hidrogênio Gás Sulfídrico Quilocaloria por metro cúbico Quilograma por habitante por dia Quilômetro Metro quadrado Metro cúbico Miligrama por litro Megajoule por metro cúbico Megawatts Megawatts por hora Nitrogênio Óxido Nitroso Amoníaco Oxigênio Partes por milhão Partes por milhão por ano R$ Real Tg/ano Teragrama por ano TWh Terawatts-hora US$ Dólar % Porcentagem

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...17 2. OBJETIVOS...19 2.1 Objetivo Geral...19 2.2 Objetivo Específico...19 3. MÉTODO DE TRABALHO...20 4. JUSTIFICATIVA...21 5. ENERGIA POR FONTE RENOVÁVEL E MDL...22 5.1 Tipos de resíduos sólidos...22 5.2 Resíduos Orgânicos...24 5.2.1 Potencial Econômico...24 5.3 A Decomposição Natural...28 5.3.1 Metanização...29 5.4 Aterros Sanitários...30 5.4.1 Classificação dos Aterros...31 5.5 Aterros Sanitários X Lixões...32 5.6 Recuperação energética do biogás...33 5.6.1 Fatores que afetam a produção do biogás...34 5.6.2 Metodologia para Cálculo de redução de emissões de GEE em Aterros Sanitários...35

5.7 Aquecimento Global...38 5.7.1 Mecanismo do Efeito Estufa...39 5.8 Acordos Internacionais...41 5.8.1 Protocolo de Quioto...42 5.9 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)...44 5.9.1 Ciclo do projeto de MDL...46 5.9.1.1 Documento de Concepção do Projeto...47 5.9.1.2 Metodologia da linha de base das atividades de projeto do MDL...47 5.9.1.3 Validação pela Entidade Operacional Designada (EOD)...48 5.9.1.4 Aprovação por Autoridade Nacional Designada (AND)...50 5.9.1.5 Registro no Conselho Executivo do MDL...51 5.9.1.6 Monitoramento...51 5.9.1.7 Verificação e Certificação pela Entidade Operacional Designada...52 5.9.1.8 Emissão das RCE pelo Conselho Executivo do MDL...52 6. ESTUDO DE CASO...54 6.1 Aterro São João...54 6.1.1 Sistema antigo de operação...55 6.2 Biogás Energia Ambiental S/A...55 6.3 Descrição do empreendimento...56 6.4 Operacionalidade...57 6.4.1 Captação do gás...58 6.4.2 Tratamento do gás...60 6.4.3 Queima do gás...61 6.4.4 Geração de energia elétrica...64 6.4.5 Distribuição de Energia...67 6.5 Controle e supervisão...68

6.6 Reduções Estimadas no Aterro Sanitário São João...71 6.7 Redução real de Emissões no Aterro Sanitário São João...72 6.8 Primeiro ano de funcionamento X Estimado...76 6.9 Créditos de Carbono...77 ANÁLISE DOS RESULTADOS...79 CONCLUSÕES...81 RECOMENDAÇÕES...83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...84 APÊNDICE A CÁLCULOS DE EMISSÃO DE CO 2 (PRIMEIRA PARTE)...91 APÊNDICE B CÁLCULOS DE EMISSÃO DE CO 2 (SEGUNDA PARTE)...92 APÊNDICE C CÁLCULOS DE EMISSÃO DE CO 2 (TERCEIRA PARTE)...93

17 1. INTRODUÇÃO O descarte de resíduos sólidos no planeta é um dos maiores problemas ao meio ambiente. Com o constante crescimento populacional global e aliado ao impulso do consumismo inerente ao ser humano, a produção desses resíduos aumenta anualmente. Estima-se que já superamos a marca de 3 bilhões de quilos de resíduos sólidos urbanos gerados todos os dias. No Brasil, são gerados cerca de 61,5 milhões de toneladas de resíduos urbanos por ano, dos quais somente 51,4 milhões de toneladas são coletados, ou seja, anualmente 10 milhões de toneladas de resíduos não são coletados e seu destino é desconhecido. (DE LIMA, 2008). Em muitos casos, a disposição final dos resíduos sólidos coletados acaba sendo de forma inadequada, pois, 63% dos municípios brasileiros utilizam os lixões como forma de disposição final, 18,4% utiliza aterros controlados e 13,8% utilizam os aterros sanitários. (MMA, 2007 a). Essa grande quantidade de resíduos sólidos dispostos de forma inadequada tem chamado a atenção de muitos governos e ONGs, pois acarreta na degradação ambiental nas áreas sob sua influência, tais como a contaminação da água através do chorume gerado pela decomposição de resíduos orgânicos, causando a contaminação dos lençóis freáticos, rios e córregos, do próprio solo com a introdução de substâncias no mesmo, além de emitir gases de efeito estufa para a atmosfera, que é o principal fator deste estudo. (VIVA TERRA, 2009). Com o intuito de se impor limites na emissão de gases que são os responsáveis pelo bloqueio de radiação de calor, causando um desequilíbrio térmico no planeta, o Protocolo de Quioto estabeleceu a criação de um esquema chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo que é um incentivo para que empresas de países industrializados investissem em projetos elegíveis de redução de emissões em países em desenvolvimento, isto é, tal iniciativa permite que os países desenvolvidos possam financiar projetos de

