09-03-12 - Novas regras de segurança marítima O SafeSeaNet, o sistema comunitário de intercâmbio de informações marítimas foi atualizado e, em consequência, a legislação nacional sobre a informação do tráfego de navios foi alterada, de forma a acompanhar as evoluções operacionais e técnicas do setor marítimo. Prevê-se a utilização de sistemas de identificação e seguimento de longo alcance de navios (LRIT) e novos planos para o acolhimento de navios em dificuldade, bem como a necessidade de garantia financeira e indemnização para decidir tecnicamente pelo acolhimento de um navio num local de refúgio. A decisão cabe à nova Comissão Técnica para Acolhimento de Navios em Dificuldade, que pode exigir que o operador, o agente ou o comandante apresentem um certificado de seguro. O sistema de organização e notificação de tráfego aplica-se também, desde ontem, a bancas em navios com arqueação bruta inferior a 1.000 e provisões de bordo e equipamentos para uso a bordo de todos os navios, e não a depósitos de combustível de menos de 5.000 toneladas e provisões de bordo e equipamentos do navio, como se previa anteriormente. A Direção-Geral da Autoridade Marítima (DGAM) ganha mais competências e fica responsável pelas novas obrigações de recolha e tratamento da nova informação obrigatória a receber nos portos e que vai alimentar o SafeSeaNet. 1
O incumprimento das novas exigências de informação pelos navios e pelos seus comandantes acarreta responsabilidade contraordenacional, punida com coimas entre 2.200 e 3.700 euros, no caso de pessoa singular, e entre 10.000 e 44.000 euros, no caso de o infrator ser pessoa coletiva. Tal não obsta a eventual responsabilidade civil, criminal ou disciplinar. Navios de risco Uma das novidades saídas desta atualização legislativa é que os navios que não possuam certificados de seguro nem garantias financeiras passam a ser considerados navios de risco. Trata-se de obrigações de seguro definidos pelas regras comunitárias e pelas normas internacionais. O mesmo se passa com os navios assinalados pelos pilotos ou pelas autoridades portuárias como tendo anomalias suscetíveis de comprometer a segurança da navegação ou de constituir um risco para o ambiente. Os centros costeiros nacionais, os órgãos e serviços da autoridade marítima nacional e as autoridades portuárias que, nas respetivas áreas de jurisdição, tiverem informações relevantes sobre estes navios são obrigados a comunicar essa informação à DGRM, que por sua vez as transmite aos centros costeiros de outros Estados-membros situados na rota prevista do navio. 2
Novas obrigações de informação O SafeSeaNet é parte do Erika III, o terceiro pacote de segurança marítima, e foi desenvolvido pela Comissão em cooperação com os Estados-membros que faz o intercâmbio de informações marítimas. Segundo estas recentes alterações, os navios que se dirijam a um porto português devem estar equipados com um sistema de identificação automática (AIS) que responda às normas de desempenho definidas pela Organização Marítima Internacional (OMI), de acordo com um calendário legalmente definido. Os navios equipados com um AIS mantêm esse sistema permanentemente operacional e ligado, exceto quando a segurança ou a confidencialidade das informações sobre navegação estiver prevista em acordos, regras ou normas internacionais. Passa a prever-se que a DGRM cria sistemas de gestão das informações marítimas, a nível nacional e local, que asseguram o tratamento das informações. Estes sistemas devem permitir uma exploração operacional das informações recolhidas e preencher, nomeadamente, as condições necessárias ao intercâmbio informatizado de dados entre autoridades nacionais competentes dos Estados-membros. Vão estar interligados com o SafeSeaNet. 3
O comandante de um navio que se dirija a um porto nacional notifica a autoridade portuária do porto a que se dirige das informações agora previstas. Tratando-se de comandante de um navio estrangeiro, independentemente da sua arqueação bruta, que seja elegível para uma inspeção expandida, e navegue com destino a um porto ou fundeadouro nacional, deve notificar a respetiva autoridade portuária das informações necessárias, pelo menos, 72 horas antes da hora estimada de chegada do navio ao porto ou ao fundeadouro, ou antes de o navio largar do porto anterior, se a duração da viagem for inferior a 72 horas. A autoridade portuária introduz imediatamente no SafeSeaNet as informações fornecidas, a hora de chegada (ATA) e de partida (ATD) de todo e qualquer navio estrangeiro que faça escala nos seus portos ou fundeadouros, assim definindo o período em que o navio está disponível para inspeções de controlo pelo Estado do porto. Os navios provenientes de um porto fora da União Europeia que se dirijam a um porto nacional e que transportem mercadorias perigosas ou poluentes têm de cumprir obrigações de notificação específicas. Sistemas de registo Quando seja realizada uma investigação de segurança na sequência de um acidente ocorrido nas águas sob jurisdição nacional ou envolvendo um navio que arvore pavilhão nacional, os dados recolhidos de um sistema VDR são facultados: 4
- ao órgão de investigação; e - ao órgão local da DGAM, quando seja realizado um inquérito na sequência de acidente ocorrido nas águas sob jurisdição nacional. Esses dados apenas podem ser utilizados na investigação e analisados adequadamente, providenciando, ainda, para que nos 30 dias subsequentes à finalização do processo os resultados sejam divulgados. As mercadorias perigosas ou poluentes só podem ser entregues para transporte ou embarcadas num navio, seja qual for a sua dimensão, num porto nacional, se o comandante ou o operador tiver recebido, do carregador, antes da aceitação das mercadorias a bordo, uma declaração com as várias informações, nomeadamente as relativas às substâncias, ficha de dados de segurança, dados para contacto urgente, marcas de identificação dos contentores, entre outras. Os navios que transportem estas substâncias, provenientes de um porto situado fora da UE que escalem um porto nacional, devem estar na posse de uma declaração fornecida pelo carregador, que contenha a informação exigida, e que autoridades portuárias vão conservar por um mínimo de três meses. Também os comandantes de navios, seja qual for a sua dimensão, que larguem de um porto nacional transportando mercadorias perigosas ou poluentes, têm novas obrigações de notificação da autoridade portuária a cumprir. A DGRM pode dispensar ou isentar do cumprimento das obrigações de informação os serviços regulares efetuados entre portos 5
nacionais, desde que os navios efetuem viagens de duração programada máxima de 12 horas e preencham, cumulativamente, várias condições, nomeadamente, a companhia que explora os referidos serviços regulares mantenha uma lista atualizada dos navios em causa, que transmite à DGRM. Referências Decreto-Lei n.º 52/2012, de 7 de março Decreto-Lei n.º 180/2004, de 27 de julho Diretiva n.º 2009/17/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, publicada no JO L n.º 131, de 28 de maio de 2009 Informação da responsabilidade de LexPoint Todos os direitos reservados à LexPoint, Lda Este texto é meramente informativo e não constitui nem dispensa a consulta ou apoio de profissionais especializados. 6