Caracterização de argilas utilizadas em olarias em Feira de Santana-BA, através de análise espectral.

Documentos relacionados
Sensoriamento Remoto: Radiometria espectral e técnicas de análise de espectros. Patricia M. P. Trindade; Douglas S. Facco; Waterloo Pereira Filho.

PALAVRAS-CHAVE: matéria orgânica, sensoriamento remoto hiperespectral, espectroscopia solos.

PMI 3331 GEOMÁTICA APLICADA À ENGENHARIA DE PETRÓLEO

Caracterização de matérias-primas cerâmicas

COMPORTAMENTO ESPECTRAL DE ALVOS

CARACTERIZAÇÃO DE MATÉRIAS PRIMAS ARGILOMINERÁLICAS DE USO CERÂMICO POR ESPECTROSCOPIA DE REFLECTÂNCIA

Técnicas de interpretação de espectros de reflectância. Aula 5 Professor Waterloo Pereira Filho Docentes orientados: Daniela Barbieri Felipe Correa

DOCUMENTOS N 172 CARACTERIZAÇÃO ESPECTRORRADIOMÉTRICA DE MINERAIS E ROCHAS SEDIMENTARES

SIMULAÇÃO DE BANDAS DO SENSOR MSI/SENTINEL-2 EM LAGOS DA AMAZÔNIA E RIO GRANDE DO SUL

Fundamentos de Sensoriamento Remoto

Introdução. Palavras-Chave: Reaproveitamento. Resíduos. Potencial. Natureza. 1 Graduando Eng. Civil:

Moagem Fina à Seco e Granulação vs. Moagem à Umido e Atomização na Preparação de Massas de Base Vermelha para Monoqueima Rápida de Pisos Vidrados

Memorias. La Geoinformación al Servicio de la Sociedad

ESTUDO DA APLICAÇÃO DE RESÍDUOS DE ARDÓSIA COMO FONTE DE MAGNÉSIO PARA SÍNTESE DE FERTILIZANTES MINERAIS

Espectrofotometria UV-Vis. Química Analítica V Mestranda: Joseane Maria de Almeida Prof. Dr. Júlio César José da Silva

ESTUDOS DE REFLECTÂNCIA DE AMOSTRAS DE 5 TIPOS DE SOLOS BRASILEIROS, EM CONDIÇÕES DE LABORATÓRIO

PÓ DE ACIARIA MODIFICADO UTILIZADO EM PROCESSO DE DESCONTAMINAÇÃO AMBIENTAL

Sensoriamento remoto 1. Prof. Dr. Jorge Antonio Silva Centeno Universidade Federal do Paraná 2016

CARACTERIZAÇÃO DOS ARGILOMINERAIS DOS ARENITOS DA FORMAÇÃO FURNAS, REGIÃO DE CAMPO NOVO-PR

PROPRIEDADES ESPECTRAIS DE MINERAIS E ROCHAS

PROPRIEDADES ESPECTRAIS DOS SOLOS

Rebecca Del Papa Moreira Scafutto¹ Carlos Roberto de Souza Filho¹

Sensoriamento Remoto: características espectrais de alvos. Patricia M. P. Trindade; Douglas S. Facco; Waterloo Pereira Filho.

Considerações sobre amostragem de rochas

Avaliação da reatividade do metacaulim reativo produzido a partir do resíduo do beneficiamento de caulim como aditivo na produção de argamassa

SÍNTESE DE BETA FOSFATO TRICÁLCICO, POR REAÇÃO DE ESTADO SÓLIDO, PARA USO BIOMÉDICO

DESENVOLVIMENTO DE UM ESPECTRÔMETRO INFRAVERMELHO PARA MEDIÇÃO DE PROPRIEDADES ÓPTICAS DE ÓXIDOS E SEMICONDUTORES

SENSORES CERÂMICOS PARA MONITORAMENTO DE UMIDADE RELATIVA DO AR EM PLATAFORMAS DE COLETAS DE DADOS AMBIENTAIS (PCDS) DO INPE

Biblioteca espectral de solos em uma área no município de Mucugê Ba. Sarah Moura Batista dos Santos 1 Washington de Jesus Sant anna da Franca-Rocha 1