18 redução nos países em desenvolvimento, desde que seja diminuída a emissão de carbono em qualquer lugar do planeta. (DUARTE, 2006). Neste ponto, entra o aterro sanitário, com a decomposição da matéria orgânica que compõe os resíduos sólidos, se torna possível a produção do biogás, basicamente composto de CO 2 (gás carbônico) e CH 4 (metano). Tanto em lixões como em aterros sanitários comuns, o biogás é lançado para a atmosfera acarretando em grandes impactos ambientais por ser o principal responsável pelo efeito estufa. Com a implementação de um projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, o biogás é coletado do aterro, conseqüentemente tratado, queimado e reaproveitado para a geração de energia elétrica, que por sua vez, é utilizada para abastecer pequenas cidades. (DUARTE, 2006). No final do processo, o CH 4 é transformado em CO 2, que é 21 vezes menos impactante que o primeiro. Com essa redução na emissão do gás metano, se torna viável a comercialização do crédito que carbono. (DUARTE, 2006). A comercialização do crédito de carbono é uma alternativa para se trazer benefícios ambientais, sociais e econômicos, que além de permitir a redução dos gases na atmosfera, se mostrou uma importante alternativa para o desenvolvimento sustentável.

19 2. OBJETIVOS O trabalho de conclusão de curso discutiu a aplicação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) na decomposição de matéria orgânica em aterro. 2.1 Objetivo Geral O objetivo do trabalho foi discutir os conceitos inerentes ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, os passos necessários para a implementação de uma usina de captação de metano em um aterro sanitário, discutir a redução de liberação de CH 4 (metano) para a atmosfera e comercialização do crédito de carbono. 2.2 Objetivo Específico Discutir as melhorias no sistema de manejo de resíduos sólidos em aterro sanitário de modo a tornar viável a comercialização de crédito de carbono. Mostrar que aterros sanitários é a forma mais adequada para a disposição final dos resíduos sólidos urbanos. Permitir o conhecimento do Biogás, sua composição e fatores que afetam sua produção. Apresentar o cálculo de emissão de CO 2 proveniente da combustão do metano e comparar com a estimativa elaborada na concepção do Projeto da Usina do Aterro São João para atender as exigências de MDL e aterro sanitário.

20 3. MÉTODO DE TRABALHO Para o desenvolvimento deste estudo e, visando um melhor entendimento dos resultados apresentados, a metodologia utilizada foi dividida nas seguintes etapas: Na primeira etapa do estudo foi feita uma visita técnica ao aterro sanitário São João para verificar a possibilidade de se fazer um estudo de caso sobre o mesmo. Na visita pôde ser levantados dados sobre a operação do aterro e adquirir fotos do local. A segunda etapa foi o levantamento de referências bibliográficas. Ao longo do ano, foram feitas pesquisas, na biblioteca da universidade e em sites confiáveis da internet. Os sites foram selecionados visando à preferência por sites de órgãos do governo, onde eram fornecidos apostilas, manuais, estudos já realizados, estimativas entre outros. Foram feitos encontros semanais, exceto no período de recesso acadêmico, com a orientadora do trabalho para estruturação do mesmo. Para o estudo de caso, além das informações levantadas na visita ao aterro, foram feitos contatos por e-mail e telefone com as empresas relacionadas à implantação da usina para levantamento de dados. Foram feitos contatos com a Biogás Ambiental S/A, EcoUrbis S/A e Elipse Ltda.

21 4. JUSTIFICATIVA A situação da disposição final de resíduos sólidos no país é delicada, pois a maior parte dos municípios utiliza lixões como disposição final dos resíduos, causando conseqüências drásticas para o meio ambiente, como a emissão de gases na atmosfera contribuindo para o Efeito Estufa. A forma mais adequada para se evitar essa situação, seria a implantação de coleta seletiva, a disposição adequada de resíduos orgânicos em aterros apropriados e a implementação do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e da viabilização do comércio de gases de efeito estufa não liberados na atividade, além das metas estabelecidas. Esses créditos podem ser conseguidos se os resíduos sólidos forem dispostos de forma adequada, contribuindo para reduzir a emissão de biogás com a desativação dos lixões e a implementação de aterros sanitários com o conseqüente tratamento dos gases produzidos pela decomposição do lixo. Portanto, é de extrema importância o estudo de um projeto de MDL aplicado aos resíduos sólidos, para mostrar como os resíduos orgânicos podem ser mais bem aproveitados como fonte de energia e gerar créditos de carbono acarretando em menores impactos ambientais. O engenheiro de produção atua constantemente na interface atividade produtiva/meio ambiente e os conceitos tecnológicos e potencial econômico do MDL, é uma das pautas atuais na área.

