MONTALI, L.. Homens e mulheres no mercado de trabalho e os desafios para a equidade. In: ARILHA, M.; CAETANO, A.J.; GUEDES, M.; MARCONDES, G.. (Org.). Diálogos transversais em gênero e fecundidade: articulações contemporâneas. 1. ed. Campinas: Librum, 2012, p. 89-103. Disponível em: <http://liliatmontali.wordpress.com/2014/04/22/homens-emulheres-no-mercado-de-trabalho-e-os-desafios-para-a-equidade/> Homens e Mulheres no Mercado de Trabalho e os Desafios para a Equidade 1 Lilia Montali As análises apresentadas se baseiam em resultados de pesquisa que visa aprofundar estudo sobre a desigualdade de renda entre as famílias e subsidiar discussões sobre a redução da desigualdade e o desenvolvimento social. Pretende-se aqui evidenciar que apesar dos avanços nas últimas décadas e, especialmente a partir dos anos 90, a permanência da desigualdade de rendimentos do trabalho de homens e mulheres tem profundas raízes na divisão sexual do trabalho ainda vigente na sociedade brasileira e que se manifesta tanto nas restrições impostas pelo mercado de trabalho, diferenciadas por sexo, como nas restrições impostas pelas atribuições domésticas. Sob a ótica da divisão sexual do trabalho vigente são complementares a tradicional atribuição à mulher das responsabilidades sobre a administração doméstica e o cuidado dos filhos e a atribuição ao homem das responsabilidades no âmbito público e o mundo do trabalho. Estas atribuições vêm sendo questionadas, e a experiência da inserção das mulheres no mercado de trabalho as vêm colocando em cheque, porém poucas mudanças tem ocorrido nessas atribuições, como fica evidente nas pesquisas recentes sobre o uso do tempo em atividades domésticas por homens e por mulheres; pesquisas se opinião sobre a percepção das atribuições manifestas por homens e mulheres corroboram as persistências (FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO; SESC, 2011; ARAUJO E OUTROS, 2007, FOLHA DE SÃO PAULO, 2010). Outro aspecto a considerar, que reforça a ideia da permanência das atribuições da tradicional divisão sexual do trabalho, é a inserção diferenciada no mercado de trabalho de mulheres com diferentes responsabilidades nos domicílios identificadas por sua posição na família, como evidenciado por MONTALI, 2003 e MONTALI, 2012. Na busca por conciliar família e trabalho 1 Trabalho apresentado no Seminário Diálogos Transversais em Gênero e Fecundidade: Articulações Contemporâneas-ABEP novembro de 2011. Apresenta resultados de projetos de pesquisa de responsabilidade de Lilia Montali, desenvolvidos com apoio do CNPq, junto ao Nepp/Unicamp Universidade Estadual de Campinas. Projetos: Família, trabalho e políticas sociais: mudanças e impactos sobre as famílias metropolitanas nas duas últimas décadas. Em andamento; Desigualdade e pobreza nas famílias metropolitanas: diagnóstico e recomendações para a redução das desigualdades. Concluído em Fevereiro/2012. 1
mulheres-cônjuge e mulheres chefes de família apresentam-se em maiores proporções absorvidas em trabalho precário do que mulheres com posição distinta na estrutura doméstica, como as filhas. Um dos supostos da pesquisa é que a divisão sexual do trabalho atua conjuntamente nas atividades produtivas e no interior das famílias, definindo o lugar de homens e de mulheres nessas duas instâncias. Dessa forma, existem barreiras e motivações distintas que mobilizam ou restringem os diferentes componentes da família para o trabalho. Considera-se que os caminhos para a mudança das desigualdades apontadas, quais sejam a redução da desigualdade de rendimento do trabalho entre homens e mulheres e das formas de inserção no mercado que se mostram possíveis para as mulheres, especialmente aquelas com encargos familiares, passa, por um lado, pelas mudanças nas relações de gênero e nas atribuições domésticas e, por outro, por políticas sociais que possibilitem essa equidade. Enquanto a mudança