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PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=605>. Adenite sebácea canina: revisão de literatura Gislayne Christianne Xavier Peixoto 1, Marcela Arruda Vidal 2, Francisco Sávio de Moura Martins 3 1 Discente do curso de graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA), Mossoró, RN 2 Médica Veterinária, Natal, RN 3 Discente do curso de graduação em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, CE Resumo A adenite sebácea é um distúrbio caracterizado pela degeneração e atrofia pós-inflamatória da glândula sebácea. É uma dermatopatia de caráter inflamatório, centrada primariamente nas glândulas sebáceas e de etiopatogenia incerta. A adenite sebácea atinge mais comumente animais adultos, jovens ou de meia idade, sem predisposição sexual, com predominância nas raças Poodle, Akita, Vizlas e Samoieda. As manifestações clínicas são variáveis e as mais comuns são a descamação progressiva simétrica e a rarefação ou perda pilosa associada á seborréia seca generalizada. O diagnóstico é obtido por exame histopatológico e o tratamento é realizado com terapia tópica e sistêmica.

Canine sebaceous adenitis: literature review Abstract The sebaceous adenitis is a disorder characterized by degeneration and atrophy of post inflammatory sebaceous gland. It is an inflammatory dermatological condition of uncertain ethiopathogeny, in which sebaceous glands are primarily affected. The sebaceous adenitis animals most commonly affects young adults or middle age, sex without bias, predominantly in races Poodle, Akita, Vizlas and Samoyed. Clinical manifestations are variable, but the most common sings are symmetric progressive desquamation and hypotrichosis or total hair loss, generally associated to seborrhea sicca. The diagnosis is obtained by histological examination and treatment is carried out with topical therapy and systemic. Introdução A adenite sebácea é um distúrbio disqueratótico crônico, caracterizado pela degeneração e atrofia pós-inflamatória da glândula sebácea (VERCELLI et al., 2004; MENDLEU; HNILICA, 2006; LOWELL, 2005; GROGNET, 2008), alterando a produção de material sebáceo que lubrifica a superfície da pele e a mantém hidratada (SABADINE, 2008). Os mecanismos etiopatogênicos da Adenite Sebácea Granulomatosa (ASG) são desconhecidos, o que torna esta dermatopatia de difícil controle e as vezes refratária ao tratamento (FARIAS et al., 2000). A ASG também conhecida como adenite sebácea idiopática (WHITE et al., 2000), foi primeiramente descrita em 1980 em várias raças de cães, principalmente Poodle Standard, Akita, Samoieda e Viszla (SPATERNA et al., 2003). A doença tem sido relatada em cães, gatos, coelhos e humanos (WHITE et al., 2000; STEWART ET AL., 1991; WHITE, 2005; WHITE, 2001). Os sinais clínicos observados na adenite sebácea podem variar conforme a raça e tipo de pelagem, sendo no Poodle observado hiperqueratose seguida

de alopecia, descamação e sedimentação cerato-sebácea, podendo ocorrer alisamento e mudança de cor da pelagem (SCOTT et al., 2001). No Vizla os achados dermatológicos correspondem a áreas alopécicas anulares com fina descamação tegumentar, tendo ocasionalmente edema de lábios, pálpebras e músculos. A forma mais grave da adenite sebácea é vista no Akita, o qual apresenta intensa xerose associada a eritema pustular, formação de cilindros foliculares, foliculite, furunculose, perda de pêlo e em alguns casos acometimento sistêmico (SCOTT et al., 2001; FARIAS et al., 2000; REICHLER et al., 2001). A adenite sebácea observado em Lhasa Apso se caracteriza pela presença de hipotricose, hiperqueratose, sedimentação cerato-sebácea aderida à pele e pelagem. Porém não são observados foliculites, furunculose, quadros sistêmico, linfadenomegalia e prurido intenso, como relatado em Akitas (OBLADEN et al., 2007). O diagnóstico desta afecção se dá através da observação de hiperqueratose, inflamação perivascular, perifoliculite centrada na unidade pilo-sebácea, associado à atrofia da glândula sebácea. Em casos crônicos fibrose perifolicular e atrofia folicular é observado (SCOTT et al., 2001; FARIAS et al., 2000; MEDLEAU et al., 2006). Etiopatogenia Embora, de etiopatogenia desconhecida, a ASG tem sido relacionada a um defeito genético, o qual conduziria a anormalidades do metabolismo lipídico, obstrução dos ductos e a resposta imunomediada dirigida à glândula sebácea (VERCELLI et al., 2004; OBLADEN et al., 2007; SCOTT et al., 2001; GROSS et al., 2006; MENDLEU et al.,2006). Em 2000, Farias et al. descreveram o caso de dois cães da raça akita, geneticamente aparentados que desenvolveram a ASG. Esta resposta imunomediada pode estar relacionada com outras condições; tais como, a atopia e a alergia alimentar (SABADINE, 2008; MENDLEU; HNILICA, 2006; LOWELL, 2005).

