Síntese e Conclusões do Workshop Internacional sobre Clima e Recursos Naturais nos países de língua portuguesa: Estratégias para o estabelecimento de Serviços de informação climática na CPLP (WSCRA10). 1-Síntese dos trabalhos Decorreu em Bragança, no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Portugal, Auditório Alcinio Miguel da Escola Superior de Tecnologia e Gestão, entre 15 e 19 de Novembro de 2010, o II Workshop Internacional sobre Clima e Recursos Naturais nos países de língua portuguesa: Estratégias para o estabelecimento de Serviços de informação climática na CPLP (WSCRA010). A cerimónia de abertura, presidida pelo Presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Prof. Doutor João Sobrinho Teixeira, teve a presença da Representante do Governador Civil, do Presidente da Câmara Municipal de Bragança, do Presidente do Instituto de Meteorologia (IM) de Portugal e da Presidente do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Cabo Verde (INMG) e do Prof. Tomás de Figueiredo do IPB, em representação do Secretariado Executivo. Com breves palavras de boas vindas e referências ao enquadramento da iniciativa, por todos saudada, os discursos do Presidente do IPB e dos restantes membros da mesa salientaram a necessidade dos países darem resposta aos desafios da mudança global e aos seus impactes regionais, e de desenvolverem estratégias de mitigação/adaptação. Foi também louvada a iniciativa da organização deste workshop, no quadro da cooperação no seio dos países de língua oficial portuguesa, e ainda pelo facto do tema incluir o estabelecimento de serviços de informação climática apoiados em Projectos de investigação, a desenvolver no âmbito do Centro Internacional de Investigação Climática e Aplicações para os Países de Língua Portuguesa e África (CIICLAA). Por este facto, as intervenções convergiram no apoio ao estabelecimento do CIICLAA, esperando do WSCRA010 a definição dos mecanismos conducentes à sua rápida implementação. Após a Sessão de abertura, o WSCRA10 prosseguiu com uma conferência inaugural proferida pelo Prof. João Corte Real do ICAAM/UÉvora em que foi salientada a necessidade de desenvolver mecanismos de adaptação futura face a riscos ligados ou não às alterações climáticas. O workshop prosseguiu com Sessões Cientificas e posteriormente com Painéis Temáticos, cujos programas se encontram respectivamente nos Anexos I e II. No Anexo III está a lista de participantes. As Sessões Cientificas, que incluíram a apresentação de 31 comunicações orais e 17 posters, distribuíram-se por 6 áreas temáticas, designadamente alterações climáticas mitigação e adaptação; detecção remota & instrumentação e gestão da informação; clima e segurança alimentar; modelação e eventos extremos; poluição atmosférica desenvolvimento e saúde; clima e carbono & clima e recursos energéticos. Das várias apresentações ressalta a qualidade científica demonstrativa da capacidade instalada nos vários Países da CPLP, nas várias áreas temáticas atrás referidas. Também foi salientada a necessidade de haver uma maior atenção às 1
redes de monitorização de dados ambientais, ao tratamento e arquivo da informação, com controlo de qualidade nas base de dados. Sobre esta temática, várias intervenções apontaram a necessidade de serem estabelecidas estratégias por parte dos Institutos públicos responsáveis pelos diversos sectores para a organização de bases de dados integradas (clima, agricultura, hidrologia, solos, ambiente, qualidade do ar, por exemplo) com acesso Web e abertura à comunidade científica. As diversas intervenções mostraram ainda a capacidade já existente para o estabelecimento de sinergias entre os diversos grupos de investigação e as diferentes instituições dos diferentes países para desenvolverem projectos integrados, utilizando informação climática e ambiental no apoio ao desenvolvimento. Neste aspecto particular, recomendou-se atenção para as actividades de Formação, englobando especialização e formação avançada, bem como de um programa de mobilidade tipo Erasmus Mundus abrangendo estudantes de nível superior, técnicos superiores, docentes e investigadores. Às Sessões Cientificas seguiram-se Painéis Temáticos designadamente: Zonas de Montanha nos Países de Língua Portuguesa; Cooperação Aprender com o Passado; e CIICLAA. 2 Conclusões Das discussões havidas ressaltam-se as seguintes conclusões: a) Zonas de Montanha O painel, intitulado Experiência, Inovação e os Desafios da Investigação para o Desenvolvimento, apresentado e justificado na abertura, desenrolou-se de acordo com o programa estabelecido e compreendeu um conjunto de intervenções sob a forma de comunicação convidada e uma fase de debate e alinhamento de ideias e propostas de acção no âmbito desta temática. Nas três comunicações iniciais, consubstanciando o primeiro objectivo do painel, apresentaram-se sínteses ilustrativas da experiência de investigação e desenvolvimento em Zonas de Montanha em Portugal, no sentido de partilhar reflexões e sublinhar a importância, a complexidade e a abrangência desta temática. As comunicações, a cargo de investigadores do CIMO Centro de Investigação de Montanha (IPB / ESA, Portugal), corresponderam a diferentes olhares sobre a questão da Montanha, designadamente quanto a: (i) área científica (ecossistemas, terrestres e aquáticos, agricultura); (ii) abordagem metodológica (especializada, integradora, de estudo de caso); (iii) natureza da experiência (investigação, desenvolvimento). O Coordenador do CIMO, Prof. Jaime Pires, convidado a intervir fazendo a ponte para a segunda fase do programa, acentuou a relevância da partilha de experiências com o Brasil, no estudo e desenvolvimento de áreas de agricultura de montanha do maior interesse científico nesse país. A segunda parte foi inteiramente dedicada à partilha de reflexões sobre gestão sustentável das Zonas de Montanha nos Países de Língua Portuguesa, introduzindo 2
