TRATAMENTO DE PSEUDOARTROSE MANDIBULAR RELATO DE CASO

Documentos relacionados
WALABONSO BENJAMIN GONÇALVES FERREIRA NETO FRATURA DA CABEÇA DA MANDÍBULA. CARACTERÍSTICAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO.

RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia ISSN: Universidade da Região de Joinville Brasil

FRATURA BILATERAL DE CABEÇA DE MANDÍBULA

Pacientes que necessitam de intervenção cirúrgica para a reconstrução do segmento

Estagiário do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Maria Amélia Lins - FHEMIG 2

oc PLAN O que é? 2.4 mm Sistema Lockplan 2.4mm O Lockplan 2.4mm é um sistema de osteossíntese mandibular de fixação rígida com 62

REMOÇÃO DE FRAGMENTO DENTÁRIO DESLOCADO EM CAVIDADE ORAL POR PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO relato de dois casos

Treatment of Mandibular Condylar Fractures: Surgical or Conservative?

XIII Reunião Clínico - Radiológica. Dr. RosalinoDalasen. LUCAS MERTEN Residente de RDI da DIGIMAX (R1)

TRAUMA NO IDOSO ELDERLY TRAUMA

USO DE FIXADOR ESQUELÉTICO EXTERNO TIPO II NA OSTEOSSÍNTESE DE TÍBIA E FÍBULA DE CADELA

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Dores na mandíbula e na face.

26 28 Conclusão Referências bibliográficas... 31

Lesões Traumáticas do Membro Superior. Lesões do Ombro e Braço Lesões do Cotovelo e Antebraço Lesões do Punho e Mão

Enxerto de tecido conjuntivo com objetivo estético em prótese fixa

Trauma Maxilo - Facial. Importância da Face - Funções vitais - Terminal de quatro sentidos - Expressão facial - Elo de expressão

O PRESENTE ESTUDO É DIRECIONADO AO ALUNO DO SEXTO ANO PARA DAR NOÇÕES MÍNIMAS DE ORTOPEDIA- TRAUMATOLOGIA

CIRURGIAS PERIODONTAIS

Otrauma à região facial frequentemente resulta em lesões

Alternativas de fixação no tratamento da maxila: enxerto ósseo utilizado como placa fixadora

Lesões Traumáticas do Membro Superior. Lesões do Ombro e Braço Lesões do Cotovelo e Antebraço Lesões do Punho e Mão

Atuação Fonoaudiológica nas Cirurgias da Face

Procedimentos Cirúrgicos de Interesse Protético/Restaurador - Aumento de Coroa Clínica - Prof. Luiz Augusto Wentz

Escoliose Idiopática no Adolescente: Utilização de Auto-enxerto e Homoenxerto no Tratamento Cirúrgico Posterior

Reconstrução Pélvica Sistema de Placas e Parafusos Bloqueados de ângulo variável

Leia estas instruções:

Fraturas: Prof.: Sabrina Cunha da Fonseca

Esta patologia ocorre quando existe um stress na epífise de crescimento próximo a área da tuberosidade tibial.

INTERPRETAÇÃO RADIOGRÁFICA POR ACADÊMICO DE ENFERMAGEM: PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO DE TÉCNICAS DE PROCESSAMENTO DIGITAL

PALAVRAS-CHAVE: Fratura-luxação de Monteggia; Classificação de Bado; Complicações.

Epidemiologia das fraturas mandibulares em pacientes atendidos na região de Araçatuba

USO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NAS FRATURAS FACIAIS USE OF TOMOGRAPHY COMPUTADORIZED IN THE FACIAL FRACTURES

The Use of Resorbable Plates and Screws for the Treatment of a Pediatric Mandibular Fracture: Report of a Case

RESPIRE. SORRIA. SINTA-SE BEM. Soluções inteligentes para fixação Crânio Maxilo Facial

RESUMO DOS 120 ANOS DA EEAP OSTEOSSARCOMA DE FÊMUR DISTAL COM FRATURA DE ENDOPRÓTESE NÃO CONVENCIONAL: REVISÃO DE LITERATURA E RELATO DE CASO

Apresentação clínica e histológica da utilização do substituto ósseo sintético Gen Phos ( ßTCP) em odontologia.