nas relações de gênero depende de um processo mais longo de desenvolvimento social, considera-se que determinadas políticas sociais poderiam de forma mais imediata propiciar a conciliação família e trabalho e possibilitar inserção mais igualitária no mercado de trabalho. Uma das possibilidades seria oferecer apoio para os encargos s com a prole e possibilitar a essas mulheres maior equidade na inserção no mercado de trabalho, pois possibilitaria a inserção em trabalhos com vínculos contratuais regulamentados, com mais horas de trabalho e, portanto, com melhor remuneração. Refere-se aqui a políticas sociais que garantam a oferta de serviços de qualidade para a educação infantil e creches, bem como de escola em tempo integral para o ensino fundamental para crianças e adolescentes; tais políticas além de proporcionar ganhos para as mulheres,contribuiriam para o desenvolvimento infantil e a melhora da educação das crianças brasileiras. Considera-se ainda que políticas dessa natureza, que viabilizariam melhores possibilidades de inserção e de remuneração das mulheres com encargos pelos filhos venham a contribuir para a redução da pobreza dos domicílios e da desigualdade do país. A pesquisa analisou as áreas metropolitanas brasileiras investigadas pela PNAD (nove regiões metropolitanas e Distrito Federal) 2, que em 2009, representam 31% da população do país e são responsáveis por mais que 40% do PIB nacional. Por outro lado, apresentam indicadores de desigualdade de renda superiores à média nacional e queda menos acentuada que a experimentada pelo país entre 2004 e 2009. 2 Regiões Metropolitanas: Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo e o Distrito Federal 2
Gráfico 1 Índice de Gini Rendimento domiciliar per capita - Brasil e Regiões Metropolitanas, 2001-2009 0,64 0,63 0,62 0,61 0,60 0,59 0,58 0,57 0,56 0,55 0,54 0,53 0,52 0,51 0,50 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Brasil Metropolitano (1) Fonte: PNAD-IBGE. Microdados. Elaboração NEPP/UNICAMP. As tendências de redução da desigualdade no pais e de elevação da renda domiciliar per capita são apontadas no período analisado por muitos estudos, dentre os quais o nosso. Entretanto, a presente investigação constatou, na análise dos arranjos domiciliares, a manutenção da desigualdade de rendimentos entre alguns arranjos domiciliares identificados como mais suscetíveis ao empobrecimento e os demais arranjos. Esperava-se encontrar redução da desigualdade entre estes arranjos no recente contexto de maior crescimento econômico em que ocorre o aumento do emprego, a formalização do emprego, de forma concomitante à ampliação das políticas de transferência de renda e de combate a pobreza, e isso não ocorreu. A análise das fragilidades desses arranjos apontou para aspectos que são afetados pelas relações de gênero e pela divisão sexual do trabalho vigente. Assim, para a discussão da equidade são destacados aqui três aspectos:- a identificação dos arranjos familiares mais vulneráveis ao empobrecimento e suas características; as tendências da inserção ocupacional por posição na família e gênero; o desafio relacionado aos padrões familiares de inserção no mercado de trabalho. Considerando-se a composição domiciliar e momento do ciclo vital da família são identificados como mais vulneráveis ao empobrecimento os arranjos nucleados por casal de até 34 anos com filhos e/ou, que correspondem à etapa inicial do ciclo de vida da família; aqueles arranjos nucleados por casal entre 35 e 49 anos com filhos e/ou, que correspondem à etapa de consolidação da família; e os arranjos nucleados por mulher - monoparental com filhos e/ou, que por sua vez abrangem as diversas etapas do ciclo de vida familiar. Estes arranjos mais suscetíveis ao empobrecimento apresentam como características: menor rendimento domiciliar per capita, maior concentração nos decís inferiores de renda, menores taxas de 3
