Formas pronominais e tratamentais em português: diferentes abordagens. ProfªJânia Ramos (UFMG) e Profª Ana Paula Rocha (UFOP)

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Transcrição:

Formas pronominais e tratamentais em português: diferentes abordagens ProfªJânia Ramos (UFMG) e Profª Ana Paula Rocha (UFOP) Análise da abordagem de pronomes pessoais e de tratamento em livros didáticos, provas do ENEM e outros vestibulares. Beatriz Latini Gomes Neta (UFOP) A proposta desta comunicação é expor um trabalho que teve como enfoque os pronomes pessoais e de tratamento em quatro livros didáticos do segundo ano do ensino médio série em que os alunos recordam as classes de palavras bem como em provas do ENEM e outros vestibulares nos últimos dez anos. Sabe-se que os PCN s Parâmetros Curriculares Nacionais são conjuntos de recomendações elaboradas pelo Governo Federal em documentos oficiais a ser adotado pelas escolas com o intuito de subsidiar o trabalho do professor em sala de aula rumo a um ensino básico comum mais eficaz. Esses documentos oficiais admitem o estudo da gramática e de seus itens específicos, desde que contextualizados, uma vez que estão inseridos no campo da Linguagem, Códigos e suas Tecnologias. Nos livros didáticos foram selecionados três objetos de análise sobre os pronomes pessoais e de tratamento, confrontados em cada obra conceito, tópicos abordados, reflexões e apêndices agrupados em quadros comparativos que possibilitaram sistematizar as considerações decorrentes da comparação entre as obras. No que tange às provas do ENEM e outros vestibulares como a UNICAMP, analisou-se com que frequências os pronomes pessoais e de tratamento foram contemplados nas provas dos últimos dez anos e quais foram as habilidades e competências exploradas nessas questões. Com o trabalho, pode-se concluir que os pronomes pessoais e de tratamento são abordados tanto em livros didáticos quanto em exames de seleção, embora nesse último a frequência seja baixa diante de todo o potencial linguístico a ser explorado sobre o assunto. Constatou-se ainda a tentativa de explorar o tema de maneira diversificada: ora se procede a um enfoque normativo, prescrito pela gramática tradicional, ora se explora o caráter descritivo, inovador, reflexivo e baseado em estudos linguísticos atuais. Esse fato evidencia o embate presente entre forças distintas: de um lado, a tendência à mudança (força centrífuga) as leis, os parâmetros curriculares abrangentes, os vestibulares redefinidos etc -; de outro, a tendência à tradição e manutenção de um ensino de língua portuguesa conservador (força centrípeta), com a abordagem da gramática tradicional apenas como metalinguagem, os exercícios rasos sem contextualização. Análise sociopragmática da variação tu ~ você na produção epistolar de João Pinheiro da Silva. Ricardo Dias Luz (UFOP)

Neste trabalho, apresentam-se resultados preliminares da análise das motivações sociopragmáticas subjacentes à variação das formas tu e você na produção epistolar de João Pinheiro da Silva, escrita em finais do século XIX e início do século XX. A análise, realizada a partir da discussão proposta por Brown e Gilman (1960) sobre a semântica do poder e da solidariedade e a partir do quadro teórico da Teoria da Polidez desenvolvida por Brown e Levinson (1987), busca explicar o que motiva o missivista a empregar alternadamente as formas em questão em uma mesma carta e em correspondências a diferentes destinatários. Os resultados convergem para aqueles obtidos por estudos que se debruçaram sobre cartas pessoais escritas no mesmo período, como Lopes et al (2011), Silva (2012), Pereira (2012). Observou-se alta produtividade da forma pronominal tu, notadamente nas relações estabelecidas no eixo da solidariedade, como proposto por Brown e Gilman (1960), observadas nas cartas endereçadas a Helena Pinheiro, esposa de João Pinheiro, e ao amigo Edmundo Lins. A forma você, assim como nas pesquisas citadas, apresentou comportamento híbrido, ora ocupando os mesmos espaços funcionais de tu, identificado por Lopes et al (2011) como um uso inovador [+ inovador; - marcado], ora servindo como estratégia mitigadora de atos de ameaça à face do destinatário, consoante a discussão de Brown e Levinson (1987), o que caracteriza um uso mais conservador da forma [- inovador; + marcado], de acordo com Lopes et al (2011). Nas cartas escritas a destinatários com quem João Pinheiro matinha relação solidária, a forma você surge, principalmente, como estratégia para atenuar algum ato de ameaça à face do destinatário. Nas cartas endereçadas a subordinados, observou-se que você figurou tanto como estratégia mitigadora de atos de ameaça à face do destinatário quanto uma forma de marcar a posição de subordinado do destinatário. As pistas gráficas como fonte para a pesquisa diacrônica. Elaine Chaves (UFMG) Este artigo tem como objetivo mostrar a contribuição das abreviaturas ao estudo da mudança linguística, identificando-as como pistas gráficas capazes de documentar etapas desse processo. O objeto de análise são as abreviaturas que manifestam o processo iniciado pelo uso de uma expressão nominal Vossa Mercê, que teve como resultado o pronome Você. O período focalizado vai de 1800 a 1950. Foram utilizadas cartas pessoais escritas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, datadas e assinadas, cujos remetentes pudessem ser identificados. A abordagem teórico-metodológica utilizada foi a Teoria da Variação e Mudança. Foram registradas 32 formas diferentes de abreviar estes itens, aqui tratadas como variantes. A partir da observação dessas formas, buscou-se investigar: em que medida é possível considerar um número tão grande de formas como variantes e não apenas como formas flutuantes? Sua sistematicidade foi verificada através de análise quantitativa. Embora o objetivo não seja investigar o processo de pronominalização das formas tratamentais, a observação das abreviaturas de itens inseridos neste processo contribuiu para a sua interpretação.

