O lazer como direito social em Ipanguaçu (RN): a sensibilização do poder público após convênio com o Programa Esporte e Lazer da Cidade

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Transcrição:

O lazer como direito social em Ipanguaçu (RN): a sensibilização do poder público após convênio com o Programa Esporte e Lazer da Cidade Resumo O presente trabalho vem apresentar o lazer na perspectiva do direito social no município de Ipanguaçu (RN), revelando como se deu a sensibilização do poder público quanto às ações de lazer após convênio com o Programa Esporte e Lazer da Cidade. Constituíram-se como objetivos deste trabalho: a) analisar o processo de implantação das ações de lazer pelo poder público municipal em Ipanguaçu (RN); b) diagnosticar como se deu a sensibilização do poder público em relação às ações de lazer através da operacionalização do Pelc na cidade; c) verificar como se deu a mobilização da população durante a vigência dos convênios. Como metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a pesquisação e a entrevista. Os instrumentos foram os questionários semiestruturados aplicados após usuários do programa, os relatórios e a entrevista aos gestores. A população foi representativa da gestão municipal, os usuários, sendo a amostra em torno de 20 pessoas. Constatou-se que a forma como se gere um programa de política pública, se balizando nas diretrizes, pode promover um movimento positivo numa cidade a ponto de sensibilizar o poder público, mobilizar a população e visualizar os frutos como o caso da brinquedoteca e da área de lazer criada e mantida para a comunidade. Palavras-chave: Lazer. Políticas públicas. Pelc.

Introdução O presente trabalho vem apresentar o lazer na perspectiva do direito social no município de Ipanguaçu (RN), revelando como se deu a sensibilização do poder público quanto às ações de lazer após convênio com o Programa Esporte e Lazer da Cidade Pelc. Os municípios brasileiros, através de suas Secretarias de Esporte e Lazer ou as ainda atreladas às Secretarias de Educação, Cultura e Desporto, realizam ações compreendendo atividades culturalmente destinadas, basicamente, ao público jovem e adulto do gênero masculino. Essas ações tendem a compor a realização de eventos esportivos cujo interesse vem vislumbrar a figura do vencedor com a entrega da devida premiação. Na ocasião, considerando que a Constituição Brasileira de 1988 garante a todo cidadão brasileiro o direito ao esporte e ao lazer também, é que se pergunta: se a maioria das ações esportivas municipais realizadas pelas respectivas Secretarias circula em torno dos campeonatos de futebol, como se observa a participação da outra demanda da sociedade crianças, mulheres, idosos nesses eventos. Entende-se que o direito ao esporte e ao lazer insere a diversidade das ações educativas em toda a dimensão das linguagens corporais. Para tanto, a realização das ações pelo dever imposto ao poder público deveria estar pautada na implementação de atividades que visassem compreender o maior número de envolvidos, respeitando a diversidade em relação às demandas por esporte e lazer, mas também quanto à faixa etária, gênero, pessoas com deficiência, entre outros. Nesse caso, articular ações na esfera federal, estadual e municipal e com os setores organizados da sociedade civil, condicionada ao já existente fazer de esporte e lazer da comunidade, agregando a este processo o princípio da gestão democrática, embasada no mecanismo de participação popular e controle social, fez com que o Programa Esporte e Lazer da Cidade como um modelo de política pública se tornasse uma realidade e conquistasse os pleitos de gestores públicos e da sociedade como um todo no município de Ipanguaçu (RN). A cidade tem um papel importante, é lá que vive a população, é na cidade que tudo acontece, acontece conforme sua realidade, sua característica, sua identidade, por isso a denominação de Esporte e Lazer da Cidade e não na Cidade. Porém, não impede do Pelc ir para o meio rural, pelo contrário, a denominação cidade se refere muito mais ao sentido de comunidade, grupo social que propriamente a compreensão de ser um aglomerado urbano. A relevância da parceria entre os poderes local e federal insere um diálogo entre as políticas públicas sociais de instâncias diferentes possibilitando o exercício do aprendizado local como uma