Luiz Carlos Casteletti et al. Avaliação da resistência à corrosão de aços inoxidáveis com Nb endurecíveis por precipitação

Documentos relacionados
ESTUDO DA OCORRÊNCIA DA CORROSÃO EM AÇOS INOXIDÁVEIS AISI 316L E 444 UTILIZADOS NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

ANÁLISE DO BALANÇO DE FASES FERRITA/AUSTENITA NO METAL DE SOLDA DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S SOLDADO COM TIG

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE UM AÇO SAE 4140 COM ESTRUTURA BIFÁSICA

Influence of Austenitizing Temperature On the Microstructure and Mechanical Properties of AISI H13 Tool Steel.

ANÁLISE DE FALHA EM VIRABREQUIM DE MOTOR V8

CARACTERIZAÇÃO DA TENACIDADE E RESISTÊNCIA A CORROSÃO POR PITE DO AÇO INOXIDÁVEL DÚPLEX UNS S31803 (SAF2205) APÓS SOLDAGEM

IV Seminário de Iniciação Científica

CARACTERÍSTICAS DE FORMAÇÃO DA AUSTENITA EXPANDIDA NA NITRETAÇÃO POR PLASMA DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO AISI 316 GRAU ASTM F138

EFEITO DO TRATAMENTO CRIOGÊNICO NA RESISTÊNCIA AO DESGASTE DO AÇO H13

CARACTERIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DA MICRODUREZA VICKERS NO PROCESSO DE FORJAMENTO DE ALUMÍNIO

DESENVOLVIMENTO DA PRODUÇÃO DE BARRAS DO AÇO INOXIDÁVEL AUSTENÍTICO NITROGENADO ASTM GRAU XM19

Estudo Da Potencialidade De Redução Do Teor De Cromo Em Moinhos Do Tipo Rolo Sobre Pista Da Termoelétrica Jorge Lacerda

ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS METEOROLÓGICOS NAS ESTAÇÕES AUTOMÁTICAS E CONVENCIONAIS DO INMET EM BRASÍLIA DF.

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE SOLUBILIZAÇÃO NA RESISTÊNCIA A TRAÇÃO DE UM AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX. 1 UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá

O irmão do aço. Obtendo o ferro fundido

TRATAMENTO TÉRMICO E SUPERFICIAL DO AÇO INOXIDÁVEL MARTENSÍTICO AISI 420 DESTINADO A MOLDES PARA INJEÇÃO DE POLÍMEROS PARTE I TRATAMENTO TÉRMICO 1

Materiais / Materiais I. Guia para Trabalho Laboratorial

Tratamentos Térmicos

Ligas com Memória de Forma

DETECÇÃO DE PEQUENOS TEORES DE FASE SIGMA E AVALIAÇÃO DOS SEUS EFEITOS NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S31803

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

Rodas Microligadas: Estudo e aplicação nas ferrovias da Vale

ESTUDO DA SENSITIZAÇÃO CAUSADA PELO CICLO TÉRMICO DE SOLDAGEM NO AÇO INOXIDÁVEL SUPERFERRÍTICO AISI 444

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO AISI 420 DEPOSITADO POR PROCESSOS VARIADOS DE ASPERSÃO TÉRMICA

Recozimento recuperação) Tratamento Térmico (Amolecimento, Normalização (Resfriamento ao ar) Tempera (Endurecimento) homogeneização, Revenido (alívio

Estudo comparativo da precipitação de fases a 850ºC em aços dúplex UNS S32304 e UNS S31803

PRODUÇÃO E FUNDIÇÃO DO COBRE

No contexto das ações de Pesquisa e Desenvolvimento

Substâncias puras e misturas; análise imediata

Introdução. Palavras-chave: Poliestireno; radiação gama; stress cracking; propriedades mecânicas

Dureza Rockwell. No início do século XX houve muitos progressos. Nossa aula. Em que consiste o ensaio Rockwell. no campo da determinação da dureza.

ESTUDO DA RESISTÊNCIA À COROSÃO DO AÇO INOXIDÁVEL LEAN DUPLEX UNS SOLDADO POR ATRITO COM PINO NÃO CONSUMÍVEL

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DE AÇOS INOXIDÁVEIS SUBMETIDAS A CICLOS DE FADIGA TÉRMICA.

PROCEDIMENTOS PARA INCLUSÃO DE PERIÓDICOS NO PORTAL DE PERIÓDICOS FCLAR UNESP

Gerenciamento do Escopo do Projeto (PMBoK 5ª ed.)