Por serem considerados dados desprezáveis por alguns pesquisadores devido a aparente assistematicidade no uso das abreviaturas, ou ainda, por serem considerados como pertencentes a um estágio do processo de pronominalização, embora pudessem pertencer a outro estágio, adotou-se uma nova perspectiva de análise fornecendo evidências para a interpretação das pistas gráficas como variantes observáveis em estudos sociolinguísticos. Dessa forma, estamos considerando que as abreviaturas, ao invés de mascararem estágios do processo de pronominalização da forma tratamental Vossa Mercê no pronome Você, evidenciam os diferentes estágios desse processo. Como resultado, foi possível verificar que as pistas gráficas também podem ser interpretadas como fontes para estudos diacrônicos, bem como, permitem, através do uso de textos escritos e da observação de dados típicos da escrita, incorporar na teoria da variação fenômenos peculiares à escrita propriamente dita. A variação pronominal na Região Campos da Vertentes MG. Suelen Cristina da Silva (UFOP) Esta pesquisa faz parte do Programa de Pós-graduação em LETRAS da UFOP, tendo como proposta fazer um estudo sobre a variação pronominal Tu/Você na cidade de Ressaquinha (MG). Estudos sobre as formas pronominais em Minas Gerais tem demonstrado que há predominância do pronome você e suas formas variantes (ocê e cê), já a forma pronominal tu não é tão usual, mas pode ser encontrada em localidades ainda não delimitadas. Em Ressaquinha MG o pronome tu tem alto índice de utilização e é mediante essa evidência que se pretende estudar as formas pronominais nesse município. O objetivo principal é reconhecer o condicionamento da variação linguística existente. Para tal, pretende-se investigar os fatores linguísticos e extralinguísticos que atuam na escolha das formas alternantes Tu/Você. O suporte teórico a ser seguido é o modelo da Teoria da Variação postulado por Labov (1972), cujos pressupostos insistem na relação entre a língua e sociedade, na heterogeneidade da língua, que é passível de ser descrita. A metodologia consistirá em coletas de dados, que serão levantados por meio de gravações de diálogos espontâneos com falantes do município. Para que os fatores condicionadores sejam identificados, faz-se necessário analisar quantitativamente todos os dados indicados nos corpora deste trabalho. Para este fim, conta-se com o programa computacional GoldVarb 2001, que indicará, em termos numéricos, o comportamento das formas variantes, assim como, demonstrará os ambientes linguísticos favoráveis a uma ou outra forma pronominal. Após análises, os resultados obtidos serão comparados a estudos já realizados em Minas Gerais sobre as formas pronominais em questão. Assim, poder identificar se as formas pronominais Tu e Você corroboram ou refutam outros estudos sobre este mesmo tema no estado. O item você e seus cognatos de jornais oitocentistas e novecentistas de Minas Gerais.