IX CURSO AO CRÂNIO-MAXILO-FACIAL BRASIL São Paulo, 22 a 25 de setembro de 2010

Luxação Congênita do Quadril (Displasia Acetabular) Doença de Legg-Perthes-Calvet Epifisiólise. Prof André Montillo UVA

Tratamento cirúrgico de anquilose de articulação temporomandibular em criança: relato de caso

Lesões Traumáticas do Membro Superior. Lesões do Ombro e Braço Lesões do Cotovelo e Antebraço Lesões do Punho e Mão

Artroplastia de Ombro TRATAMENTO POR ARTROPLASTIA NAS FRATURAS DO ÚMERO PROXIMAL INDICAÇÃO. partes? rachadura da

MORDIDAS CRUZADAS. Etiologia

M a n u a l d e F i x a d o r e s

ACESSO INTRABUCAL PARA REDUÇÃO DE FRATURA SUBCONDILAR UNILATERAL RELATO DE CASO

Etiologia e incidência das fraturas faciais: estudo prospectivo de 108 pacientes

FRATURA DO COMPLEXO ZIGOMÁTICO-ORBITÁRIO: RELATO DE CASO

The Use of Minimally Invasive Surgical Procedures for the Treatment of Mandibular Condyle Fractures

REEMBASAMENTO DE SOBREDENTADURA MANDIBULAR COM CARGA IMEDIATA EM IMPLANTES DE CORPO ÚNICO RELATO DE CASO CLÍNICO COM ACOMPANHAMENTO DE 6 ANOS

INFORMAÇÃO AO PACIENTE QUANDO OS IMPLANTES SE TORNAM VISÍVEIS. Enxerto ósseo menor

Resumo O ortodontista tem um papel importante na vida de seus pacientes portadores de deformidades. Abstract

Containment Cerclage in Fracture of the Zygomatic Arch: A Case Report

ESPONDILOLISTESE TRAUMÁTICA DO AXIS FRATURA DO ENFORCADO

Tratamento das Fraturas em Mandíbulas Atróficas Relato de Caso

CONSIDERANDO os pronunciamentos contidos no Processo nº 24740, de 22/08/2007;

Fraturas subtrocantéricas do fêmur tratadas com placa condilar 95 AO

CIRURGIA PERIODONTAL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Periodontite. Sua saúde começa pela boca!

Carie dentaria entre crianças de creches publicas na faixa etária de 0 a 5 anos

ENUCLEAÇÃO DE CISTO RADICULAR MAXILAR DE GRANDE EXTENSÃO: RELATO DE CASO

IV DEFORMIDADES CONGÊNITAS

UNIODONTO PORTO ALEGRE

Utilização da crista ilíaca nas reconstruções ósseas da cavidade oral. Relato de caso

Tratamento das lesões em martelo ósseo pela técnica do bloqueio da extensão com fio de Kirschner

[ESTUDO REFERENTE À ENCF - JOELHO]

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE PACIENTES PORTADORES DE FRATURAS FACIAIS

Planejamento em Cirurgia Ortognática Combinada

TRATAMENTO DE FRATURAS INDESEJÁVEIS DURANTE CIRURGIA ORTOGNÁTICA: RELATO DE DOIS CASOS CLÍNICOS

Fraturas Zigomáticas Orbitozigomáticas

REMOÇÃO CIRÚRGICA DE RAÍZES DO TERCEIRO MOLAR SUPERIOR DESLOCADAS PARA O INTERIOR DO SEIO MAXILAR RELATO DE CASO

Crescimento da Mandíbula. Cartilagem de Meckel e Mandíbula Óssea

REPOSIÇÃO CIRÚRGICA DAS FRATURAS DO COLO DO RADIO EM CREANÇAS

Ortopedia e Traumatologia Cirúrgica

CUIDADOS COM CATETERES E SONDAS

Fratura Supracondiliana do Fêmur em Adultos

Correção de Fratura em Mandibula Atrófica com Auxílio da Prototipagem Rápida. Correction of Atrophic Jaw Fracture with Aid of Rapid Prototyping

ESPAÇO ABERTO / FORUM

Ligamento Cruzado Posterior

INFORMAÇÃO AO PACIENTE RAIZ DO DENTE EXPOSTA E AGORA? Cobertura de recessão

Avaliação Estética de Prof. Dr. Fernando Mandarino. Nome do Paciente:, Data: / /.

