25-06-2010. A história da Arquitectura é a história da luta pela janela (...). CONSTRUIR EM VIDRO. (Lao Tse) Le Corbusier. Enquadramento 1ª Parte



Documentos relacionados
O GUIA TERMOS DE REFERÊNCIA: EXEMPLO DE APLICAÇÃO

FICHA DE INVENTÁRIO. 3.OBSERVAÇÕES Transformações/destruições previstas Fios eléctricos visíveis na fachada.

Aula 7 : Desenho de Ventilação

TRABALHO 8. Tiago Lopes de Almeida Coimbra

Ciclo Obra Aberta * Visitas guiadas a obras da autoria do arquitecto José Marques da Silva

Instaladores de Janelas Eficientes

Datas: Curso: 20, 21, 27 e 28 de Março de 2015 Exame: 19 de Junho de 2015 (exame mundial agendado pelo Passivhaus Institut)

Optimização Energética na Reabilitação Onde Investir?

Vasco Peixoto de Freitas

Situação existente CÂMARA MUNICIPAL DA RIBEIRA GRANDE CASA - MUSEU DA FREIRA DO ARCANO PROJECTO DE EXECUÇÃO MEMÓRIA DESCRITIVA

Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores de Coimbra

FICHA DE CARACTERIZAÇÃO DO EDIFICADO

As soluções de janelas de guilhotina ZENDOW são a escolha adequada para obras de renovação arquitectónica.

PORTAS E JANELAS: A LIGAÇÃO DA CASA COM O MUNDO

REABILITAÇÃO DO PALÁCIO DA BOLSA 2ª FASE

A Sustentabilidade nos Projectos de Reabilitação de Edifícios

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CONSTRUÇÃO COM PAINÉIS DE MADEIRA CLT UMA NOVA GERAÇÃO DE EDIFÍCIOS

Projecto de Candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial

CONSTRUÇÃO COM PAINÉIS CLT

Solar Térmico: Uso de paineis solares para águas quentes sanitárias. Luis Roriz

Plataformas Elevador de Escada V64 Escadas a direito V65 Escadas com curva(s)

INDICE MISSÃO 4 VALORES 6 CASA 25 8 CASA 25 9 COR-VISION EL EL COR-URBAN 19 COR 70 CC 21 COR 70 CC OCULTA 23

Ganzglasgeländer. Guardas em vidro sem prumos. Sistema de perfis para montagem frontal e superior

Sistema A Caracterização

NOTA TÉCNICA nº 10 Complementar do Regime Jurídico de SCIE

USO E APLICAÇÕES. Módulo 4 Vidro Certo: Normas Obrigatórias

SÉRIES F196 e P400 1 FOLHA BATENTE

Normas Técnicas e as aplicações de vidros na Construção Civil

Desempenho Térmico de edificações Aula 5: Orientação e Diagrama Solar

Foto: Arquitecto Luis Santos Edifício Desfo: Grijó

CONSTRUÇÃO PRÉ-FABRICADA TORRE DO BURGO CATARINA CARVALHO MIGUEL SIMÕES RAFAEL SANTOS C2 FAUP

PETA.PREMIUM ALU. Clarabóia para instalação em cobertura para Iluminação Zenital e Ventilação Natural PETAPROJ - ENGENHARIA DE SISTEMAS

Centro Urbano do Futuro Parcerias para a regeneração urbana

INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CONSTRUÇÃO COM PAINÉIS DE MADEIRA CLT UMA NOVA GERAÇÃO DE EDIFÍCIOS

VENTILAÇÃO NATURAL EM EDIFÍCIOS DE HABITAÇÃO CARACTERIZAÇÃO DOS SISTEMAS

MAIS JANELAS EFICIENTES

2ª CONFERÊNCIA PASSIVHAUS PORTUGAL Passive House com Cross Laminated Timber - CLT

MEMÓRIA DESCRITIVA E JUSTIFICATIVA DO MODO DE EXECUÇÃO DA OBRA

Conceitos e Princípios da Arquitectura Sustentável.

Reabilitação do Edifício da Casa da Cultura

REVIT ARQUITECTURE 2013

PROJECTO REQUEST. Lisboa

JARDIM DAS JAPONEIRAS. RUA CIDADE DA BEIRA Aldoar Porto N/Refª 2786-H

Ivo Poças Martins, Fevereiro Texto da proposta seleccionada do concurso Intervenções na Cidade Trienal de Arquitectura de Lisboa

BENEFÍCIOS PARA OS MORADOES DO IMÓVEL:

LEVANTAMENTO FOTOGRAMÉTRICO DE MONUMENTOS E DE EDIFÍCIOS ANTIGOS

Projec ctar as especialidades..