CARACTERIZAÇÃO TECNOLOGICA E MINERALOGICA DAS MINERALIZAÇÕES DE AREIA DO RIO GRANDE DO NORTE

Fundamentos do Sensoriamento Remoto. Disciplina: Sensoriamento Remoto Prof. Dr. Raoni W. D. Bosquilia

5 Caracterizações Física, Química e Mineralógica.

Título: Determinação das Concentrações de Sulfatos e Nitratos Particulados na Cidade do Rio Grande-RS, Brasil, a Partir de Sensores Remotos

COMPORTAMENTO ESPECTRAL DE ALVOS

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE RESÍDUOS DE LAPIDÁRIOS

Adsorção de Rodamina B em Argilas Montmorillonitas Paraibanas beneficiadas por moagem e peneiramento.

Espectrorradiometria como instrumento de caracterização de solos de terras baixas

Palavras-chave: Análise Qualitativa; mineralogia, Gibbsita, Quartzo. Área do Conhecimento: Ciências Ambientais

Radiometria e Princípios de Sensoriamento Remoto Hiperespectral

ESTUDOS PRELIMINARES DO EFEITO DA ADIÇÃO DA CASCA DE OVO EM MASSA DE PORCELANA

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO FÍSICO E MECÂNICO DE BLOCOS DE CONCRETO ECOLÓGICOS FABRICADOS COM INCORPORAÇÃO PARCIAL DE UM RESÍDUO SÓLIDO INDUSTRIAL

Universidade Regional do Cariri URCA II Semana da Construção Civil e Tecnologia Professor MsC Rony Lopes Lunguinho

XIXEncontrodeIniciaçãoàPesquisa UniversidadedeFortaleza 21 à 25 deoutubrode2013

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS DADOS DO SENSOR CCD DO CBERS E OS DO LANDSAT 7 ETM+ PARA A REGIÃO DE BRASÍLIA.

Análise de alimentos II Introdução aos Métodos Espectrométricos

REFLECTÂNCIA ESPECTRAL DA ÁGUA

IDENTIFICAÇÃO MINERALOGICA DE UM VERTISSOLOS DE CURAÇÁ-BA

Caracterização espectrorradiométrica dos litotipos do Grupo Una na sub-bacia de Una- Utinga no Estado da Bahia

Espectrofotometria UV-Vis. Química Analítica V Mestranda: Joseane Maria de Almeida Prof. Dr. Júlio César José da Silva

Ciências da Arte e do Património

Avaliação de uma Metodologia para a Formulação de Massas para Produtos Cerâmicos Parte II

Sensoriamento Remoto Aplicado à Geografia

Análise de Alimentos II Espectroscopia de Absorção Molecular

CARACTERIZAÇÃO TECNOLOGICA E MINERALOGICA DAS MINERALIZAÇÕES DE AREIA DO RIO GRANDE DO NORTE

Fragilidade Ambiental Método: Processo Hierárquico Analítico (AHP)

Comportamento Espectral de Alvos Vegetação. Disciplina: Sensoriamento Remoto Prof. Dr. Raoni W. D. Bosquilia

Resposta espectral do feijão-caupi submetido a diferentes manejos de adubação

COMPARAÇÃO ENTRE TÉCNICAS PARA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO ESPECTRAL DA CLOROFILA-A NO RESERVATÓRIO DE SALTO GRANDE (SP)

7. Resultados e discussão

PROGRAMA DE ENSINO. 2º Período 2016

Sensoriamento Remoto Aplicado à Geografia. Prof. Dr. Reinaldo Paul Pérez Machado

PRODUÇÃO DE ZEÓLITAS A PARTIR DE CAULIM EM SISTEMA AGITADO COM AQUECIMENTO A VAPOR EM ESCALA SEMI-PILOTO

ANÁLISE MINERALÓGICA, QUÍMICA E TEXTURAL DAS JAZIDAS DE ARGILA DO MUNICÍPIO DE TAMBAÚ - SP

ARGILA VERDE-CLARO, EFEITO DA TEMPERATURA NA ESTRUTURA: CARACTERIZAÇÃO POR DRX

Geoprocessamento e sensoriamento remoto como ferramentas para o estudo da cobertura vegetal. Iêdo Bezerra Sá

Anais III Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto Aracaju/SE, 25 a 27 de outubro de 2006