Rem: Revista Escola de Minas ISSN: Escola de Minas Brasil

AVALIAÇÃO DA TENACIDADE DE CHAPAS GROSSAS DE AÇOS INOXIDÁVEIS DUPLEX TOUGHNESS EVALUATION OF DUPLEX STAINLESS STEELS HEAVY PLATES

TTT VI Conferência Brasileira sobre Temas de Tratamento Térmico 17 a 20 de Junho de 2012, Atibaia, SP, Brasil

Tratamentos Térmicos dos Aços Ferramenta Um Ensaio

1 Circuitos Pneumáticos

USO DA INDUÇÃO ELETROMAGNÉTICA NO TRATAMENTO TÉRMICO DE FERRAMENTAS DE PENETRAÇÃO DE SOLOS: AUMENTO DO DESEMPENHO OPERACIONAL E DA DE DURABILIDADE

Ligas Inoxidáveis. Estudo comparativo entre os aços inoxidáveis dúplex e os inoxidáveis AISI 304L/316L. Abstract. Resumo.

AVALIAÇÃO DE UM TANQUE DE DECANTAÇÃO DE SÓLIDOS UTILIZANDO FLUIDODINÂMICA COMPUTACIONAL

P. Ortega, UFSC; P. Bernardini, UFSC e L.A, Torres, TRACTEBEL

ESTUDO DA CORROSÃO POR PITE DE NOVOS AÇOS INOXIDÁVEIS APLICADOS EM IMPLANTES ORTOPÉDICOS EM MEIO DE SOLUÇÕES DE RINGER LACTATO

CORROSÃO SELETIVA NAS LIGAS CUPRONÍQUEL (90-10) EMPREGADAS EM TROCADORES DE CALOR DE USINAS HIDRELÉTRICAS. Carlos Roberto Santana Mussoi

Aula Teórica 21. Materiais em Engenharia. Metais ferrosos. Arlindo Silva Ano Lectivo 2011/2012

APLICAÇÃO DE LASER PULSADO Nd:YAG NA SOLDAGEM DO AÇO INOXIDÁVEL DUPLEX UNS S 32205

AVALIAÇÃO DA SOLDAGEM PELO PROCESSO MIG EM AÇO INOXIDÁVEL MARTENSÍTICO

SIMULAÇÃO E DETERMINAÇÃO DE DESLOCAMENTO COM GNSS (GPS) Simulation and Determination of Displacement with GNSS (GPS)

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA, ECONÔMICA E AMBIENTAL DE PROJETOS DE TRANSPORTE URBANO COLETIVO

SUSCEPTILIDADE À FRAGILIZAÇÃO POR PRECIPITAÇÃO EM AÇO FUNDIDO DE CARCAÇA

TRATAMENTO DE ÁGUA: SISTEMA FILTRO LENTO ACOPLADO A UM CANAL DE GARAFFAS PET

CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DAS LIGAS Ti-18Si-6B E Ti-7,5Si-22,5B PROCESSADAS POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA E PRENSAGEM A QUENTE 1

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

EVALUATION OF SENSITIZATION OF FERRITICS STAINLESS STEELS STABILIZED AND NOT STABILIZED USING ELECTROCHEMICAL TECHNIQUES IN SULPHURIC ENVIRONMENT

AutoFilt Type RF3 Exemplos de aplicação.

Utilização de aços inoxidáveis em implantes

TIJOLOS DE ADOBE ESCOLA DE MINAS / 2015 / PROF. RICARDO FIOROTTO / MARTHA HOPPE / PAULA MATIAS

ANÁLISE COMPARATIVA DOS PROCESSOS DE SOLDAGEM ARAME TUBULAR E ELETRODO REVESTIDO NA SOLDAGEM DO AÇO API 5LX - GRAU 70

Estudo comparativo de ferros fundidos nodulares temperados e austemperados

Classificação de alimentos em relação à suas informações nutricionais por meio da Análise Multivariada

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO EM FLUÊNCIA DA LIGA TI-6AL-4V COM ESTRUTURA MARTENSÍTICA E EQUIAXIAL A 600 C

Fundamentos de Teste de Software

EFEITO DAS CONDIÇÕES DE PROCESSAMENTO NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO DO AÇO AISI 317L

Contrata Consultor na modalidade Produto

ANÁLISE MICROESTRUTURAL DE AÇOS INOXIDÁVEIS ALTAMENTE LIGADOS: DA AMOSTRAGEM À INTERPRETAÇÃO

EFEITO DO TRATAMENTO TÉRMICO DE SOLUBILIZAÇÃO NA MICROESTRUTURA E PROPRIEDADES DE IMPACTO DO AÇO INOXIDÁVEL SUPERAUSTENÍTICO ASTM A 744 Gr.