Existem várias hipóteses para a origem e desenvolvimento da adenite sebácea, dentre estas se tem: a presença de alterações genéticas estruturais primárias da glândula ou dos ductos sebáceos evocaria uma resposta inflamatória e conseqüente destruição das unidades sebáceas; ocorreriam, primariamente, desordens da ceratinização cutânea que, por sua vez, poderiam ou não ser resultantes de anormalidades do metabolismo lipídico, causando obstrução do ducto sebáceo e subsequente resposta inflamatória piogranulomatosa dirigida contra a glândula; a adenite sebácea seria uma resposta auto-imune ou imunomediada contra antígenos presentes nos componentes da glândula ou da secreção sebácea (FARIAS et al., 2000; REICHLER et al., 2001; SCOTT et al., 2001). Sua ocorrência é incomum na espécie canina (OBLADEN et al., 2007; WILLENSE, 1998; LINEK et al.2008), não há predileção sexual (SCOTT et al., 2001) e raramente é observado em gatos e seres humanos (SCOTT et al., 2001; GROSS et al., 2006). Ressalta Linek et al. (2005), que há apenas duas publicações sobre esta dermatopatia em seres humanos. Em estudo realizado na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Zurique foi observado que, dos 23 cães com diagnóstico de adenite sebácea, 16 apresentaram as primeiras lesões cutâneas até o terceiro ano de vida, e sete apresentaram-nas após o quinto ano(reichler et al., 2001). A adenite sebácea pode atingir cães adultos jovens, de meia idade e das raças: Poodle Standard, Akita, Samoieda, Vizsla (FARIAS et al., 2000; OBLADEN et al., 2007; SCOTT et al., 2001; GROSS et al., 2006; DUSTAN; HARGIS, 1995; MENDLEU; HNILICA, 2006; MENDLEU; KEITH, 2003), lhasa apso (OBLADEN et al., 2007), cocker spaniel, chow chow (PATERSON, 2004) e old english sheepdogs (GROGNET, 2008). Segundo Scoot et al (2001), a análise preliminar da genealogia de poodles standard e parentes sugere um modo autossômico recessivo de herança, entretanto considerando que 25% dos cães acometidos podem apresentar doença

subclínica e Linek et al. (2005), dizem que na Alemanha o aparecimento desta dermatopatia é rara nesta raça e já no norte da América é mais comum; existe uma grande chance da genética desta raça ser diferente nestes países e por isso estudos de cruzamento estão sendo realizados para uma conclusão. Apresentação clínica Segundo Scott et al. (2001), as manifestações clínicas são variáveis, dependendo do tipo de raça e pelagem, sendo que as mais comuns são: a descamação progressiva simétrica, alopecia associada à seborréia seca generalizada (FARIAS et al., 2000;) proeminentes na face, cabeça, orelha e tronco (MENDLEU; KEITH, 2003; SCOTT et al., 2001). A hiperceratose e a seborréia são resultantes da perda da secreção sebácea sobre a pele e o infundíbulo folicular, o que promove o ressecamento da camada córnea, representada por descamação e agregados de ceratina sobre a haste pilosa. A alopecia é em parte justificada pela atrofia do folículo piloso e pela fibrose perifolicular (FARIAS et al., 2000; GROSS et al., 1992). Os sinais dermatológicos estão relacionados com escamas branco prateadas, fortemente aderidas, cilindros foliculares, grave foliculite bacteriana secundária, prurido e mau cheiro (VERCELLI et al., 2004; OBLADEN et al., 2007). De acordo com Mendleu e Keith (2003), normalmente não há prurido, somente quando ocorre infecção secundária por bactéria ou Malassezia. Scott et al. (2001), descrevem que a presença de seborréia, hipotricose especialmente a subpelagem, esta quase sempre presente e que nos cães de pelagem curta as escamas são finas e soltas; já em cães com pelagem longa as escamas se aderem firmemente aos pêlos. Alguns animais podem apresentar sinal de doença sistêmica, como febre, apatia e perda de peso (FARIAS et al., 2000; SCOTT et al., 2001; REICHLER et al., 2001); já Willense, (1998), diz que os sinais sistêmicos são extremamente raros.