geração de renda, e crescimento da renda no período 2004 a 2009 menos favorável do que a média metropolitana. Estes representavam em 2001 61% dos domicílios e, em 2009, representam 54% dos domicílios metropolitanos (Tabela 1). A redução proporcional destes arranjos domiciliares decorre de mudanças na família e de fatores demográficos bastante conhecidos do público deste seminário. Com relação às mudanças na família podem ser destacadas as já conhecidas tendências de redução das famílias nucleadas por casais, de crescimento das famílias de casais sem filhos, dos domicílios unipessoais, dos arranjos monoparentais, s principalmente. Com relação aos fatores demográficos que levam a isso podem ser destacados a redução da fecundidade, a postergação do casamento, a mudança de padrões de residência, dentre outros. Tabela 1 Arranjos domiciliares - Regiões Metropolitanas Brasileiras, 2001-2009 Tipos de Arranjos domiciliares Distribuição 2001 2009 Casais 66,2 62,4 Casal sem filhos 12,3 15,3 Casal com filhos e 53,9 47,1 Casal até 34 anos com filhos e 19,3 14,4 Casal de 35 a 49 anos com filhos e 21,7 19,0 Casal de 50 anos e mais com filhos e 9,6 10,5 Monoparental feminina 25,4 27,9 Monoparental feminina com filhos e/ou 19,6 20,6 Unipessoal feminina 5,8 7,3 Monoparental masculino 8,4 9,8 Monoparental masculino com filhos e/ou 3,8 3,9 Unipessoal masculino 4,7 5,9 (1) 100,0 100,0 Fonte: PNAD-IBGE. Microdados. Elaboração NEPP/UNICAMP. Os arranjos familiares mais vulneráveis ao empobrecimento quando analisados por sua composição, denotam composição desfavorável para a inserção de seus componentes em atividades de geração de renda, por se associarem às etapas iniciais do ciclo e vida familiar e apresentar proporção de crianças e adolescentes mais elevada. Por outro lado, relacionada à tais configurações, foram identificadas formas de inserção no mercado das cônjuges e das chefes monoparentais mais precárias do que aquelas mulheres nestas mesmas posições na família em arranjos com menores encargos por crianças e adolescentes, como se verá adiante. Observa-se que os arranjos identificados como os mais vulneráveis ao empobrecimento apresentam as taxas de geração de renda mais baixas, para as quais contribuem as características de sua composição. Esse indicador (taxa de geração de renda) mostra a capacidade dos componentes da família de obter renda no mercado de trabalho e também através de outras fontes. A tendência no período analisado é de crescimento da taxa de geração de renda para todos os arranjos domiciliares, evidenciando a mobilização para o mercado de trabalho e as oportunidades de absorção do mesmo no período e outras oportunidades de geração de renda. Entretanto, no caso dos arranjos mais vulneráveis, a taxa de geração de renda é menor ou próxima da média metropolitana, como é o 4
caso dos arranjos monoparentais s. Todos os demais arranjos menos vulneráveis ao empobrecimento apresentam, taxas superiores à média metropolitana. Por outro lado, observa-se que embora o rendimento domiciliar per capita desses domicílios mais suscetíveis ao empobrecimento cresça entre os anos de 2004 e de 2009, se mantém menor que a média metropolitana e menor do que os demais arranjos, apesar do aumento da expansão do emprego e das políticas de transferência de renda (Gráfico 2). Gráfico 2 Rendimento domiciliar per capita médio - Regiões Metropolitanas Brasileiras Casal até 34 anos com filhos e Monoparental feminina com filhos e/ou Casal de 35 a 49 anos com filhos e Casal de 50 anos e mais com filhos e Monoparental masculino com filhos e/ou Casal sem filhos Unipessoal feminina Unipessoal masculino 421,8 465,3 531,0 626,7 698,8 739,9 670,4 765,2 803,4 912,8 1.092,4 1.145,8 963,3 996,4 1.104,3 811,5 930,2 995,7 1.215,1 1.340,4 1.334,1 1.413,5 1.482,7 1.547,0 2004 2006 2009 1.550,1 1.853,2 1.957,1 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 Fonte: PNAD-IBGE. Microdados. Elaboração NEPP/UNICAMP. O segundo aspecto a discutir sobre a equidade refere-se à inserção diferenciada dos componentes familiares no mercado de trabalho associada ao gênero e à divisão sexual do trabalho. As tendências da ocupação e do desemprego nas regiões metropolitanas analisadas na década de 90 evidenciaram diferenciações nas taxas de ocupação e de desemprego considerando os membros da família. Em estudo sobre a região metropolitana de São Paulo (Montali, 2006), constatou-se nos anos 90 até 2003, período de baixo crescimento econômico e sob o processo de reestruturação produtiva, que a precarização do trabalho e o desemprego afetaram distintamente os membros das famílias, tendo provocado, concomitantemente, a queda da taxa de ocupação dos chefes masculinos e filhos (as) maiores e a elevação da taxa de participação e de ocupação das cônjuges. O estudo revelou mudanças na inserção familiar no mercado de trabalho e no partilhamento da provisão familiar entre os componentes familiares, com o aumento do peso da participação das cônjuges tanto na inserção como na provisão (Montali, 2006; Montali; Tavares 2009). No período de recuperação da economia, entre 2004-2009, são mantidas as especificidades quando considerados a posição na família e gênero. Entretanto, as taxas de participação e de ocupação 5
apresentam, no período, certa estabilidade para os componentes familiares, destacando-se o aumento da taxa de participação e de ocupação das cônjuges e também das filhas e filhos maiores e ; destacam-se ainda as taxas de ocupação crescentes para todos. Por outro lado, se mantém comparativamente mais baixas as taxas de participação e de ocupação das cônjuges femininas e das chefes femininas em relação aos demais componentes, ressalte-se que estas são os componentes s com responsabilidade pela família, considerando-se as atribuições de gênero e da referida divisão sexual do trabalho. A análise das tendências da inserção dos componentes por sexo, mostra que nas regiões metropolitanas brasileiras há estabilidade nas taxas de participação masculina e leve crescimento nas taxas de participação feminina, mesmo em 2009 (ver Gráfico 3). Embora as tendências sejam distintas daquelas do período anterior - que expressavam o baixo crescimento da economia e as mudanças no mercado de trabalho associadas à reestruturação produtiva analisada para a região metropolitana de São Paulo -, é mantida a distância entre as mais elevadas taxas de participação masculinas em relação às femininas, o mesmo ocorrendo com as taxas de ocupação 3. As taxas de participação para os homens se mantém cerca de 71% no período, enquanto as relativas às mulheres são crescentes - passam de 52% no primeiro ano para 53% entre 2006 e 2008 e para 54% em 2009. As taxas de ocupação crescem para ambos entre 2004 e 2008, com queda em 2009 para os homens - a taxa de ocupação masculina passa de 63% em 2004 para 66% em 2008-, enquanto a taxa de ocupação feminina passa de 43% em 2004 para 47% em 2008. Em 2009 é distinta a tendência entre homens e mulheres: queda na taxa de ocupação masculina de 66% para 64,7%, enquanto para as mulheres se mantém em 47% (Gráfico 3). 3 Utiliza-se como referência a PEA Ampla, que incorpora ocupados sem remuneração em ajuda a membro do domicilio e os que produzem para auto-consumo e auto-construção. Essa classificação possibilita captar de forma mais completa a inserção das mulheres e dos jovens no mercado de trabalho. 6
