QUALIDADE SANITÁRIA DE SEMENTES DA ESPÉCIE DA FAMÍLIA BIGNONIACEAE EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE TEMPERATURA 1 BOVOLINI, Marciéli Pitorini 2 ; MACIEL, Caciara Gonzatto 3 ; NOAL, Gisele 4 ; LAZAROTTO, Marília 5 ; MUNIZ, Marlove Fátima Brião 6 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Mestre em Engenharia Florestal (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 4 Mestranda em Agronomia (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 5 Doutoranda em Engenharia Florestal (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 6 Eng. Agrônoma, Profª. Adjunta do Departamento de Defesa Fitossanitária (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: m.p.b.engenhariaf@gmail.com RESUMO O trabalho objetivou estudar os efeitos de diferentes temperaturas na sanidade de sementes de Jacaranda mimosifolia e J. micrantha, para tanto as sementes foram acondicionadas em caixas do tipo gerbox, com substrato papel-filtro umedecido em água destilada esterilizada. Os tratamentos foram compostos pelas temperaturas em que as sementes permaneceram em câmaras B.O.D., sendo elas: 20, 25, 30 e 25-30 C, com fotoperíodo de 12 horas. Os fungos associados às sementes foram avaliados com o auxílio de microscópio estereoscópico e óptico, após sete dias de incubação. O delineamento estatístico foi inteiramente casualizado com quatro tratamentos (temperaturas de incubação) e quatro repetições de 25 sementes cada. Os fungos Penicillium sp, Aspergillus sp., Fusarium sp. e Alternaria sp. foram identificados em J. mimosifolia e J. micrantha. Cladosporium sp. e Phoma sp. foram verificados exclusivamente na primeira espécie, enquanto Ascochyta sp. e Rhizoctonia sp. estavam presentes apenas nas sementes de J. micrantha. Palavras- chave: Sanidade; Temperaturas; Fungos. 1. INTRODUÇÃO Jacaranda mimosifolia D. Don e Jacaranda micrantha Cham. são espécies florestais pertencentes à família Bignoniaceae, consideradas árvores pioneiras de médio porte, utilizadas na arborização e paisagismo devido à beleza de suas flores arroxeadas, são ainda utilizadas em plantios comerciais para áreas degradadas (BARBOSA et al., 2002). Segundo Lorenzi (2000) e Scalon et al.(2006) a espécie Jacaranda cuspidifolia Mart. produz grande quantidade de sementes viáveis, não apresentando dormência.
Características semelhantes são verificadas para as espécies J. mimosifolia e J. micrantha, sendo que a germinação ocorre aproximadamente seis dias após a semeadura. As variações de temperatura em que a maioria das sementes de espécies florestais são encontradas nas florestas interferem na qualidade sanitária e na viabilidade destas, e também no processo de regeneração. Medeiros e Cavallari (1992) relataram a presença de 25 diferentes gêneros de fungos associados às sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva syn. Astronium urundeuva), entre eles 13 eram potencialmente patogênicos para a espécie, incluindo relatos de ataque a outras espécies florestais. Segundo Nascimento e Moraes (2011) os fungos de campo, Colletotrichum spp., Fusarium spp. e Phomopsis spp. desenvolvem-se e são viáveis em sementes com teores elevados de água. Já os fungos de armazenamento, Aspergillus spp. e Penicillium spp., possuem capacidade de se desenvolver em sementes secas sem a presença de água. A determinação da qualidade sanitária das sementes também é importante para a caracterização de um lote, uma vez que a associação de fungos com as sementes pode causar podridão e redução no poder germinativo. Lazarotto et al. (2010) verificaram que os fungos Fusarium sp. e Alternaria sp. identificados associados a sementes de Ceiba speciosa (paineira) afetaram o potencial germinativo das mesmas. Segundo Martins et al. (2008), a conscientização ecológica por parte da população pressionou a sociedade e os governos à criação de leis de proteção ambiental e incentivos a projetos para a recuperação de áreas degradadas, reflorestamento de matas ciliares, implantação de parques públicos e privados e de reservas ecológicas. Sendo assim indispensável para a produção de mudas a utilização de sementes com qualidade. Diante do exposto, objetivou-se com esta pesquisa quantificar e identificar a presença de fungos em sementes de jacarandá (J. mimosifolia e J. micrantha) em diferentes temperaturas de incubação. 