Contaminação do solo e das águas subterrâneas em aeroportos: origem e risco potencial

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Transcrição:

Contaminação do solo e das águas subterrâneas em aeroportos: origem e risco potencial Nunes L. M. Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade do Algarve lnunes@ualg.pt 9º Seminário sobre águas subterrâneas FCT-UNL, Campus da Caparica 7-8 Março 2013

Índice de temas Generalidades Metodologia para cálculo do risco ambiental (saúde) Resultados: Substâncias encontradas em solos e águas subterrâneas em aeroportos Risco potencial colocados por estas substâncias Conclusões

GENERALIDADES Evolução do transporte aéreo Número de aeroportos: ca 9300; várias centenas mais previstas até 2020 ~ 50% Aeroportos civis Aumento da procura

GENERALIDADES Riscos ambientais Os aeroportos são responsáveis por riscos ambientais resultantes da alteração da qualidade do ar, da água e do solo, e de níveis elevados de ruído Ruído Água superficial Ar Solo e água subterrânea

Air Soil on Inhalati Exposição Co nsu go mer od s Water AVALIAÇÃO DO RISCO Ing esti on Ind ivi du al tapercu u o ne s al ion t a cup Oc Risco = f1(exposição; perigo) Exposição = f2 (mobilidade, alteração química; indivíduo) Mobilidade e alteração química = f3 (solubilidade, pressão de vapor; coeficientes de difusão em água e ar, densidade, período de semi-vida; KOW; etc) Indivíduo = f4 (ocupação, massa do corpo, vias de exposição, taxas de ingestão, inalação e contacto dérmico, tempo de exposição, coeficientes de assimilação) Medição/modelação Dieta/antropometria/ modelação

AVALIAÇÃO DO RISCO Perigo Risco = f1 (exposição; perigo) Perigo = f5 (propriedades da substância, indivíduo) Efeitos carcinogéneos = f6 (dose, end point ) -> dose de referência, cancer slope factor Efeitos não carcinogéneos = f7 (dose, end point ) -> dose de referência Estudos toxicológicos/ epidemiológicos

AVALIAÇÃO DO RISCO Modelos para avaliação do risco Risco = g (exposição, mobilidade, alteração química, perigo) h (perigo, probabilidade de exposição)

AVALIAÇÃO DO RISCO Modelo para avaliação do risco potencial: simplificado Risco = h (perigo, probabilidade de exposição) Riscoij = perigoi pij perigoi = nível de perigosidade atribuído à substância i perigo = 3: se a substância é carcinogénea ou desreguladora endócrina perigo = 2: se a substância é provavelmente carcinogénea ou desreguladora endócrina perigo = 1: se a substância tem outro tipo de toxicidade pij = probabilidade de encontrar a substância i associada à via de entrada j

AVALIAÇÃO DO RISCO Risco = h (perigo, probabilidade de exposição) Modelo para avaliação do risco potencial: simplificado O risco total vem: RiscoTotal = å å i=1,m j=1,n O risco por substância vem: Ri = å j=1,n perigoi pij perigoi pij O risco por via de entrada vem: Rj = å i=1,m perigoi pij

RESULTADOS Segundo: Nunes, L. M., Zhu, Y.-G., Stigter, T. Y., Monteiro, J. P., & Teixeira, M. R. (2011). Environmental impacts on soil and groundwater at airports: origin, contaminants of concern and environmental risks. J. Env. Monit., 13, 3026 3039. Substâncias encontradas em solos e águas subterrâneas, i Combustíveis e óleos: BTEX, GRO (C4-C12); DRO (C10-C32), óleos (C22-C32); Compostos aromáticos policíclicos (PAH): Solventes: tricloroetileno (TCE), tetracloroetileno (PCE), 1,2-dicloroetileno (cis-1,2-dce), tetracloreto de carbono (CCl4) ; Pesticidas; Fluidos anticongelantes e descongelantes (ADAF) surfactantes e metabolitos: 4-octilfenol; 4nonilfenol; Benzotriazolo; Aditivos de produtos de combate a incêndio (surfactantes perfluorados - PFC): ácido perfluorooctanóico (PFOA); ácido perfluorooctanossulfónico (PFOS); benzotriazolo; Metais pesados (Cd, Cr, Cu, V, Ni, Hg, As, Pb, Zn).

RESULTADOS 3 Classe de perigo, Valor (perigoi) 2 1 Carcinogéneo/ desregulador endócrino Provavelmente Outra toxicidade carcinogéneo/ desregulador endócrino Benzeno (SP), Ácido perfluorooctanóico, Ácido perfluorooctanossulfónico, B[a]p (SPP), Cd (SP; LQAS), As (LQAS), Cr(VI), compostos de Ni (SP) TCE (SP-outras; LQAS), CCl4 (SP-outras), Octilfenol (SP), Nonilfenol (SPP), PCB, B[a]a, D[a,h]a, B[k]f (SPP), Criseno, I[1,2,3cd]p (SPP), Pb (SP; LQAS), Ni (SP), Co, V2O5 MtBE, Tolueno, Xilenos, Ethilbenzeno, Benzotriazolo, PCE (SP-outras; LQAS), Naftaleno (SP), Cu, Hg (SPP; LQAS), Zn, Pesticidas (dependente da substância) SP: substância prioritária ; SPP substância perigosa prioritária () de acordo com o estabelecido na Diretiva n.º 2008/105/CE, de do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de Dezembro. LQSA: lista de limiares de qualidade da água subterrânea preparada pelo INAG em 2009 e que serviu de base aos limiares estabelecidos nos Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica

RESULTADOS Vias de entrada Deposição Fugaseeee Deposição Derrames Fugas Escorrência Fugas atmosférica derrames derrames direta acidentais direta superficial derrames

RESULTADOS pi Ri

RESULTADOS p Rj

CONCLUSÕES Perigo: cerca de metade das substâncias são muito perigosas Grupo Número Carcinogéneos 4 Provavelmente carcinogéneos 12 Desreguladores endócrinos 2 Outra toxicidade 9 Em avaliação 11 Pesticidas 1

CONCLUSÕES Risco: substâncias, vias de entrada Os maiores riscos potenciais são resultantes da contaminação com: Hidrocarbonetos derivados de petróleo, PAHs, e solventes (50%) Metais pesados (38%) Outras substâncias, incluíndo emergentes (12%) -> possibilidade de aumento da deteção no futuro As principais vias de entrada são resultantes de degradação dos materiais e de incorreta gestão (roturas de depósitos e condutas, e escorrências superficiais) Mesmo que os riscos industriais (roturas, escorrências, deposição voluntária) sejam minimizados, o risco potencial residual é ainda de cerca de 30% (acidentes, deposição atmosférica).

Contaminação do solo e das águas subterrâneas em aeroportos: origem e risco potencial Obrigado pela atenção Nunes L. M. Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade do Algarve lnunes@ualg.pt 9º Seminário sobre águas subterrâneas FCT-UNL, Campus da Caparica 7-8 Março 2013