22 5. ENERGIA POR FONTE RENOVÁVEL E MDL 5.1 Tipos de resíduos sólidos Entende-se por resíduos sólidos aqueles que se apresentam nos estados sólido, semi-sólido e os líquidos não passíveis de tratamento convencional. (NBR-ABNT 10.004:2004). Os resíduos sólidos são tudo aquilo que não pôde ser aproveitado das atividades humanas sejam elas domésticas, comerciais, industriais e etc., ou aqueles que foram gerados pela natureza, tais como folhas, galhos, terra e areia. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Existem algumas formas possíveis de se classificar os resíduos, podemos classificá-los quanto a sua composição macroscópica, ou seja, os resíduos podem ser orgânicos, que são os restos de alimentos ou materiais que se degradam rapidamente na natureza ou inorgânicos, que são todos os materiais que não possuem origem biológica, ou que foi produzida por meios humanos tais como plásticos e metais (PROSAB, 2003). Podemos também classificar os resíduos quanto a sua periculosidade, se são perigosos e apresentam riscos ao meio ambiente e exigem tratamento e disposição especiais, ou que apresentam riscos à saúde pública, ou se são não perigosos, que podem ser divididos em não inertes, que são basicamente os resíduos com as características do lixo doméstico e inerte, que pode ser qualquer resíduo que se submetido a um contato estático ou dinâmico com a água, não tenha nenhum de seus componentes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água definido pela Norma NBR- ABNT 10.004:2004. (PROSAB, 2003). Os resíduos também podem ser classificados quanto a sua origem, ou seja, o resíduo pode ser domiciliar, comercial, hospitalar, também pode ser de portos,

23 aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários. Pode ser gerado nas indústrias, em trabalhos agrícolas e até mesmo em construções, que são os entulhos. As descrições destas classificações estão a seguir: Domiciliar: Aquele originado das residências, este tipo de resíduo é constituído por alimentos tais como restos de vegetais e verduras, e por produtos deteriorados como garrafas, papel higiênico, jornais, revistas, embalagens em geral e etc. Entre os resíduos domiciliares, alguns podem ser tóxicos. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Comercial: Aquele que se origina de estabelecimentos comerciais, tais como, supermercados, bancos, lojas, restaurantes etc. Os resíduos mais comuns destes estabelecimentos são os papéis, plásticos, embalagens e resíduos provindos da higiene pessoal dos funcionários, como por exemplo, o papel toalha. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Público: Aqueles originados da limpeza pública urbana, incluindo todos os resíduos que são recolhidos nas vias públicas, praias, córregos etc.; Também são considerados resíduos de origem pública os que são recolhidos nas áreas de feiras livres. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Hospitalar: Constituem os resíduos podem conter germes patogênicos. Eles são comuns em hospitais, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias etc. Estes resíduos são agulhas, seringas, gazes, luvas descartáveis, remédios com a validade vencida etc. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: Constituem os resíduos que contêm ou podem conter parcialmente germes patogênicos. Originam-se de material de higiene pessoal e restos de alimentação que podem veicular doenças provenientes de outras regiões. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Industrial: Aquele originado das atividades industriais, tais como, metalúrgica, química, petroquímica etc. Os resíduos encontrados nas indústrias são

24 variados podendo ser óleo, ácidos, madeira, papel, etc. A maioria dos resíduos que são considerados tóxicos são provenientes das indústrias. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Agrícola: Resíduos sólidos das atividades agrícolas e da pecuária, como os defensivos agrícolas, ração, restos de colheita etc. O esterco animal gerado nas fazendas tem se tornado uma grande preocupação em diversas regiões devido a alta quantidade que é gerada. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). Entulho: Resíduos originados das construções devido às demolições, restos de obras, etc. O entulho geralmente não pode ser reaproveitado. (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2009). 5.2 Resíduos Orgânicos Os resíduos orgânicos podem desenvolver diversos tipos de micróbios quando estão associados a temperatura, devido conterem muitos nutrientes e por serem úmidos. Estes microorganismos que estão presentes no lixo podem ser provenientes do ar, da água e do solo e muitos podem ser patogênicos, que são os responsáveis pela decomposição da matéria orgânica. Os principais microrganismos encontrados nos resíduos sólidos são bactérias, fungos, protozoários, algas e vírus. (AMBIENTE BRASIL, 2009). Conhecer suas características permite escolher o método mais adequado de tratamento e disposição final. (AMBIENTE BRASIL, 2009). 5.2.1 Potencial Econômico Conhecer a composição dos resíduos sólidos, a quantidade coletada, alternativas de uso e a disposição final são fatores fundamentais para que se compreenda a melhor forma de reaproveitamento. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). De acordo com o primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa realizado pela CETESB em 2006, no Brasil, em 1994, a

25 geração de resíduos sólidos municipais foi estimada em 59 mil toneladas por dia, com composição variável, de acordo com a região. A geração de resíduos por habitante de uma cidade brasileira varia entre 0,4 e 0,7kg/habitante.dia. A disposição e o tratamento dos resíduos sólidos distribuem-se conforme figura 5.1: 22% 2% Lixões Aterros Outras Destinações 76% Figura 5.1 - Disposição final dos resíduos sólidos no Brasil (CETESB, 1994) Devido à sua grande extensão territorial, o Brasil, apresenta diferenças sociais e econômicas nas diversas regiões do país, acarretando na variação dos tipos e taxas de produção de resíduos sólidos não permitindo que se estabeleça uma política nacional para seu gerenciamento. (CETESB, 2006). Cerca de 28 mil toneladas de resíduos sólidos domiciliares são produzidas diariamente no Estado de São Paulo. Se esses resíduos não tiverem tratamento e forma de disposição final adequada, poderão ocorrer problemas envolvendo aspectos sanitários, ambientais e sociais, tais como a proliferação de doenças, a contaminação do solo e das águas e a poluição do ar pela emissão do gás metano. (CETESB, 2009).