no debate o papel da cooperação no que diz respeito à investigação para o desenvolvimento dessas Zonas nesses países. As intervenções registaram chamadas de atenção para: (i) o carácter duplamente marginal das Zonas de Montanha de alguns países insulares da CPLP; (ii) a relevância especial nas Zonas de Montanha de estudos com enfoque específico em riscos naturais, suas causas, previsão e gestão; (iii) e, na mesma linha, em ordenamento para a minimização de riscos naturais nos territórios de montanha; (iv) a condição particular do CIMO enquanto referencial de experiência, capacidade de resposta e atitude colaborativa no quadro da investigação em Zonas de Montanha. A fechar os trabalhos, e com o propósito de manter aberto o debate, acolhendo contributos para a consolidação de uma visão sobre os desafios da investigação para o desenvolvimento das Zonas de Montanha no espaço lusófono, foi proposto, e aceite pelos presentes, um forum, alojado na página do Workshop, a ser mantido e animado por elementos do IPB / CIMO. A emissão de uma newsletter, sem compromisso de regularidade, completou a proposta, para cuja concretização deverão concorrer informações, iniciativas e actividades do International Mountain Forum, com o qual o CIMO se mantém frequentemente em articulação. b) Cooperação Aprender com o Passado Por falta de tempo não foram apresentadas todas as comunicações previstas, sendo de realçar a relativa à experiencia do INAHINA de Moçambique, que insistiu na necessidade de serem estabelecidas bases de dados certificadas e integradas, cobrindo várias especialidades e de fácil acesso para os utilizadores. Merece também destaque a intervenção da GALP Energia, referente à utilização dos bio - combustíveis e sua estratégia de desenvolvimento futuro, e o modo como esta empresa compatibiliza a sua estratégia produtiva com políticas de responsabilidade social e ambiental. Neste sentido, deu-se a conhecer a intenção da GALP Energia se associar a um projecto abrangente de utilização da informação climática para apoio ao desenvolvimento, ainda em fase de concepção, a ser implementado na Província de Manica Moçambique. Durante as discussões foi expressa a preocupação relativa ao facto de os financiamentos para projectos de clima e aplicações estarem a ser concentrados quase que exclusivamente na relação clima carbono, deixando de fora muitos outros aspectos relevantes da utilização da informação climática para apoio ao desenvolvimento sustentável, nomeadamente o estabelecimento de cenários regionais do clima futuro, o estudo de fenómenos extremos, o clima e a rentabilidade agrícola, o clima e a saúde que têm particular importância para o bemestar social em zonas tropicais. Os participantes manifestaram o forte interesse e o desejo de que os responsáveis pelos mecanismos de financiamento alterem este quadro limitativo do financiamento de projectos. 3
Foi ainda feita a apresentação do Programa Internacional para as Mudanças Globais, o International Geosphere-Biosphere Programme (IGBP), bem como do Comité Nacional Português para o IGBP, sediado na Universidade Atlântica em Barcarena, Portugal. O Presidente do Comité Nacional, Reitor da Universidade Atlântica, informou a Comissão Organizadora do interesse em que o Pólo português do CIICLAA pudesse localizar-se na Universidade Atlântica, e ainda no estabelecimento de um Protocolo de cooperação entre o Comité Nacional do IGBP e o CIICLAA. a) CIICLAA Neste Painel, foram apresentadas as linhas estratégicas e programáticas do CIICLAA, bem como da primeira iniciativa do estabelecimento de um Centro de Investigação num dos PALOP, concretamente o Centro de Investigação Climática e de Gestão e Avaliação de Riscos (CICLAR) em Moçambique. Foram apresentados 2 exemplos de projectos a integrar no CIICLAA, o projecto Radares de Moçambique e o Projecto de Vigilância e Controlo da Transmissão da Malária e o Projecto de Mestrado em Clima, Riscos e Catástrofes e o Programa de Mobilidade (MObClima). Durante o debate foi apresentado, discutido e aprovado por unanimidade o Acordo de Princípios sobre o estabelecimento do CIICLAA. O Acordo estabelece um Mecanismo de Implementação e o Grupo de Trabalho por ele responsável, constituído pelos seguintes elementos: - Carlos Moniz INMG, Cabo Verde (coordenador) - Ricardo Tenório UFAL, Brasil - João Corte Real ICAAM/UÉvora, Portugal- Sérgio Ferreira Consultor, Portugal - Carlos Direitinho Tavares IM, Portugal - Tomás de Figueiredo IPB/CIMO, Portugal O Acordo foi assinado por representantes das Instituições presentes no Workshop, ficando aberto para adesões posteriores de instituições interessadas em integrar o CIICLAA através de cartas de intenção, assinadas e carimbadas, dirigidas ao Coordenador do GT: Eng. Carlos Moniz INMG Espargos Ilha do Sal Cabo Verde No decurso deste Painel, o Reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Prof. Cláudio Ricardo G. Lima apresentou oralmente e por escrito em parceria com o Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), representado pela Profª Magda Adelaide Lombardo, o interesse em realizar, na cidade de Fortaleza, o próximo WSCRA012. Esta Declaração foi aceite por unanimidade. A carta de intenções junta-se como Anexo IV. 4
3 Encerramento do WSCRA010 O encerramento formal do Workshop teve lugar no dia 19 de Novembro, contando com a honrosa presença do Ministro do Ambiente, Desenvolvimento Rural e Recursos Marinhos de Cabo Verde, que presidiu à sessão, do Vice-Presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), da Representante do Governo Civil de Bragança, do Presidente da Câmara Municipal de Bragança, da Representante da Organização Meteorológica Mundial (WMO), da Presidente do Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica de Cabo Verde, e do Prof. João Côrte-Real, em representação da organização do evento. A cerimónia teve início com a apresentação da súmula das actividades e das conclusões preliminares do Workshop, realizada pelo Prof. João Côrte-Real, que se referiu à importância dos propósitos e ao sucesso que representaram as metas alcançadas durante o evento, designadamente a obtenção do Acordo de Princípios com vista à criação do CIICLAA. Na sua intervenção, a Drª. Elena Malenkova, da WMO, deu indicações encorajadoras para a afirmação deste Centro, ao sugerir a possibilidade de uma candidatura como Centro Regional de Clima (RCC) da WMO, proposta que esta autoridade acolheria com interesse e facilitaria o encaminhamento. A relevância para a Cidade de Bragança e para a Região de Trásos-Montes de eventos deste alcance foi devidamente realçada por parte do Governo Civil e da Câmara Municipal de Bragança. Noutra perspectiva, o Prof. Luís Pais (IPB) vincou a importância de eventos como o Workshop no quadro da implementação da estratégia de internacionalização assumida pelo IPB. O Sr. Ministro do Ambiente de Cabo Verde, Dr. José Veiga, fechou o conjunto das intervenções com detalhadas referências ao contexto socioeconómico e político, aos constrangimentos e às oportunidades para o desenvolvimento de Cabo Verde, enquanto país simultaneamente exemplar e singular na CPLP. A importância da investigação científica sobre Clima e Recursos Naturais e o papel da cooperação entre países do espaço lusófono, foram notadas por este governante como centrais no apoio ao desenvolvimento desses países e, louvavelmente, constituem os eixos estruturantes do projecto de criação do CIICLAA, cuja sede Cabo Verde irá acolher no seu território. 4 - Outras actividades e realizações do Workshop Neste Workshop foram editados 2 livros através das publicações do IPB: 1 - II Workshop Clima e Recursos Naturais - Bragança, Portugal - 15 a 19 de Novembro 2010 - Livro de Resumos Tomás de Figueiredo, Luís Frölén Ribeiro e António Castro Ribeiro (Editores) ISBN: 978-972-745-113-5 2 - II Workshop Clima e Recursos Naturais - Bragança, Portugal - 15 a 19 de Novembro 2010 - Livro de Actas Tomás de Figueiredo, Luís Frölén Ribeiro e António Castro Ribeiro (Editores) 5
ISBN: 978-972-745-114-2 Com o objectivo de aumentar a divulgação deste evento, realizaram-se 4 palestras virtuais que serão colocadas no repositório do IPB no itunes University. Será o primeiro evento em português colocado nesta plataforma mundial. As palestras virtuais foram realizadas pelos Prof. Orivaldo Brunini, Magda Lombardo, Carla Sousa e João Corte-Real. Do mesmo modo, as sessões científicas, que foram gravadas, serão disponibilizadas para a comunidade científica através deste canal até ao final de 2010: Realizou-se também um minicurso de 4 horas sobre "Técnicas Agrometeorológicas para a elaboração de zoneamento Agrícola e Ambiental" leccionado pelo Prof. Orivaldo Brunini do Instituto Agronómico de Campinas, Brasil. Em articulação com a Câmara Municipal de Bragança, durante o Workshop foi realizada uma série de palestras nas Escolas Secundárias da Cidade, com o propósito de cativar alunos deste nível de ensino para as questões do Clima e dos Recursos Naturais, numa perspectiva cientificamente bem fundada na medida em que transmitida por investigadores de relevo nestas temáticas, presentes no evento. Esta série de palestras, proferidas sucessivamente pelos Professores Magda Lombardo, Maria Solange Leite e Dionísio Gonçalves, culminou com uma Conferência/Debate.. Apresentando diferentes olhares sobre a questão das Alterações Climáticas, esta sessão teve lugar no último dia do Workshop, no Auditório Paulo Quintela, com a participação dos Professores João Côrte-Real e Luiz Carlos Molion, e moderação pelo Professor Dionísio Gonçalves. 6