GRIPE AVIÁRIA: UMA EMERGÊNCIA EM SAÚDE PÚBLICA



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GRIPE AVIÁRIA: UMA EMERGÊNCIA EM SAÚDE PÚBLICA Prof. Dr. Francisco de Assis Penteado Mazetto, Coordenador da Área de Políticas Públicas em Saúde e Defesa Nacional do Centro de Pesquisas Estratégicas Paulino Soares de Sousa - UFJF. franciscomazetto@hotmail.com Uma nova doença emergente causa grande apreensão na comunidade internacional, trata-se da gripe aviária causada pelo vírus H5N1 que apresenta elevada letalidade, tanto nas aves quanto nos humanos. O alerta para a possibilidade de uma terrível pandemia que poderá afetar a saúde pública mundial foi dado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), através da Organização das Nações Unidas (ONU), no final de setembro. Segundo David Nabarro, recém nomeado como coordenador da ONU para o combate à gripe aviária e humana, existe grande probabilidade de ocorrer uma epidemia de gripe humana que poderá causar milhares, talvez milhões de vítimas fatais. Seria uma reedição macabra da Gripe Espanhola de 1918-19 que dizimou oficialmente 22 milhões de vidas e, extra-oficialmente, mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. A transmissão do vírus só foi observada, até o momento, entre as aves e de aves para humanos. O grande temor é de que uma mutação genética possibilite ao microorganismo a transmissão de humano para humano. Como a transmissão do vírus influenza é aérea, isto é, através de gotículas expelidas pela boca e nariz da pessoa infectada, quase não há limites para a difusão da moléstia para todos os pontos do planeta. Não haveria um grupo de risco específico, distinção de classe social ou de limites geográficos para a epidemia se espalhar

por todos os continentes. Evidente que os países que dispõem de um melhor Sistema Público de Saúde e que adorarem medidas de prevenção e de combate ao mal, poderão reduzir os efeitos de uma provável epidemia. As pandemias de gripe do século XX causaram mais vítimas do que as duas Guerras Mundiais. A rapidez da disseminação pelo mundo e o elevado índice de letalidade tornaram essas epidemias numa efetiva ameaça global: A primeira pandemia de gripe fartamente documentada foi a da Gripe Espanhola, que alcançou seu ápice entre 1918-19, causando o maior número de vítimas registrados até hoje. Nesta época, sequer o microorganismo causador do mal, o vírus, era conhecido. Os métodos para combatê-la ainda eram os mais primitivos com pouca ou nenhuma eficácia. A segunda pandemia foi a Gripe Asiática, de 1957-58. Esta epidemia que teve origem na China em fevereiro de 1957 e se alastrou rapidamente pelo mundo, causando cerca de 1 milhão de mortos. Onze anos depois foi a vez da Gripe de Hong Kong também originária do oriente que, entre 1968-69, vitimou mais 1 milhão de pessoas. A Gripe Suína de 1976-77 resultou na maior campanha de imunização em massa através de vacina nos EUA. Segundo os especialistas, a vacinação foi precipitada, pois não havia evidências de um surto epidêmico, apenas alguns casos confirmados entre soldados das Forças Armadas. A semelhança entre o vírus identificado e a provável origem do agente da epidemia de 1918, provocou o temor de uma epidemia de gripe com elevada letalidade. A vacina causou alguns efeitos colaterais em um reduzido número de imunizados, fato comum considerando o enorme número de vacinados. O maior problema foi que a vacina favoreceria o desenvolvimento de um distúrbio nervoso conhecido como Síndrome de Guillain-Baré, deixando seqüelas e mortes em 10% dos casos constatados. A hipótese da vacinação ter sido desnecessária ainda causa fervorosos debates no mundo acadêmico.

A Gripe das Aves de 1997 infectou frangos de Hong Kong e também humanos. Até o momento ela causou 60 vítimas fatais na Ásia, todas tiveram contato direto com as aves infectadas. Entre os 117 casos constatados em humanos até outubro de 2005, 60 pessoas morreram, resultando até o momento numa taxa de letalidade de 51,28%. Mortalidade por Gripe Aviária entre os Humanos 1997- OUT/2005 Número de óbitos 50 40 30 20 10 0 Vietnã Tailândia Camboja Indonésia Fonte: OMS, 2005, Org. Mazetto. Os impactos potenciais da gripe aviária podem ser classificados em dois níveis principais. O primeiro, menos catastrófico, seria a epidemia ficar restrita às aves, acarretando grandes prejuízos econômicos aos países produtores, exportadores e até aos consumidores da carne de frango (ver Tabela). Este nível já foi alcançado e os países afetados procuram barrar o avanço da epidemia através do isolamento e sacrifício em massa das aves. Este expediente também é primordial para impedir a contaminação de humanos que tenham contato direto com as aves infectadas.