Parestesia do nervo alveolar inferior após exodontia de terceiros molares

Tratamento cirúrgico radical de terceiro e quarto molares fusionados: Relato de caso

TRAUMATOLOGIA DOS MEMBROS SUPERIORES

Variação da pressão arterial antes e após cirurgia nasal - com e sem tamponamento nasal.

OSTEOMIELITE FRACTURÁRIA DO ÚMERO TRATADA COM FIXADOR EXTERNO DE ILIZAROV

SIMPLES E EFICIENTES PROCEDIMENTOS PARA AS REABILITAÇÕES ORAIS SOBRE DENTES NATURAIS E IMPLANTES

ABORDAGEM CIRÚRGICA AO TRAUMA PANFACIAL - RELATO DE CASO SURGICAL APPROACH TO THE PANFACIAL TRAUMA CASE REPORT

PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO DE PÓS- OPERATÓRIO INICIAL DE CIRURGIA LOMBAR. Local: Unidades de Internação

Simpósio Interativo Avançado AOSpine: Trauma das transições da Coluna Vertebral

Reconstrução do tendão patelar com enxerto dos tendões flexores

Abordagem Posterior no Tratamento da Malformação da Junção Crânio-Vertebral

2º Curso de Especialização em Cirurgia Oral

A fratura da apófise coracoide associada a luxação acrómioclavicular

ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES

ANÁLISE DA EFICACIA DO USO DA CINESIOTERAPIA NO TRATAMENTO PÓS OPERATÓRIO DE LESÃO DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR ESTUDO DE CASO

Planos de Saúde LINCX-APMP Apresentação

INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

Fraturas mandibulares na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul

Miniplacas de titânio na redução de fraturas mandibulares em cães e gatos: estudo de seis casos

Cintilografia óssea trifásica para guiar a retirada de implantes metálicos em fraturas: estudo preliminar *

Transcrição:

TRATAMENTO DE PSEUDOARTROSE MANDIBULAR RELATO DE CASO TREATMENT OF MANDIBULAR PSEUDOARTROSIS CASE REPORT Daniel Miranda DE PAULA 1 Maysa Nogueira de Barros MELO 1 Samara Ramos de SOUZA 1 Renata Moura Xavier DANTAS 1 Joaquim Almeida DULTRA 2 RESUMO: O objetivo do presente trabalho é relatar um caso clínico de tratamento de pseudoartrose após fratura de mandíbula, suas possíveis causas e o tratamento instituído. Paciente gênero feminino, 33 anos, com histórico de exodontia de terceiro molar há 07 meses na qual resultou em fratura de mandíbula. Referiu encontrar-se em 6º mês pósoperatório de cirurgia para tratamento da fratura, no entanto, ainda com queixas álgicas e mobilidade durante a mastigação. Diagnosticada a pseudoartrose, foi realizada a reabordagem cirúrgica para remoção da placa previamente instalada, seguida de desbridamento de tecido fibroso e redução e fixação dos cotos. Optou-se pela interposição de enxerto ósseo autógeno, tendo como área doadora o processo coronóide mandibular direito. Neste momento, foi realizada a exodontia da unidade 47, que se encontrava no traço de fratura. A paciente evolui após 1 ano de pós-operatório sem queixas, observandose, radiograficamente, sinais de cicatrização óssea. Portanto, a pseudoartrose é uma das complicações de fraturas mandibulares mais comuns, que, algumas vezes, necessita de uma segunda intervenção cirúrgica. Diante disso, as fraturas mandibulares devem ser tratadas obedecendo-se ao máximo os princípios de tratamento de fraturas redução, fixação e estabilização proporcionando, assim, uma adequada cicatrização óssea. UNITERMOS: Pseudoartrose; Fraturas mandibulares; Traumatismos Faciais. INTRODUÇÃO As fraturas de mandíbula frequentemente são decorrentes de traumas contusos no terço inferior da face. Estão entre as lesões mais comuns dentre as fraturas faciais 1 e comprometem importantes funções do sistema estomatognático, como mastigação, deglutição, manutenção da oclusão dentária e fonação. Os agentes etiológicos mais comuns são acidentes motociclísticos e automobilísticos, agressões físicas e acidentes esportivos e os pacientes mais acometidos por esses traumas são do gênero masculino com idade entre 20 e 29 anos 1. Menos f requente, mas possív el, as f raturas mandibulares também podem ocorrer durante ou após a exodontia de terceiros molares inferiores 2. Os objetivos do tratamento das f raturas mandibulares envolvem a promoção de uma cicatrização rápida após redução e fixação, sem a ocorrência de complicações. Algumas vezes estas acontecem e mais comumente observa-se infecção, não-união, má-união/má-oclusão e deformidade facial 3. A não-união, também conhecida como pseudoartrose ou união fibrosa, é uma condição caracterizada pela ausência de consolidação óssea entre os cotos fraturados após um período de cicatrização normal de 6 a 8 semanas 4. Exibe uma incidência de 2,8 a 4,8% 3,5,6. Esta complicação é identificada por sintomatologia dolorosa, podendo estar associada a mobilidade atípica e má-oclusão. Radiograficamente nota-se ausência de cicatrização óssea e em estágios tardios, sinais de arredondamento das extremidades fraturadas. As causas mais comuns são redução ou imobilização inadequada, infecção, interposição de tecidos moles entre os cotos ósseos, dentes em traço de fratura, falta de cooperação do paciente e abuso de álcool e/ou drogas 3,4,6,7. O t ratam ento desta condição env olv e desbridamento do tecido fibroso ou infectado e 1 Cirurgião Bucomaxilofacial pelo Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial Hospital Santo Antônio/Universidade Federal da Bahia 2 Preceptor do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial Hospital Santo Antônio/Universidade Federal da Bahia Revista Odontológica de Araçatuba, v.38, n.1, p. 41-45, Janeiro/Abril - 2017 41

