ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 0001726-60.2015.827.0000 ORIGEM: REQUERENTE: INTERESSADO: RELATORA: DO ESTADO DO TOCANTINS MARCELO DE CARVALHO MIRANDA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS Desembargadora ÂNGELA PRUDENTE DECISÃO Trata-se de pedidos de ingresso, na qualidade de amici curiae, formulados por Sindicatos na presente Arguição de Inconstitucionalidade, em que o Governador do Estado do Tocantins impugna a constitucionalidade das Leis Estaduais nº 2.851, de 09/04/2014 (Plano de Cargos, Carreiras e Subsídios dos Policiais Civis) e 2.853, de 09/04/2014 (altera a Tabela de Subsídios do cargo de Delegado de Polícia Civil) e, por arrastamento, e/ou interpretação conforme, a Lei Estadual nº 2.882 de 27/06/2014 (que prevê Revisão Anual Geral para os Delegados de Polícia do Estado do Tocantins). Em petição lançada no evento 9, o SINDEPOL Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Tocantins, solicitou sua habilitação nos autos, na condição de amicus curiae. O SISEPE Sindicato dos Servidores Públicos no Estado do Tocantins, também requereu seu ingresso no feito, tendo informado, no evento seguinte, o equívoco no protocolo de seu requerimento, dizendo ser referente à outra demanda (eventos 12 e 13). Por fim, o SINPOL Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Tocantins, igualmente, formulou pedido de ingresso como amicus curiae (evento 18). É o relatório. Decido. AC Nº 0010104-39.2014.827.0000 Página 1 de 5
Segundo a lição de Luiz Guilherme Marinoni 1, a figura do amicus curiae tem como função "contribuir para a elucidação da questão constitucional por meio de informes e argumentos, favorecendo a pluralização do debate e a adequada e racional discussão entre os membros da Corte, com a consequente legitimação social das decisões". No julgamento da ADI 2130-MC/SC, em esclarecedor voto do Ministro Celso de Mello 2 consolidou-se o instituto do amicus curiae, como passo a transcrever: (...) a admissão de terceiro, na condição de amicus curiae, no processo objetivo de controle normativo abstrato, qualifica-se como fator de legitimação social das decisões da Suprema Corte, enquanto Tribunal Constitucional, pois viabiliza, em obséquio ao postulado democrático, a abertura do processo de fiscalização concentrada da constitucionalidade, em ordem a permitir que nele se realize, sempre sob uma perspectiva eminentemente pluralística, a possibilidade de participação formal de entidades e de instituições que efetivamente representem os interesses gerais da coletividade ou que expressem os valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais. Em suma: a regra inscrita no art. 7º, 2º, da Lei nº 9.868/99 que contém a base normativa legitimadora da intervenção processual do amicus curiae tem por precípua finalidade pluralizar o debate constitucional (...). Com efeito, o parágrafo 2º do art. 7º da Lei 9.868/99 admite, no processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade, a manifestação de órgãos ou entidades, além aqueles que ordinariamente participam do feito, na qualidad e de amicus curiae (amigo da corte), desde que estes ostentem representatividade e a matéria discutida apresente-se relevante a justificar a ampliação do debate, como adiante se transcreve: Art. 7º: Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitucionalidade. 1º (VETADO) 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de outros órgãos ou 1 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Direito Constitucional, 3ª Ed. RT 2014, p. 1096. 2 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 12ª edição, Ed. Saraiva, pag. 192. AC Nº 0010104-39.2014.827.0000 Página 2 de 5