2. METODOLOGIA As sementes de Jacaranda micrantha foram procedentes do município de Sobradinho RS e coletadas em 2011, sendo obtidas através do Programa Bolsa de Sementes da Universidade Federal de Santa Maria e, as sementes de Jacaranda mimosifolia foram coletadas em 2011 de 14 árvores matrizes localizadas no município de Itaara - RS. Após a recepção, as sementes foram submetidas ao teste de sanidade e os trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Fitopatologia do Departamento de Defesa Fitossanitária da Universidade Federal de Santa Maria. O teste de sanidade foi realizado utilizando quatro repetições de 25 sementes. As sementes foram colocadas em caixas acrílicas transparentes (gerbox) com dimensões de 11
x 11 x 3 cm, previamente desinfestadas com solução de hipoclorito de sódio (1%) e álcool (70%). Utilizou-se como substrato duas folhas de papel-filtro, umedecidas com água destilada esterilizada. Os testes de sanidade foram realizados em quatro temperaturas diferentes, aos 20ºC, 25ºC, 30ºC e em temperatura alternada de 25-30ºC. A verificação da ocorrência de fungos foi feita com auxílio de microscópio estereoscópico, onde as sementes foram observadas individualmente. A identificação dos fungos em nível de gênero foi realizada com microscópio óptico e literatura disponível, em especial Barnett e Hunter (1999). Análise estatística. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro tratamentos para cada espécie. As médias foram comparadas pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade, no programa estatístico Sisvar 5.3 (FERREIRA, 2008). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Na literatura não são encontrados relatos de fungos associados a sementes de J. mimosifolia. No presente levantamento foram identificados os fungos considerados de armazenamento, como Penicillium sp. e Aspergillus sp.; e os potencialmente patogênicos: Alternaria sp., Phoma sp., Cladosporium sp. e Fusarium sp. (Tabela 1). Botelho et al. (2007) encontrou 12 gêneros fúngicos associados a sementes de Tabebuia serratifolia (ipê-amarelo) e Tabebuia impetiginosa (ipê-roxo), dentre eles estavam todos os identificados no presente estudo, com destaque para Cladosporium sp. que foi identificado com maior frequência. O gênero Cladosporium, identificado em até 94 % das sementes de J. mimosifolia na temperatura alternada de 25 30 C, foi constatado por Azevedo et al. (2011) associado a frutos dessa espécie na arborização urbana do município de Vitória da Conquista no estado da Bahia. Atualmente, diferentes espécies de Cladosporium são identificadas causando uma doença responsável por danos nos frutos e folhas, denominada popularmente de sarna, nas mais variadas culturas, como por exemplo, Cladosporium carpophylum Thum. em Prunus persica L. (Batsch) (pessegueiro) e Cladosporium caryigenum em Carya illionensis (Wang) Koch (nogueira-pecan) (KIMATI et al. 2005). De acordo com a tabela 1, a temperatura de 30 C foi limitante para o desenvolvimento dos fungos associados às sementes de J. mimosifolia, por outro lado, a temperatura alternada de 25 30 C favoreceu o desenvolvimento dos microrganismos, exceto Fusarium sp., sugerindo que estes colonizam as sementes em condições de temperatura variada.