26 O Brasil pode aproveitar os resíduos gerados aplicando as técnicas hoje disponíveis. Pois se estima que para os próximos 20 anos seja necessário um maior uso de recicláveis e da biomassa para que haja melhoria das condições de higiene da população, além de evitar o desperdício de matéria-prima, refletirá no aumento da vida útil das reservas extrativistas e dos aterros e reduzirá o consumo energético. (Oliveira; Reis; Pereira, 2009). Entre as diversas alternativas existentes para aproveitamento energético do lixo, está o aproveitamento calorífico do gás do lixo (GDL), que é produzido a partir do lixo orgânico disposto em um planejamento energético. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). A utilização do GDL é o uso energético mundialmente de maior utilização por ser o mais simples. A composição do biogás é difícil de ser definida, pois depende do material orgânico utilizado e do tipo de tratamento anaeróbio que sofre. Contudo, o biogás é composto conforme tabela 5.1 abaixo: Tabela 5.1 - Composição do biogás de aterro Composição Porcentagem do volume de gás produzido Metano (CH 4 ): 50 70% Dióxido de carbono (CO 2 ) 25 50% Hidrogênio (H 2 ) 0 1% Gás sulfídrico (H 2 S) 0 3% Oxigênio (O 2 ) 0 2% Amoníaco (NH 3 ) 0 1% Nitrogênio (N 2 ) 0-7% Fonte: (SMA, 2009). O poder calorífico do biogás é de 14,9 a 20,5 MJ/m 3, ou aproximadamente 5.800 Kcal/m 3. De um modo geral o GDL tem as vantagens de: (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). Reduzir os gases de efeito estufa;

27 Ter baixo custo com o descarte de lixo; Permitir utilização para geração de energia. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). Como desvantagens podemos citar: A ineficiência no processo de recuperação do gás, que permite um aproveitamento de aproximadamente 50% do total de biogás produzido (correspondente a cerca de 90% do metano); A inviabilidade de utilização do metano para lugares remotos; alto custo para upgrade 1 de uma planta; Remotas possibilidades de ocorrência de auto-ignição e/ou explosão pelas altas concentrações de metano na atmosfera. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). Os projetos que envolvem o aproveitamento energético dos resíduos sólidos trazem benefícios econômicos, ambientais e energéticos. Esses benefícios atingem não só ao proprietário e aos operadores do aterro, mas também as empresas que fornecem os equipamentos necessários, os distribuidores e consumidores da energia que foi gerada e quem reside próximo ao aterro. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). Com a geração de energia a partir do GDL, pode se reduzir a mudança global do clima. Pois o ciclo de vida do metano na atmosfera é aproximadamente 21 vezes mais rápido que o dióxido de carbono, o que significa que poderia trazer um progresso mais rápido na recuperação do lento processo de mudança do clima. Além de gerar empregos relacionados ao projeto, as comunidades locais também serão beneficiadas com o desenvolvimento de fontes de energia locais nas áreas de aterro sanitário. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). O GDL é uma fonte local de energia renovável. Devido a este ser gerado continuamente, produz uma fonte de combustível confiável para uma faixa de

28 aplicações energéticas, incluindo a geração e o uso direto. Geradores para indústrias, hospitais, universidades e outros usos da energia podem ser beneficiados pela utilização do GDL como fonte de energia local. E ainda, projetos de geração a GDL proporcionam um melhor gerenciamento de benefícios pelo lado da demanda, pois as perdas de transmissão do ponto de geração para o ponto de consumo são desprezíveis, visto a proximidade entre geração e demanda. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). Uma análise mais aprofundada sobre o aproveitamento do GDL pode ser encontrada no estudo de caso sobre CDM 2 para o Setor Elétrico, realizado pelo IVIG e pela ANEEL em dezembro de 1999, cuja conclusão obtida foi de que o potencial nacional de uso do GDL é de 1 milhão de toneladas por ano (se recuperados 90% do biogás), o que pode gerar cerca de 2 TWh de energia e evitar, se esta geração substituísse aquela que utilizasse gás natural em termelétricas a ciclo combinado para sua geração, cerca de 244.909 toneladas de carbono equivalente por ano. (OLIVEIRA; REIS; PEREIRA, 2009). 5.3 A Decomposição Natural Após certo tempo os resíduos sólidos começam a entrar em estado de decomposição. Esse processo procede da seguinte forma: A decomposição dos resíduos sólidos é um processo biológico de nutrição e respiração. A nutrição propriedade fundamental dos seres vivos tem como finalidade a obtenção da matéria orgânica para estruturação de organismos e obtenção de energia molecular para a realização das atividades biológicas normais. A respiração é o processo de oxidação através do qual são liberadas as energias contidas nas moléculas orgânicas, as quais passam, então, de um alto nível energético para um nível mais baixo e são eliminadas no meio ambiente. A matéria orgânica constituinte de um cadáver vegetal ou animal, ou de qualquer resíduo orgânico sólido ou líquido, será, pois, prontamente consumida como alimento - por uma multidão de bactérias, fungos e outros seres heterótrofos, que utilizam pequena parte dela para sua autoconstrução e reprodução e oxidam o restante através da respiração, para aproveitamento de sua energia, restituindo elementos ao meio ambiente sob forma de subprodutos do seu metabolismo. Dessa forma, o carbono, o nitrogênio, o fósforo e vários outros elementos constituintes das

