ASPECTOS ANATÔMICOS DO PECÍOLO DE QUATRO ESPÉCIES DO GÊNERO Ocotea AUBL. (LAURACEAE) OCORRENTES NO RIO GRANDE DO SUL.

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Transcrição:

INSULA Florianópolis 3-14 1995 ASPECTOS ANATÔMICOS DO PECÍOLO DE QUATRO ESPÉCIES DO GÊNERO Ocotea AUBL. (LAURACEAE) OCORRENTES NO RIO GRANDE DO SUL. PETIOLE ANATOMIC ASPECTS OF FOUR SPECIES OF GENERO Ocotea AUBL. (LAURACEAE) FROM THE RIO GRANDE DO SUL. RESUMO Marisa Santos Paulo Luiz de Oliveira Os pedolos das folhas de Ocotea porosa, O.diospyrifolia, O.pulchella e O.tristis têm diferenças que podem ter valor taxonômico, quando obseivados em seção transversal, principalmente quanto à forma geral e distribuição dos tecidos. O feixe vascular é sempre colateral, com faixa cambial, e envolvido por uma bainha de esclerênquima. Ocorrem cristais,em forma de agulhas e tabletes, células secretoras de óleos essenciais elou mucilagem, e células pétreas. Em o.pulchella são encontrados espaços intercelulares lisígenos. PI classificação bibliográfica: Morfologia vegetal PALAVRAS CRAVE : Lauraceae, Ocotea porosa, Ocotea diospyrifolia, Ocotea pulchella, Ocotea tristis,,anatomia foliar, pecíolo. ABSTRACT The petiole of the leaves of Ocotea porosa, O.diospyrifolia, O.pulchella and O.tristis presents differences, which may be of taxonomic value, when seen in transection, mainly as to the general structure and arrangement of the tissues. The vascular bundle is always col1ateral, with vascular cambium, and enveloped by a sheath of sclerenchyma. Crystals in the shape of needles and tablets, secretory cel1s with essential oils and I or mucilage and stones cells occur in the petiole of the four species mentioned above. In the O.pulchella are found lysigenous cavities. Docente do Dep;utantento de BoIânicaICCBIUFSC Docente do Dep;utantento de EcologiaI UFRGS. 3

For bibliographic classification : Plant Morphology. KEY WORDS :Lauraceae, Ocotea porosa, Ocotea diospyrifolia, Ocotea pulchella, Ocotea tristis, leafanatomy, petiole. INTRODUÇÃO No Rio Grande do Sul ocorrem diversos gêneros da família Lauraceae, entre os quais Ocotea Aubl. com onze espécies (pedralli, 1982). A semelhança dos caracteres morfológicos das estruturas vegetativas~oma a identificação taxonômica totalmente dependente da morfologia\ floral. Sendo assim, um maior conhecimento morfoanatômico das folhas poderá auxiliar à taxonomia. VATIIMO (1975) apresenta uma chave para identificação das espécies de Aniba (Lauraceae), baseada nos dados anatômicos obtidos após uma série de trabalhos iniciados em 1968. OLOWOKUDEJO (1987) atribui valor taxonômico às características anatômicas do pecíolo de Biscutella (Cruciferae) para distinção de suas espécies, as quais apresentam grande semelhança na morfologia foliar. Existem poucas informações sobre as características anatômicas do pecíolo de Lauraceae. METCALFE (1987) apresenta alguns dados para alguns gêneros da família, porém nenhuma referência é feita acerca de Ocotea. Este estudo visa caracterizar a estrutura morfo-anatômica do pecíolo de quatro espécies do gênero Ocotea Aubl., a fim de obter dados que possam auxiliar na identificação taxonômica. A opção por estas quatro espécies deu-se por duas razões : primeiro, pela ocorrência das quatro num mesmo ambiente ( Itapoã - município de Viamão, no Rio Grande do Sul ) ; segundo, pela grande semelhança das estruturas vegetativas entre O.porosa e O.diospyrifolia e entre O.pulchellQ e o. tristis. MATERIAL E MÉTODO As folhas dos indivíduos de Ocotea porosa (Nees et Mart. ex Nees) 1 Angely, O.diospyrifolia ( Meissner ) Mez, o.pulchella ( Nees et Mart. ex Nees) Mart. e O.tristis (Nees et Mart. ex Nees) Nees foram coletadas em Itapoã ( Município de Viamão, RS ), sendo as exsicatas incorporadas aos Herbários ICN (da UFRGS) e FLOR (da UFSC). Foram utilizadas, para os estudos morfo-anatômicos, folhas adultas 4