Gráfico 3 Taxas de participação e ocupação e desemprego por posição na família Regiões Metropolitanas Brasileiras, 2004-2009 100 Taxa de Participação 90 80 82 83 82 81 84 83 84 84 75 75 76 78 70 60 50 57 59 58 58 54 56 57 58 61 61 62 62 71 71 71 71 52 53 53 54 40 30 20 10 0 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 masculino Cônjuge masculinos s PIA Homens Mulheres Taxa de Ocupação 100 90 80 78 79 79 78 70 60 50 52 54 54 52 48 49 52 51 67 69 72 71 58 59 63 63 53 54 56 55 63 65 66 65 43 45 47 47 40 30 20 10 0 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 masculino Cônjuge masculinos s PIA Homens Mulheres Taxa de Desemprego 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 5 4 3 4 10 9 8 10 12 12 9 11 19 17 14 16 23 23 19 18 13 12 9 11 11 9 7 8 16 15 12 14 0 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 04060809 masculino Cônjuge masculinos s PEA Homens Mulheres Fonte: IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2004-2009 Elaboração: Montali, L., NEPP/UNICAMP. Excluídos da análise dos domicílios/família, os pensionistas, empregados domésticos residentes e dos empregados domésticos. 7
O desemprego nas regiões metropolitanas brasileiras apresenta tendência de queda entre 2004 e 2008 - caracterizado como um período de recuperação da economia - e pequena elevação em 2009. Entre 2004 e 2008 é maior a queda observada para o desemprego masculino relativamente ao, pois a variação percentual é de redução da ordem de 34% no desemprego dos homens e de redução de 24% para o desemprego. Ocorre nesse período a permanência de taxas de desemprego mais elevadas para as mulheres embora caiam de 16%, em 2004, para 12%, em 2008, enquanto para os homens a taxa de desemprego cai de 10,7% em 2004 para 7% em 2008. Estas informações corroboram as tendências nacionais apontadas por estudos (MONTAGNER, 2009; SEADE/DIEESE, 2008 e 2011) acerca da permanência de elevadas taxas de desemprego femininas no período da recuperação. Já no ano de 2009, sob o impacto da crise internacional, eleva-se a taxa de desemprego para a população economicamente ativa metropolitana: esta passa de 9,4% para 10,7%. Para os homens o acréscimo foi de um ponto percentual (8% em 2009) e para as mulheres cerca de dois pontos percentuais (14% em 2009); considerando-se a posição na família, destacam-se com maior elevação do desemprego as mulheres chefes de domicílios e as cônjuges (Gráfico 3). Nesse período de recuperação econômica, além da redução do desemprego, outra tendência relevante que ocorre é o aumento da formalização do emprego.no entanto, nossos dados e alguns estudos mostraram que também ocorre diferenciadamente por sexo (Leone, 2009).Para as mulheres ocorre o aumento do emprego, mas ainda continuam crescendo as ocupações não formais. Os dados da nossa investigação evidenciam essas tendências (Gráfico 4), corroborando as desigualdades já apontadas, associadas ao gênero e especialmente às atribuições familiares de chefes femininas e cônjuges femininas, definidas pela vigente divisão sexual do trabalho na família e no mercado. Dessa forma evidencia-se que as mulheres-cônjuge e as mulheres-chefes de família apresentam-se, em maiores proporções, absorvidas em trabalhos precários, perfazendo quase a metade das ocupadas; além da maior ocupação precária, a taxa de inatividade destas é mais elevada do que a das filhas 18 anos, bem como dos componentes masculinos (Gráfico 4). A análise comparando os arranjos domiciliares com presença de crianças e adolescentes - que coincidem com aqueles mais vulneráveis ao empobrecimento -, com os outros arranjos, fica evidente a mobilização acentuada das mulheres cônjuge e chefes monoparentais para o mercado e os limites colocados por suas atribuições familiares, que se expressam na inserção precária e no elevado desemprego (Gráfico 5). 8