Diagnóstico O diagnóstico da adenite sebácea é baseado na raça, no histórico, nos sinais clínicos e nos achados da análise histopatológica de fragmentos cutâneos (OBLADEN et al., 2007). Os raspados cutâneos e culturas fúngicas resultam negativos (VERCELLI et al., 2004; OBLADEN et al., 2007; SCOTT et al., 2001; RHODES, 2005). Cilindros foliculares proeminentes estão mais provavelmente associados a ASG, seborréia, dermatose responsiva a vitamina A, demodicose e displasia folicular (SCOTT et al., 2001). Alguns trabalhos revelam que até teste de Leishmania já foram realizados. O Tricograma revela cilindros ou colares de material cerato sebáceo amarelo amarronzado que caracterizam as hastes do pêlo em intervalos variáveis (VERCELLI et al., 2004). Dos exames subsidiários, a avaliação histopatológica é a que permite o diagnóstico definitivo dessa enfermidade e, quando realizada de múltiplas biopsias de pele selecionadas a partir de locais com diferentes estágios de lesão, propicia maior acurácia diagnóstica (GROSS et al., 1992), pois os achados dermato-histopatológicos variam com a cronicidade da lesão. A escolha de lesões iniciais não alopécicas e com escamas aderentes é útil para a observação da inflamação ativa da glândula sebácea, enquanto as lesões crônicas, com extensa alopecia, caracterizam-se pela ausência de glândulas sebáceas, facilitando o diagnóstico. Os animais com infecção secundária estafilocócicas podem apresentar áreas de dermatite pustular intra - epidérmica neutrofílica, foliculite e furunculose supurativos e dermatite ou paniculite piogranulomatosa nodular a difusa (SCOTT et al., 2001). Para o diagnóstico da adenite sebácea deve-se considerar a seguinte lista de diferenciais: demodicose, piodermatite, dermatofitose, malasseziose, leishmaniose, dermatose responsiva á vitamina A, pênfigo foliáceo, displasia folicular, endocrinopatias e defeitos da ceratinização, como a seborréia primária ou idiopática (SCOTT, et al., 2001).

Tratamento A resposta ao tratamento varia, dependendo da gravidade e/ou da cronicidade da doença e da raça do animal, sendo os cães da raça Akita mais refratária ao tratamento (SCOTT, et al., 2001). Alguns cães apresentam padrões cíclicos de recuperação e agravamento espontâneos, independentemente de qualquer tratamento (GRIFFIN et al., 1993). Os tratamentos clínicos utilizados são divididos em tópicos e sistêmicos, e podem ser usados em combinação ou isolados. Quando a piodermite secundária está presente, seu tratamento sempre se faz necessário (WHITE, 2001). Os casos médios podem ser controlados satisfatoriamente com xampus ceratolíticos e enxágües emoliente. Os casos mais resistentes podem beneficiar-se da aplicação tópica de Propilenoglicol de 50% a 75%, em água como vaporizador ou enxágüe uma vez ao dia e em seguida duas a três vezes por semana, conforme a necessidade (VERCELLI et al., 2004; LOWELL, 2005; MENDLEU; KEITH, 2003; SCOTT et al., 2001). Óleo de bebês nas áreas afetadas durante uma hora e após continuar o tratamento com xampus múltiplos para remover óleo e escamas (LOWELL, 2005). Obladen et al. (2007), assim como Dustan e Hargis (1995), revelam que alguns cães respondem à administração oral de produtos contendo ácidos graxos, ômega 6 e ômega 3. Farias et al. (2007), descreveram o protocolo utilizado para um cão da raça lhasa apso com adenite sebácea, onde foi baseado em uma terapia tópica semanal com xampu emoliente e hipoalergênico (sua composição era tintura de hipericum e extrato de calêndula) e o óleo de bebê, associado a ômega 3 e 6. Após quatro meses de tratamento o paciente apresentou completa repilação e ausência de lesões dermatológicas, sendo apenas indicado banhos quinzenais para manutenção e hidratação da pele. Esta suplementação é importante adjuvante na terapia por apresentar afeitos antiinflamatórios, antipruriginosos e