apicais de 15 ramos, perfazendo 60 folhas analisadas de cada espécie. Foram consideradas três regiões do pecíolo - proximal, distai e intermediária ( média ). Parte do material foi presenrado em sacos plásticos sob refrigeração, para obsenrações 'in vivo' e aplicação de testes histoquímicos. Outra parte do material foi fixada em FAA 70 GL por 24 horas ( JOHANSEN, 1940 ), após a coleta, e depois consenrada em etanol 70 GL. As preparações semipermanentes foram obtidas através de seções transversais, feitas à mão-livre, com auxílio de lâmina de barbear. Como material de apoio, foi utilizado isopor (QUINTAS, 1963). Para montagem das lâminas, usou-se glicerina líquida. As preparações permanentes seguiram os métodos tradicionais, desde inclusão em parafina, cortes transversais em micrótoltlo, colorações com Safranina I Fast-Green e montagem das lâminas com Bálsamo do Canadá. Para testes histoquímicos, utilizaram-se o reativo de Steimetz, original (COSTA, 1972) e modificado ( LIMA, 1963 ), Azul de Metileno, Tionina e Sudam III ( COSTA, 1972 ) e FenoVÓleo de Cravo/Xilol para identificação de sílica ( JOHANSEN, 1940 ). As obsenrações e ilustrações foram feitas ao microscópio Wild Ml1, com auxílio de câmara-clara. A simbologia usada nas representações esquemáticas segue a proposta por METCALFE & CHALK ( 1950). RESULTADOS E DISCUSSÃO O pedolo na região proximal das quatro espécies de Ocotea estudadas, apresenta-se com tendência à forma cilíndrica e, no sentido distai, surgem, gradativamente, expansões laterais em três espécies, exceto em O.tristis. Em O.porosa e o.diospyrifo/ia, nas regiões proxímal e média, e em o. tristis, ao longo de todo pecíolo, a forma não é exatamente cilíndrica, d~vido.. ao achatamento que ocorre na face adaxíal, chegando a ser côncavo na ~egião proximal de o.diospyrifo/ia. Isto pode ser constatado obsenrando as representações esquemáticas das seções transversais (Fig. 1-4 ). METCALFE & CHALK ( 1950) referem-se a uma reentrância distai no pecíolo de Lauraceae, o que, entre as espécies estudadas, só é obsenrado na região proximal do pedolo de O.diospyrifo/ia ( Fig. 2 ). Nas demais espécies, a face adaxíal varia de plano a convexa. 5

Tricomas, do tipo simples unicelulares, ocorrem nas quatro espécies ( Fig. 5), apenas diferindo pela presença de vacúolos com óleos essenciais em duas espécies, O.pulchella e O.tristis. Em O.porosa e O.diospyrifolia os tricomas são raros e restritos à face adaxial da região proximal, enquanto que em o.pulchella e O.tristis estão sempre presentes na face adaxial (Fig. 1-4 ). Em O. tristis, na região proxirnal, são abundantes em tomo de todo pecíolo. O feixe vascular em forma de 'U' ou 'crescente' parece ser constante para a família, uma vez que tem sido citado para diversos gêneros ( METCALFE & CHALK, 1950 ; KASAPLIGIL, 1951 ). METCALFE & CHALK ( 1950 ) referem-se a uma maior profundidade da 'crescente' em certos gêneros, como Sassafras. Nas espécies examinadas, verifica-se que O.porosa (Fig. 1) e O.diospyrifolia (Fig. 2) apresentam o feixe vascular, como um todo, quase plano, sendo que o floema, especialmente na região proximal de O.porosa, apresenta forma de 'U'. Em o. tristis ( Fig. 4 ), todo feixe vascular apresenta a forma de 'crescente', chegando a forma de 'U' em O.pulchella (Fig. 3), especialmente nas regiões média e proximal. Uma faixa cambial entre o floema e o xilema, ao longo de todo pecíolo, é bem distinta nas 4 espécies estudadas. A sustentação perivascular é um dos caracteres mais marcantes de distinção entre as espécies. Esta sustentação é representada por bainha esclerenquimática, constituída de fibras, e células isoladas ou agrupadas, na forma de esclereídeos. A bainha esclerenquimática, na região distai, contorna todo feixe vascular, sendo contínua em O.porosa (Fig. la ) e o.pulchella ( Fig. 3a ) e descontínua em O.diospyrifolia (Fig. 2a ) e O.tristis (Fig. 4a). Na região média, a bainha esclerenquimática envolve todo feixe vascular, de modo contínuo, em o.porosa, o. diospyrifolia e o.pulchella ( Fig. 1b, 2b e 3b, respectivamente ), enquanto em O.tristis ( Fig. 4b ) ocorrem agrupamentos de fibras esclerenquimáticas restritos somente ao floema. Na região distai, as fibras esclerenquimáticas, constituem um arco apenas junto ao floerna em o.pulchella (Fig. 3c ) e O.tristis ( Fig. 4c ), estando ausentes em O.porosa ( Fig. 1c ) e o.diospyrifolia (Fig. 2c). METCALFE ( 1987) refere-se à presença de tecido esclerenquimático, para Lauraceae, como sendo uma caracteristica comum nos pecíolos, onde é bastante desenvolvido abaxialmente e freqüentemente circundando os feixes vasculares, fato também observado nas espécies de Ocotea, aqui estudadas. Além das fibras esclerenquimáticas, também ocorrem os esclereídeos, células mais ou 6