Tecnologias para disposição final de resíduos sólidos urbanos em municípios de pequeno porte. Dr. Cristiano Kenji Iwai

Comandos de Eletropneumática Exercícios Comentados para Elaboração, Montagem e Ensaios

ENSAIO NÃO-DESTRUTIVO - LÍQUIDO PENETRANTE

Tubulações Industriais. Profª Karla Silva

INFLUÊNCIA DOS TRATAMENTOS TÉRMICOS DE ESTABILIZAÇÃO E SOLUBILIZAÇÃO NA RESISTÊNCIA À CORROSÃO INTERGRANULAR DO AÇO INOXIDÁVEL AISI 347 FUNDIDO

Arquitecturas de Software Enunciado de Projecto

POLÍTICA DE INVESTIMENTO PEIXE PILOTO PARA CLUBES DE INVESTIMENTOS Vitória, 26 de agosto de 2009.

Manual Remessa Bancária

RESULTADOS PRÁTICOS DA APLICAÇÃO DE NOVO BIOCIDA PARA SISTEMAS DE OSMOSE REVERSA

Efeitos da adubação nitrogenada de liberação lenta sobre a qualidade de mudas de café

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS AÇOS ASTM A995 GR 3A (DUPLEX) E GR 5A (SUPERDUPLEX), EM RELAÇÃO Á RESISTÊNCIA À CORROSÃO EM MEIOS ÁCIDO, BÁSICO E SALINO.

Principais elementos de liga. Cr Ni V Mo W Co B Cu Mn, Si, P e S (residuais)

LIXO ELETRÔNICO: origens e reaproveitamento

INFLUÊNCIA DO ENVELHECIMENTO NA TENACIDADE À FRATURA DO AÇO INOXIDÁVEL ISO

PRIMEIROS RESULTADOS DA ANÁLISE DA LINHA DE BASE DA PESQUISA DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Palavras-Chave: Mecânica da fratura, aço inoxidável, resistência mecânica. Keywords: fracture mechanics, stainless steel, mechanical strength.

INFLUÊNCIA DOS AGREGADOS GRAÚDOS RECICLADOS DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO PREDIAL NAS PROPRIEDADES DO CONCRETO FRESCO E ENDURECIDO

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIO PIC DIREITO/UniCEUB EDITAL DE 2016

Sondagem do Setor de Serviços

EDITAL DE SELEÇÃO PARA MESTRADO 2016 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (UNIFEI)

Critério de Desenvolvimento da Embalagem de Transporte. Magda Cercan Junho/2013 São Paulo

AVALIAÇÃO DA PROPAGAÇÃO DE TRINCA POR FADIGA EM AMOSTRAS DA LIGA Ti-6Al-4V SOLDADAS PELO PROCESSO TIG

2 03/11 Relatório Final R.A. O.S. O.A. PU. 1 30/09 Alterado Endereço do Terreno R.A. O.S. O.A. PU

Eng Mecânico. M.Sc.; D.Sc.; UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá Itajubá MG. Brasil.

Treinamento IMPERGEL PU

Impresso em 26/08/ :39:41 (Sem título)

PROPRIEDADES MECANICAS RELACIONADAS COM A MICROESTRUTURA DE AÇOS AVANÇADOS DESTINADOS À INDÚSTRIA AUTOMOBILISTICA

INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DE VIBRAÇÃO NAS TENSÕES RESIDUAIS GERADAS NA SOLDAGEM A LASER DE AÇOS ARBL E IF

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

Plano Pós-Pago Alternativo de Serviço

MICROMECANISMOS DA FRATURA DECORRENTES DA RUPTURA POR IMPACTO DE UM AÇO INOXIDÁVEL ISO

Transcrição:

Luiz Carlos Casteletti et al. INOX: Corrosão Avaliação da resistência à corrosão de aços inoxidáveis com Nb endurecíveis por precipitação Corrosion resistance evaluation of precipitation hardening stainless steels with Nb Luiz Carlos Casteletti Escola de Engenharia de São Carlos EESC-USP, São Carlos - SP E-mail: castelet@sc.usp.br Frederico Augusto Pires Fernandes Escola de Engenharia de São Carlos EESC-USP, São Carlos - SP E-mail: codoico@gmail.com Amadeu Lombardi-Neto Aeroalccol - SP E-mail: amadeuln@gmail.com Carlos Alberto Picon Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira FEIS-UNESP, Ilha Solteira - SP E-mail: capicone@dfq.feis.unesp.br Germano Tremiliosi-Filho Instituto de Química de São Carlos IQSC-USP, São Carlos - SP E-mail: germano@iqsc.usp.br Resumo Os aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação foram desenvolvidos a partir de 1945, em decorrência das necessidades da indústria aeroespacial em termos da disponibilidade de aços com resistência mecânica e à corrosão, em temperaturas mais elevadas, superiores às dos aços inoxidáveis tradicionais, aliadas à facilidade de soldagem. Esses aços apresentam microestruturas martensíticas do tipo substitucional, endurecidas posteriormente por precipitados. Nesse trabalho, foram produzidos dois aços com composições alternativas usando o Nb como formador de precipitados, bem como um aço PH13-8Mo para efeito de comparação, em termos de resistências mecânica e à corrosão. O Aço 1 apresentou resistência à corrosão semelhante à do aço PH13-8Mo e o Aço 2 apresentou resistência mecânica próxima à do aço PH13-8Mo. Palavras-chave: Aço inoxidável, endurecimento por precipitação, corrosão. Abstract Precipitate-hardened stainless steel was developed in 1945 as a consequence of the aerospace industry s need for a high-strength steel that would be resistant to corrosion at high temperatures, and easily welded exceeding the properties of conventional stainless steel. This steel possesses substitutional martensitic microstructures that can afterwards be hardened by precipitation. For this research, two types of steel with alternative compositions were produced by using Nb as a precipitate producer, and PH13-8Mo steel for comparison purposes in terms of mechanical and corrosive resistance. Steel 1 showed corrosive resistance similar to PH13-8Mo and Steel 2 presented mechanical resistance close to that of PH13-8Mo. Keywords: Stainless steel, precipitation hardening, corrosion. 1. Introdução As necessidades das indústrias aeronáutica e aeroespacial, em termos da disponibilidade de aços inoxidáveis com resistências mecânica e à corrosão em temperaturas mais elevadas, superiores as dos aços inoxidáveis tradicionais, aliadas a uma ductilidade adequada às operações de conformação necessárias e às facilidades de soldagem, levaram à realização de extensas pesquisas, que resultaram na obtenção dos aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação, cuja martensita é do tipo substitucional, endurecida, posteriormente, por precipitados intermetálicos à 91