29 moléculas orgânicas que integravam o resíduo são devolvidos ao meio ambiente na forma de compostos mais simples, tais como o gás carbônico, nitratos, fosfatos, que podem ser podem ser novamente assimilados no processo autotróficos. Há, pois, uma decomposição ou biodegradação desses compostos orgânicos. (AQUARONE, 1993, P.231). 5.3.1 Metanização O fenômeno da decomposição é, pois, basicamente, um processo de nutrição e respiração ou oxidação biológica. Reações de oxidação podem ser realizadas na presença de oxigênio livre ou na sua ausência, uma vez que a principal característica dessas reações é retirada do hidrogênio (ou de elétrons) do composto e não necessariamente, a adição de oxigênio. O hidrogênio retirado da molécula é transferido a outro composto, que é oxidante. Por isso se diz que sempre que uma substância se oxida à custa de outra, a oxidação da primeira realiza-se, necessariamente, com redução da segunda, costumando-se denominar a reação de oxirredução. Tratando-se de um processo biológico, é freqüente representá-lo, em termos gerais, pela equação: A. H 2 + B = A + B. H 2 Onde, A. H 2 é o composto redutor (o que vai ser oxidado) ou doador de hidrogênio e B é o composto oxidante (que vai ser reduzido) ou aceptor de hidrogênio. Quando o composto que funciona como aceptor de hidrogênio é o oxigênio molecular, diz-se que a respiração é aeróbia; quando porém, o oxigênio molecular não intervém na reação, sendo o aceptor um outro composto qualquer, a reação passa a ser denominada anaeróbia. No processo de respiração aeróbia, a molécula orgânica é totalmente desmembrada, cedendo toda a sua energia potencial disponível e formando, como subproduto, o CO 2, desprovido de energia útil. Com as reações anaeróbias, entretanto, não ocorre o mesmo. A oxidação é apenas parcial, levando ä formação de produtos que ainda contém energia potencial disponível, tais como o metano, alcoóis e ácidos orgânicos. Por essa razão, eles são somente realizados em ausência do oxigênio molecular. (AQUARONE, 1993, P.231). Portanto, as reações aeróbias são mais completas do que as anaeróbias, gerando o gás carbônico, porém são desprovidas de geração de metano, o que torna o seu acontecimento desfavorável nos aterros sanitários que visam implantar projetos de geração de energia.

30 5.4 Aterros Sanitários O aterro sanitário é um espaço utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo (figura 5.2). Nele, ficam dispostos todos os tipos de resíduos, permitindo que se tenha um controle da poluição ambiental e proteção ao meio ambiente. (QUEIROZ LIMA, 1995). Preferencialmente o aterro deve possuir uma vida útil superior a 10 anos, prevendo-se ainda o seu monitoramento por alguns anos após o seu fechamento. Deve se ter também alguns cuidados essenciais ao se fazer um projeto de um aterro sanitário, pois no processo de decomposição dos resíduos sólidos é liberado um líquido (chorume ou percolado) que libera gases causando odores desagradáveis além de contaminar o solo, o ar e os lençóis freáticos. Portanto, deve haver um sistema de drenagem de efluentes, impermeabilização do solo entre outros, para se evitar tais contaminações ao meio ambiente. (CONDER, 2009). O aterro sanitário possui diversas vantagens, porém o que torna a implantação do mesmo uma prática interessante é seu custo ser relativamente baixo. Algumas vantagens, além desta, são: dispor o lixo de forma adequada; capacidade de absorver diariamente uma grande quantidade de resíduos; condições especiais para a decomposição biológica da matéria orgânica presente no lixo. (QUEIROZ LIMA, 1995).

31 Figura 5.2 Corte da Seção de aterro sanitário (CONDER, 2009) As estimativas das emissões globais de metano, proveniente dos aterros, oscilam entre 20 e 70 Tg/ano, enquanto que o total das emissões globais pelas fontes antropogênicas equivale a 360 Tg/ano, indicando que os aterros podem produzir cerca de 6 a 20 % do total de metano (IPCC, 1995). (CETESB, 2006) Conforme afirmação da CETESB, as emissões de metano provenientes dos aterros sanitários contribuem de forma moderada em relação as emissões globais. 5.4.1 Classificação dos Aterros Os aterros podem ser classificados conforme a técnica de operação ou pela forma de disposição. Segundo a forma de disposição final, os aterros podem ser classificados em: aterros comuns, os resíduos são depositados no solo de forma inadequada, sem qualquer tratamento, também denominados lixões, lixeiras, vazadouros etc. Este método de disposição é o mais prejudicial ao homem e ao meio ambiente, porém é ainda o mais utilizado no Brasil;

32 aterros controlados, a forma de disposição é feita igual a aterro comum, porém neste, o lixo recebe uma cobertura diária de material inerte ou terra. Esta cobertura diária não resolve os problemas de poluição gerados pelo lixo e não há qualquer método para controle ambiental; aterros sanitários, já definidos anteriormente, são aqueles executados segundo os critérios e normas de engenharia e atendem os padrões de segurança preestabelecidos. (QUEIROZ LIMA, 1995). Os aterros também podem ser classificados segundo sua técnica de operação em: Aterros de superfície são aqueles que os resíduos são dispostos em áreas planas. Os métodos operacionais empregados são de trincheira, de rampa ou de área, dependendo de diversos fatores, como a disponibilidade de materiais para cobertura dos resíduos, vias de acesso que facilitam as operações de descarga, tipo de solo, etc. Aterros de depressões são aqueles executados em locais que há irregularidades geológicas como em lagoas e mangues, em depressões e ondulações e em pedreiras extintas. Em geral são escolhidas áreas de baixo valor comercial. (QUEIROZ LIMA, 1995). 5.5 Aterros Sanitários X Lixões Os lixões são uma forma inadequada para dispor os resíduos sólidos sobre o solo, como visto anteriormente, ao contrário dos aterros sanitários, ele não possui sistema de impermeabilização, sistemas de drenagem e não fazem a cobertura do lixo, podendo acarretar em impactos na saúde da população local e ao meio ambiente. Além de ter um potencial para proliferação de doenças e criação de animais como ratos e insetos, também aumenta a presença de pessoas trabalhando, como os catadores, em condições precárias. (MMA, 2007 a).