O item você e seus cognatos de jornais oitocentistas e novecentistas de Minas Gerais. Maria Ilma Vieira de Araujo (UFMG) e Aléxia Teles Duchowny Partindo da hipótese de que as diferentes formas do Vossa Mercê > Você refletem as assimetrias sócio-pragmáticas nas relações entre os usuários da língua portuguesa, quantificamos seus cognatos e evidenciamos os fatores linguísticos (função sintática e a pessoa do verbo), bem como os extralinguísticos (Vocativo, hierarquia e grau de intimidade entre falante e ouvinte, tipo de relação social, tempo, assunto e gênero textual). Adotamos o modelo teórico-metodológico de Labov (1972; 1994; 2001), bem como o modelo teórico de Poder e Solidariedade (BROWN; GILMAN, 1960), do fenômeno da gramaticalização (LEHMANN, 1985; HOPPER, 1991; BYBEE, 2003 e HEINE, 2003) e do conceito de Gênero do Discurso, como proposto por Bakhtin (1997) e por Marcuschi (2008). O corpus selecionado para a pesquisa encontra-se no site da Hemeroteca digital (http://hemerotecadigital.bn.br/), instituição ligada à Fundação Biblioteca Nacional, reconhecida pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. Utilizaremos vários jornais mineiros da época oitocentista e novecentista, referentes às cidades de Abaeté, Além Paraíba, Alfenas, Alto Rio Doce, Andradas, Araçuaí, Araguari, Araxá, Arcos, Aterrado (Ibiraci), Baependi, Bagagem, Barbacena, Belo Horizonte, Brasópolis, Brumadinho, Caratinga, Cataguazes,, Conceição, Conselheiro Lafaiete, Diamantina, Itapecerica, Ituiutaba, Janaúba, Juiz de Fora, Leopoldina, Mar de Espanha, Montes Claros, Muriaé, Nanuque, Ouro Preto, Paracatu, Paraopeba, Patos, Patos de Minas, Pitangui, Ponte Nova, Porto Novo do Cunha, Pouso Alegre, Queluz, Rio Novo, S. João Del-Rey, S. José D além Parahyba, S. José do Paraíso, Teófilo Ottoni, Turvo, Uberaba, Uberlândia, Varginha e Villa Paraopeba. Ao todo foi um total de 124 periódicos dos séculos XIX e XX, mais especificamente de 1820 a 1979, pois foi o período em que encontramos a existência dos Jornais Mineiros na Hemeroteca Digital. A escolha do corpus se deu no intuito de escolher um suporte que abarcasse gêneros discursivos de caráter dialógico, pois sabemos que eles são típicos de estratégias de referenciação. Apesar de a oralidade abarcar os principais gêneros dialógicos, como a conversação face a face, a escrita também pode trabalhar a estratégia de referenciação por meio de alguns gêneros específicos, como é o caso da transcrição de diálogos, e das representações escritas de situações cotidianas que representam a oralidade, como as histórias em quadrinho ou a charge, por exemplo. É muito importante destacar que trabalhamos com uma grande quantidade de gêneros do discurso, um total de 55, que transitam entre oralidade e escrita. Essa diversidade e quantidade se fez necessária para perceber diferentes estratégias de referência ao interlocutor. O uso dos pronomes de tratamento em situação familiar. Leandro Moura (UFOP)

Os pronomes de tratamento são definidos pela Gramática Tradicional (GT) como palavras e locuções que variam por verdadeiros pronomes pessoais (CUNHA, CINTRA, 2001; BECHARA, 2009). Apesar de se referirem à pessoa a quem se fala, ou seja, a segunda pessoa do discurso, tais pronomes levam o verbo para a terceira pessoa. Entre esses pronomes, encontram-se você e senhor. Conforme a GT, o pronome você denota certa intimidade e opõe-se ao uso de senhor, cuja função é sinalizar, tanto no português brasileiro como no europeu, respeito ou cortesia. É interessante observarmos que, nas últimas décadas, tais pronomes concorrem no cenário familiar. Ramos (2011), por exemplo, procurou documentar a concorrência dessas formas de tratamento na díade pai e filho. A autora observa que, no falar belo-horizontino, as formas você e senhor passaram a concorrer desde meados dos anos 1960. Assim, além de evidenciar a competição entre tais formas de tratamento, a autora mostrou, também, que há ocorrência de mobilidade nos usos (RAMOS, 2011). Destarte, este trabalho pretende discutir como os pronomes de tratamento têm sido usados em situações familiares na cidade de Mariana, localizada a aproximadamente 110 km da capital mineira. Para isso, foram aplicados questionários a alunos de uma escola da cidade. Em seguida, procuramos quantificar os dados, a fim de observar o fenômeno a ser investigado. A partir das análises dos dados, é possível vermos que as formas você e senhor parecem concorrer, também, na cidade de Mariana, como ocorre em Belo Horizonte. Outro resultado encontrado é que o uso de senhor tende a ser mantido entre filhos de pais mais jovens. Ressaltamos, no entanto, que esses dados são resultados preliminares de um projeto piloto, a ser desenvolvido e melhor investigado em pesquisas vindouras. Português Brasileiro: uma língua de sujeito nulo ou de sujeito obrigatório? Christiane Miranda Buthers (UFMG) e Fábio Bonfim Duarte O português brasileiro atual, diferentemente do português europeu e do PB nãocontemporâneo, tem apresentado um gradativo aumento do preenchimento da posição à esquerda do verbo em orações finitas, conforme é possível verificar pelos dados apresentados em 1 e 2: (1) Porque você vê todo mundo desempregado. FALA ESPONTÂNEA) (2) Se constrói um país. (FALA ESPONTÂNEA) Em contextos como os apresentados em 1 e 2, se houver apagamento do sintagma XP que figura em posição inicial, o resultado é uma sentença pouco aceitável, conforme deixam entrever os exemplos a seguir: (3)?? Porque vê todo mundo desempregado. (FALA ESPONTÂNEA)