Avaliação da resistência à corrosão de aços inoxidáveis com Nb endurecíveis por precipitação base de cobre, alumínio ou molibdênio, que endurecem a liga pelas suas influências nos movimentos das discordâncias (Bressan, 2008; Wang et al., 2006; Guo; Sha; Vaumousse, 2003). A existência dos picos de endurecimento secundário permite o uso desses aços em temperaturas mais elevadas, até as proximidades desses picos, sem perdas de suas características mecânicas. Foram desenvolvidos os seguintes tipos de aços principais: 15-5PH, 17-7PH, 17-4PH, CUSTOM 450 e 455 e o PH 13-8Mo, que é livre de ferrita mesmo em peças mais espessas (Fine, 1964; Decker, 1973). Os aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação são divididos em três grupos: aços austeníticos, semiausteníticos e martensíticos (Peckner et al., 1977). As composições desses aços devem ser cuidadosamente balanceadas para produzirem endurecimento por dois mecanismos separados, por meio da transformação da austenita em martensita e posterior precipitação, via tratamento térmico de envelhecimento, de compostos intermetálicos (Peckner et al., 1977, White, 1969). Os tratamentos térmicos consistem de três passos básicos em alguns tipos desses aços (austeníticos e semi-austeníticos): condicionamento da austenita, transformação para martensita e posterior precipitação ou envelhecimento. No caso dos martensíticos, não é necessário o tratamento de condicionamento (Fine, 1964). Esse trabalho tem como objetivo avaliar as resistências à corrosão e as propriedades mecânicas de dois aços inoxidáveis endurecíveis por precipitados decorrentes da adição de Nb, comparando-as com as de um aço PH13-8Mo tradicional. 2. Materiais e métodos Os aços usados nesse trabalho foram desenvolvidos, fabricados e tratados pelos próprios autores por meio de fundição, forjamento e tratamentos térmicos. As fundições foram realizadas em forno de indução a vácuo. Os lingotes foram forjados na faixa de temperatura de 1000-1100 C, com uma redução de área da ordem de 85%. Partindo-se das barras forjadas, foram confeccionados corpos-de-prova para as etapas posteriores. Todas as ligas foram submetidas a tratamentos de solubilização durante 1,5h a 1100 C, com resfriamento em óleo. As composições químicas nominais das ligas, em porcentagem-peso, são apresentadas na Tabela 1. O aço PH13-8Mo foi usado para fins de comparação. Em ambos os aços, foram adicionados nióbio, como elemento formador de precipitados, e cálcio, visando ao melhoramento das propriedades de impacto. No Aço 2, o teor de cromo foi reduzido e o de níquel aumentado, visando a um aumento na resistência ao impacto do mesmo. Apesar de o teor de cromo situar-se abaixo de 12%, o aço apresenta uma resistência à corrosão intermediária entre as do aço inoxidável e as dos aços de alta resistência, como verificamos em trabalho realizado anteriormente (Casteletti, 1996). Para os exames metalográficos, foram utilizados procedimentos convencionais de lixamento e polimento, seguidos de ataque químico. As fotomicrografias ópticas foram obtidas com auxílio da técnica de contraste de interferência. Os ensaios de tração foram realizados à temperatura ambiente em uma máquina marca INSTRON, modelo TTDM-L, de acordo com a norma ASTM E 8M-94b Metric. Foram feitos três ensaios para cada condição com uma velocidade de 0,1cm/min. Para os testes de dureza, foi utilizada uma máquina marca OTTO WOL- PERT-WERKE com escala Rockwell C (HRc). Os ensaios de impacto foram realizados utilizando-se corpos-de-prova do tipo Charpy-V, segundo a norma ASTM E 23-82. A célula eletroquímica, utilizada para a obtenção das curvas de polarização potenciodinâmicas, consta de um eletrodo de referência de calomelano saturado (ECS) e um eletrodo auxiliar de platina. O eletrólito empregado foi água do mar natural (PH 8,0) obtida em alto mar da praia da Boa Viagem em Recife-PE. Foi empregado, também, um potenciostato modelo Autolab- VGSTAT- 302, para monitoramento do potencial e corrente. As curvas de polarização anódicas dos aços foram obtidas com uma velocidade de varredura de 1mV/s. 3. Resultados e discussão Na Figura 1, são apresentadas as micrografias, obtidas pela técnica de contraste de interferência diferencial, correspondentes às matrizes das ligas nos estados solubilizados. Verifica-se, em todos os casos, a presença da estrutura martensítica do tipo lath. Na Tabela 2, são apresentados os resultados de propriedades mecânicas para os aços estudados, após solubilização (1100 C/1,5h) e, posteriormente, envelhecimento. As durezas dos aços PH13-8Mo, Aço 1 e Aço 2, no estado solubilizado, foram 33, 31 e 34 HRc, respectivamente. Tabela 1 - Composição química nominal dos aços produzidos (% peso). 92

Luiz Carlos Casteletti et al. Figura 1 - Fotomicrografi a óptica dos aços produzidos: a) PH13-8Mo, b) Aço 1, c) Aço 2. Tabela 2 - Resultados de ensaios de tração, impacto e dureza. Para os testes de corrosão, foram usadas amostras envelhecidas no pico de dureza. Tais durezas são também apresentadas na Tabela 2. Na Figura 2, são apresentadas as curvas de polarização potenciodinâmicas para os aços em questão. Verifica-se que os aços PH13-8Mo e o Aço 1 sofreram um processo de passivação e formação de pites (como indicado na Figura 2). Já o Aço 2 apresentou um pequeno indício de passivação em sua curva, devido ao seu menor teor de cromo. Em soluções de alta concentração de cloreto (água do mar), o pite é caracterizado por um potencial mínimo, chamado de potencial de pite. Abaixo desse potencial, o metal permanece passivo e, acima dele, o pite é observado, sendo este o critério que foi usado para sua detecção nesse trabalho. As durezas alcançadas pelos aços em estudo demonstram o grande aumento decorrente da formação de precipitados endurecedores. No caso dos aços com nióbio, tais precipitados podem Figura 2 - Curvas de polarização potenciodinâmicas dos aços estudados. 93