moduladores de epidermopoiese (SCOTT et al., 2001). Os possíveis efeitos colaterais, embora raros, incluem vômito, diarréia e flatulência (GRIFFIN et al., 1993). Nos casos graves ou refratários, os retinóides sintéticos podem ser úteis. A Isotretinoína que é uma substância derivada da Vitamina A, atua na supressão da atividade e diminuição do tamanho das glândulas sebáceas, na dose é de 1mg/kg, via oral (VO), a cada doze horas, após um mês é reduzida para cada vinte e quatro horas e depois de mais trinta dias para cada quarenta e oito horas. Este medicamento atua diretamente no genoma celular, afetando a labilidade das membranas e modulando a expressão da ceratina e a síntese de RNA e de proteínas, prostaglandinas, sulfato de colesterol e colagenase. Com dois meses de tratamento a manutenção vai depender da necessidade de cada paciente (OBLADEN et al., 2007; MENDLEU; KEITH, 2003), porém este protocolo foi relatado como muito eficaz em vizslas, já em outras raças não (OBLADEN et al., 2007; LINEK, 2008). A vitamina A pode ser administrada na dose de 10.000 UI a cada 12 horas para cães de pequeno porte a médio porte, e de 20.000 UI a cada 12 horas para cães de grande porte (WHITE,2005). O etritinato é usado na dose de 1mg/kg a cada 24 horas, e está indicado nos distúrbios do desenvolvimento epitelial, folicular ou na certinização. Essa droga, na dose de 1-2 mg/kg dia por via oral, foi relatada como ineficaz ou resultando em um máximo de 50% de resolução (POWER & IHRKE, 1990). Em 2005, existe um estudo publicado por Linek et al., sobre o tratamento para ASG com o uso da Ciclosporina, que descreve o tempo para melhora clínica dos pacientes e sua eficácia. Neste estudo em quatro meses de tratamento a alopecia de muitos cães já teve ótimo resultado e poucos cães evoluíram em um espaço maior de oito e doze meses. A reação inflamatória perifolicular tem se resolvido depois de doze meses de tratamento com a ciclosporina, onde resulta no decréscimo de células; como os macrófagos e as

células T, as quais são conhecidas por afetar as células imunomediadas nas doenças auto - imunes. Durante o tratamento a glândula sebácea se regenera e já foram encontrados resultados em cães com quatro e oito meses de tratamento. Não foi investigada sua morfologia, mas foi comparada com a regeneração de células localizadas no folículo piloso. A porcentagem desta evolução depende individualmente de cão para cão neste trabalho. Este estudo revelou que dos quatorze cães testados, quatro cães apresentaram melhora de 70% de regeneração do folículo piloso, dois cães apresentaram 82% de regeneração, três cães tiveram regeneração limitada, com 20% e 30% de melhora clínica e cinco cães que apresentavam a doença em grau mais avançado, não apresentaram regeneração nenhuma das glândulas sebáceas. Nenhuma relação com idade ou raça foram encontradas. Alguns cães apresentaram efeitos colaterais, porém não significativos, sendo o tratamento bem tolerado pelos cães em teste. Este estudo revela que após a descontinuidade do tratamento com a ciclosporina a administração de uma terapia tópica com xampu emoliente é o suficiente para evitar a recidiva da dermatopatia. Prognóstico Mendleu e Keith (2003), acreditam que o prognóstico é variável, dependendo da gravidade da doença. Essa é uma doença incurável, porém o diagnóstico e o tratamento precoce melhoram o prognóstico. Cães com pêlos curtos, os quais tendem a apresentar sintomas mais suaves, podem ter um prognóstico mais favorável que cães com pêlos longos. Segundo Mendleu e Keith (2003), assim como Muller e Kirk (1996), sugerem que para prevenção da doença não coloquem esses animais para reprodução, já que a causa pode ser de origem hereditária.

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