fixação. Algumas vezes é necessária a interposição de enxerto ósseo entre os cotos para permitir um melhor contato ósseo e favorecer o processo de cicatrização óssea 4. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de pseudoartrose mandibular tratado com interposição de enxerto ósseo autógeno. RELATO DE CASO Paciente gênero feminino, 33 anos de idade, sem comorbidades sistêmicas compareceu ao ambulatório do Serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do Hospital Santo Antônio Obras Sociais Irmã Dulce e alegou ter sido submetida à exodontia da unidade 48, cursando com fratura mandibular durante o procedimento. Referiu encontrar-se em 6º mês pós-operatório de cirurgia de osteossíntese de fratura de mandíbula em outro serviço, porém, queixou-se de sintomatologia dolorosa e mobilidade em região mandibular direita durante a mastigação (Figura 1, 2 e 3). A mesma apresentou ainda exame radiográfico panorâmico pós-exodontia (Figura 4), no qual observou-se sinais de fratura de ângulo mandibular direito e radiografia panorâmica após a primeira intervenção cirúrgica (Figura 5). Nesta imagem, observou-se material de síntese óssea (01 placa de fixação de 04 furos com 04 parafusos) em sítio de fratura. Foram observados ainda sinais de deslocamento do coto proximal e unidade 47 em relação de proximidade com traço de fratura. Ao exame clínico, observou-se um padrão oclusão razoável, com discreta distopia e mobilidade entre os cotos ósseos em região de ângulo mandibular direito. Além disso, a paciente referia dor durante a manipulação mandibular. Diagnosticada a pseudoartrose, foi realizada a reabordagem cirúrgica atrav és de acesso submandibular para remoção da placa, seguida de desbridamento de tecido fibroso entre os cotos ósseos e redução e fixação dos cotos (com placa reta de 07 furos e 05 parafusos do sistema 2.4) (Figura 6). Após adequada redução e fixação, percebeu-se a formação de gap ósseo entre os cotos fraturados. Optou-se, então, pela interposição de enxerto ósseo autógeno, tendo como área doadora o processo coronóide mandibular direito (Figura 6). Neste momento, foi realizada a exodontia da unidade 47. No pós-operatório, foi instituída dieta líquida/ pastosa por um período de 15 dias. A paciente evoluiu no 1º ano pós-operatório sem queixas, quando se observou radiograficamente sinais sugestivos de boa cicatrização óssea (Figura 7, 8, 9 e 10). Figura 1 - Norma frontal. Figura 2 - Imagem oclusal pré-operatória direita. Observar discreta distopia oclusal. Figura 3 - Imagem oclusal pré-operatória esquerda. Observar discreta distopia oclusal. Figura 4 - Radiografia panorâmica pós-trauma. Observar dente em traço de fratura. Revista Odontológica de Araçatuba, v.38, n.1, p. 41-45, Janeiro/Abril - 2017 42