Avaliação da resistência à corrosão de aços inoxidáveis com Nb endurecíveis por precipitação ser fases de Laves à base de nióbio, do tipo Fe 2 Nb ou precipitados mistos do tipo Fe 2 (Nb;Mo), como verificado em trabalho anterior (Casteletti, 1996). Na Tabela 3, são apresentados os resultados de análises de microssonda eletrônica realizadas em precipitados presentes no Aço 1. Os aspectos superficiais, após ensaio de corrosão, dos aços estudados são mostrados na Figura 3. Verifica-se, nos aços PH13-8Mo e Aço 1, a presença de pites após a exposição em água do mar natural. No caso do Aço 2, foi observado um mecanismo de corrosão diferente, consistindo, aparentemente, de corrosão uniforme e generalizada. Tal comportamento poderia também estar relacionado ao maior tempo de permanência acima do possível potencial de pite com grandes correntes. Mesmo que a corrosão se iniciasse localizada, ela tenderia a se generalizar com esse longo tempo. Na Tabela 4, são apresentados os dados obtidos a partir das curvas de corrosão da Figura 2. Verifica-se que o Aço 1 apresentou o maior potencial de corrosão entre os aços em estudo e a formação de pites em sua superfície inicia-se antes daquela que ocorre no aço PH13-8Mo. O Aço 2 sofreu corrosão generalizada, com o menor potencial de corrosão, não tendo apresentado na curva indícios de formação de pites, como pode ser também comprovado na Figura 3c. Pode-se considerar que o desempe- Tabela 3 - Composições químicas (% peso) de três precipitados presentes no Aço 1. Tabela 4 - Resultados dos potenciais e correntes de corrosão. nho em relação à corrosão dos dois aços que apresentaram pites são semelhantes e superiores ao Aço 2. 4. Conclusões As propriedades mecânicas alcançadas pelos Aços 1 e 2 indicam a presença de precipitados à base de nióbio do tipo Fe Nb ou precipitados mistos 2 do tipo Fe (Nb;Mo). O aço com Nb e 2 com teor de cromo mais elevado e o aço PH13-8Mo apresentaram desempenhos semelhantes à corrosão em água do mar. Em ambos os casos ocorreu o aparecimento de pites de corrosão. O aço com Nb e baixo teor de cromo apresentou desempenho inferior à corrosão, já que não continha o teor de cromo necessário à passivação. Porém sua resistência mecânica situou-se próxima à do aço PH13-8Mo. O Aço 2 sofreu corrosão generalizada, com o menor potencial de corrosão, não tendo apresentado, na curva, indícios de formação de pites, como pode ser também comprovado na Figura 3c. Pode-se considerar que o desempenho em relação à corrosão dos dois aços que apresentaram pites é semelhante e superior ao Aço 2. Figura 3 - Aspecto da superfície dos aços após os testes de corrosão: a) PH13-8Mo, b) Aço 1, c) Aço 2. 94

5. Agradecimentos Os autores agradecem a CAPES pela bolsa de estudo concedida a Frederico Augusto Pires Fernandes e ao CNPq (proc. 150799/2008-0). 6. Referências bibliográfica BRESSAN, J.D. et al. Influence of hardness on the wear resistance of 17-4 PH stainless steel evaluated by the pin-on-disc testing. Journal of Materials Processing Technology, v.205, p. 353-359, 2008. CASTELETTI, L.C. Aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação com o Luiz Carlos Casteletti et al. uso de nióbio nitretados por plasma.são Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1996. 113f. (Tese de Livre Docência). DECKER, R.F. Alloy design, using second phases. Metallurgical Transactions, v.14, n.11, 1973. FINE, M.E. Precipitation Hardening. The Strenthening of Materials, Reinhold P. Corp. (Chapman), New York, 1964. 250p. GUO, Z., SHA, W., VAUMOUSSE, D. Microstructural evolution in a PH13-8 stainless steel after ageing. Acta Materialia, v.51, p. 101-116, 2003. PECKNER, D. et al. Wrought precipitation-hardenable stainless steel. Handbook of Staniless Steel, Mc Graw-Hill Book Company, p. 7-1, 1977. WANG, J. et al. The effect of microstructural evolution on hardening behavior of type 17-4PH stainless steel in long-term aging at 350 C. Materials Characterization, v.57, p. 274-280, 2006. WHITE, K.L. Precipitation-hardening stainless steels. Machine Design, v.41, n.2, p. 142-, 1969. Artigo recebido em 08/06/2009 e aprovado em 19/01/2010. Descubra as muitas informações da: Geologia, Mineração, Metalurgia & Materiais e Engenharia Civil. Assine e publique na Rem Conheça o nosso site: www.rem.com.br 95