Vinícius Emmel Martins 2, Dieison Morozoli Da Silva 3, Sidnei Luís Bohn Gass 4

Sensoriamento Remoto I Engenharia Cartográfica. Prof. Enner Alcântara Departamento de Cartografia Universidade Estadual Paulista

Processamento Digital de Imagens - PDI

RESUMOS COM RESULTADOS RESUMOS DE PROJETOS

SÍNTESE E CARCATERIZAÇÃO DE BETA FOSFATO TRICÁLCICO OBTIDO POR MISTURA A SECO EM MOINHO DE ALTA ENERGIA

CARACTERIZAÇÃO ESPECTRAL DO RESERVATÓRIO DE ITÁ SUL DO BRASIL

ESTUDO DAS PROPRIEDADES MINERALÓGICAS E PETROGRÁFICAS DOS GNAISSES GRANÍTICOS DA REGIÃO DE ALFENAS - MG E SUA APLICAÇÃO NO SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS

5 Metodologia e planejamento experimental

COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE CORREÇÃO ATMOSFÉRICA EM IMAGENS MULTIESPECTRAIS LANDSAT 8 OLI

PMI 3331 GEOMÁTICA APLICADA À ENGENHARIA DE PETRÓLEO

Qualidade Radiométrica das Imagens Sensor ADS40

Tecnicas analiticas para Joias

ESTUDO DA INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA OBTENÇÃO DE HIDROXIAPATITA PARA FINS BIOMÉDICOS

APROVEITAMENTO DE REJEITOS DA MINA BREJUÍ NA INDÚSTRIA CERÂMICA.

CALIBRAÇÃO DO EQUIPAMENTO DE ESPECTROSCOPIA DE INFRAVEMELHO PRÓXIMO (NIRS) PARA A DETERMINAÇÃO DA QUALIDADE NUTRICIONAL DO TRIGO GRÃO 1

Comportamento espectral do solo da Caatinga em diferentes tipos de manejos

DETERMINAÇÃO DO ALBEDO EM ÁREAS DE CAATINGA E REFLORESTADA COM ALGAROBA NO SEMI-ÁRIDO DO NORDESTE BRASILEIRO RESUMO

AVALIAÇÃO ESPECTRAL DE UM NEOSSOLO LITÓLICO DE MACURURÉ-BA

Fluorescent lamps phosphors characterization through X-Ray Fluorescence spectroscopy

ESTUDO DE SOLOS ARENOSOS FINOS LATERÍTICOS DO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL PARA EMPREGO EM PAVIMENTOS ECONÔMICOS 1

MINERALOGIA DOS SOLOS COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DOS SOLOS

mapeamento de atributos de solos tropicais

Matérias-primas naturais

AVALIAÇÃO DO EFEITO DOS PARÂMETROS OPERACIONAIS DENSIDADE DE CORRENTE E ph DO BANHO SOBRE AS PROPRIEDADES DA LIGA Mo-Co-Fe

INTRODUÇÃO AO SENSORIAMENTO REMOTO. Daniel C. Zanotta

USO DA ESPECTRORRADIOMETRIA NO ESTUDO DA COMUNIDADE DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS FLUTUANTES NOS ESPELHOS D ÁGUA DO MUNICÍPIO DE SALVADOR (PLURIS 2016)

Fragilidade Ambiental Método auxílio multicritério à tomada de decisão

USO DE FTIR PARA ANÁLISE DE BACTÉRIAS CAUSADORAS DO CANCRO CÍTRICO E CVC

Introdução [1] MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL. Agregados

PLANO DE ENSINO. 2018/1 Iane Barroncas Gomes. 3º Gênese e Morfologia do Solo

Detecção de metais potencialmente tóxicos por espectroscopia de reflectância

QUI346 ESPECTROFOTOMETRIA

Transcrição:

REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 12 - Número 1-1º Semestre 2012 Caracterização de argilas utilizadas em olarias em Feira de Santana-BA, através de análise espectral. Filipe Ramos Mello 1 ; Suzana Modesto de Oliveira Brito 2 ; Joselisa Maria Chaves 3 RESUMO A região de Feira de Santana BA é pouco estudada quanto a composição do seu solo. Em particular, os argilominerais constituintes desse solo são completamente desconhecidos. Neste trabalho utilizou-se a espectrorradiometria como técnica de identificação preliminar de argilominerais presentes em quatro pontos de coleta, visando a caracterização desses materiais antes de investir em processos de separação e tratamento, que são demorados, de custo relativamente alto e lançam resíduos para o ambiente. A espectrorradiometria dispensa o pré-tratamento de amostras acelerando o processo de análise mineralógica As amostras foram coletadas em quatro pontos onde são feitas retiradas de material para olarias. Os espectros foram obtidos sem nenhum tratamento prévio e permitiram identificar todas as amostras como fazendo parte do grupo das caoesmectitas, sendo que, em algumas amostras identificou-se a presença de halosita e nacrita. Duas amostras apresentaram exatamente o mesmo espectro, o que permite o direcionamento das análises posteriores, proporcionando economia de recursos e de tempo. Palavras-chaves: Argilas, Espectroscopia,Caracterização Mineral. Characterization of clays used in potteries of Feira de Santana-BA by spectral analysis. ABSTRACT There are no studies on the composition of the clay minerals of Feira de Santana BA. In this work four samples of clays used in pottery were studied by spectral techniques. These techniques enable the previous characterization of the samples without any kind of pre-treatment. This feature allows a better distribution of the time and materials used in clay separation and purification. The samples were collected in four sites of mineral prospection and were grounded and dried before analysis. The spectra were collected with the samples as received. The spectral analysis showed that the four samples are from the group of kaosmectite and it was possible to identify the presence of halosyte and nacrite in two samples as mixtures. The technique is environmentally friendly, non destructive and allows time and resources economy. Keywords: Clay, Spectroscopy, Mineral Characterization. 128

1 INTRODUÇÃO A análise espectral de amostras através de espectrorradiometria é capaz de trazer respostas acuradas quanto a mineralogia de argilas, pois permite capturar o espectro emitido por cada elemento, proporcionando respostas quanto a sua composição química (Clark, 1999). Cada elemento da natureza possui uma resposta espectral que o caracteriza (as assinaturas espectrais), dessa forma é possível através da análise dos espectros identificar e caracterizar argilas, entre outros minerais. Quando a superfície de um mineral é exposta a radiação eletromagnética em certa faixa de comprimento de onda, os fótons podem ser refletidos, absorvidos ou transmitidos (reflectância, absorbância e transmitância). Todas as superfícies naturais interagem com os fótons. Esses fótons são absorvidos ou refletidos mediante processos eletrônicos e vibracionais das moléculas formadoras do material fornecendo informações químicas sobre o mineral, quando expostos a luz (Clark 1999). Essas interações podem ser medidas através da espectrografia, dando origem aos espectros de absorção, emissão e transmissão. Esses espectros são característicos para cada substância e para cada faixa de comprimentos de onda estudada. No caso de amostras de minerais, a espectrorradiometria é uma técnica executada no intervalo de comprimento de onda de 0,4 a 2,4 µm, direto sobre a superfície do material em pó, não requerendo nenhum tratamento prévio do mineral. A interação da radiação nesta faixa de comprimentos de onda com o material analisado produz espectros individuais, que podem ser comparados com espectros padrão para obtenção da estrutura do material estudado. O objetivo desse trabalho é identificar e caracterizar os tipos de argilominerais que constituem amostras coletadas em olarias no município de Feira de Santana, com a finalidade de mapear os tipos de argilas existentes na região. Para isso são utilizados dados de espectroscopia de reflectancia das amostras brutas obtidos por espectrorradiometria, visando obter dados preliminares de identificação em um intervalo de tempo mais curto. A caracterização mineral do município de Feira de Santana é limitada e não se encontram dados a respeito dos argilominerais existentes na região. A necessidade de conhecimento dos recursos minerais explorados no município é extensa, visando à preservação ambiental dos sítios de coleta, que geralmente se localizam próximos a lagoas e nascentes. Além disso, o conhecimento da natureza do mineral coletado para uso em olarias pode permitir um melhor beneficiamento do mesmo, resultando em maior valor agregado e em melhoria da qualidade de vida da população que vive deste recurso natural. A rapidez na obtenção de resultados é fundamental para esse propósito, visto que acelera a tomada de decisões sobre o sítio de coleta em questão. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Metodologia de Coleta e Preparação das Amostras Inicialmente foi feita a identificação e localização dos sítios de coleta de argilas, utilizados por olarias no município de Feira de Santana. Com o objetivo de evitar pontos de coleta clandestinos, foi solicitado à Secretaria Municipal de Meio Ambiente uma relação contendo os pontos de coleta cadastrados junto ao órgão. Os pontos cadastrados de coleta de argilas para olarias estavam situados nas localidades da Lagoa Salgada, São José, Candeal e Onça-flor. Os sítios de coleta já se apresentavam bastante degradados, com trincheiras totalmente reviradas, não sendo possível identificar o horizonte B, onde se encontram os argilominerais (Kiehl, 1979), desse modo o material para estudo foi coletado a partir do material já extraído pelos oleiros, alocado em forma de montoeira. Assim as amostras foram extraídas na forma de torrões e/ou conglomerados. As amostras em torrões são as mais usuais e são utilizadas para várias análises. Amostras obtidas desta maneira se prestam para certas análises físicas e de um modo geral, para todas as análises químicas (Kiehl, 1979). Estando o material seco e rígido foi necessária a utilização da picareta, para desagregá-lo. Por fim o material foi removido com pá e depositado numa sacola coletora de 10 x 15 cm. Após a coleta o material foi levado 129