(4)?? constrói um país. (FALA ESPONTÂNEA) Com base em exemplos como esses, a hipótese testada no decorrer da análise foi a de que a pouca aceitabilidade dos dados 3 e 4 está diretamente conectada com o fato de o PB contemporâneo apresentar um significativo aumento no percentual de ocorrência da ordem sintática [XP V DP]. Um dos objetivos do trabalho foi averiguar o estatuto gramatical dos sintagmas XPs que figuram em primeira posição destas construções sintáticas. A pesquisa demonstra que alguns desses XPs têm funcionado como puros expletivos, atendendo apenas a um requerimento da sintaxe estrita, como, por exemplo, a valoração de EPP, em conformidade com Chomsky (1995). Para tal verificação, usamos como pressuposto teórico Holmberg (2000), que analisa o fronteamento estilístico (Stylistic Fronting) presente nas línguas escandinavas. Outro objetivo investigado foi se a emergência desta ordem estaria correlacionada, ou não, com o enfraquecimento do sistema de concordância e com a maneira como o PB satisfaz ao traço EPP em sentenças finitas. Para explicar tal fenômeno, a proposta delineada no trabalho foi a fatoração de EPP em dois traços distintos: [ud] e [up]. De acordo com essa proposta, AGR tem apenas uma função secundária no licenciamento de sujeitos nulos, já que nem sempre a sua presença no sistema leva à ocorrência obrigatória do sujeito nulo. Em suma, a presente análise defende que o PB atual é uma língua de sujeito nulo parcial. É essa propriedade gramatical que permite que a posição de sujeito figure opcionalmente nula em certos contextos e sempre preenchida em outros. Dessa maneira, a emergência da ordem [XP V (DP)] pode ser descrita como o efeito colateral da maneira como o traço EPP é valorado no PB contemporâneo. Variação em construções impessoais com o pronome eles no PB. Elizete Maria de Souza (UESB) Estudos acerca do Português Brasileiro (PB) mostram que construções impessoais com verbos na terceira pessoa do plural (3ª. p.p.) podem ser realizadas tanto com o sujeito pleno eles quanto com o pronome reduzido es, como em: (1) Quando o Palácio das Artes fez 30 anos, eles fizeram uma revista (SOUZA, 2013); (2) Tem pinga com pitanga, com não sei o quê, com uva, com todos os sabores. Es dão o copinho pra você experimentar (Idem). Sendo, portanto, as ocorrências (1-2) um caso de variação entre a forma pronominal plena eles (FP) e a forma pronominal reduzida es (FR), frequentemente encontrada no PB falado. Nosso objetivo é mostrar que o processo de redução do pronome eles favorece sua realização na posição de sujeito de construções impessoais e, nestas construções, o pronome eles assume um novo estatuto sintático ao sofrer a redução, tornando-se um clítico, que, por sua vez, revela um novo padrão de concordância no PB, qual seja, [es +V sing]. Esse novo padrão

reflete um aspecto muito importante do sistema linguístico do Português Brasileiro: o uso de [es + V sing] evidencia um avanço na redução do paradigma flexional do PB. Os resultados encontrados para a redução [es + V sing], de acordo com Souza (2013), mostram que, no português do Brasil, as construções impessoais com sujeito na 3ª. pessoa do plural estão deixando de exibir um padrão de concordância com verbo no plural. O novo padrão seria exatamente [3ª.p.p + V sing]. Sendo assim, confirma-se a hipótese de que a redução do pronome eles estaria intimamente relacionada à impessoalização do sujeito no Português Brasileiro e que, ademais, a redução do pronome eles leva ao enfraquecimento do verbo, ou seja, a ocorrência do pronome fraco es engatilha a concordância do sujeito de 3ª. pessoa do plural com o verbo no singular. A presente discussão insere-se no quadro da Teoria da Variação e Mudança Linguística (WEINREICH, LABOV & HERZOG, 1968), e está ancorada nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972), além de usar como ferramenta estatística o Programa de Regras Variáveis GOLDVARB 2001 versão organizada por Robinson, Lawrence & Tagliamonte (2001).