Novo Acordo Ortográfico Prof. Antônio Ortiz
Breve histórico
Séculos XII a XV Surgem os primeiros documentos escritos em português. A ortografia portuguesa tenta reproduzir os sons da fala para facilitar a leitura: a duplicação das vogais indica sílaba tônica: ceeo = céu, dooe = dói; a nasalização das vogais é representada pelo til (manhãas = manhãs), por dois acentos (mááos = mãos) e por m e n (omde = onde; senpre = sempre). o i pode ser substituído por y ou j (ay = ai; mjnas = minhas). Mas não há uma padronização e uma mesma palavra aparece grafada de modos diferentes: ygreja, eygreya, eygleyga, eigreia, eygreia (= igreja); home, homee, ome, omee (= homem).
Séculos XVI a XX A partir da segunda metade do século XVI, a língua portuguesa sofre influência do latim e da cultura grega, graças ao Renascimento e à necessidade de valorização do idioma. É o estágio etimológico. Empregam-se: ph, th, ch, rh e y, que representavam fonemas gregos: philosophia, theatro, chimica (química), rheumatismo, martyr, sepulchro, thesouro, lyrio; consoantes mudas: septembro, enxucto, maligno; consoantes duplas: approximar, immundos. No início do século XIX, o escritor Almeida Garrett defende a simplificação da escrita e critica a ausência de normas que regularizem a ortografia. No final do século XIX, cada um escreve da maneira que acha mais adequada.
1904 Ortografia nacional, do filólogo Gonçalves Viana (1840-1914), é publicada em Portugal. Nela, o estudioso apresenta proposta de simplificar a ortografia: eliminação dos fonemas gregos th (theatro), ph (philosofia), ch (com som de k, como em chimica), rh (rheumatismo) e y (lyrio); eliminação das consoantes dobradas, com exceção de rr e ss: cabello (= cabelo); communicar (= comunicar); ecclesiastico (= ecle-siástico); sâbbado (= sábado). eliminação das consoantes nulas, quando não influenciam na pronúncia da vogal que as precede: licção (= lição); dacta (= data); posthumo (= póstumo); innundar (= inundar); chrystal (= cristal); regularização da acentuação gráfica.
1945 Divergências na interpretação de regras resultam no Acordo Ortográfico Luso-Brasileiro. Em Portugal, as normas vigoram, mas o Brasil mantém a ortografia de 1943. 1971 Decreto do governo altera algumas regras da ortografia de 1943: abolição do trema nos hiatos átonos: saüdade (= saudade), vaïdade (= vaidade); supressão do acento circunflexo diferencial nas letras e e o da sílaba tônica das palavras homógrafas, com exceção de pôde em oposição a pode: almoço (= almoço), êle (= ele), enderêço (= endereço), gôsto (= gosto); eliminação dos acentos circunflexos e graves que marcavam a sílaba subtônica nos vocábulos derivados com o sufixo -mente ou iniciados por -z- : bebezinho (= bebezinho), vovôzinho (= vovozinho), sòmente (= somente), sòzinho (= sozinho), ùltimamente (= ultimamente).
A Língua Portuguesa no Mundo
Mudanças no alfabeto
O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser:
Regras de acentuação Ditongo Abertos São acentuados os seguintes ditongos: éi ói éu
Regras de acentuação Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba). Como era: Como fica: alcalóide alcatéia idéia apóia (verbo apoiar) apóio (verbo apoiar) asteróide bóia colméia alcaloide alcateia ideia apoia apoio asteroide boia colmeia
Atenção: Essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em éis e ói(s). Exemplos: papéis, herói, dói (verbo doer), sóis etc.
Trema Não se usa mais o trema ( ), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui. Como era agüentar argüir bilíngüe Como fica aguentar arguir bilíngue
Hiato Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo decrescente. Como era Como fica baiúca bocaiúva cauíla feiúra baiuca bocaiuva cauila feiura
Atenção: 1) se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí; 2) se o i ou o u forem precedidos de ditongo crescente, o acento permanece. Exemplos: guaíba, Guaíra.
Não acentuamos as palavras terminadas em êem e ôo(s). Como era abençôo crêem (verbo crer) dêem (verbo dar) dôo (verbo doar) enjôo lêem (verbo ler) magôo (verbo magoar) Como fica abençoo creem deem doo enjoo leem magoo
Acento diferencial Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Como era Ele pára o carro. Ele foi ao pólo Norte. Como fica Ele para o carro. Ele foi ao polo Norte. Ele gosta de jogar pólo. Ele gosta de jogar polo. Esse gato tem pêlos brancos. Comi uma pêra. Esse gato tem pelos brancos. Comi uma pera.
Atenção! Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode. Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim.
Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados. Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têm dois carros. Ele vem de Sorocaba. / Eles vêm de Sorocaba. Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra. Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes. Ele detém o poder. / Eles detêm o poder. Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.
Uso do hífen
Não usamos hífen: Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes s ou r. Nesse caso, a consoante obrigatoriamente passa a ser duplicada: Como era anti-religioso anti-semita contra-regra contra-senha mini-saia anti-racismo ultra-som Como fica antirreligioso antissemita contrarregra contrassenha minissaia antirracismo ultrassom
Atenção! O hífen permanece nos compostos em que os prefixos hiper, inter e super aparecem combinados com elementos iniciados por r. Exemplos: hiper-requintado super-resistente. Inter-regional Super-racional
Não usamos hífen: Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Como era auto-aprendizagem auto-estrada extra-escolar Como fica autoaprendizagem autoestrada extraescolar
Não usamos hífen: Em compostos que apresentam elementos de ligação. Exemplos: pé de moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, fim de semana. Incluem-se nesse caso os compostos de base oracional. Exemplos: maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz que, deus me livre, deus nos acuda, bicho de sete cabeças, faz de conta Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-demeia, ao deus-dará, à queima-roupa.
Atenção! O hífen permanece nos compostos com prefixos em que o segundo elemento começa por H. Exemplos: Ante-hipófise Anti-herói Anti-higiênico Neo-helênico Extra-humano
Usa-se o hífen: 1. Em compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação. Exemplos: reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico 2. Em topônimos: Iniciados por grã e grão Grã-Bretanha Grão-Pará
Iniciados por verbo Abre-Campo (município de MG) Passa-e-Fica (município do RN) Passa-Sete (município do RJ) Passa-Tempo (município de MG) São Miguel do Passa-Quatro (município de GO) Elementos ligados por artigo Albergaria-a-Velha Baía de Todos-os-Santos Entre-os-Rios Trás-os-Montes
Usa-se o hífen: Se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia o segundo elemento. Exemplos: micro-ondas, anti-inflacionário, sub-bibliotecário, inter-regional
Usa-se o hífen: Usa-se o hífen com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice. Exemplos: além-mar, além-túmulo, aquém-mar, ex-aluno, ex-diretor, ex-hospedeiro, recém-chegado, pós-moderno, pré-universitário, pró-vida, vice-reitor.
Atenção Com os prefixos co, pre e re, não se usa o hífen, mesmo diante de palavras começadas por e, o ou h. Neste último caso, corta-se o h. Se a palavra seguinte começar com r ou s, dobram-se essas letras. Exemplos: coobrigação, coedição, coeducar, cofundador, coabitação, preexistente, preelaborar, reescrever, reedição
bem e mal Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante.
Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; malafortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf. malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bemnascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto). Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerenca, etc.