Gráfico 4 Distribuição da PIA segundo situação ocupacional e condição de precariedade na ocupação por posição na família, Regiões metropolitanas brasileiras, 2001-2009 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 01 06 09 01 06 09 01 06 09 01 06 09 01 06 09 01 06 09 01 06 09 masculino Cônjuge masculinos s Parentes e não Ocupados Não-Precários Ocupados Precários Desempregados Inativos Fonte: IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração: NEPP/UNICAMP. Gráfico 5 Inserção de cônjuges e chefes femininas no mercado de trabalho segundo tipologia de arranjo domiciliar, Regiões metropolitanas brasileiras, 2001-2009 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 45 5 12 23 26 5 32 27 27 29 Sem filhos 36 34 até 34 anos com filhos e/ou 35 a 49 anos com filhos e/ou 64 2 21 14 50 anos e mais com filhos e/ou 42 6 26 25 13 15 14 8 37 até 34 anos 42 36 36 35 a 49 anos 62 2 23 13 50 anos ou mais Casais - Cônjuge feminina feminina sem cônjuge com filhos e/ou Ocupados Não-Precários Ocupados Precários Desempregados Inativos Fonte: IBGE Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Elaboração: Montali, L., NEPP/UNICAMP. 39 6 31 24 9
Aí se coloca o terceiro aspecto - apontado no inicio-, para a discussão da equidade, que passa pelo desafio considerando os padrões de inserção familiar para a superação da pobreza e da desigualdade. A partir da década de 90 acentua-se a participação feminina no mercado de trabalho e é acentuada a elevação da taxa de geração de renda especialmente daquelas na posição de cônjuge nas famílias conjugais. Nas famílias monoparentais a chefe tem participação mais elevada entre os ocupados na família e responde por mais que a metade da provisão familiar. Dessa forma, observa-se o crescimento da importância das chefes femininas e das cônjuges na provisão da família, no entanto, como a vinculação desses componentes ao mercado de trabalho - segundo as evidências apontadas - é bastante associada a divisão sexual do trabalho e às atribuições na família,ao buscarem a conciliação famíliatrabalho se inserem intensamente nas atividades precárias. Esta forma de inserção condicionada à conciliação família-trabalho afeta a remuneração que estas poderiam auferir se a inserção fosse de outra natureza, ou seja, sob a regulamentação trabalhista, com jornadas maiores e menos intermitentes. Assim, a entrada da mulher no mercado de trabalho é importante, porém sua contribuição para a superação da pobreza nos arranjos domicíliares mais fragilizados para inserção no mercado de trabalho e na geração de renda poderia ser mais efetiva se houvesse maior equidade na inserção no mercado de trabalho. Assim, os resultados da investigação apontam para a necessidade de implementar políticas que promovam a equidade de gênero para inserção no mercado de trabalho visando as mulheres com encargos por crianças e que possibilitem elevar a renda domiciliar. Nesse sentido, as recomendações são de duas naturezas: por um lado, incentivar programas voltados para a qualificação e a elevação da escolaridade dos adultos, bem com de intermediação com o mercado de trabalho; por outro lado, ampliar a aperfeiçoar o apoio no cuidado: aumento da oferta de ensino em tempo integral e ampliação de vagas em creches públicas e para a educação infantil, além de outros incentivos. Recomenda-se o investimento em cuidado para crianças e adolescentes em tempo integral, visando, especialmente, a educação infantil para que, além do desenvolvimento cognitivo da criança, seja possível o acesso a emprego de qualidade para mulheres com encargo por crianças, enquanto formas de enfrentamento da pobreza. Referências bibliográficas ARAUJO, Clara; PICANÇO, Felícia; SCALON, Celi (org) Novas conciliações e antigas tensões? Gênero, família e trabalho em perspectiva comparada. Bauru: EDUSC, 2007. Folha de São Paulo. Mulheres trabalham menos tempo em casa. Sobe número de homens que têm tarefas no lar. Folha de São Paulo: 18/02/2010. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br. Acesso 29/05/2011. Folha de São Paulo. Renda da mulher sobe mais do que a do homem no NE. Folha de São Paulo: 09/03/2011. Mercado. B3. FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO e SESC. Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado. Disponível em: http://www.fpabramo.org.br. Acesso em 29/05/2011. 10
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