ferramenta para estabelecer força diante da demanda por esporte e lazer, esta amparada pela Constituição de 1988 quanto aos direitos sociais que incluem o acesso ao esporte, à cultura e ao lazer, também daqueles em condições de vulnerabilidade social. Objetivos Analisar o processo de implantação das ações de lazer pelo poder público municipal em Ipanguaçu (RN) após a passagem do Programa Esporte e Lazer da Cidade no município; diagnosticar como se deu a sensibilização do poder público em relação às ações de lazer através da operacionalização do Pelc na cidade; verificar como se deu a mobilização da população durante a vigência dos dois convênios não consecutivos do programa foram os objetivos deste trabalho. Procedimentos metodológicos Como metodologia foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a pesquisação ao permitir a participação efetiva do pesquisador e dos pesquisados, e entrevista, seguindo com a análise dos instrumentos de monitoramento e avaliação emitidos à coordenação geral do convênio Pelc/IFRN durante os dois convênios do Programa Esporte e Lazer da Cidade. Os instrumentos foram os questionários semiestruturados aplicados após usuários durante a realização dos núcleos; relatórios emitidos contendo aspectos sobre a operacionalização; aplicação de questionários abertos para os gestores municipais contendo aspectos sobre a gestão da secretaria em relação ao lazer na cidade. As técnicas foram utilizadas na pesquisa bibliográfica através do levantamento das obras textuais para fundamentação teórica em relação ao tempo históricosocial do contexto das políticas públicas a fim de balizar a pesquisa empírica.

A população foi representativa dos envolvidos na gestão municipal, enquanto entidade conveniada e de contrapartida, dos envolvidos na gestão do núcleo, e dos usuários, sendo a amostra em torno de 20 pessoas considerando os depoimentos em vídeos e relatórios. Fundamentação teórica O Programa Esporte e Lazer da Cidade é um programa de política pública social de esporte e lazer implantado e gerenciado pela Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) do Ministério do Esporte (ME). Devido à desigualdade de acesso ao esporte e lazer por parte significativa da população brasileira, esse programa foi criado, em 2003, para suprir parte dessa demanda. O aspecto conceitual do Pelc implica a ampliação, a democratização e a universalização do acesso à prática e ao conhecimento do esporte recreativo e de lazer, integrando suas ações às demais políticas públicas, e favorecendo o desenvolvimento humano e a inclusão social como seus objetivos centrais. Já seus princípios se configuram quanto à reversão do quadro atual de injustiças, exclusão e vulnerabilidade social do esporte e do lazer como direito de cada um e dever do Estado, da universalização e da inclusão social, da democratização da gestão e da participação. As diretrizes devem se revelar como precursoras para todas as ações que são desenvolvidas pelo Pelc em todo Brasil, a saber: valorização da diversidade dos sujeitos, dos grupos e das culturas; intergeracionalidade; auto-organização dos sujeitos e grupos; trabalho coletivo e gestão participativa; intersetorialidade; ludicidade; ação educativa crítica e criativa para formação de valores; promoção da cultura da paz (segurança, superação de violências, convivência ética); territorialidade. No entender de Ewerton, Mattos e Pereira (2007, p.17) o Pelc busca Construir experiências de auto-organização, autogestão, planejamento participativo e mecanismo de controle social das ações governamentais e/ou da sociedade civil organizada, através da participação de instâncias de controle social (conselhos, associações, clubes e população em geral) na proposição, no acompanhamento e na avaliação do programa, e o trato com a intergeracionalidade (construindo relações entre diferentes segmentos da sociedade) em torno da cultura corporal e a cultura lúdica também são metas do programa. Tais ações são pautadas em alguns conceitos importantes para o entendimento de como é um núcleo do Pelc. O núcleo do Pelc se caracteriza como um espaço comunitário urbano ou rural que congrega as atividades administrativas de suporte pedagógico para o pleno desenvolvimento das ações sistemáticas e assistemáticas de esporte e lazer. Portanto, a área geográfica de atuação do Pelc se transforma em um