MAIORES PRODUTORES E EXPORTADORES DE CARNE DE FRANGO NO MUNDO (em mil de toneladas) PRODUTORES 2003 EXPORTADORES 2002 2003 EUA 14,85 EUA 2,33 2,80 CHINA 9,51 BRASIL 1,59 1,92 BRASIL 7,76 HOLANDA 0,61 0,59 MÉXICO 2,15 HONG KONG 0,55 - ÍNDIA 1,44 FRANÇA 0,37 0,36 REINO UNIDO 1,29 TAILÂNDIA 0,33 0,52 TAILÂNDIA 1,22 BÉLGICA 0,30 0,32 JAPÃO 1,21 CHINA 0,28 0,33 FRANÇA 1,13 REINO UNIDO 0,15 0,26 RÚSSIA 1,03 ALEMANHA 0,14 0,24 Fonte: FAO, 2004, Org. Mazetto. O segundo nível de impacto está na possibilidade do vírus H5N1 ser transmitido de humano para humano. Isso poderia ocorrer numa infecção simultânea com o vírus da gripe humana e das aves (ver Figura). O vírus da gripe do frango sofreria uma mutação genética quando em contato com o da gripe humana. Até agora não existe vacina para a doença, embora os principais centros de pesquisa do mundo tenham acelerado as pesquisas neste propósito. Créditos da Figura: BBC.Brasil.com

Segundo a OMS, uma nova pandemia de gripe entre os seres humanos é quase inevitável. As grandes pandemias registradas nos últimos séculos apresentaram uma periodicidade: de três a quatro grandes surtos por século. Entretanto, o espaço cronológico entre elas é bastante variável. Entre a pandemia de 1918 e a de 1957 se passaram 39 anos e, entre esta última e a de 1968, apenas 11 anos. Todos os estudos apontam para o Leste e Sudeste Asiático, como os pontos principais de dispersão de uma epidemia da gripe do frango. Os países da região têm grande densidade populacional, apresentando uma criação tradicional de aves de muito contato com os humanos, tanto os produtores quanto os consumidores. Esses fatores facilitam a cadeia de transmissão da doença. A rapidez da disseminação de uma epidemia de gripe com alta letalidade seria o principal problema para o seu combate. As medidas de prevenção sempre terão melhor eficácia do que remediar a enfermidade. Entre as medidas de prevenção e combate pode-se destacar: Deter a epidemia enquanto estiver restrita às aves, através do isolamento e sacrifício em massa dos plantéis contaminados; Impedir o contato entre as aves selvagens migratórias, inclusive seus dejetos, e as aves criadas para o consumo humano; Evitar ao máximo o contato entre humanos e aves, proibindo o comércio de aves vivas, exposições agropecuárias e transporte das aves em veículos com aberturas; Os produtos avícolas, carne e ovos, só poderão chegar ao mercado enquanto nenhum caso for confirmado nas fontes produtoras, cabendo um monitoramento constante do Ministério da Agricultura e da Saúde; Dotar os grandes Institutos de Pesquisa em Saúde (Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Vital Brazil, Instituto Evandro Chagas, Instituto Butantã e Instituto Adolfo Lutz) dos recursos financeiros necessários para a produção da vacina numa ação coordenada com as demais instituições internacionais de saúde;

Preparar a logística entre os setores da saúde pública envolvendo o auxílio das Forças Armadas, numa eventual campanha de vacinação em massa da população; Verificar a capacidade de laboratórios farmacêuticos nacionais na produção de drogas antivirais específicas contra a gripe aviária em caráter emergencial. Providenciar o estoque estratégico de antivirais para atender uma demanda súbita; Em caso de surto epidêmico em humanos, adotar medidas drásticas, proibindo aglomerações e impondo quarentena para pessoas suspeitas de infecção, até que se estabeleça um controle sobre a epidemia. Esses procedimentos acima descritos, seguem uma lógica de gravidade crescente. Entretanto, devem ser preparados com meses de antecedência dado a complexidade das técnicas, dos materiais empregados e dos profissionais especializados destacados para executar o trabalho. A produção da vacina será um processo demorado, que exige uma série de testes antes de sua administração em seres humanos. Toda essa precaução é necessária para que não se repita os problemas constatados na campanha de vacinação de 1976, nos EUA, quando foi detectada a Gripe Suína. Os prognósticos mais otimistas revelam que as primeiras doses somente estariam disponíveis entre seis meses e um ano. Este prazo seria contado a partir da identificação da nova variante, de transmissão humano para humano. Uma vacina experimental contra o vírus H5N1 foi anunciada pela Hungria, com elevada eficácia segundo o Ministério da Saúde daquele país. Quanto à fabricação dos antivirais, muitos países já estudam um acordo com os Laboratórios Industriais ou até a quebra temporária das patentes em caso de surto epidêmico. Os antivirais utilizados atualmente para o H5N1 são o oseltamivir, comercializado como Tamiflu e o zanamivir, comercializado como Relenza. Os antivirais seriam importantes para o tratamento dos doentes, reduzindo a taxa de mortalidade de uma pandemia. O custo social e econômico de uma pandemia de gripe em humanos é quase incalculável. Como parâmetro de comparação, a Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS) em 2003, com menos de 1.000 casos, causou prejuízos da ordem de 30 bilhões de dólares. Já na gripe de 1918, com milhões de casos, não só a economia foi afetada. Houve uma queda considerável na expectativa de vida e na proporção da população economicamente ativa. O Banco Mundial prevê que uma epidemia prolongada, mesmo que restrita às aves, pode levar a

