ESTUDO 13 PRIMEIRA PARADA... Os humildes de espírito Antes de anunciar a nossa primeira parada, recordemos as bem-aventuranças: 1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; 2 e ele passou a ensiná-los, dizendo: 3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. 4 Bem- -aventurados os que choram, porque serão consolados. 5 Bem- -aventurados os mansos, porque herdarão a terra. 6 Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. 7 Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8 Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus. 9 Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. 10 Bem- -aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. 11 Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. 12 Regozijai- -vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós (Mt. 5:1-12). LEITURAS DIÁRIAS Segunda Mt. 5:1-12 Terça Lc. 18:10-14 Quarta Mt. 11:25-30 Quinta Jo. 13: 1-9 Sexta Jo. 13: 10-17 Sábado Ef. 2:8-10 Domingo Mt. 11:29 Chaves de leitura das bem-aventuranças... De acordo com John Stott, as bem-aventuranças são oito qualidades do mesmo grupo de pessoas. Todas elas devem caracterizar todos os discípulos de Jesus. A cada uma dessas oito qualidades, estão vinculadas oito bênçãos. Logo, as qualidades constituem responsabilidades e as bênçãos constituem privilégios. É possível propor que as quatro primeiras descrevam o nosso relacionamento com Deus e as quatro últimas descrevam o nosso relacionamento com o nosso próximo. A nossa primeira parada nos permitirá refletir um pouco sobre Bem-aventurados os humildes de espírito. REFLEXÕES BÍBLICAS III 67
LUIZ FELIPE XAVIER Responsabilidade: Ser humilde de espírito Privilégio: Receber o reino dos céus Quem são os humildes de espírito? A expressão humildes de espírito também poderia ser traduzida por pobres de espírito. Por sinal, esta última tradução corresponde melhor à palavra grega utilizada por Mateus no texto. No grego, há duas palavras que podem ser traduzidas por pobre. A primeira delas é penês que significa aquele que precisa trabalhar para viver ou aquele que recebe o estritamente necessário para sua subsistência. A segunda palavra é ptóchos que significa aquele que é miserável ou aquele que carece de esmolas para viver. A palavra utilizada por Mateus no texto é ptóchos. Logo, o humilde de espírito é aquele que reconhece a sua absoluta miséria espiritual e depende totalmente da provisão de Deus para viver. Nas palavras de Carlos Queiroz, o pobre de espírito é aquele que é totalmente despojado de tudo, menos de Deus. De acordo com Ivênio dos Santos, o pobre de espírito é aquele que já descobriu sua absoluta carência espiritual e que por isso coloca Deus como centro de sua vida, vivendo em total dependência d Ele e para sua glória. Nesta mesma linha, Martyn Lloyd-Jones diz: (...) essa qualidade aponta para a completa ausência de orgulho pessoal (...) ser humilde de espírito é sentir que (...) olhamos para Deus em total submissão a Ele, dependendo inteiramente de Sua misericórdia, de Sua graça. Assim, o humilde de espírito é aquele que não confia na justiça própria porque reconhece que não a possui. Aplicação a sua vida: Quando você entende a definição de humilde de Espírito e reconhece que é uma característica do servo, que sentimentos brotam em seu coração? Jesus declara que dos humildes de espírito é o Reino dos céus. No Evangelho de Mateus, o Reino dos céus é sinônimo de Reino de Deus. O Reino de Deus é o governo de Deus sobre tudo e sobre todos aqueles que se submetem à sua vontade. Isso significa que a humildade de espírito é a condição básica para se experimentar a vontade de Deus. O humilde de espírito começa a experimentar esta vontade no presente, de forma parcial, e a experimentará no futuro, de forma plena. Aplicação a sua vida: Ao buscar o Reino dos céus, deparamo-nos com a responsabilidade de sermos humildes de espírito. Quais áreas de sua vida você percebe que precisa buscar o governo de Deus? 68 REFLEXÕES BÍBLICAS III
A parábola do humilde de espírito... Ao longo de seu ministério público, Jesus tem muitos encontros com fariseus. Os fariseus são pessoas que confiam em sua justiça própria. Assim, eles não podem ser contados entre os humildes de espírito. Os fariseus possuem uma característica distintiva: a confiança em seus méritos pessoais. Um fariseu pensa da seguinte forma: se eu obedeço à lei, mérito positivo para mim; se eu desobedeço à lei, mérito negativo para mim. No final da história, Deus pesará os méritos de cada um e decidirá sobre a sua condenação ou salvação. Então, por pensar assim, os fariseus confiam em sua justiça própria e desprezam os outros. A pessoas assim, Jesus conta a conhecida parábola do fariseu e do publicano : 10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! 