núcleo de intervenção. As ações de funcionamento de núcleos do Pelc têm o objetivo de contribuir com a construção de políticas públicas locais de esporte e de lazer durante um período de 18 meses a partir do ano de 2013. Os convênios formalizados até 2011 tinham a duração de no máximo 14 meses, sendo que dois meses eram para desenvolvimento das atividades burocráticas de aquisição de material e contratação dos agentes sociais. Como mencionado o Pelc apresenta suas atividades organizadas na seguinte classificação: atividades sistemáticas e atividades assistemáticas. As atividades sistemáticas são realizadas nos núcleos e em outros espaços da comunidade como quadras, centros comunitários, praças, terrenos baldios devendo contemplar os interesses da cultura corporal e lúdica da comunidade e serem organizadas sob a forma de oficinas, com local e horário fixo, de acordo com as características e interesses da comunidade. Os participantes devem ser inscritos, cumprindo os quantitativos mínimos previstos no convênio. Considerando tratar-se de um programa de lazer é orientado que os participantes frequentem, no mínimo, duas atividades diferentes, duas vezes por semana. Geralmente são ofertadas oficinas culturais esportivas, artísticas (música, teatro, artesanato etc.), brinquedotecas, projeções e debates de filmes e eventos, das mais diversas naturezas, jogos populares e de salão, danças regionais, contemporâneas e clássicas, artes marciais, capoeira, ginásticas e esporte recreativo. É imprescindível a existência de atividades adaptadas que incluam as pessoas com deficiência. Também deverão ser previstas atividades no período noturno e nos fins de semana. Já as atividades assistemáticas, conhecida também pela denominação de eventos, são atividades que visam acima de tudo à integração entre os participantes do núcleo e destes com a comunidade. Os eventos favorecem o diálogo entre as experiências vividas. Devem ser compreendidos como parte integrante da execução do programa, organizados de forma coletiva envolvendo a comunidade

como um todo, nos diversos momentos do processo. Considerando o caráter intergeracional do programa é imprescindível que sejam previstas atividades sistemáticas e eventos que favoreçam e estimulem o convívio entre as gerações. Os agentes sociais de esporte e de lazer são os protagonistas da elaboração e efetivação das ações, pautadas no princípio da gestão participativa. A figura do agente social de esporte e lazer está nos gestores, monitores/bolsistas, professores de Educação Física, educadores populares e comunitários, demais profissionais de áreas afins ao lazer, envolvidos diretamente na execução do programa, com recurso do convênio ou através de contrapartida da entidade. Por último se tem a Formação Continuada ou em Serviço dos agentes sociais de esporte e lazer e os demais envolvidos diretamente com o Pelc, como por exemplo: conselho gestor, secretários municipais e os agentes sociais de esporte e lazer. Os agentes sociais selecionados devem ter conhecimento e experiência a respeito das atividades que desenvolverão. É imprescindível o envolvimento de lideranças comunitárias que já desenvolvem as atividades (capoeiristas, bailarinos, artistas plásticos, músicos, atores etc.), nas comunidades a serem atendidas. É necessário atentar para a importância da diversidade de conteúdos do esporte e do lazer a serem desenvolvidos na operacionalização, para não continuar penalizando a população com somente a monocultura do futebol e ou manifestações corporais e lúdicas reduzidas nas suas opções de escolhas. A seguir serão descritas as ações implantadas e algumas advindas da coordenação geral do Pelc em convênio com o IFRN convênio o qual foi contemplado o município de Ipanguaçu em dois anos não subsequentes a qual implantou como instrumentos de monitoramento e avaliação aos gestores dos núcleos, do ponto de vista organizacional, os seguintes documentos e ações: Evento de lançamento este momento caracteriza o primeiro contato mais evidente do programa com a sociedade. O espaço público é organizado previamente pela entidade responsável, geralmente com a infraestrutura mínima necessária (sistema de sonorização, iluminação, decoração, identidade do programa, etc.). A divulgação é realizada dias antes à população para se fazerem presentes no ato. As autoridades envolvidas se