Acumuladores de Calor

Com sede em Lisboa dedica-se maioritariamente, ao Comercio e Indústria de alumínios assim como remodelações de interiores.

Destaque ARQUITECTURA

iii REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS DO CENTRO HISTÓRICO DO PORTO

INOVAÇÃO TECNOLOGIA QUALIDADE POUPANÇA GARANTIA SUSTENTABILIDADE ESTÉTICA FUNCIONALIDADE DESIGN CONFORTO I+D+I

Edifícios. Variação de Velocidade com o PumpDrive. Eficiência em Acção.

Especificação de materiais de construção no âmbito do ProNIC. 23 de Outubro 2009

Grupo: JRCP João Rodrigues & Costa Pereira Arquitectos Lda. 1

MUNICÍPIO DA FIGUEIRA DA FOZ CÂMARA MUNICIPAL

GRADES E PORTAS DE ENROLAR

CRITÉRIOS DE ISENÇÃO suporte publicitário. bandeiras

Projecto para um conjunto de habitações unifamiliares São Luís, Maranhão, Brasil. Projecto

FICHA DE INVENTÁRIO 2.CARACTERIZAÇÃO

Caixilharias em Alumínio Fabricadas Sob Medida. AlumiSouto. Caixilharia de Alumínio

Certificado Energético Edifício de Habitação IDENTIFICAÇÃO POSTAL. Morada RUA MÁRTIRES DO TARRAFAL, Nº375, 1º ESQ Localidade MONTIJO

Desempenho Acústico das Fachadas Envidraçadas. Eng. Luiz Barbosa

Etiquetagem energética de janelas

ISOLAMENTO ACÚSTICO DAS VEDAÇÕES VERTICAIS EXTERNAS. Como escolher a esquadria da sua obra e atender a NBR

Nº2 JUNHO 2002 SISTEMA DE FACHADA PLANAR VIDRO EXTERIOR AGRAFADO

A c e s s i b i l i d a d e U m a s o l u ç ã o p a r a t o d a s a s b a r r e i r a s

Nº2 JUNHO 2002 PAREDES DIVISÓRIAS DE PAINÉIS LEVES

Vidros A.C.- Os Fenícios descobriram o vidro nas fogueiras dos acampamentos.

Tabela 6.1 Pessoas responsáveis e equipamento auxiliar utilizado no manuseamento e separação dos resíduos sólidos na fonte

A parede trombe não ventilada na Casa Solar Passiva de Vale Rosal Fausto Simões arquitecologia.org

soluções do futuro para o seu presente

Certificado Energético Edifício de Habitação IDENTIFICAÇÃO POSTAL. Morada MONTE STO ANTONIO - CASA FELIZ, CAIXA POSTAL 2010P, Localidade BENSAFRIM

Passive Houses na região de Aveiro

FUNCIONAL TOPOGRAFIA SOLAR/ PRIMEIRA METADE DO TERRENO E O INFERIOR LOCADO MAIS A

TELA DE APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA RADLITE VERSÃO 2.0

COMÉRCIO E ESPAÇO COLETIVO

Segurança e Higiene do Trabalho

Parede de Garrafa Pet

TIPOS PRINCIPAIS DE EMPREENDIMENTOS A PROJECTAR Edifícios habitações, escritórios, industriais, hotelaria, escolares, hospitalares, comerciais, etc.

Relatório do Modo Como Decorreu a Execução da Obra. Identificação da Obra Forte da Graça - Elvas

REABILITAÇÃO DA COBERTURA ENVIDRAÇADA DO PÁTIO DAS NAÇÕES DO PALÁCIO DA BOLSA DO PORTO RESUMO

FUNDAÇÃO MINERVA CULTURA ENSINO E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA NOTA EXPLICATIVA

FICHA DE INVENTÁRIO 2.CARACTERIZAÇÃO

COMPORTAMENTO TÉRMICO DA CONSTRUÇÃO

Construção, Decoração e Ambientes Volume II Ar Condicionado

Sistema A.080. Conceito. Esqueleto. Soluções construtivas. Aberturas. Perfis de alumínio. Tratamentos de superfície

FATEC - SP Faculdade de Tecnologia de São Paulo

Elegância, variedade e flexibilidade. A linha Módena tem tudo isso e agora com Tecnologia Wireless.

