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Transcrição:

1 RESPOSTA DE CULTURAS À ADUBAÇÃO SULFATADA 1 GUBIANI, Elci 2 ; TIECHER, Tales 3 ; RHEINHEIMER, Danilo dos Santos 4 ; BENDER, Marcos Antônio 2 ; PICCIN, Rogério 2 ; BELLINASO, Roque Júnior Sartori 2 ; MALLMANN, Fábio Joel Kochem 3 ; RASCHE, Jimmy Walter Alvarez 3 1 Trabalho de Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) 2 Curso de Agronomia da UFSM, Santa Maria, RS, Brasil 3 Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFSM, Santa Maria, RS, Brasil 4 Professor do Departamento de Solos da UFSM, Santa Maria, RS, Brasil E-mail: elcigubiani@hotmail.com; tales.t@hotmail.com; danilonesaf@gmail.com; marcosantoniobender@yahoo.com.br; rogeriopiccin@hotmail.com; roquejunior_bellinaso@hotmail.com; fabiojkmallmann@gmail.com; jwrasche@yahoo.com.ar RESUMO No solo, até 98% do enxofre (S) pode ser encontrado na forma orgânica, devido a isso a capacidade do solo em suprir a demanda pelo nutriente está relacionada com o teor de matéria orgânica do solo. O trabalho teve como objetivo avaliar a resposta de algumas culturas à adubação sulfatada e sua relação com o teor de S disponível no solo. O experimento foi realizado entre novembro de 2006 a março de 2009 em Santa Maria, sobre um Argissolo Vermelho distrófico arênico, cultivado sob sistema convencional. As doses de S aplicadas foram de 0, 5, 10 e 20 kg ha -1, a lanço e utilizando o gesso agrícola como fonte de S. As espécies cultivadas foram: mamoneira, em consórcio com feijão-de-porco, trigo, e milheto. Não houve resposta do trigo, do milheto e do feijão-de-porco à adubação sulfatada, mesmo com teores de enxofre disponível no solo abaixo dos níveis de suficiência. Palavras-chave: disponível, nutriente, sistema convencional 1. INTRODUÇÃO No solo, até 98% do enxofre (S) pode ser encontrado na forma orgânica (BRADY; WEIL, 2002). Por isso, a capacidade do solo em suprir a demanda da planta pelo nutriente está intimamente relacionada ao teor de matéria orgânica do solo e à mineralização do S orgânico para formas inorgânicas, como o sulfato. Na solução do solo, o sulfato é facilmente lixiviado, pois é fracamente retido no solo através do mecanismo de adsorção por coordenação (ESSINGTON, 2005; ISHIGURO e MAKINO, 2011), sendo que a sua adsorção é maior em solos mais argilosos e ricos em óxidos de ferro e alumínio (POZZA et al., 2009; JUNG et al., 2011). Dessa forma, solos com baixos teores de matéria orgânica, de argila e de óxidos, como aqueles com textura arenosa, apresentam, teoricamente, maior probabilidade de resposta das culturas à aplicação de S. Entretanto, não existe uma condição específica que determine a resposta das culturas à aplicação de S. Somado a isso,

2 informações sobre a exigência em S de outras espécies amplamente difundidas na agricultura brasileira, como as plantas de cobertura de solo, entre elas o feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) e o milheto (Pennisetum americanum), também são escassas. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a resposta da mamoneira, do trigo, do feijão-de-porco e do milheto à adubação sulfatada e sua relação com o teor de S disponível no solo em um solo com textura arenosa sob sistema plantio direto. 2. METODOLOGIA O experimento foi realizado entre novembro de 2006 e março de 2009 em Santa Maria (RS), sobre um Argissolo Vermelho distrófico arênico (EMBRAPA, 1999), intensivamente cultivado sob sistema de preparo convencional nas décadas de 60 e 70. Entre meados da década de 70 até 1994 o solo não foi cultivado, havendo crescimento de plantas espontâneas. Em 1994, aplicou-se 6,4 Mg ha -1 de calcário dolomítico (PRNT 100%), para elevar o ph em água do solo até 6,0 e 140 kg ha -1 de P 2 O 5 à lanço na forma de superfosfato triplo, para elevar a disponibilidade de fósforo acima do nível de suficiência (CQFS-RS/SC, 2004). Após estas operações foi adotado o sistema plantio direto na área. Antes da instalação do experimento, foi reaplicado 1,6 Mg ha -1 de calcário dolomítico (PRNT 100%), para elevar o ph em água até 5,5. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições, com cada unidade experimental medindo 9,5 x 11,0 m. As doses de S aplicadas foram de 0, 5, 10 e 20 kg ha -1, a lanço e utilizando o gesso agrícola (CaSO 4.2H 2 O) como fonte de S. As espécies cultivadas foram: mamoneira (Ricinus communis L.), cultivar AL-Guarany, em consórcio com feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) em 2006/07 e 2007/2008, trigo (Triticum aestivum L.) em 2007, e milheto (Pennisetum americanum) na safra 2008/09. A adubação das culturas foi realizada conforme recomendação da CQFS-RS/SC (2004) e a adubação potássica para o cultivo da mamoneira seguiu a recomendação proposta por MOTERLE et al. (2007). Os cultivos de mamoneira foram realizados num espaçamento de 1,4 x 0,80 m e as doses de S foram aplicadas concomitantemente com a semeadura. Aos 52 dias após a emergência (DAE) da mamoneira no primeiro cultivo e aos 7 DAE no segundo cultivo foi semeado o feijão-de-porco na entrelinha da mamoneira num espaçamento de 0,40 x 0,40 m. A parte aérea do feijão-de-porco foi coletada aos 75 e 50 DAE da cultura, no primeiro e segundo cultivo, respectivamente, numa área útil de 12 m 2. Após a coleta da parte aérea, o restante do feijão-de-porco foi roçado e os resíduos permaneceram depositados na superfície do solo. Em ambos os cultivos, a colheita da mamoneira iniciou-se aos 150 DAE, com colheitas semanais até o fim do ciclo da cultura, numa área útil de 50 m 2. As doses de

3 S no cultivo de trigo foram aplicadas no início da floração (80 DAE). No cultivo do milheto, a aplicação das doses de S foi realizada 20 DAE da cultura, sendo que sua parte aérea foi coletada aos 53 DAE. A parte aérea dos cultivos de feijão-de-porco e milheto foi seca em estufa com circulação forçada de ar a ±65 C até peso constante e, em seguida, a matéria seca foi quantificada. A produção de grãos de mamona e de trigo foi corrigida para 13% de umidade e após secagem, os grãos foram moídos. Amostras moídas do material seco de tecido da parte aérea e de grãos foram submetidas à digestão completa com ácido nítrico e ácido perclórico (TABATABAI; BREMNEM, 1970), com posterior determinação do S total por turbidimetria (Tedesco et al., 1995). Nos cultivos de feijão-de-porco também foi determinado o teor de N total na matéria seca da parte aérea, segundo procedimento proposto por TEDESCO et al. (1995). Além disso, no cultivo de trigo foi determinado o peso hectolitro da massa de grãos. Amostras estratificadas de solo foram coletadas nas camadas de 0-10, 10-20, 20-30, 30-40, 40-50 e 50-60 cm na floração do trigo (10 dias após a aplicação de S) e após o segundo cultivo de mamoneira (240 dias após a aplicação de S), em uma trincheira aberta em cada parcela de 0,3 x 0,3 x 0,6 m. O solo das amostras foi seco em estufa com circulação forçada de ar a ±65 o C, moído, passado em peneira com malha de 2 mm e, em seguida, foi submetido à extração de S disponível pelo extrator de Ca(H 2 PO 5 ) 2 (0,008 mol L -1 de P) (TABATABAI; BREMNEM, 1970). A concentração de S foi determinada por turbidimetria (TEDESCO et al., 1995). Os dados de produção de matéria seca e de grãos, do teor total de S no tecido e nos grãos e da quantidade de S reciclada pela palhada e