BIOÉTICA E O DIREITO À VIDA. Prof a Cristiane Oliveira

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Transcrição:

BIOÉTICA E O DIREITO À VIDA Prof a Cristiane Oliveira

BIOÉTICA E O DIREITO À VIDA *TEMAS DE ESTUDO: *Aborto *Fertilização in vitro *Pesquisa com células-tronco embrionárias humanas *Edição de DNA em embrião humano (Técnica CRISPR) *Eugenia e determinismo genético *INDICAÇÃO DE FILME: * Gattaca: a experiência genética

(até 8 semanas) (a partir de 9 semanas)

CÉLULAS-TRONCO

CÉLULAS-TRONCO Embrionárias: pluripotentes (capacidade de se transformar em qualquer tipo de célula adulta). Massa Celular Interna sendo extraída do blastocisto para obtenção das células-tronco embrionárias. Adultas: multipotentes (menos versáteis que as embrionárias). Encontradas, principalmente, na medula óssea e no sangue do cordão umbilical.

CÉLULAS-TRONCO

*Biologicamente, é inegável que a formação de um novo ser, com um novo código genético, começa no momento da união do óvulo com o espermatozoide (fecundação); *Entretanto, diferentes linhas de pensamento (históricas, científicas, religiosas, culturais, jurídicas) sugerem períodos distintos para marcar o início da vida.

*PLATÃO (Grécia Antiga - 380 a.c.): defendeu a interrupção da gestação em todas as mulheres que engravidassem após os 40 anos. Por trás da afirmação estava a ideia de que casais deveriam gerar filhos para o Estado durante um determinado período. Mas quando a mulher chegasse à idade avançada, essa função cessava e a indicação era clara: o aborto. Para Platão, não havia problema ético algum nesse ato. Ele acreditava que a alma entrava no corpo apenas no momento do nascimento.

*ARISTÓTELES (Grécia Antiga - 350 a. C.) afirmava que o feto tinha, sim, vida. E estabelecia até a data do início: o primeiro movimento no útero materno. No feto do sexo masculino, essa manifestação aconteceria no 40º dia de gestação. No feminino, apenas no 90º dia (Aristóteles acreditava que as mulheres eram física e intelectualmente inferiores aos homens e, por isso, se desenvolviam mais lentamente). Como naquela época não era possível determinar o sexo do feto, o pensamento aristotélico defendia que o aborto deveria ser permitido apenas até o 40º dia da gestação.

*SÊNECA (Roma Antiga 20 a. C.): A interrupção da gravidez era considerada legal e moralmente aceitável. Era comum mulheres induzirem o aborto com o objetivo de preservar a beleza do corpo. Contudo, tanto na Grécia quanto na Roma antiga, o feto era considerado parte do corpo da mulher, e esta, parte da propriedade do homem. Desta forma, o aborto só podia ocorrer com autorização do marido.

*Mas o que dizem as diferentes linhas de pensamento atuais (ciência x religião)? *Em questões polêmicas como aborto e pesquisa com células-tronco embrionárias, será que existe uma democracia pré-natal?

*MOVIMENTO ANTI-ABORTO *Vídeo Quando começa a vida humana? (Catholic Answers - 2015) *MOVIMENTO PRÓ-ABORTO *Vídeo Meu corpo, minhas regras (Atores Globais Festival do Rio 2015)

*Genética *Embriológica *Neurológica *Ecológica *Metabólica

*VISÃO GENÉTICA: a vida humana começa na fertilização, quando espermatozoide e óvulo se encontram e combinam seus genes para formar um indivíduo com um conjunto genético único. Assim é criado um novo indivíduo, um ser humano com direitos iguais aos de qualquer outro. É também a opinião oficial da Igreja Católica. Atualmente, os pesquisadores preferem enxergar a fertilização como um processo que ocorre em um período de 12 a 24 horas. Além disso, são necessárias mais outras 24 horas para que os cromossomos contidos no espermatozoide se encontrem com os cromossomos do óvulo!

