Câmera Escondida no Telejornalismo. Rômulo Boa Sorte OGASAVARA Silvio Rogério dos SANTOS. Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) Londrina-PR

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Transcrição:

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Câmera Escondida no Telejornalismo Rômulo Boa Sorte OGASAVARA Silvio Rogério dos SANTOS Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) Londrina-PR RESUMO O presente paper pretende mostrar a importância do uso da câmera escondida no trabalho telejornalístico da equipe do programa Fantástico, da Rede Globo, que revelou atos de corrupção e ofertas de propinas no Hospital Pediátrico Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro. A reportagem foi veiculada no dia 18 de março de 2012. O objetivo do presente trabalho é apresentar à academia e aos profissionais da imprensa como o uso dessa ferramenta é justificável quando serve de auxílio para o jornalismo investigativo, pautado por denúncias de interesse público. A intenção é provocar reflexões sobre o comprometimento da notícia e a responsabilidade de cada jornalista em defender ou não o uso da câmera escondida. PALAVRA CHAVES: Câmera Escondida; Jornalismo Investigativo; Ética 1

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da INTRODUÇÃO O presente artigo foi inspirado em uma reportagem veiculada no programa Fantástico, da Rede Globo, no dia 18 de março de 2012. O trabalho, conduzido pela equipe de jornalismo da emissora, foi viabilizado mediante o uso de uma câmera escondida que, geralmente, provoca discussões que envolvem conceitos como invasão de privacidade, liberdade de imprensa e função social do jornalista. O que se discute, é essencialmente, quando a invasão de privacidade se justifica, já que muitas vezes o uso da câmera escondida acaba apoiando matérias sensacionalistas, que se encaixam no perfil da espetacularização da notícia. Qual é a linha tênue que divide as matérias com uso justificável ou não da câmera escondida? No caso específico da reportagem veiculada pela revista semanal da Globo ela se justifica? Como medir a relevância ou o caráter de denúncia social de uma matéria que se vale de subterfúgios, como este para chegar ao produto final? No caso específico da reportagem da Rede Globo, todo o processo contou com a conivência do diretor do hospital Publico do Rio de Janeiro, que autorizou a produção de jornalismo da emissora se passar por funcionário da instituição. Foi ele quem conduziu as negociações com representantes de empresas, que após oferecerem propina, viram seus rostos expostos na revista eletrônica dominical. A denúncia jornalística abriu uma investigação dentro do Ministério Público do Rio de Janeiro e chamou a atenção da sociedade para a presença da corrupção em outras esferas, que vão muito além das negociatas políticas que têm como cenário Brasília, a capital federal. Além de analisar o caso do hospital carioca, em particular, buscou-se apoio nos conceitos de noticiabilidade, interesse público e ética, usando como base autores como Eugênio Bucci, Mauro Wolf, Rogério Cristofelleti e Leandro Fortes. 2

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da 2. O TELEJORNALISMO E A CÂMERA ESCONDIDA O objetivo desse trabalho é analisar e ampliar os estudos do uso da câmera Escondida nas matérias investigativas apresentada nos telejornais, nesse caso específico, o que foi apresentado pelo Fantástico. Mesmo com imagens tremulas; sem foco; com uma iluminação fraca, que por meios legais não entra em nenhum telejornal, o uso da câmera escondida ainda é importante quando o assunto investigado é de caráter público, até porque estas anotações são deixadas de lado dentro do jornalismo investigativo. Na tentativa de pesquisa sobre o assunto, há entraves que dificulta o pesquisador, pois tanto nos manuais da ética jornalística, quanto nos manuais de jornalismo das empresas de comunicação, pouco se fala e se discute o modo de como deve ser feito o uso da câmera escondida nas redações e nas reportagens apresentadas nos telejornais, principalmente dentro do gênero investigativo. Sendo assim, o disfarce usado através desse artifício passou a ser copiado pelos mais diversos meios de comunicação. O uso dessa ferramenta tem se tornado comum, principalmente quando se trata de algo público. Foi o que ocorreu na reportagem feita pelo Fantástico da TV Globo. Desta forma, o uso da câmera escondida dentro da matéria investigativa do Fantástico será nosso objeto de análise. A idéia é mostrar como os profissionais construíram este material ao longo dos meses. Tentar entender quais foram os critérios usados pela equipe de produção e as posições éticas da imprensa no uso da câmera escondida. 1 Trabalho submetido ao Intercom Junior, 2012, na Categoria DT 1 JORNALISMO. 1 Sílvio Rogério do Santos, Aluno líder do grupo e estudante do 7º. Semestre do Curso de jornalismo, email: silviorogeryo@hotmail.com 1 Rômulo Boa Sorte Ogasavara, Estudante do 7º. Semestre do Curso de jornalismo, email: romlogbs@hotmail.com 1 Gisele Rech Orientador do trabalho. Professor do Curso de jornalismo, email: krodelrech@gmail.com 3