Figura 5 - Radiografia panorâmica após a primeira intervenção cirúrgica. Observar deslocamento desfavorável (para cima) de coto proximal. Figura 9 - Imagem oclusal esquerda (1 ano pós-operatório). Observar bom padrão oclusal. Figura 6 - Fixação de fratura. Observar interposição de enxerto ósseo. Figura 10 - Radiografia panorâmica (1 ano pós-operatório). Observar consolidação de enxerto ósseo. Figura 7 - Norma frontal (1 ano pósoperatório). Observar ausência de assimetrias. Figura 8 - Imagem oclusal direita (1 ano pós-operatório). Observar bom padrão oclusal. DISCUSSÃO A exodontia de terceiros molares é um dos procedimentos mais realizados em consultórios odontológicos, estando algumas vezes associadas a complicações, tanto no intra como no pós-operatório. A fratura mandibular durante ou após a exodontia, apesar de rara, é uma com plicação que frequentemente necessita de intervenção cirúrgica para fixação dos cotos ósseos fraturados2, que deve ser feita seguindo os mesmos princípios de uma fratura mandibular convencional. A pseudoartrose mandibular é uma condição que frequentemente causa desconforto doloroso ou funcional ao paciente. Diversas causas podem estar associadas a esta complicação, sendo redução ou imobilização inadequada, desenvolvimento de infecção local e presença de dente em traço de fratura as mais comuns 3,4. No presente caso, observou-se redução insatisfatória após a primeira abordagem cirúrgica e presença de dente no traço de fratura, o que pode ter comprometido o resultado. De acordo com Zhi Li et al., em 20068, a redução precisa com estabilização adequada são pré-requisitos necessários para permitir uma boa cicatrização óssea. Além disso, a remoção de dentes em traço de fratura e cobertura antibiótica deve constar no plano de tratamento, visando proporcionar um meio adequado à consolidação óssea. Revista Odontológica de Araçatuba, v.38, n.1, p. 41-45, Janeiro/Abril - 2017 43