menos isodiamétricas ( Fig. 6a e 6b ), conhecidas como células pétreas, com pontuações simples ou ramificadas, encontradas nas quatro espécies de Ocotea ( Fig. 6, 7, 8 e 9 ), entre as células do parênquima aclorofilado. Em o.porosa e O.diospyrifolia ocorrem apenas algumas células isoladas na região proximal (Fig. lc e 2c). Em O.pu/chella e o. tristis estas células isoladas ou em agrupamentos, ocorrem ao longo de todo pedolo ( Fig. 3 e 4 ), predominando na região proximal. Outro aspecto, a ser ressaltado, é a presença de vacúolos, com óleos essenciais, no lume das células pétreas de O.pu/chella e O.tristis (Fig. 8b e 9 ). A presença de células pétreas no tecido de preenchimento do pedolo tem sido citada para Ravensara (DUBARD & DOP, 1907 ), para Cinnamomum zey/anicum (METACALFE & CHALK, 1950 ) e para diversos órgãos vegetativos de Lauraceae (FAL, 1974, 1976). ESAU (1969) observa que células não funcionais de floema podem originar esclereídeos. CUTIER( 1978 ) verifica que há uma associação dos esclereídeos com o floema, em Cinnamomum. Nas quatro espécies, evidenciou-se a presença de câmbio e formação de elementos de xilema e floema secundários, tal como encontrado em Umbellu/aria e Laurus (KASAPLIGIL, 1951 ). Portanto, é possível que existam elementos não funcionais no sistema de condução. Entretanto, é pouco provável que esta seja a origem das células pétreas, uma vez que elas estão dispersas no parênquima aclorofilado e, portanto, afastadas do floema (Fig. 1 a 4). PAL (1974, 1976) determina a origem dos esclereídeos como sendo células parenquimáticas cujas paredes tomam-se lignificadas e cada vez mais espessadas. KASAPLIGIL ( 1951 ) e PAL ( 1976 ) encontram células pétreas com citoplasma e núcleo até na maturidade e registam ainda a presença de óleo no lume das células pétreas. Esclereídeos encontrados em 14 das 17 espécies de Lauraceae estudadas por PAL ( 1976 ) são do tipo braquiesclereídeos ( = células pétreas ), com formas, espessurfl das paredes e tamanhos variados, fatos que excluem valor taxonômico a estas estruturas. Nas quatro espécies de Ocotea estudadas também verificam-se células pétreas com tamanhos e formas variáveis, apesar de serem maiores em o.pu/chella ( Fig. 8 ) e O.tristis ( Fig. 9 ), do que em O.porosa (Fig. 6 ) e O.diospyrifolia (Fig. 7). Assim como PAL ( 1976 ), constata-se que elas não apresentam características distintas entre as quatro espécies e mesmo entre estas e outras Lauraceae, já analisadas por outros pesquisadores. Constata-se uma redução na presença de fibras esclerenquimáticas próximo à região proximal, nas quatro espécies, 7