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da 3. O CASO DO HOSPITAL PEDIÁTRICO CLEMENTINO FRAGA FILHO A reportagem foi produzida dentro do Hospital Pediátrico Clementino Fraga Filho do Rio de Janeiro. A denúncia é de licitações fraudulentas oferecidas por quatro empresas da cidade. O caso ocorrido é o principal produto de análise para este material levar à reflexão e ao debate sobre o assunto: o uso da câmera escondida no jornalismo. O objetivo da reportagem era mostrar como funciona o esquema de fraude nas licitações de saúde pública. As gravações foram ao ar no dia 18 de março de 2012, com grande repercussão, vale lembrar que as imagens foram levadas até o ultimo momento antes da liberação do pagamento. Com conhecimento da direção do Hospital Pediátrico Clementino Fraga Filho, a equipe do programa Fantástico da TV Globo conseguiu através do repórter Eduardo Faustini mostrar como funcionava o esquema de fraude em licitações na área de saúde pública. A investigação contou com três câmeras escondidas (de três ângulos diferentes), objetivo era mostrar os quatro representantes de empresas fornecedoras de serviços para o governo federal, que estavam fraudando o processo licitatório de compras na saúde pública. 4. QUANDO ENTRA A CÂMERA ESCONDIDA O uso da câmera escondida dentro do telejornalismo, precisa ter muito cuidado. Eduardo Faustini, jornalista investigativo da Rede Globo, que nessa área, não só descobriu as recentes fraudes da saúde, no Rio de Janeiro, mas também já denunciou inúmeras empresas, que derrubaram vários políticos do poder e muitas irregularidades foram descobertas, e sempre usando o mesmo método. 4

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da A cada dia a noticia vem se comportando de forma diferente na sociedade. O uso da câmera escondida no jornalismo investigativo tem se tornado algo atraente nesse tipo de apuração, por isso há necessidade de bibliografias específicas. Uma das bibliografias usadas é o escritor Mauro Wolf. Wolf (apud Sequeira, 2005, p. 36). Na maioria das vezes a apuração se dá entre as fontes adquiridas pelos jornalistas ao longo dos meses, fontes estáveis, como agencias de noticias ou assessorias de comunicação. Hoje quase sempre o material que é oferecido ao espectador acaba vindo pronto dos assessores, diminuindo o poder de fogo do jornalista. Deixando cada vez mais a figura do profissional investigativo de lado. Outros autores utilizados nesse trabalho, mas, para falar sobre a ética, são o Eugênio Bucci e Cristofelleti, ambos mostram-se contra o uso do método citado pelo trabalho, dando debate e fortalecendo os argumentos a favor. A cada dia a notícia vem se comportando de forma diferente na sociedade. O uso da câmera escondida no jornalismo investigativo tem se tornado algo atraente nesse tipo de apuração. Um telejornalismo mais solto com imagens, muitas vezes, fora dos padrões exigidos, mas com resultado positivo que dispensa qualquer regra. Seja no jornal impresso, no radio, ou na internet, o jornalismo investigativo passa por uma minuciosa análise dos fatos antes de ser publicado. O tempo de espera também faz parte, tudo para se ter a melhor informação. Leandro Fortes no livro Jornalismo Investigativo (2005), diz que o diferencial do jornalismo investigativo dos demais setores são as circunstâncias. E que normalmente, os fatos, a extensão da notícia e o tempo de duração, são os mais complexos. Segundo Fortes quase sempre os assuntos do gênero investigativo são maiores que os factuais apresentados no dia a dia. 5