33 Estas áreas devem ser fechadas para proporcionar aos moradores da região mais segurança, minimizar os riscos à saúde da população e minimizar os impactos ao meio ambiente, como por exemplo, a contaminação do solo. Deve se avaliar a possibilidade de aproveitar o local para a construção de um aterro sanitário, já que hoje é difícil de se encontrar áreas adequadas dentro do município, pois como visto o aterro sanitário, além de possuir um baixo custo de implantação, dispõem o lixo de forma adequada e ainda pode haver a possibilidade de captação do gás para queima e/ou aproveitamento energético. (MMA, 2007 a). 5.6 Recuperação energética do biogás Em muitos aterros sanitários, está sendo implantadas unidades de geração de energia elétrica devido o biogás ter um alto poder calorífico. (IBAM, 2005). Para cada tonelada de resíduos dispostos em aterros sanitários, são gerados em média 200 Nm³ de biogás. A geração de energia em um aterro sanitário é iniciada alguns meses após o inicio do aterramento dos resíduos sólidos e continua até cerca de 15 anos após o encerramento da operação da unidade. (IBAM, 2005, p. 1) Confirma-se então que se em média, conforme estudo da CETESB, a cidade de São Paulo gera cerca de 28 mil toneladas de resíduos por dia, e se esses resíduos fossem dispostos de forma adequada em aterros sanitários, cada dia renderia cerca de 5600 Nm³ de biogás. De acordo com o relatório do Banco Mundial, para que seja possível a recuperação energética do biogás são necessários os seguintes sistemas: (MMA, 2007 c) Sistema de impermeabilização superior: para se evitar que o biogás fuja para a atmosfera. Normalmente a impermeabilidação do aterro é feita com argila de baixa permeabilidade compactada; Poços de drenagem de biogás: estes poços, escavados na massa de resíduos, normalmente são feitos com brita e podem ser verticais ou horizontais. Alguns aterros adotam um sistema misto;

34 Rede de coleta e bombas de vácuo: a rede de coleta de biogás leva o biogás drenado dos poços para a unidade de geração de energia elétrica. A rede coletora de biogás é normalmente constituída por tubos de polietileno de alta densidade e deve ser aterrada para evitar acidentes. As bombas de vácuo são importantes para compensar as perdas de cargas nas tubulações e garantir uma vazão regular de biogás para a unidade de geração de energia elétrica; Grupos geradores: estes equipamentos utilizam normalmente motores de combustão interna desenvolvidos especialmente para trabalharem utilizando o biogás como combustível. (MMA, 2007 c, p. 34) A implantação de unidades de geração de energia elétrica em aterros sanitários deverá ser precedida de estudo de viabilidade técnica e econômica. Este estudo deverá obrigatoriamente indicar o potencial de geração de biogás no aterro sanitário, em função da quantidade e da composição dos resíduos aterrados e avaliar o custo de geração de energia elétrica comparando-o com o valor cobrado pela concessionária local. (IBAM, 2005, p. 2). Portanto, fica claro que para a implantação destas usinas tais estudos são necessários para verificar se o projeto é realmente viável, que o local tem as condições necessárias para o processo de decomposição dos resíduos e que o custo na geração da energia será menor que os atuais cobrados pelas concessionárias. 5.6.1 Fatores que afetam a produção do biogás A produção do biogás pode ser afetada por diversos fatores tais como: Composição dos resíduos: este fator pode influenciar na taxa de produção dos gases, pois quanto maior for a quantidade orgânica biodegradável, maior será o potencial para a formação dos gases. Umidade: para que a matéria orgânica entre em decomposição, é necessário a presença de umidade. Temperatura: é de extrema importância devido quanto mais elevadas forem as temperaturas dentro da massa dos resíduos, maior será a atividade bacteriana, e consequentemente, a produção de metano. ph: influencia na formação de metano, já que as atividades das bactérias são sensíveis à sua variação.