estando inclusive ausentes em o.porosa e O.diospyrifolia. Cabe considerar, por outro lado, que a redução de fibras está associada ao surgimento ou aumento da quantidade de esdereídeos. RICHTER (1981) refere-se a presença de esdereídeos junto ao floema secundário de Lauraceae, onde não há fibras esderenquimáticas. Em o.porosa (Fig. 1) e O.diospyrifolia ( Fig. 2 ), as células pétreas ocorrem na ausência de fibras. Em O.pulchella ( Fig. 3 ) e O.tristis (Fig. 4) são encontradas células pétreas ao longo de todo pecíolo, porém os maiores agrupamentos estão na região proximal, onde a quantidade de fibras é menor. Sob a epiderme, nas quatro espécies, ocorre colênquima ao longo de todo pedolo. Em O.porosa, o colênquima da região distai ocupa uma pequena faixa junto à face abaxial, expandindo-se lateralmente e aumentando o número de camadas, no sentido proximal, até formar um anel contínuo ( Fig. 1 ). Nesta espécie, ainda ocorre um parênquima colenquimatoso ( Fig. la), no centro das expansões laterais do pedolo e em duas colunas adaxiais sob a epiderme. Em O.diospyrifolia, na região distai do pedolo, o colênquima ocorre nas faces adaxial e abaxial (Fig. 2a). No sentido proximal, eletorna-se contínuo ( Fig. 2b, c ), ocupando uma faixa relativamente estreita na região proximal. Como em o.porosa, no centro das duas alas também ocorre um cordão de parênquima colenquimatoso ( Fig. 2a ). Em O.pulchella e O.tristis, ao longo de todo pedolo, o col'ênquima tem disposição continua ( Fig. 3 e 4 ), apresentando um maior número de camadas celulares no sentido proximal. Um fato a destacar é o ordenamento radial das células colenquimáticas, especialmente nas regiões média e proximal, o que não é verificado nas outras duas espécies estudadas. As células do colênquima de O.pulchella e O.tristis quase sempre contém vacúolos com óleos essenciais, o que observa-se mas com menor freqüência em O.porosa e o.diospyrifolia. Com exceção de O. tristis, o dorênquima está presente no pecíolo. Em O.porosa e o.diospyrifolia este tecido localiza-se lateral e superiormente ao feixe vascular ( com descontinuidade no centro ). Na primeira espécie, ele está restrito a região distai (Fig. la) e na segunda é encontrado nas regiões distai e média ( Fig. 2a, b). Em O.pulchella, O dorênquima, localizado nas expansões laterais da região distai, apresenta-se diferenciado em parênquimas paliçádico e esponjoso. Internamente ao colênquima, situa-se um parênquima aclorofilado. Em O.porosa, este tecido toma-se, em relação ao colênquima, reduzido no sentido distal-proximal. Já em O.diospyrifolia, 8

o parênquima aclorofilado ocupa grande espaço na região proximal. Em O.pulchel/a e O.tristis também encontra-se parênquima aclorofilado, em proporções relativamente constantes nas três regiões. Nas células do parênquima aclorofilado, ao longo de todo pedolo das quatro espécies de Ocotea, há grande quantidade de cristais ( Fig. 6a ), com tamanhos e formas variados, tais como : grânulos muito pequenos, agulhas, lâminas delgadas, octaedros e outros, não tendo sido constatado nenhum tipo exclusivo de alguma espécie. Através de teste histoquímico, verifica-se que estes cristais são de sílica. Não há referências sobre a presença de cristais no pecíolo de Lauraceae. Entretanto, os cristais têm sido citados para outras partes vegetativas (VATTlMO, 1968a, b, 1969a, b ; METCALFE & CHALK, 1950, 1983), sendo encontrados sempre sob diversas formas e compostos de oxalato de cálcio. METCALFE (1987) cita, para Lauraceae, dados de OSSOWSKI ( 1929 ), o qual constatou a ocorrência de cristais, sob formas variadas, como as encontradas nas espécies em estudo, e ainda refere-se aos estudos de RICHTER ( 1981 ), que observou agulhas de sílica em células subepidénnicas de Beilschmiedia madang, através de análise com raio X. Células secretoras idioblásticas ( Fig. 6a ), contendo óleos essenciais e mucilagem, ocorrem dispersas entre as células do parênquima aclorofilado, colênquima e floema, nas quatro espécies, ao longo de todo o pedolo. Em o.pulchel/a são freqüentes os espaços intercelulares lisígenos, geralmente localizados no limite entre o parênquima aclorofilado e o colênquima. CONCLUSÃO Apesar de muitas características anatômicas do pedolo serem semelhantes nas quatro espécies, há algumas bem evidentes que poderão auxiliar na distinção taxonômica das mesmas. Destacam-se como características morfo-anatômicas semelhantes, entre as quatro espécies : células secretoras idioblásticas, contendo óleos essenciais e/ou mucilagem; presença de cristais silicosos, em forma de agulhas e tabletes ; e feixes vasculares colaterais, com presença de câmbio vascular, envolvidos por bainha esclerenquimática. Como características morfo-anatômicas que possibilitam distinguir as quatro espécies, devem ser consideradas: 9