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Dentro desse aspecto o jornalismo investigativo entrou em ação e tratou de apurar as informações com muito cuidado. A falta de profissionais e o tempo na apuração do assunto podem comprometer o material quanto a sua publicação. E isto tem sido um dos motivos das poucas matérias do cunho investigativo. 5. OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS? UM EMBATE ÉTICO O uso da câmera escondida no telejornalismo tem ajudado e contribuído com o telespectador no que se diz a busca pela verdade. Foi assim na reportagem do programa Fantástico (18/03), na qual um repórter disfarçado de gestor de compras, em um Hospital Público do Rio de Janeiro conseguiu investigar contratos milionários. Em 2009, a Rede de do Paraná (RPCTV), filiada da Rede Globo, produziu uma série chamada Diários Secretos, na qual por mais de dois anos levou os jornalistas, Kátia Brembatti, Karlos Kohlbach, James Alberti e Gabriel Tabatcheik, ao final das investigações dos diários avulsos que eram mantidos em sigilo na Assembléia Legislativa do Paraná. Para muitos principalmente no meio acadêmico, todo o processo de produção de investigação utilizando a câmera escondida não é ético. Professores, estudantes e diversos jornalistas acreditam que a forma usada por Eduardo Faustini e outros repórteres investigativos foge completamente dos padrões éticos do jornalista. Segundo o jornalista Luiz Carlos Bordoni, em um artigo publicado no site Comunique-se, o jornalista deve tomar cuidado com o uso do material. Os jornalistas falam em liberdade de expressão, só não sabem que esta, sem a liberdade de pensamento, resulta em sérias distorções, entre as quais a discriminação, o pré-conceito, o pré-juízo. Fariseus da Nova Ordem, eles condenam a censura, mas são eles próprios, os censores já a partir da elaboração da pauta, onde prevalece o fato que dê audiência e não o que seja de interesse público. (Bordoni, 2002, Comunique-se) 6

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Segundo Bucci (2000, p.31), se uma empresa de comunicação não se submete na pratica as exigências de busca da verdade e do equilíbrio, o esforço de dialogo vira proselitismo vazio e inútil. Por outro lado, Christofoletti lembra que o profissional não deve omitir os fatos. O jornalismo não combina com a ilusão ou a mentira. Por principio ele é contrario a isso. Desde que passamos a considerar o jornalismo como uma prática de caráter social voltada para o coletivo, vinculamos as atividades jornalísticas à verdade e à fidelidade dos fatos e versões. (Christofoletti, 2008, pg. 27) Segundo Mauro Wolf (2005), as mídias eletrônicas levaram o jornalismo a se submeter às leis da tecnologia, com isso as imagens e as produções feitas com o uso da câmera escondida nos telejornais passaram a ter mais valor que o texto escrito. O processo de elaboração na informação de massa tem-se, de um lado a cultura profissional (as praticas já consolidadas pelos jornalistas) e do outro as restrições ligadas à organização do trabalho sobre as quais se criam convenções profissionais, que determinam a definição de noticia e legitimam a marcha produtiva desde a utilização das fontes até a seleção e edição dos acontecimentos. (Wolf apud Sequeira, 2005, p. 33) O individuo por sua vez passou a exigir mais dos meios de comunicação de massa. A facilidade e a agilidade no contato com a notícia proporcionada com a chegada da internet na década de 1990 fez o telejornalismo apresentar cada vez mais matérias de cunho investigativo e utilizando a câmera escondida. Para os especialistas existe um valor jurídico dentro dessa forma de se gerar a noticia, e criticar o uso da câmera escondida dentro de uma reportagem é muito difícil. É preciso lembrar que os disfarces dentro das reportagens, já ajudaram a 7