Tabela 1: Fungos (%) identificados associados a sementes de Jacaranda mimosifolia em diferentes temperaturas. Fungos identificados (%) Temperaturas Armazenamento Potencialmente patogênicos Penicillum sp. Aspergilus sp. Phoma sp. Alternaria sp. Cladosporium sp. Fusarium sp. 20 C 20,0 b* 4,0 b 4,0 b 17,0 b 77,0 ab 4,0 a 25 C 35,0 ab 6,0 b 24,0 a 16,0 b 59,0 b 4,0 a 30 C 17,0 b 3,0 b 5,0 b 4,0 c 8,0 c 0,0 b 25-30 C 55,0 a 18,0 a 21,0 a 28,0 a 94,0 a 3,0 a C. V. (%) 8,9 16,13 5,8 4,8 16,1 6,8 *Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey aos 5 % de probabilidade. Assim como para o J. mimosifolia, não há relatos de fungos associados em sementes de Jacaranda micranta. Conforme apresentado na tabela 2, com a análise realizada, foram identificados os fungos de armazenamento Penicillum sp. e Aspergillus sp.; e os fungos potencialmente patogênicos: Aschochyta sp., Alternaria sp., Rhizoctonia sp. e Fusarium sp. Segundo a afirmação de Neergard (1997), os gêneros Fusarium, Phomopsis, Helmintosporium, Rhizoctonia, Colletotrichum e Cylindrocladium são patógenos responsáveis por mais de 90% de perda de sementes germinadas e de plântulas de espécies cultivadas. Em sementes de Jacaranda micrantha foram encontrados dois gêneros citados por Neergard (1997): Fusarium sp. (14%) e Rhizoctonia (4%), sendo sua ocorrência detectada apenas na temperatura de 25ºC. Na temperatura de 20 C Alternaria foi o único patógeno identificado em até 47 % das sementes de J. micrantha. Carneiro (1986) relatou o gênero Alternaria como patógeno de várias culturas causando podridão de sementes, desfolhamento e curvatura de ponteiros em mudas de espécies florestais. A temperatura alternada de 25-30 C foi limitante para o desenvolvimento dos fungos patogênicos associados às sementes de J. micrantha, por outro lado, a mesma temperatura favoreceu o melhor desenvolvimento de Penicillium sp. sugerindo que este coloniza as sementes com mais severidade em condições de temperatura variada (Tabela 2). Segundo Felipe et al. (2010) a ocorrência de Penicillium associada às sementes deve-se ao fato do gênero apresentar alta taxa de crescimento micelial e produção de conídios, facilitando a contaminação das sementes durante o período de incubação e no momento do beneficiamento.
A temperatura de 30 C favoreceu a incidência dos fungos de armazenamento, Penicillium sp. e Aspergillus sp. De acordo com Christensen e Kaufmann (1965) a associação de temperatura alta com o elevado grau de umidade das sementes, favorece o desenvolvimento desses fungos que durante o armazenamento podem ocasionar perdas consideráveis na qualidade das sementes, afetar a germinação e diminuir o crescimento das plântulas. Tabela 2: Fungos (%) identificados associados a sementes de Jacaranda micranta em diferentes temperaturas Fungos identificados (%).Temperaturas Armazenamento Potencialmente patogênicos Penicillum sp. Aspergillus sp. Ascochyta sp. Alternaria sp. Rhizoctonia sp. Fusarium sp. 20 C 32 ab 0 b 0 a 47 a 0 b 0 a 25 C 21,5 b 1,5 b 6 a 40 ab 4 a 14 a 30 C 37,5 a 10,5 a 4,5 a 34,5 b 0 b 0 a 25-30 C 44 a 3,5 b 0 a 7 c 0 b 0 a C. V. (%) 20.92 52.15 15.6 13.30 8.65 9.35 *Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey aos 5 % de probabilidade. 4. CONCLUSÃO Identificou-se os fungos de armazenamento Penicillium sp. e Aspergillus sp. nas sementes de Jacaranda mimosifolia e J. micrantha e dentre os fungos potencialmente patogênicos destacam-se Alternaria sp e Fusarium sp. em ambas as espécies. REFERÊNCIAS AZEVEDO, G.B. et al. Fungos associados a árvores e arbustos em vias públicas de Vitória da Conquista, BA. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.7, n.12, p.14, 2011. BARNETT, H. L.; HUNTER, B. B. Illustred genera of imperfect fungi. 3 Ed. Minnesota: Burgess Publishing Company, p. 241, 1999. BARBOSA, A.P. et al. O crescimento de duas espécies florestais pioneiras, pau-de-balsa (Ochroma lagopus Sw.) e caroba (Jacaranda copaia D. Don), usadas para recuperação de áreas degradadas pela agricultura na Amazônia Central, Brasil. Acta Amazônica, v.33, n.3, p. 477-482, 2002.
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