* forma do pedolo, em seção transversal, na região distai: O.porosa, O.diospyrifolia, O.pulchella - com expansões laterais e convexidade na face adaxial ; o. tristis - sem expansões laterais e plana na face adaxial. * forma do feixe vascular do pedolo: O.porosa e o.diospyrifolia - em meia-lua; O.pulchella - em meia-lua muito acentuada; O.tristis - quase plana. * bainha esclerenquimática do feixe vascular : O.porosa contínua nas regiões distai e média, ausente na região proximal; o.diospyrifolia - descontínua na região distai, contínua na região média, ausente na região proximal ; O.pulchella - contínua nas regiões distai e média, ausente junto ao xilema na região proximal ; o.tristis descontínua na região distai, ausente junto ao xilema nas regiões média e proximal.. * ocorrência de células pétreas no pedolo : O.porosa e O.diospyrifolia - na região proximal ; O.pulchella e O.tristis - em toda extensão. * colênquima no. pedolo : o.porosa e O.diospyrifolia descontínuo na região distai, contínuo nas regiões média e proximal ; o.pulchella e o.tristis - anel contínuo em toda extensão. * vacúolos com óleos essenciais ocupando quase todo lume das células colenquimáticas do pecíolo : o.porosa e O.diospyrifolia ausentes; O.pulchella e O.tristis - presentes. *espaços lisígenos no pedolo : O.porosa, O.diospyrifolia' e o.tristis - ausentes ; o.pulchella - presentes. BIBLIOGRAFIA COSTA, A. F. 1972. Farmacognosia. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. v.3, p. 40-3. CUTTER, E. G. 1978. Plant anatomy. Cells and tissues. 2 ed. London, Edward Arnold. pte. 1. DUBARD, M. & DOP, P. 1907. Description de quelques especes nouvelles de Madagascar. Bull. Soco Bot. Fr., 54 : 155-70. Apud METCALFE, C. R. & CHALK, L. 1950. Anatomy of dicotyledons. Oxford, Claredon Press. v.2. 10

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-- 100" ~ 0' I,;, "_." ' ' \ \;". " - " ".'::;".'.'a a.. ~.... J.':,~,,,. b b FIG. 1-4 - Secção transversal do pecíolo, em representação esquemática: a-região distai, b-região média, c-região proxirnal. Fig. I-Ocoleaporosa, 2-0diospyrifolia, 3-0pulchel/a, 4-0trislis. Legenda: cp-célula pétrea, Depiderme, lxilema, êlfloerna, WIIIcãmbio vascular, lfillclorênquima, I>Jparênquima paliçádico, ~parênq. espoj1joso, Ellparênq. aclorofilado, I:3parênq. colenquimatoso,!l!lcolênquima,.esclerênquima, ~células secretoras idioblásticas, ~ espaços intercelulares lisígenos.

5~ FIG. 5 - Tricomas em secção transversal da epiderme do peciolo : a - O.porosa, b o.diospyrifolia, c - O.pu/chella, d - o.tristis. FIG. 6-9 - Células pétreas do peciolo, em secção transversal, exceto 6 b - em secção longitudinal : 6 - o.porosa, 7 - O.diospyrifolia, 8 - O.pu/chella, 9 - o. tristis. (csi - célula secretora idioblástica ; cr - cristal; v - vacúolo ).