economia internacional a uma recessão. Deve-se considerar que a crise afeta diretamente a região mais pujante da economia mundial, os países que apresentam os maiores índices de crescimento: China, Malásia, Tailândia, Indonésia, Cingapura, Taiwan, Vietnã, Coréia do Sul, dentre outros. O impacto da gripe aviária poderá ultrapassar 300 bilhões de dólares de prejuízos e uma retração de PIB asiático de cerca de 2%, calcula o Banco Mundial, se a epidemia nas aves não for contida rapidamente. Os desequilíbrios ambientais de ordem natural e social causados pelo homem nos dois últimos séculos, também são apontados como agentes que favorecem a propagação de epidemias. O Aquecimento Global, conhecido como efeito estufa, o desmatamento das Florestas Tropicais, a miséria generalizada no planeta, a falta de saneamento básico e de acesso aos serviços de saúde e educação têm influenciado nos surtos epidêmicos de doenças emergentes (AIDS, Ebola, Hantavírus, Gripe Aviária, etc.) e das reemergentes (Cólera, Malária, Dengue, Tuberculose, etc.), conforme figura abaixo. Distribuição geográfica das doenças Emergentes (em vermelho) e das Reemergentes (em azul) Fonte: CDC/OMS, 2003, Org. MAZETTO, 2005.

O Aquecimento Global, já comprovado pelo derretimento parcial das geleiras dos pólos e dos cumes das grandes Cordilheiras da Zona Tropical, provoca uma lenta mudança nos domínios climáticos da Terra. As temperaturas médias mais altas e a alteração no regime de chuvas, propiciam o aparecimento de microorganismos e/ou vetores de doenças infecciosas em regiões onde não existiam. O desmatamento acelerado das Florestas Tropicais e o aumento da população humana nessas áreas, quebram o equilíbrio ecológico ali existente, expondo as pessoas aos perigosos micróbios patogênicos emergentes (Ebola, Hantavírus) ou na elevação dos índices de moléstias conhecidas (Malária, Febre Amarela). O desenvolvimento econômico sem finalidade social, como se observa no Brasil, acarreta o aumento progressivo da população excluída dos benefícios da modernidade, condenando gerações ao fracasso pessoal. Para GARRET, o desenvolvimento econômico sem bases de sustentabilidade constitui um modelo inviável em médio e longo prazo para a humanidade. É preciso re-estruturar as bases sociais e econômicas da comunidade internacional, visando um mundo menos injusto na distribuição dos recursos necessários para a manutenção da vida: Com certeza há lições a se aprender do estudo da ciência ecológica e ambiental clássica. Os especialistas desses campos declararam nos anos 80 que a crise em andamento abrangia todas as camadas do macroambiente da Terra, das toupeiras que se escondiam debaixo da terra à camada de ozônio que protegia o planeta. O crescimento extraordinário e rápido da população humana, junto com seu apetite voraz de dominar o planeta e consumir recursos, colocara todos os sistemas biológicos e químicos da Terra em estado de desequilíbrio. (GARRET, 1995, p.523) O avanço científico foi extraordinário no último século, mas é necessário conscientizar de que não possuímos o controle total sobre os mecanismos que mantêm a vida na Terra. Quando interferimos na procriação natural das espécies, criando ambientes e espécies artificiais, visando a produção em larga escala, estamos também abrindo oportunidade para o ataque dos micróbios, como também das doenças crônico-degenerativas. Uma população de animais, geneticamente idêntica, fica mais suscetível a contrair moléstias. A natureza levou milhões de anos para criar a biodiversidade hoje existente. A influência do homem nesse delicado equilíbrio tem se mostrado desastrosa, para o conjunto da vida na Terra e para sua própria sobrevivência como espécie.

BIBLIOGRAFIA BRASIL, Fundação Nacional de Saúde, Manual de Saneamento, 3 a Brasília: FUNASA, 2004. ed. GARRET, Laurie. A Próxima Peste, Novas Doenças Num Mundo em Desequilíbrio. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1995. MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. Análise da Qualidade de Vida Urbana Através do Indicador Saúde (Doenças Transmissíveis): O Exemplo de Rio Claro, SP., Dissertação de Mestrado. Rio Claro: IGCE/UNESP, 1996, 219p. OPAS - Organização Pan-Americana Da Saúde. Controle das Doenças Transmissíveis no Homem (13 a ed.). Washington: Abram S Benenson Editor, 1983. TEIXEIRA, Luiz Antonio. Vírus, Ciências e Homens, História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v.10, n.2, Rio de Janeiro, MAI/AGO, 2003. TONIOLO NETO, João. A História da Gripe A influenza em todos os tempos e agora. São Paulo: Dezembro Editorial, 2001. WWW.URL:http://www.bbc.co.uk/portuguese/ WWW.URL:http://www.opas.org.br WWW.URL:http://www.who.int/