Hotel Sheraton Porto (Porto)

SISTEMAS DE SOMBREAMENTO EM ARQUITECTURA:

FUNCIONAL ENTORNO ELEMENTOS DE ENTORNO, CONSIDERANDO OS ATRIBUTOS DO LUGAR - MASSAS TOPOGRAFIA

QUALIVERDE. Legislação para Construções Verdes NOVEMBRO DE 2012

ENG. MAURICIO MELLO. Coord. Adjunto Contrato ARQ. LILIANA LASALVIA ENG. MAURICIO MELLO. Sítio. Área do sítio GERAL. Especialidade / Subespecialidade

CAMARGUE PÉRGOLA PARA TERRAÇOS COM LÂMINAS ORIENTÁVEIS E COM LATERAIS COSTUMIZÁVEIS APLICAÇÕES

Definição e organização de projecto ' térmico'

Óptica é a parte da física que estuda a luz: energia radiante (ondas eletromagnéticas) capaz de causar, em nós, a sensação da visão.

Seminário Integrado sobre Direito do Urbanismo Centro de Estudos Judiciários

Fornecimento de energia eléctrica para festas e arraiais Aspectos regulamentares e regras técnicas

Transcrição:

CONSTRUIR EM VIDRO Enquadramento 1ª Parte Nuno Valentim Lopes Formação Contínua Ordem do Arquitectos SRN Palácio das Artes Porto Trinta raios convergem no eixo da roda e é o centro que a faz mover... Molda-se a argila para fazer vasos e é o vazio interior que os torna úteis... Abrem-se portas e janelas nas paredes das casas e é por esses espaços vazios que as habitamos... O SER verifica a vantagem das coisas, mas é pelo não ser que as utilizamos... (Lao Tse) A história da Arquitectura é a história da luta pela janela (...). Le Corbusier 1

Fonte: Silva, João P, Reflexos do Vidro, FAUP, 2006 Catedral de Chartres, Transepto Norte, c. 1240 2

Fonte: Silva, João P, Reflexos do Vidro, FAUP, 2006 A produção de vidro Crown, Encyclopédie, Diderot e D Alembert, 1773 3

Fachadas em Heerengracht, Amsterdão, gravura do séc. XVIII Tela Rua em Delft, Jan Vermeer, c. 1657/58 Vão exterior e Marquise na arquitectura vernacular 4

A produção de vidro plano (1773) e a Galeria dos Espelhos em Versailles (1678-84) VIDRO E CAIXILHARIA DE MADEIRA NO EDIFICADO CORRENTE PORTUENSE (SÉC XVII ao início do SÉC XX) 5

A qualidade dos nossos centros históricos não resulta exclusivamente dum somatório de monumentos ou edifícios singulares/excepcionais É fundamentalmente o conjunto de edifícios de habitação corrente que, com uma grande unidade de linguagem e coerência construtiva, formam ruas, quarteirões e áreas urbanas que os habitantes (re)conhecem com uma identidade própria. 6

1. Importância dos vãos na caracterização destes conjuntos: invariavelmente os edifícios procuram a luz natural as construções são altas e estreitas em lotes profundos, sendo as janelas para a rua e no tardoz fundamentais a essa iluminação 2. Como consequência a superfície envidraçada é sistematicamente superior à superfície de parede traduzindo-se em centenas de milhares de vãos e caixilharias com uma proporção, componentes e sistema construtivo semelhantes 7

3. O resultado é um efeito único, verdadeiramente orgânico, pleno de vibração entre luz e sombra... 4. As caixilharias são o prolongamento natural dos desenhos das próprias fachadas e corolário lógico do sistema construtivo dos próprios edifícios, onde cada componente assume um papel fundamental 8

5. As intervenções tornam-se desastrosas quando não são enquadradas pela exigência técnica e cultural que as operações de reabilitação impõem aos intervenientes - projectistas, donos de obra e entidades reguladoras Edifício do início do século XX [1] Edifício do início do século XX [1] Edifício do início do século XX [1] 6. Este sistema de caixilharia persiste na 1ª metade do séc. XX como solução corrente, adaptando-se às novas linguagens e materiais 9

Tratado de Ruação Projectos (1760) para e as novos fachadas traçados Intervenções das urbanos Ruas de iluministas Sto. na cidade António (1764-1819) (1820-1872) e Clérigos [5] [4] Generalização de Acertos uma tipologia realizados com para uma a mesma regularização frente e da profundidade Rua de Sta. Catarina variável [5] [6] Do Porto Iluminista ao Porto Liberal : expansão urbana; alinhamentos radiais definidos pelos Almadas. De uma cidade mercantil e pré-industrial à nova imagem urbana. Planeamento do edificado e do espaço público: o cadastro, o sistema construtivo, a tipologia, as fachadas e suas aberturas articuladas com a difícil topografia da cidade. Sistema construtivo da habitação corrente portuense do sec. XIX [5] Diversos tipos de lancis de vãos em cantaria de granito [7] Pormenor de parede de fachada com vão de janela [7] A influência da casa georgiana inglesa: alçados A habitação da casa corrente portuense portuense e georgiana do séc. inglesa XIX [7] e [5] Sistema construtivo do edificado corrente da cidade do séc. XIX (casa burguesa portuense) 10