Spinnato et al. (2009) 7 traz em seu trabalho um guideline em relação as indicações de exodontia de dentes em traço de fratura proposto por Shetty and Freymiller, em 1989. Segundos esses pesquisadores, uma das indicações de exodontia é a presença de dentes com ápices de raízes expostas ou dentes em que a superfície lateral da raiz a partir do ápice para a margem gengival está exposta. Dessa forma, no presente trabalho, uma das possíveis causas de pseudoartrose foi a manutenção do dente, que apresenta toda sua superfície lateral exposta. Segundo Mathog et al. (2000) 3, o desenvolvimento de pseudoartrose é mais comum em fraturas cominuídas e isso pode ser atribuído a dificuldade de redução e estabilização dos múltiplos segmentos. No presente trabalho, tratava-se de uma fratura simples, no entanto, em região de ângulo mandibular, que é uma região comumente afetada por essa complicação. Zhi Li et al. (2006) 8 discute que a mandíbula já apresenta um maior potencial de pseudoartrose em relação a outros ossos da face, considerando-se que é o único osso móvel da face e que apresenta um suprimento sanguíneo menor que outros ossos faciais. Além disso, a ação muscular pode proporcionar pequenos deslocamentos dos cotos fraturados mesmo após a conclusão da redução e fixação, especialmente em região de ângulo e corpo mandibular. Para Zweig (2009) 4, o tratamento da pseudoartrose deve ser realizado com cirurgia aberta para remoção de tecido fibroso ou infectado entre os cotos ósseos, seguida de nova fixação. Algumas vezes, principalmente após uma correta redução, pode ocorrer a formação de um gap que impede um bom contato ósseo entre os cotos fraturados. De acordo com Zhi Li et al. (2009) 8, esse gap ósseo, juntamente com outras condições, como perda de vascularização e nutrição inadequada, pode dificultar a reparação óssea. Dessa forma, na ausência de um bom contato entre os cotos, é necessária a interposição de enxerto ósseo favorecendo o processo de cicatrização. No presente caso, foi utilizado enxerto ósseo autógeno, retirado da região do processo coronóide mandibular. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pseudoartrose é uma das complicações de fraturas mandibulares mais comuns, estando associada a um quadro de dor, mobilidade atípica e, assim, disfunção. Devido a isso, frequentemente uma segunda intervenção cirúrgica é necessária, visando uma cicatrização óssea adequada. Dessa forma, conhecendo-se os fatores de risco em potencial dessa complicação, as fraturas mandibulares devem ser tratadas obecendo-se ao máximo os princípios de tratamento de fraturas redução, fixação e est abili zação associado à elimi nação ou minimização desses fatores de risco e a utilização de enxertia óssea, quando na presença de gap entre os cotos fraturados. ABSTRACT The aim of the present study is to report a clinical case of treatment of pseudoarthrosis after mandible fracture, possible causes and the treatment instituted. Female patient, 33 years old, with a history of third molar extraction 07 months ago in which resulted in mandible f racture. She ref erred f ind in 6th postoperative month of surgery to treat fracture, however, still with pain complaints during chewing. Once the pseudoarthrosis was diagnosed, the surgical re-boarding was performed to remove the previously installed plaque, followed by debridement of fibrous tissue and reduction and fixation of the bone fragments. The autogenous bone graft was interposed, with the mandibular coronoid process. At this time, the extraction of unit 47, which was in the fracture line, was performed. The patient evolved after 1 year of postoperative without complaints, radiographically, signs of bone healing. Therefore, pseudoarthrosis is one of the most common complications of mandibular fractures, which sometimes requires a second surgical intervention. In view of this, mandibular fractures should be treated with maximum compliance with the principles of fracture treatment - reduction, fixation and stabilization - thus providing adequate bone healing. UNITERMS: Pseudarthrosis; Mandibular Fractures; Facial Injuries. REFERÊNCIAS 1. Montovani JC, Campos LMP, Gomes MA, Moraes VRS, Ferreira FD, Nogueira EA. Etiologia e incidência das fraturas faciais em adultos e crianças: experiência em 513 casos. Rev Bras Otorrinolaringol 2006; 72(2):235-41. 2. Xu JJ, Teng L, Jin XL, Lu JJ, Zhang C. Iatrogenic mandibular fracture associated with third molar removal after mandibular angle osteotectomy. Journal of Crani of aci al Surgery 2014; 25(3):e263-4. 3. Mathog RH, Toma V, Clayman L, Wolf S. Nonunion of the mandible: an analysis of contributing factors. J Oral Maxillofac Surg 2000; 58:746-52. 4. Zweig BE. Complications of Mandibular Fractures. Atlas Oral Maxillofacial Surg Clin N Am 2009; 17:93-101. 5. Ellis III E, Muniz O, Anand K. Treatment considerations for comminuted mandibular fractures. J Oral Maxillofac Surg 2003; 61(8):861-70. Revista Odontológica de Araçatuba, v.38, n.1, p. 41-45, Janeiro/Abril - 2017 44

6. Lamphier J, Ziccardi V, Ruv o A, Janel M. Complications of mandibular fractures in an urban teaching center. J Oral Maxillofac Surg 2003; 61:745-49. 7. Spinnato G, Alberto PL. Teeth in the Line of Mandibular Fractures. Atlas Oral Maxillofacial Surg Clin N Am 2009; 17:15-8. 8. Li Z, Zhang W, Li ZB, Li JR. Abnormal Union of Mandibular Fractures: A Review of 84 Cases. J Oral Maxillofac Surg 2006; 64:1225-31. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA: DANIEL MIRANDA DE PAULA Rua: Alceu Amoroso Lima, nº 786, Edifício Tancredo Neves Trae Center, Sala 312, Caminho das Árvores CEP: 41820-770 Salvador/BA E-mail: danielmiranda.ctbmf@gmail.com Revista Odontológica de Araçatuba, v.38, n.1, p. 41-45, Janeiro/Abril - 2017 45