35 Tamanho das partículas: as particulas menores tendem a degradar mais rápido, ou seja, o tamanho das partículas podem influenciar na degradação dos resíduos. Forma de construção e operação dos aterros: se o projeto e o metódo de operação dos aterros forem eficientes, a chance de ocorrer uma atividade anaeróbia, que é a responsável pela formação do metano aumenta. (MMA, 2007 c). É importante ressaltar que o Brasil possui, na maior parte do seu território, condições favoráveis para a produção de biogás em aterros sanitários, pelas condições de umidade e temperatura e, principalmente, pela predominância de matéria orgânica na composição dos resíduos sólidos. (MMA, 2007 c, p. 30). O Brasil é um potencial para a geração do biogás em aterros sanitários, pois é um país com diversos tipos de clima e segundo estudos, possui matéria orgânica em mais da metade dos resíduos coletados em seu território. 5.6.2 Metodologia para Cálculo de redução de emissões de GEE em Aterros Sanitários Um dos métodos utilizados para calcular a redução de emissões de GEE em aterros sanitários é a Metodologia ACM001 da CQNUMC. Este método é recomendado para se aplicar em atividades de projetos de captação de gás de aterro em que o gás captado é queimado em equipamentos eficientes ou o gás captado é usado para produzir energia (por exemplo, eletricidade/energia térmica), mas não se reivindica nenhuma redução de emissões por se deslocar ou evitar o uso de energia de outras fontes. (MMA, 2007 b). De acordo com esta metodologia as reduções de emissões de gases de efeito estufa obtidas pela atividade de um projeto, podem ser obtidas pela seguinte equação: ER = (MD projeto MD base ) x GWP CH4 (1) Onde:

36 ER = Redução de emissões por atividade do projeto durante um determinado período y (tco 2 e); MD projeto = Quantidade de metano realmente destruída ou queimada (tch 4 ); MD base = Quantidade de metano que teria sido destruída ou queimada durante o período na ausência da atividade de projeto (tch 4 ); GWP CH4 = Valor aprovado do Potencial de Aquecimento Global para o metano (tco 2 e/tch 4 ); (MMA, 2007 b). Uma outra situação é quando o gás captado é usado para produzir energia (por exemplo, eletricidade/energia térmica), e reduções de emissões são reivindicadas por se deslocar ou evitar a geração de energia a partir de outras fontes. (MMA, 2007 b). Nesse caso, deve-se fornecer uma metodologia de linha de base para a eletricidade e/ou energia térmica deslocada ou usar uma já aprovada, como a ACM0002 (Metodologia Consolidada para a Geração de Energia Elétrica Conectada à Rede a partir de Fontes Renováveis): (MMA, 2007 b). ER = (MD projeto MD base ) x GWP CH4 + EG x CEF eletricidade + ET x CEF térmica (2) Onde: EG = Quantidade líquida de eletricidade deslocada (MWh); CEF eletricidade = intensidade de emissões de CO 2 da eletricidade deslocada (tco 2 e/mwh); ET = Quantidade de energia térmica deslocada (TJ); CEF térmica = intensidade de emissões de CO 2 da energia térmica deslocada (tco 2 e/tj). (MMA, 2007 b).

37 O MD projeto é calculado pela soma do fluxo de metano destruído nos flares, na casa de força e na geração de calor, como segue: (MMA, 2007 b). MD projeto = MD flares + MD eletricidade + MD térmica (3) Onde: MD flares = quantidade de metano destruída nos flares (tch 4 ); MD eletricidade = quantidade de metano destruída na casa de força (tch 4 ); MD térmica = quantidade de metano destruída para a geração de energia térmica no (tch 4 ). O MD flares é calculado da seguinte forma: (MMA, 2007 b). MD flares, y = LFG flares x W CH4 x D CH4 x FE (4) Onde: LFG flares = quantidade de gás de aterro sanitário queimado nos flares (m 3 ); W CH4 = fração média de metano no gás de aterro sanitário, medida durante o período (m 3 CH 4 /m 3 LFG); D CH4 = densidade do metano (tch 4 /m 3 CH 4 ); FE = Eficiência do flare (%). O MD eletricidade é calculado da seguinte forma: (MMA, 2007 b). MD eletricidade = LFG eletricidade x W CH4 x D CH4 (5) Onde:

38 LFG eletricidade = quantidade de gás de aterro utilizado para alimentar o gerador de eletricidade (m 3 ); O MD térmica é calculado da seguinte forma: MD térmica = LFG térmica x W CH4 x D CH4 (6) Onde: LFG térmica = quantidade de gás de aterro utilizado para gerar energia térmica (m 3 ); 5.7 Aquecimento Global O aquecimento global é problema que vem se agravando ultimamente. Nos últimos 100 anos, registrou-se um aumento de cerca de 1 C na temperatura média da Terra. Este problema vem sendo causado pela intensificação do efeito estufa, que, por sua vez, é um dos fatores relacionado ao aumento da concentração de gases, na atmosfera da Terra. (BNDES, 2002, p. 9). A principal causa do aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera que acarretam no aquecimento excessivo do planeta são as atividades humanas tais como o uso do petróleo e do gás natural utilizado para gerar energia e para uso no transporte, as queimadas, a destruição de florestas, os depósitos de lixo, a atividade industrial, o uso de fertilizantes na agricultura. (IPP, 2008). Para manter o equilíbrio térmico, a Terra emite para o espaço a mesma proporção de energia que recebe de radiação solar. A radiação incidente atravessa as diversas camadas da atmosfera e seu retorno ocorre na forma de radiações térmicas de grande comprimento de onda ou calor, que são absorvidas pelo CO 2. Somando-se ao processo natural as atividades humanas, resulta em contribuições adicionais de gases de efeito estufa (GEE), acentuando a sua concentração na atmosfera e, conseqüentemente, ampliando a capacidade de absorção de energia que naturalmente já possuem. Quanto maior a concentração dos GEE, maior é a absorção de calor e maior será o aquecimento da atmosfera. Caso não existisse o efeito estufa natural, a temperatura média da superfície da Terra estaria na faixa de -18 C. A temperatura média global da superfície da Terra com a presença do efeito estufa é de 15 C (Duarte, 2006, p. 17).