expressam e abrem ao início das atividades na cidade. Sempre ocorre de haver apresentações culturais após a solenidade mais formal. Relatório mensal um dos documentos considerados como um dos mais importantes da gestão do Pelc/IFRN é o Relatório Mensal dos Núcleos. Trata-se de um documento tipo formulário semiestruturado preenchido pelos coordenadores e encaminhado à coordenação geral do Pelc. Nele são descritos os dados referentes ao mês correspondente quanto à realização e o percentual de participação nas atividades sistemáticas e assistemáticas; formação em serviço local; reuniões de planejamento semanal; conselho gestor; planejamento (metas e ações desenvolvidas); ações de consolidação do núcleo; avaliação de desempenho do grupo gestor; infraestrutura do núcleo; utilização dos recursos físicos, financeiros e materiais; relacionamento entre as instituições parceiras do convênio; evolução técnica do programa; depoimentos; anexos mensais (fotos: oficinas, eventos, mobilização, subnúcleos/espaços, reuniões, grupo gestor etc.; projetos dos eventos; planejamento das oficinas; diários de classe; depoimentos dos usuários; dentre outros); assinaturas. Além dos quadros de preenchimento dos dados, cada coordenador dispõe de espaço para expor suas conclusões, dando ênfase a alguma ação de destaque, e também sugerindo e/ou criticando sob algum aspecto o programa. Este documento se configura como o principal instrumento de monitoramento à distância das ações de cada núcleo pela coordenação geral do convênio. Especialmente esse instrumento é fundamental para a análise quantitativa, sobretudo, qualitativa das ações dos núcleos no decorrer da vigência do convênio, uma vez que há a necessidade de avaliar continuadamente se as ações estão de acordo com as expectativas do programa, de maneira que haja orientação e a implementação de ajustes. Reunião de coordenadores para um melhor acompanhamento do programa em nível de convênio se faz necessário contato constante com os gestores locais a fim de se visualizar e se sentir como andam as ações em cada município. Dessa forma, a coordenação geral designa que mensalmente a reunião de coordenadores fosse realizada de forma itinerante, com duração em média de 6 a 8 horas. Os municípios escolhidos para a realização das reuniões itinerantes são mediante o sorteio (calendário) e confirmadas sempre na reunião do mês que antecede, também através de ofício encaminhado as entidades de contrapartida. As despesas com deslocamento, alimentação e hospedagem (caso ocorra) são por conta da entidade de contrapartida local. A pauta baseia-se em os coordenado-

res apresentarem as ações desenvolvidas durante o mês, à coordenação geral e aos demais coordenadores, geralmente com imagens, vídeos e depoimentos; visita aos espaços do núcleo anfitrião; visita a algum ponto turístico da cidade. Visitas técnicas a coordenação geral define um calendário de viagens de visita técnica aos núcleos cuja frequência se dá em torno dos 60 dias. É realizada de forma agendada e não agendada, através de recurso de contrapartida e pelo Instituto Federal, respectivamente. A coordenação geral e técnica do Programa viaja com o carro da Instituição conveniada (IFRN). Em cada visita os objetivos são: observar o envolvimento do Pelc na cidade, mais precisamente de como a sociedade está conhecendo, absorvendo e participando do ponto de vista das oficinas e da gestão, e de como está acontecendo a comunicação ; visualizar os elementos de contrapartida, digam-se as logomarcas pintadas nos espaços das atividades sistemáticas e do núcleo na cidade; conhecer, conversar (e pedir telefone dele) dos potenciais colaboradores (moradores) com a finalidade de serem aliados no trabalho de fiscalização; fiscalizar diretamente as ações, chegando (de surpresa) nos espaços, que conforme cronograma, deveriam estar em horário destinado a realização das oficinas; entrevistar usuários do programa e demais moradores através de questionário e perguntas sobre o funcionamento do núcleo, o compromisso dos monitores, a participação da população, dentre outros. Conselho gestor em cumprimento às orientações do programa e como fator determinante para uma gestão de um programa de política pública comprometida com a plena efetividade das ações nos municípios, é determinado como meta inicial para os núcleos a formação do Conselho Gestor