14 Digo- -vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado (Lc. 18:10-14). Para compreendermos adequadamente esta parábola, precisamos conhecer tanto os fariseus quanto os publicanos. Nesta aula, conhecemos os fariseus; na aula passada, conhecemos os publicanos. Vamos recordar? Os publicanos são cobradores de impostos. Por trabalharem para o governo romano e por oprimirem seu próprio povo, eles são odiados e marginalizados. Na parábola acima, Jesus contrasta dois personagens. O primeiro deles é o fariseu. Ele ora em pé. Ele ora de si para si. Ele ora considerando-se superior a outros homens, em geral, e ao publicano, em especial. Ele ora apresentando uma lista dos seus méritos positivos. Em síntese, ele chega diante de Deus, considerando-se rico de espírito. O segundo personagem é o publicano. O publicano ora em pé. O publicano ora retirado. O publicano não ousa levantar os olhos ao céu. O publicano bate no peito, assumindo a sua condição de pecador. O publicano clama pela misericórdia de Deus. Em síntese, ele chega diante de Deus, considerando- -se um pobre de espírito. Diante disso, Jesus declara que o publicano, não o fariseu, desce para sua casa justificado por Deus. Por quê? Porque todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado. O publicano é o humilde de espírito, aquele que, segundo Jesus, é bem-aventurado, feliz. Portanto, é exatamente a atitude do publi- REFLEXÕES BÍBLICAS III 69
LUIZ FELIPE XAVIER cano que Jesus espera que, por graça, seus discípulos desenvolvam. Aplicação a sua vida: Embora saibamos que a atitude do publicano é de que vivemos pela graça, muitas vezes, deparamos com comportamentos que mostram que queremos reconhecimento e valorização de Deus com base em nossos feitos. Como ficar livre de tal atitude? Jesus, exemplo de humildade... Em contraposição ao ensino dos fariseus, que traz cansaço e sobrecarga, Jesus apresenta o seu ensino, que é suave e leve. Curiosamente, no contexto em que trata dessa contraposição, ele declara sobre si mesmo: (...) porque sou manso e humilde de coração (Mt. 11:29). Observemos todo o texto: 25 Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. 26 Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. 27 Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 28 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. 30 Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve (Mt. 11:25-30). Evidentemente, Jesus não é humilde de espírito, no sentido que vimos acima, pois é totalmente santo. Mas ele afirma sobre si mesmo que é manso e humilde de coração. Ou seja, ele tem um coração marcado por mansidão e humildade. Quando lemos atentamente os Evangelhos, percebemos essas duas características transparecem em sua vida. Um exemplo claro e clássico do coração humilde de Jesus está descrito em João 13, do verso 1 ao verso 17: 1 Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. 2 Durante a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus, 3 sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus, 4 levantou- -se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. 5 Depois, deitou água na bacia e passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido. 6 Aproximou- -se, pois, de Simão Pedro, e este lhe disse: Senhor, tu me lavas os pés a mim? 7 Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço não o sabes 70 REFLEXÕES BÍBLICAS III
agora; compreendê-lo-ás depois. 8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. 9 Então, Pedro lhe pediu: Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça. 10 Declarou-lhe Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. 11 Pois ele sabia quem era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos. 12 Depois de lhes ter lavado os pés, tomou as vestes e, voltando à mesa, perguntou-lhes: Compreendeis o que vos fiz? 13 Vós me chamais o Mestre e o Senhor e dizeis bem; porque eu o sou. 14 Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. 15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também. 16 Em verdade, em verdade vos digo que o servo não é maior do que seu senhor, nem o enviado, maior do que aquele que o enviou. 17 Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes. Aplicação a sua vida: Quando Jesus afirma que é manso e humilde de coração Ele mostra isso na prática, lavando os pés de seus discípulos, prática incomum naquele tempo quando os servos é que lavavam os pés dos seus senhores. De que forma estamos praticando o exemplo de humildade de Cristo? Como o humilde de espírito canta? Nada em minhas mãos eu trago, Simplesmente à tua cruz me apego; Nu, espero que me vistas; Desamparado, aguardo a tua graça; Mau, à tua fonte corro; Lava-me, Salvador, ou morro. [Autor desconhecido] Conclusão Humildade de espírito na prática... Para experimentarmos a felicidade decorrente da humilde de espírito, é necessário que reconheçamos, de fato, a nossa absoluta miséria espiritual. É preciso que também reconheçamos a Deus como o nosso único e suficiente provedor. Isso significa que nós não podemos confiar em berço, família, tradição, religiosidade, cultura, formação, capacidade, habilidade, bens, dinheiro, poder, prestígio ou qualquer outra coisa semelhante para sermos agradáveis a Deus. É só pela graça de Deus que somos salvos e conduzidos às boas obras. É exatamente isso que o apóstolo Paulo nos diz: 8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas (Ef. 2:8-10). Que Deus, por sua graça, nos leve a ser humildes de espírito! REFLEXÕES BÍBLICAS III 71