entidades. ESTADO DO TOCANTINS Para tanto, deve-se analisar a presença concomitante de dois requisitos: a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes. No caso dos autos, verifica que o primeiro requisito relevância da matéria - apresenta-se preenchido, porquanto a questão transcende aos interesses subjetivos das partes, situação que, como regra, se encontra presente, sobretudo, por se tratar de ação que visa à declaração de inconstitucionalidade de normas que veiculam direitos a centenas de policiais civis do Estado do Tocantins, com aptidão para impactar a categoria, refletindo diretamente na situação jurídico-funcional destes. Ademais, a discussão envolve interesse público, pois pertinente a questões financeiras e orçamentárias do ente estatal, a merecer a devida apreciação, haja vista as implicações políticas, sociais, econômicas e jurídicas, de irrecusável importância, cabendo, portanto, valorizar, sob uma perspectiva pluralística, o sentido eminentemente democrático da participação pretendida, o que autoriza a participação do amicus curiae, no caso de que se trata. um dos pedidos formulados. No tocante à representatividade, convém analisar separadamente cada O pedido do SINDEPOL-TO, Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Tocantins deve ser acolhido, pois detém representatividade adequada, na medida em que representa os Delegados de Polícia do Estado do Tocantins, conforme disposto nos artigos 1º, 3º e 5º de seu Estatuto Social juntado ao evento 9 (ANEXO 6 e 7). Consoante se verifica, trata-se de uma sociedade civil sem fins AC Nº 0010104-39.2014.827.0000 Página 3 de 5
lucrativos, que congrega Delegados de Polícia do Estado do Tocantins, ativos e aposentados, tendo por prerrogativa, dentre outras, representar a categoria funcional perante as autoridades administrativas e judiciárias, defender, judicial ou extrajudicialmente, as prerrogativas, direitos e demais interesses dos sindicalizados e atuar como substituto do quadro associativo, assumir a defesa coletiva da categoria ou individual de seus integrantes (art. 3º, I, VI e VIII). O mesmo entendimento deve ser aplicado ao SINPOL-TO, Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Tocantins, que se qualifica em seu Estatuto como entidade representativa dos Policiais Civis do Estado do Tocantins (art. 1º, parágrafo único, e art. 3º), que tem por objetivos: e) pugnar pelo interesse dos filiados, junto às autoridades constituídas e repartições competentes, principalmente junto ao Secretário de Estado de Segurança Pública e ao Governador do Estado do Tocantins, para uso e gozo dos direitos, regalias, vantagens e benefícios. Cumpre, ainda, observar que a jurisprudência do STF ao enfrentar o tema da legitimidade dos aspirantes a amicus curiae, vem entendendo ser necessário haver pertinência temática entre os fins institucionais e atribuições do órgão ou entidade e o conteúdo do ato normativo impugnado por meio da ação direta, o que se verifica no presente caso, pois os requerentes abrangem parcela significativa da categoria diretamente interessada no resultado desta ação, e há congruência entre os objetivos estatutários ou suas finalidades institucionais e o conteúdo material das normas questionadas, podendo, assim, colaborar para o julgamento da causa. Importa, ainda, esclarecer que, em regra, a atuação do amicus curiae se dá por meio de manifestação escrita que deve ser promovida no mesmo ato que reclama sua intervenção, não cabendo a concessão de prazo para que possa apresentar sua manifestação sobre o objeto da demanda, situação que foi observado somente pelo SINDEPOL-TO (evento 9). Todavia, considerando que, no intuito de colaborar com o debate, o AC Nº 0010104-39.2014.827.0000 Página 4 de 5
SINPOL-TO apresentou sua manifestação em momento anterior à inclusão do feito em pauta de julgamento, admito a petição juntada ao evento 25. equivocadamente pelo SISEPE-TO. Defiro, ainda, o pedido de desentranhamento da petição juntada Diante do exposto, com fundamento no artigo 7º, 2º da Lei nº 9.868/99, defiro os pedidos de ingresso na qualidade de amici curiae formulados pelo SINDEPOL-TO, Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Tocantins e SINPOL-TO, Sindicato dos Policiais Civis do Estado do Tocantins. constantes dos eventos 12 e 13. Determino o desentranhamento das petições do SISEPE-TO, patronos no presente feito. À Secretaria para inclusão do nome dos interessados e dos seus Intimem-se. Palmas-TO, 03 de fevereiro de 2016. Desembargadora ÂNGELA PRUDENTE Relatora AC Nº 0010104-39.2014.827.0000 Página 5 de 5