Municipal em cada núcleo do convênio, tendo em vista a relevância do grupo para fins de atuar como elo entre a comunidade e gestão do Pelc local, monitorar e fiscalizar as ações, dentre outros. Segundo Ministério do Esporte (BRASIL, 2012): Um aspecto importante na operacionalização do Pelc enquanto núcleo de atividades sistemáticas e assistemáticas de esporte e lazer é o conselho gestor. Trata-se de uma instância de gestão do projeto, com caráter consultivo, deliberativo e executivo, composta por representantes dos diversos segmentos envolvidos no desenvolvimento das ações dos Núcleos de Esporte e Lazer (representante dos inscritos em cada núcleo, das entidades parceiras, dos agentes sociais, coordenadores gerais e de núcleo, representante da entidade conveniada e da entidade de controle social, entre outros, de acordo com a realidade local). O grupo gestor deve reúne-se sistematicamente para: acompanhar, coordenar, fiscalizar e monitorar as ações do convênio; realizar a avaliação processual dos agentes sociais de esporte e lazer e das atividades desenvolvidas. Após a formação dos Conselhos Gestores Municipais/Locais, é formado o Conselho Gestor Estadual. O período das reuniões dos Conselhos Gestores Municipais são bimestrais, presididos pelos respectivos coordenadores de núcleos, e as do Conselho Gestor Estadual é trimestral, sendo presidido pela coordenação geral do Pelc/IFRN, conforme calendário definido pela coordenação geral. Acredita-se, portanto, que a concretização dessas ações conjectura algumas das maiores finalidades do programa: a prática de uma política pública pelos agentes sociais, mas que através de uma gestão participativa a sociedade tem a oportunidade de remontar o processo político-social da sua comunidade/cidade. Resultados e discussões A partir da operacionalização do Pelc no município, durante dois convênios entre os anos de 2009 e 2011, a coordenação geral do tomando todos os cuidados em garantir o cumprimento dos objetivos, princípios e diretrizes do programa, observou o quanto se preocupar em efetivar as ações é extremamente relevante. Ora falar em efetividade talvez seja prepotente, e de fato o é, tanto quanto perigoso usar o termo. Mas, considerando os resultados de um trabalho árduo, sobretudo, o de premissa: lutar para desmitificar a ideia popular de que tudo que é público acaba logo e/ou não presta. Para dar maior embasamento atualizado de dados a este trabalho buscou-se informações mais atualizadas dos gestores, neste ano, em visita técnica, através da aplicação de questionários. Foram entrevistados o Secretário Municipal de Esporte e Lazer e o ex-coordenador do núcleo do Pelc no município de Ipanguaçu (RN). A entrevista teve os seguintes questionamentos a respeito da gestão: a) Quais as ações que Secretaria Municipal de Esporte e Lazer está desenvolvendo atualmente? (Calendário); b) a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer está planejando alguma ação atualmente?; c) Quais os recursos que a Secretaria dispõe para

executar as ações no município? É suficiente?; d) Existe algum outro apoio ou patrocínio financeiro que a Secretaria busca para realizar as ações?; e) Como tem sido a participação da população nas atividades que a Secretaria desenvolve? Qual o perfil desse público?; f) Comente sobre a implantação da Brinquedoteca do Pelc e qual tem sido a utilização desse espaço; g) Comente sobre a criação do espaço Área de Lazer do Pelc, destacando informações sobre quando e como surgiu, e quais têm sido as atividades promovidas no espaço, em quais dias e horários? A intenção era levantar estas informações a fim de fazer um comparativo qualitativo das ações que eram realizadas antes e as que foram implantadas posteriormente as ações do Pelc no município. Observou-se, na ocasião, que muitas das ações deram continuidade, como: Campeonato de Blocos; Campeonato de base (Pré-mirim, Mirim e Infantil) e Feminino; Campeonato de Veteranos; Campeonato de sub-20 e sub-18; Jogos Escolares e Campeonato do Arapuá; Campeonato de Pataxó. Já após a realização das atividades assistemáticas do Pelc como Colônia de Férias, esse evento ficou sendo promovido periodicamente nas comunidades elencadas acima. Em relação à segunda questão, sobre o planejamento das ações, os gestores responderam que: Sim. Estamos planejando a criação do programa Cinema nos Bairros e