*VISÃO EMBRIOLÓGICA: a vida começa a partir da 3ª semana de gravidez, quando é estabelecida a individualidade humana. Isso porque até 12 dias após a fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e dar origem a duas ou mais pessoas (gêmeos). É essa ideia que justifica o uso da pílula do dia seguinte e outros métodos contraceptivos administrados nas duas primeiras semanas de gravidez.

*VISÃO NEUROLÓGICA: o mesmo princípio da morte vale para a vida. Ou seja, se a vida termina quando cessa a atividade elétrica no cérebro, ela começa quando o feto apresenta atividade cerebral igual à de uma pessoa. O problema é que essa data não é consensual. Alguns cientistas dizem haver esses sinais cerebrais já na 8ª semana; outros, na 20ª.

*VISÃO ECOLÓGICA: a capacidade de sobreviver fora do útero é que faz do feto um ser independente e determina o início da vida. Médicos consideram que um bebê prematuro só se mantém vivo se tiver pulmões prontos, o que acontece entre a 20ª e a 24ª semana de gravidez. Foi o critério adotado pela Suprema Corte dos EUA na decisão que autorizou o direito ao aborto.

*VISÃO METABÓLICA: afirma que a discussão sobre o começo da vida humana é irrelevante, uma vez que não existe um momento único no qual a vida tem início. Para essa corrente, espermatozoides e óvulos são tão vivos quanto qualquer pessoa. Além disso, o desenvolvimento de uma criança é um processo contínuo e não deve ter um marco inaugural.

*Catolicismo *Judaísmo *Islamismo *Budismo *Hinduísmo *Espiritismo

*CATOLICISMO: a vida começa na concepção, quando o óvulo é fertilizado, formando um ser humano. Por mais de uma vez, o papa Bento XVI reafirmou a posição da Igreja contra o aborto e a manipulação de embriões. Segundo o papa, o ato de negar o dom da vida, de suprimir ou manipular a vida que nasce é contrário ao amor humano. Já o Papa Francisco decidiu permitir aos sacerdotes do mundo perdoar as mulheres que, durante o próximo Ano Santo Católico (dezembro de 2015 a novembro de 2016), pedirem perdão por fazer aborto.

*JUDAÍSMO: A vida começa apenas no 40 dia, quando acreditamos que o feto começa a adquirir forma humana, diz o Rabino Shamai, de São Paulo. Antes disso, a interrupção da gravidez não é considerada homicídio. Dessa forma, o judaísmo permite a pesquisa com célulastronco e o aborto quando a gravidez envolve risco de vida para a mãe ou resulta de estupro.

*ISLAMISMO: o início da vida acontece quando a alma é soprada por Alá no feto, cerca de 120 dias após a fecundação. Os muçulmanos condenam o aborto, mas muitos aceitam a prática, principalmente quando há risco para a vida da mãe. E tendem a apoiar o estudo com células-tronco embrionárias.

*BUDISMO: a vida é um processo contínuo e ininterrupto. Não começa na união de óvulo e espermatozoide, mas está presente em tudo o que existe nossos pais e avós, as plantas, os animais e até a água. No budismo, os seres humanos são apenas uma forma de vida que depende de várias outras. Entre as correntes budistas, não há consenso sobre aborto e pesquisas com embriões.

*HINDUÍSMO: alma e matéria se encontram na fecundação e é aí que começa a vida. E como o embrião possui uma alma, deve ser tratado como humano. Na questão do aborto, hindus escolhem a ação menos prejudicial a todos os envolvidos: a mãe, o pai, o feto e a sociedade. Assim, em geral se opõem à interrupção da gravidez, menos em casos que colocam em risco à vida da mãe.

*ESPIRITISMO: acredita que a partir do momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozoide, surgindo o embrião, inicia-se uma reencarnação, ou seja, um Espírito é ligado ao organismo em desenvolvimento, com a supervisão de técnicos da Espiritualidade. O único caso de aborto aceito pelo espiritismo é quando a gestação coloca a vida da mãe em risco de forma iminente.

E para o Direito, quando começa a vida? * Tema de casa: Consultar a Lei de Biossegurança (Lei n 11.105/2005); Consultar a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 3510; * Sugestão de leitura: https://jcvalerio.jusbrasil.com.br/artigos/235041204/direitosdos-nascituros-x-direitos-dos-embrioes-congelados