39 5.7.1 Mecanismo do Efeito Estufa O efeito estufa (figura 5.3) é um processo que ocorre quando uma parte dos raios provenientes do Sol são absorvidos por determinados gases presentes na atmosfera. Estes gases agem como isolante e em conseqüência disto o calor fica retido na atmosfera impedindo que volte para o espaço causando o aquecimento da superfície terrestre. (MENDES, 2007). Os principais gases de efeito estufa são o dióxido de carbono (CO 2 ), metano (CH 4 ), óxido nitroso (N 2 O) e o Clorofluorcarbono, mais conhecido como CFC que é também um dos responsáveis pela destruição da Camada de Ozônio. Figura 5.3 Efeito Estufa (Rudzerhost, 2009) De acordo com o Laboratório de Pesquisas da Terra da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), a concentração mundial de CO 2 na atmosfera aumentou 0,6% ou 19 bilhões de toneladas em 2007 com relação a 2006. (Terra, 2008, p. 1).

40 Em outras palavras, o aumento de CO 2 foi de 2,4 partes por milhão (ppm) ou de 2,4 mg/l de ar em 2007, indicou a NOAA. Desde 2000, o aumento anual de CO 2 de dois ppm/ano ou mais é comum, contra 1,5 ppm/ano nos anos 80 e menos de um ppm/ano na década de 60, ressaltou a agência federal norte-americana. (Terra, 2008, p. 1). A concentração mundial de CO 2 está situada atualmente em cerca de 385 ppm. Na era pré-industrial, o nível situava-se em torno de 280 ppm, e isto se manteve até 1850. (Terra, 2008, p. 1). Através destes dados podemos verificar que com o passar dos anos a concentração de CO 2 na atmosfera aumentou significativamente e a tendência é que este valor aumente cada vez mais se medidas não forem tomadas. A figura 5.4 demonstra o aumento de CO 2 na atmosfera de acordo com a NOAA. Figura 5.4 Aumento de CO 2 na atmosfera. (Ecodebate, 2009) Devido ao aumento de CO 2 na atmosfera, um processo que levaria milhares de anos para ocorrer de forma natural, está acontecendo em questão de décadas conforme (figura 5.5). O Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC)

41 estima que, no século passado, essa temperatura média tenha subido de 0,4 a 0,8 graus Celsius. (NOTÍCIA PROIBIDA, 2007) Figura 5.5 Variação de temperatura da Terra (NOTICIA PROIBIDA, 2007) 5.8 Acordos Internacionais Devido ao aumento do efeito estufa nos últimos anos, alguns acordos internacionais foram feitos para que fosse minimizado este problema. O âmbito ambiental global começou de fato a fazer parte da agenda internacional com a Conferência de Estocolmo, em 1972, mas a questão do aquecimento global só começou a adquirir uma maior importância com a realização da Primeira Conferência Mundial sobre o Clima, em 1979, pela Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas. Nesta ocasião, os países participantes chegaram à conclusão de que a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e as mudanças no uso do solo aumentaram o montante de CO 2 na atmosfera em 15% durante os cem anos que precederam esta conferência. (MOREIRA; GIOMETTI, 2008, s/n p). Em 1992, durante a Rio-92 3, no Rio de Janeiro foi adotada a Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima na Sede das Nações Unidas CQNUMC. Na ocasião, a ratificação, a aceitação e aprovação ou adesão foi feita por 185 países incluindo os da União Européia. A CQNUMC estabeleceu um regime jurídico internacional para atingir o objetivo principal de!"#$ % & " %

42 alcançar a estabilização das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera em nível que impedisse uma interferência antrópica perigosa no sistema climático. (BNDES, 2002). Esse nível deveria ser obtido em um prazo suficiente para permitir que os ecossistemas se adaptassem naturalmente à mudança climática e permitir que o desenvolvimento econômico prosseguisse de forma sustentável. (FLESSAK, 2009). Embora não defina a forma de atingir esse objetivo, a CQNUMC estabeleceu uma série de compromissos levando em conta as responsabilidades comuns, mas diferenciadas, dos países que tenham aderido à mesma. Estes compromissos devem ser primeiramente cumpridos pelos países cuja responsabilidade histórica no agravamento do problema global foi mais relevante. Os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, têm a responsabilidade de acompanhar o processo de mitigação do aquecimento global. (FLESSAK, 2009). Buscando priorizar os trabalhos de mitigação dos GEE, a Conferência das Partes (COP), órgão supremo da Convenção, tem a responsabilidade de acompanhar e supervisionar a implementação dos objetivos propostos. Esta implementação é feita mediante a realização periódica de Conferências, onde são definidos tratados específicos que desenvolvem e implementam técnicas para o alcance do objetivo final. (MOREIRA; GIOMETTI, 2008). Diversas conferências já foram realizadas, porém, a mais importante foi a COP3 que ocorreu em 1997, onde foi criado o Protocolo de Quioto. 5.8.1 Protocolo de Quioto Em dezembro de 1997, cerca de 10.000 delegados, observadores e jornalistas participaram do COP3, realizada em Quioto no Japão. (DUARTE, 2006). Este evento definiu que as Partes (elencadas no Anexo I da Convenção do Clima) deveriam assegurar que suas emissões de gases de efeito estufa não