1 O sol cobre de sangue o horizonte e a pálida lua, trêmula, lança seu pungente olhar sobre a terra.

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Transcrição:

HAI KAI Victor Knoll Universidade de São Paulo (USP). 1 O sol cobre de sangue o horizonte e a pálida lua, trêmula, lança seu pungente olhar sobre a terra. 2 O poder do Astro Rei desfalece no horizonte e a grande noite, suavemente, funda seu império. 3 Atrás do nítido perfil das montanhas vai o sol para seu esconderijo e a paciente noite dissimula o contorno das coisas. 4 Já tocando o horizonte, mascarado pelas nuvens, o sol contempla a terra já envolta pelas fantasias da noite.

Victor Knoll 5 O sol, ruborizado pelos atos dos homens, se refugia atrás do horizonte e então a negra noite castiga a terra. 6 O sol já se debruça sobre o horizonte e a sombra da noite invade a cidade iluminada. 7 O sol já cansado de ardente trabalho adormece no leito do horizonte e a noite dá repouso para as planícies e montanhas. 8 O Astro Rei, cansado, busca repouso no leito do horizonte e a Rainha da Noite derrama sua oblíqua luz sobre a Terra ávida de segredos. 9 O sol se debruça sobre o leito dourado do horizonte e mansamente a lua brilha e cobre o céu com seu escuro manto. 10 O sol lança seu último olhar sobre a terra e sereno vê a lua prateada se erguer no horizonte vermelho. rapsódia 212

HAI KAI 11 Exausto de árduo trabalho diurno, o sol, lento, se reclina sobre o macio leito da noite. 12 Rubi pulverizado, a luz do sol se desmancha atrás da negra silhueta dos prédios e o véu da noite veste silenciosamente o horizonte. 13A Em seu derradeiro suspiro luminoso, melancólico, o sol se esconde atrás da montanha. Do outro lado do arco celeste a pálida lua teme os dissabores da noite. 13B Em seu derradeiro suspiro luminoso cheio de cores o sol se esconde atrás da montanha. Do outro lado do arco celeste A pálida lua anuncia as delícias da noite. 14 Com o lânguido ocaso do sol já não mais se distingue o bem e o mal envoltos na sombra da noite rapsódia 213

Victor Knoll 15 O fulgor ígneo do ocaso desenha o perfil das montanhas enquanto arde, bruxuleante, o doce desenho de teu perfil. 16 Após longo percurso pelo arco do céu iluminando o caminho dos homens, rubro de vergonha, o sol se esquiva no horizonte. 17 O sol em sua invisível carruagem de fogo avança sobre o distante horizonte deixando sobre a Terra um rastro de penumbra. 18 O sol, em sua imensa solidão, faz do ocaso seu último suspiro enquanto a doce lua invade nossos corações. 19 No longínquo horizonte o sol flutua sobre o leito de nuvens enfeitadas de rubi e então a Terra é dominada por longas sombras. rapsódia 214

HAI KAI e então a Terra é envolvida em longas sombras. e então a terra é envolvida por fantasmagóricas sombras 20 Quando já exausto de tanto brilho o sol procura o confortável leito do horizonte e, então, o terrível Anjo da Noite acorda as dores de nosso coração. 21 E a lua, Deusa da Noite, espalha doce luz sobre a cidade dissimulando o olhar da Deusa do Amor. 22 A Quando o sol adormece no distante horizonte o céu, amplo manto de brilhantes estrelas, enche de vã alegria nosso peito. 22 B Quando o sol lentamente adormece o céu, vestido com seu manto de estrelas, esconde as paixões que assolam nossa alma. rapsódia 215

Victor Knoll 23 A Temeroso de se subjugar aos encantos da lua, o sol foge rápido atrás das noturnas montanhas. Mas, mal sabe o quanto o alvo rosto irá persegui-lo em seu diário arco. 23 B Temeroso de se subjugar aos encantos da lua, o sol foge rápido atrás das noturnas montanhas. Mas, mal sabe que o alvo rosto, tão frágil, irá açoitá-lo em sua perene lembrança. 24 A O sol esculpe as nuvens com seus raios dourados, encantamento de nosso olhar enquanto as sombras da miséria ávidas se esparramam sobre a terra. 24 B O sol banha as frondosas nuvens com seus raios dourados encantamento de nosso olhar enquanto as sombras da miséria sorrateiras se esparramam sobre a terra. 25 A lua, furtiva, aguarda silenciosa a hora de seu império e então, por entre a sua tênue luz, as aflições brotam como indelével praga. rapsódia 216

HAI KAI 26 No longínquo horizonte o sol flutua sobre o leito de nuvens enfeitadas de rubi e, então, a terra é invadida pelas longas sombras da solidão. 27 Quando o sol, anunciando a aurora, ergue sua rubra tocha, põe o Mundo a descoberto e oferta para a visão humana a nitidez das coisas. 28 Quando o sol, já cansado da labuta diária, recolhe seus vibrantes raios dourados, o confuso luar se espraia sobre a cidade habitada então por sombras que iludem nossa visão - sobre a terra o homem erra. 29 Exausto do celeste trabalho o sol procura o leito do horizonte e, então, o terrível Anjo da Noite acorda as dores de nosso coração. e, então, o terrível Anjo da Noite envolve em seu manto o bem e o mal. rapsódia 217

Victor Knoll 30 Quando no horizonte o céu e a terra se beijam, Amor lança seu dúbio olhar sobre os torturados amantes. sobre as mil faces dos amantes. sobre o amor próprio dos amantes. sobre a cegueira dos amantes. sobre o gozo e a felicidade dos amantes. rapsódia 218