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da desbancar dezenas de policiais, médicos, advogados e políticos envolvidos em irregularidades. Dentro do manual de redação da Rede Globo há uma cartilha que justifica o uso da câmera escondida, porém, assim como ocorre em outros manuais, não segue uma regra que esteja de acordo com a ética jornalística, até porque, esta se apresenta incapaz de dizer se pode ou não utilizar o método para conseguir informações. O uso de microcâmeras e gravadores escondidos, visando à publicação de reportagens, é legítimo se este for o único método capaz de registrar condutas ilícitas, criminosas ou contrárias ao interesse público. Deve ser feito com parcimônia, e em casos de gravidade. Seu uso deve ser precedido da análise, pelas chefias imediatas, dos riscos que correrão os jornalistas caso venham a ser descobertos. A imagem e/ou o áudio de pessoas que não estejam envolvidas diretamente no que estiver sendo denunciado devem ser protegidos. Em seus manuais de redação, os veículos devem estabelecer suas normas de uso. (Globo.com) Essa justificativa da empresa de comunicação, assim como ocorre em outro manuais, apresenta ambiguidade quando se relaciona com outras regras, por exemplo, ser transparentes em ações (reportagens) e em seus propósitos. O respeito e a transparência devem marcar a relação dos jornalistas com suas fontes. Quando indagado por elas sobre o destino da informação que acaba de lhe dar, o jornalista deve responder com a exatidão possível [..]d) Deve-se sempre respeitar compromisso assumido com as fontes, principalmente aqueles relativos à preservação da identidade delas. Por esse motivo, esse tipo de compromisso deve ser apenas firmado com fontes de cuja credibilidade não se possa desconfiar. (Globo.com) Outro argumento utilizado pela organização Globo diz que o público será sempre informado sobre as condições em que forem feitas reportagens que fujam ao padrão e a respeito da privacidade os jornalistas devem respeitá-las, principalmente se estiverem em suas casas e trabalho e diz que ninguém será obrigado a participar. 8

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Diante desse argumento, supõe que a câmera escondida está dentro do padrão para as empresas, e que o fato de cometer um grave crime o jornalista pode utilizar equipamentos escondidos para entrevistá- la, o que torna perigoso. Mesmo havendo essas divergências, a empresa após a reportagem, a equipe do fantástico, no mesmo dia (18/03) em que saiu a notícia da fraude das licitações de vendas da saúde publica do Rio de Janeiro, agiu de acordo com a ética, pois disse que tentou entrevistar e ter a resposta dos acusados, porém eles a recusaram. Ela fez o certo, até porque, seguiu tanto o próprio manual de redação, quanto à ética jornalística. Uma pessoa poderá ser apresentada como suspeita de crime ou irregularidade quando investigações jornalísticas, feitas segundo os preceitos deste documento, assim permitirem. A reportagem terá de trazer a versão da pessoa acusada, de forma ampla, se ela se dispuser a falar. (Globo.com) 6. CONCLUSÃO A partir desse trabalho foi possível compreender quando o uso da câmera escondida nas reportagens investigativas é justificável, e a forma como este material chega ao público têm feito da informação uma mercadoria nos mais diversos meios de comunicação de massa principalmente nos telejornais. É importante lembrar que o escândalo envolvendo o legislativo paranaense foi ao ar depois de dois anos de investigação. Através dos Diários Secretos foi desbancado um dos maiores esquemas de corrupção da política paranaense. O caso envolvia a mesa diretora da casa e vários deputados. Vale ressaltar de que não tem como discordar de que a privacidade das pessoas e a identidade delas devem ser respeitadas, especialmente em seu lar e em seu lugar de trabalho. Porém, cabe ver se a pessoa ou pessoas investigadas estejam agindo contra a lei, pois o público deve e merece ser informado, pois essa é a função do jornalismo. 9

Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa/ Eugênio Bucci São Paulo: Companhia das Letras, 2000. BORDONI, Luiz Carlos. Comunique-se. Em: <http://www.comunique-se.com.br/>. Acesso em: 22 de outubro de 2011.) CHRISTOFOLETTI, Rogério. Ética no Jornalismo/ Rogério Christofoletti São Paulo: Contexto, 2008 DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Editora Contraponto, 1997. Diários secretos feito pela filial Rede Globo do Paraná. Disponível em <http://www.rpctv.com.br/parana-tv/2010/11/serie-de-reportagens-diarios-secretosganha-premio-tim-lopes-de-jornalismo/>. Acesso em: 22 de outubro de 2011.) Manual de redação da Rede Globo. Disponível em: http://g1.globo.com/principios-editoriais-das-organizacoes-globo.html#diante-das-fontes Acesso em 20h42 SEQUEIRA, Cleofe. Jornalismo Investigativo: O fato por trás da notícia/ Cleofe Monteiro de Sequeira São Paulo: Summus, 2005. 10

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