Comunidades. Além de palestras educativas, brincadeiras e outras. A terceira questão abordada sobre os recursos, os mesmo afirmaram que: O recurso disponível é apenas o FPM (Fundo de Participação Municipal) e o mesmo é insuficiente para atender toda a demanda de que a secretaria necessita. Com relação à terceira questão, sobre outros tipos apoio/patrocínios, colocaram o seguinte: Não. Contamos apenas com o convênio entre a Prefeitura Municipal e o Ministério dos Esportes com o Programa Pelc (Programa de Esportes e Lazer na Cidade). Por parte da iniciativa privada não temos nenhum incentivo. Sobre a participação dos usuários, a quarta questão, foi relatado que há uma participação muito boa. A participação chega a ser desde crianças até adultos, de ambos os gêneros. Sobre a implantação e funcionamento da Brinquedoteca do Pelc, na quinta questão se obteve a seguinte resposta: A brinquedoteca tem sido uma iniciativa muito interessante, por que é um espaço reservado para as crianças e adolescentes do bairro onde esta a situada a brinquedoteca no Bairro Maria Romana, que não deixa de ser frequentada por outros membros localizados em outros bairros da cidade. A mesa é utilizada das 7h às 11h e das 13h às 17h de segunda a sexta, sendo disponível jogos de botões, dominó, Totó, Esnuques, quebra-cabeças, jogos de palitos e livros com literatura exclusivas para educação, e nos sábados e domingos o espaço é utilizado para fazer reuniões com jovens e escoteiros da cidade. E finalizando com a questão sobre a criação de uma área de lazer do Pelc, ressaltaram que: Surgiu com a chegada do Pelc em nossa cidade, era um espaço ocioso, portanto foi restaurado trazendo assim a oportunidade de recreação e lazer para os jovens de toda cidade. As atividades realizadas: Contamos com um parque de madeira, jogos e brincadeiras. De segunda a domingo, utilizada pela manhã mas tendo maior participação pela tarde. Dessas informações, as que chamam mais atenção são quanto à criação da área de lazer do Pelc e da manutenção da brinquedoteca municipal batizada como Brinquedoteca do Pelc, com inclusive uma contratada para atuar como monitora do espaço. Com isso, se observa a preocupação do poder público com a questão do lazer como direito social no município. Considerações finais Em função da constante busca da efetividade do programa como uma política pública social de esporte e lazer, que contíguo à política social da entidade já existente, veio a integrar ações e promover benefícios aos cidadãos em Ipanguaçu em geral, visando tanto contribuir com a democratização das ações esportivas, culturais e de lazer promovidas pelo Pelc, quanto mobilizar, incentivar e sensibilizar todas as pessoas quanto ao direito ao lazer que as mesmas possuem, ao mesmo tempo em que, obviamente, se configura como dever do Estado a promoção dessas dimensões propostas. As informações coletadas serviram para verificar a mobilização da população quanto à ciência em relação ao seu direito ao lazer, reforçando e reivindicando as ações pela prefeitura. Assim, o poder executivo vem tomar a posição de propositor das ações assim como financiá-las. Além dessas constatações, a Formação Continuada promoveu, segundo depoimentos, muito otimismo nos gestores e monitores do programa em andamento,

de maneira que conseguiu levar alguns a se interessar por formação em graduação. Assim, atestou-se que a forma como se gere um programa de política pública, buscando primar pelo desenvolvimento contínuo, progressivo e entusiasta, se balizando nas diretrizes, e persistindo pela efetivação, pode promover um movimento positivo numa cidade a ponto de sensibilizar o poder público, mobilizar a população e visualizar os frutos como o caso da brinquedoteca e da área de lazer da comunidade e para a comunidade. Referências BRASIL. Ministério do Esporte. Programa Esporte e Lazer da Cidade: orientação para implementação do Pelc. Brasília, DF, 2012. Disponível em: <www.esporte.gov.br>. EWERTON, Andréa Nascimento; MATTOS, Luiz Otávio Neves; PEREIRA, Marcelo Ferreira de Almeida. A discussão do projeto social do Programa Esporte e Lazer da Cidade...: uma experiência de políticas públicas na esfera federal. In: ALMEIDA, Marcelo Pereira; MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Brincar, jogar, viver: Programa Esporte e Lazer da Cidade. Brasília, DF: Ministério do Esporte, 2007.