exportada pelos grãos, foram submetidos à análise de variância utilizando o modelo estatístico de blocos ao acaso. Quando significativo, as médias foram ajustadas por regressões polinomiais de até segundo grau, em função das doses de S aplicadas. Já os dados de sulfato extraído do solo foram analisados segundo um esquema bifatorial (doses de sulfato e camadas de solo), considerando a não-aleatoriedade das camadas de solo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A aplicação das doses de S na forma de gesso agrícola não alterou o teor de S em todas as camadas de solo amostradas nas duas avaliações (Tabela 1). Nas duas coletas de solo, os teores de S no solo da camada 0-10 cm foram menores que o nível de suficiência para as culturas menos exigentes como as gramíneas (5,0 mg dm -3 ) e para as culturas mais exigentes como as leguminosas (10 mg dm -3 ) (CQFS-RS/SC, 2004), sendo que a média para todos os tratamentos foi de 4,0 mg dm -3 na primeira coleta e de 4,7 mg dm -3 na

4 segunda. Isso demonstra que, mesmo amostrando o solo 10 dias após a aplicação de S (coleta de solo amostrada na floração do trigo), o extrator Ca(H 2 PO 5 ) 2 não foi sensível em detectar as flutuações nos teores de S do solo decorrentes da aplicação de fertilizante sulfatado. Tabela 1: Teor de S disponível em seis camadas de um Argissolo Vermelho distrófico arênico, submetido à aplicação de doses de S, na floração do trigo e após o segundo cultivo da mamoneira. Camada de solo Floração do trigo 1 Após 2 o cultivo da mamoneira 2 cm Teor de S disponível, mg dm -3 0 10 4,0 a 4,7 a 10 20 2,7 b 3,4 b 20 30 2,3 c 2,6 c 30 40 1,8 d 2,2 d 40 50 1,7 d 1,9 d 50 60 1,4 d 1,7 d Fontes de variação Pr>F Pr>F Dose ns ns Camada *** *** Dose*Camada ns ns CV, % 13,85 12,41 1 Coleta realizada 10 dias após a aplicação de S; 2 Coleta realizada 240 dias após a aplicação de S; Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste de Tukey; ns = não significativo; *** significativo a P<0,001. O teor total e a exportação de S nos grãos da mamona aumentaram com a aplicação das doses de S no solo, nos dois anos de avaliação (Tabela 2). Já a produção da mamona não foi alterada ao nível de significância de 5%, mas ao nível de significância de 10% foi verificado aumento da produção de grãos com a adubação sulfatada nos dois cultivos. Este nível de significância mais elevado para avaliar a produção da cultura pode ser justificado pelo fato de que as cultivares de mamoneira, como a AL-Guarany, possuem ainda grande variabilidade genética, o que pode mascarar o efeito dos tratamentos. Dessa forma, com base nesses resultados, evidencia-se que esta cultura é uma espécie exigente em S, assim como demonstrado por LAVRES JUNIOR et al. (2005), que em estudo de casa de vegetação, verificaram a redução de até 41% na produção de matéria seca, quando submetida à condição de deficiência de S.

5 Tabela 2: Produção de grãos, matéria seca, teor total de S e quantidade exportada em cultivos de mamoneira, feijão-de-porco, trigo e milheto, em um Argissolo Vermelho distrófico arênico, submetido à aplicação de doses de S. Dose de S aplicada, kg ha -1 Cultivo/Ano Avaliação 0 5 10 20 Pr>F Equação de regressão R 2 Mamoneira Grãos (Mg ha -1 ) 1,27 1,68 1,60 1,67 ns - 2006/07 Teor de S (g kg -1 ) 1,09 1,19 1,20 1,25 * y = 1,0948 + 0,0168 x - 0,0005 x 2 0,93 Exportação S (kg ha -1 ) 1,38 2,01 1,92 2,11 * y = 1,4472 + 0,0904 x - 0,0029 x 2 0,82 Feijão-de-porco Matéria seca (Mg ha -1 ) 3,38 3,49 3,47 3,11 ns - 2006/07 Teor de S (g kg -1 ) 1,04 1,13 1,20 1,40 * y =1,0351 + 0,0180 x 0,99 Teor de N (g kg -1 ) 38,0 33,2 38,5 38,9 ns - S acumulado (kg ha -1 ) 3,49 3,94 4,20 4,35 ns - N acumulado (kg ha -1 ) 130 118 133 123 ns - Relação N/S 38 30 32 28 ns - Trigo Grãos (Mg ha -1 ) 2,39 2,38 2,24 2,45 ns - 2007 Teor de S (g kg -1 ) 0,94 1,13 0,83 1,08 ns - Exportação S (kg ha -1 ) 2,25 2,70 1,86 2,65 ns - PH 1 (kg 100 L -1 ) 79 79 80 80 ns - Mamoneira Grãos (Mg ha -1 ) 0,81 0,91 0,89 0,93 ns - 2007/08 Teor de S (%) 1,30 1,32 1,61 1,56 * y = 1,2603 + 0,0384 x - 0,0011 x 2 0,77 Exportação S (kg ha -1 ) 1,06 1,21 1,44 1,46 * y = 1,0372 + 0,0523 x - 0,0015 x 2 0,96 Feijão-de-porco Matéria seca (Mg ha -1 ) 1,55 1,79 1,80 1,84 * y = 1,5703 + 0,0412 x 0,0014 x 2 0,91 2007/08 Teor de S (g kg -1 ) 1,02 1,42 1,51 1,61 * y = 1,0412 + 0,0741 x - 0,0023 x 2 0,97 Teor de N (g kg -1 ) 39,2 37,0 39,1 36,2 ns - S acumulado (kg ha -1 ) 1,60 2,54 2,77 2,91 * y = 1,6457 + 0,1815 x - 0,0060 x 2 0,97 N acumulado (kg ha -1 ) 54 57 61 58 ns - Relação N/S 39 27 27 23 * y = 37,733-1,8834 x + 0,0585 x 2 0,87 Milheto Matéria seca (Mg ha -1 ) 7,41 7,50 7,01 7,00 ns - 2009 Teor de S (g kg -1 ) 0,70 1,19 1,72 2,62 *** y = 0,7165 + 0,0959 x 0,99 S acumulado (kg ha -1 ) 5,3 8,9 12,1 18,7 ** y = 5,4003 + 0,6694 x 0,99 1 Peso hectolitro da massa de grãos; ns = não significativo; * significativo a P<0,05; ** significativo a P<0,01; *** significativo a P<0,001. A produção de grãos, o teor total e o acúmulo de S nos grãos de trigo não foram afetados pela aplicação das doses de S no solo (Tabela 2). A produção média foi de 2,36 Mg ha -1 com teor médio de S nos grãos de 0,99 g kg-1, exportando somente 2,36 kg de S ha -1. O peso hectolitro (PH) dos grãos de trigo também não foi alterado pela adubação sulfatada, sendo que a média obtida foi de 79 kg 100 L -1. Da mesma forma, RHEINHEIMER et al. (2005); OSÓRIO FILHO et al. (2007) não encontraram resposta do trigo à aplicação de doses crescentes de S na semeadura da cultura, sendo que uma das possíveis causas da ausência de resposta do trigo nesses trabalhos pode ter sido a rápida lixiviação do S no

6 perfil do solo (NOGUEIRA e MELO, 2003; OSÓRIO FILHO et al., 2009) para profundidades abaixo da zona de absorção radicular antes que a cultura tivesse se estabelecido plenamente. Porém, convém relatar que mesmo fornecendo o S no momento de maior necessidade da cultura (no início da floração do trigo), como foi o caso deste trabalho, não foi observado incremento na produção. Dessa forma, mesmo com teores de S no solo abaixo do nível de suficiência para o trigo (5 mg dm -3 segundo a CQFS-RS/SC, 2004), podese inferir que a quantidade de S nativo presente no solo foi suficiente para suprir as necessidades ao bom crescimento e desenvolvimento da cultura do trigo. A produção de matéria seca da parte aérea do feijão-de-porco, em consórcio com a mamoneira, aumentou com a dose de S aplicada no solo apenas no segundo cultivo (Tabela 1), mesmo com os teores de S disponível abaixo no nível crítico para as leguminosas (10 mg dm -3 segundo a CQFS-RS/SC, 2004). Isto pode ter ocorrido devido a sua implantação logo após a aplicação das doses de S (7 dias), diferentemente do primeiro cultivo dessa cultura, que foi semeada 53 dias após a aplicação de S. O teor total de S no tecido da parte aérea aumentou com a dose em ambos os cultivos, mas houve incremento no teor de S acumulado apenas no segundo cultivo. A produção de matéria seca da parte aérea do milheto não foi afetada pela aplicação das doses de S, apresentando produção média de 7,23 Mg ha -1 (Tabela 2), mesmo com teores de S disponível no solo abaixo do nível crítico estabelecido pela CQFS-RS/SC (2004) (5 mg dm -3 para as gramíneas). Já os teores e o acúmulo de S no tecido da parte aérea aumentaram linearmente com as doses de S