Processo de fabricação de vidro cilíndrico: por sopro, balanço e por rotação [8] Instrumentos para a fabricação de vidro plano em chapa no século XIX [8] Construção de uma janela de guilhotina no início do séc XIX [8] Janela de guilhotina difundida no séc. XVIII (ingleses): tecnologia do vidro Na janela de duas folhas e bandeira permanece a expressão delicada e o próprio requinte de marcenaria. Edifício do final do século XIX na Rua Sá da Bandeira Janela de peito ou sacada com duas folhas de batente e bandeira: dimensão do envidraçado tecnicamente impossível de atingir até essa data Relação com o exterior: maior transparência e luz natural; portadas recolhidas na espessura de parede Uma só solução de caixilharia resolve o desenho das janelas e portas de acesso às sacadas 11

Levantamento geométrico objecto de estudo: janela de peito/sacada com duas folhas de batente e bandeira Levantamento geométrico objecto de estudo: janela de peito/sacada com duas folhas de batente e bandeira. Os diversos componentes do elemento construtivo e sua posição na espessura da alvenaria 12

Permanência da caixilharia de madeira na cidade Registo com cor das caixilharias de madeira existentes na R. Padre Luís Cabral [9] Permanência da caixilharia de madeira na cidade Registo com cor das caixilharias de madeira existentes na R. do Bonjardim [9] 13

Permanência da caixilharia de madeira na cidade Rua Sá da Bandeira Permanência da caixilharia de madeira na cidade Rua Sá da Bandeira 14

Fonte: Silva, João P, Reflexos do Vidro, FAUP, 2006 Interior da Gare Saint-Lazare, Chegada de um comboio, Claude Monet, 1877 15

Palm House, Devon, J. C. Loudon, 1818-38 Palm House, Londres, R. Turner/D. Burton, 1844-48 Passage Jouffroy, Paris, 1847 Magasins La Samaritaine, Paris, Frantz Jourdain, 1906-07 16

PALÁCIO DA BOLSA Porto, 2007 Projecto de reabilitação das coberturas (incluindo Pátio das Nações), caixilharias e escadas do Salão Árabe Prof. Vasco Peixoto de Freitas (coord), Nuno Valentim Lopes, Frederico Eça I. O Pátio das Nações Importância e Enquadramento no Palácio da Bolsa do Porto 17

I. O Pátio das Nações Importância e Enquadramento no Palácio da Bolsa do Porto II. Caracterização da cobertura envidraçada do Pátio das Nações O projecto da cobertura envidraçada do Pátio das Nações conta com várias versões, tendo sido concluído por Tomás Soller : ( )Sendo uma das primeiras necessidades, no Edifício da Praça e Tribunal do Comércio do Porto, a existência de um recinto espaçoso e cómodo para nele se efectuarem as diferentes transacções comerciais, aproveitei a ideia que já de há muito prevalecia, destinando para esse fim o pátio ou átrio do edifício, exposto até agora, ao rigor das estações, e projectando uma armação de ferro para a sua cobertura ( ). 18

II. Caracterização da cobertura envidraçada do Pátio das Nações II. Caracterização da cobertura envidraçada do Pátio das Nações 19

IV. Reabilitação arquitectónica e construtiva da cobertura envidraçada do pátio das Nações IV. Reabilitação arquitectónica e construtiva da cobertura envidraçada do pátio das Nações - Aplicação de novos painéis de vidro com características mecânicas, energéticas e luminosas adequadas, do que se salienta uma transmissão luminosa de 65% e um factor solar g 0,40. O princípio de fixação dos painéis de vidro à estrutura foi reajustado, tendo-se colocado os painéis topo a topo e não sobrepostos, como inicialmente se encontravam; - Aplicação de um cobre-juntas em zinco na ligação dos vidros à estrutura metálica, para protecção do mastique face às gaivotas 20

IV. Reabilitação arquitectónica e construtiva da cobertura envidraçada do pátio das Nações - Associado aos lanternins de iluminação / ventilação da cobertura do Pátio das Nações foi instalado um sistema de ventilação comandado de forma automática ou manual, para controlo das condições higrotérmicas, de forma a minimizar o risco de condensações e o sobreaquecimento no período de Verão. A intervenção consistiu no seguinte: - As grelhas de ventilação dos lanternins foram substituídas por caixilharias exteriores, projectantes motorizadas, fixadas à estrutura metálica original; - O sistema de controlo de abertura automática instalado é constituído por um conjunto de actuadores eléctricos comandados por sondas localizadas no interior do Pátio das Nações e no exterior do edifício; 21

22