aplicadas, sendo que no tratamento com a maior dose esses valores equivaleram a 3,7 e 3,5 vezes, respectivamente, aos valores encontrados no tratamento testemunha. Dessa forma, sistemas de produção agrícola com rotação de culturas que utilizam plantas de cobertura com crescimento radicular agressivo, como o feijão-de-porco e o milheto, maximizam a biociclagem do S, bem como dos demais nutrientes, diminuindo suas perdas no sistema solo-planta-atmosfera. A resposta em produção de grãos da mamoneira e de matéria seca do segundo cultivo de feijão-de-porco foram mais relacionadas à aplicação de S do que às doses aplicadas. Assim, a aplicação de apenas 5 kg ha -1 de S seria suficiente para aumentar a produção dessas culturas, sendo que a aplicação de doses maiores não implica em aumento da produção, mas sim no consumo de luxo de S (MARSCHNER, 1995), onde a planta absorve quantidades do nutriente maiores que a sua necessidade e as acumula em seus tecidos. 4. CONCLUSÕES

7 Mesmo com teores de enxofre disponível no solo abaixo dos níveis de suficiência propostos pela Comissão de Química e Fertilidade do Solo dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, não houve resposta do trigo, do milheto e do primeiro cultivo de feijãode-porco à adubação sulfatada. 5. REFERÊNCIAS BRADY, N.C.; WEIL, R.R. The nature and properties of soils. 13.ed. New Jersey: Prentice-Hall. 960p, 2002. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO CQFSRS/SC. Manual de adubação e calagem para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo Núcleo Regional Sul. 400p, 2004. EMBRAPA (1999). Centro Nacional de Pesquisas de Solos. Sistema brasileiro de classificação dos solos. Rio de Janeiro: Embrapa. 412p. ESSINGTON, M.E.. Soil and water chemistry: an integrative approach. London: CRC Press. 534p, 2005. ISHIGURO, M.: MAKINO, T. Sulfate adsorption on a volcanic ash soil (allophanic Andisol) under low ph conditions. Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, 384:121-125, 2011. JUNG, K.Ok.YS.: CHANG, SX. Sulfate adsorption properties of acid-sensitive soils in the Athabasca oil sands region in Alberta, Canada. Chemosphere, 84:457-463, 2011. LAVRES, J.J. et al.. Deficiências de macronutrientes no estado nutricional da mamoneira cultivar Iris. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 40:145-151, 2005. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. New York: Academic Press. 889p, 1995. MOTERLE, D.F. et al. Adubação potássica na cultura da mamoneira em solo arenoso sob sistema plantio direto na região central do Rio Grande do Sul. Informe Técnico 8. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria 5p, 2007. NOGUEIRA, M.A.: MELO, W.J. Enxofre disponível para a soja e atividade de arilsulfatase em solo tratado com gesso agrícola. Revista Brasileira de Ciências do Solo, 27:655-663, 2003.

8 OSÓRIO, F.B.D. et al. Deposição do enxofre atmosférico no solo pelas precipitações pluviais e respostas de culturas à adubação sulfatada em sistema plantio direto. Ciência Rural, 37:712-719, 2007. POZZA, A. A. A. et al. Adsorção e dessorção aniônicas individuais por gibbsita pedogenética. Química Nova, 32:99-105, 2009. RHEINHEIMER, D. S. et al. Resposta de culturas à aplicação de enxofre e a teores de sulfato num solo de textura arenosa sob plantio direto. Ciência Rural, 35:562-569, 2005. TABATABAI, M.A.; BREMNER, J.M. An alkaline oxidation method for determination of total sulphur in soils. Soil Science Society of America Proceedings, 34:62-65, 1970. TEDESCO, M. J. et al. Análise de solo, plantas e outros materiais. Boletim Técnico de Solos 5. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 215p., 1995.