para o laboratório e armazenado em frascos e local apropriado. As amostras foram nomeadas de acordo com o nome do local de coleta: Lagoa Salgada, LS; São José, SJ; Candeal, C; e Onça-flor, OF. As amostras foram secas a 60 C em estufa por 1 hora e moídas em moinho de bolas para redução do tamanho e desagregação da amostra, durante 10 min. As amostras foram então peneiradas em diferentes malhas sendo aproveitadas apenas a fração que passou na peneira de 0,005 mm (74 mesh), que era a malha mais estreita disponível. Obtenção dos Espectros As amostras foram colocadas em placa sintética de cor preta (500 mg), de forma a cobrir toda a superfície da placa. Esse material foi analisado em espectrorradiometro modelo FieldSpec Pro FR (ASD, 2002) com um FOV (Field Of View; Campo de Visada) de 25 graus, fonte de iluminação halógena (NORIS), placa de referência Spectralon, que cobre a faixa espectral de 0,4 a 2,5 µm, durante 60 segundos. Tratamento dos Espectros A) Remoção do contínuo O conjunto de assinaturas espectrais obtido para as amostras de argila teve o continuo removido pela técnica continuumremoval (Rsi, 2009), com o objetivo de manipular os dados com qualidade para visualização e realce. Define-se o continuo como sendo a linha base, que toca o máximo número possível de pontos da curva de reflectância espectral sem cruza - lá (Hoff, 2002). A remoção do continuo é realizada através de operações de subtração utilizando-se o software Envi 4.7. B) Análise empírica dos dados espectrais Após remoção do contínuo os dados espectrais foram utilizados na elaboração de uma biblioteca espectral própria. Essa biblioteca é composta por curvas espectrais de argilominerais puros (curvas de referência obtidas na biblioteca da USGS) e das curvas espectrais das amostras de argila extraídas em campo. O método empírico utiliza uma base bibliográfica da USGS (United States Geological Survey) e os trabalhos de Ducart (2004), Senna (2003) e Clark (1999). Para a análise dos espectros são observadas a forma da curva semelhante; localização das bandas de absorção (µm); profundidade das bandas de absorção; presença de argilominerias; e presença de outros minerais (Senna & Souza Filho 2003, Hoff 2002). A geometria dos picos ou bandas são elementos fundamentais na determinação de minerais. Esses picos ou bandas podem ser descritos como: largos, agudos, simétricos, com braço direito assimétrico, com ombro esquerdo ou direito e com dublete (Lyon & Khu, 1989 citado por Senna, 2003). 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados obtidos a partir da coleta dos espectros e seus principais picos de absorção são mostrados nas figuras a seguir (Figuras 1 a 6). Amostra C O espectro coletado dessa amostra é apresentado nas Figura 1 e 2. Observa-se que esse espectro possui valores baixos de reflectância devido à presença de matéria orgânica. Absorções mais acentuadas são verificadas em 2.189, 2.208, 1.922, 1.413, 1.392, 1.331 e 0,478 μm. Ocorre absorção alongada em 0.890 μm o que evidência a presença de ferro (Fe), assim como em picos discretos em 0.965 e 1.02 µm. A absorção em 2.208 μm é característica da presença de Al-OH. Outras absorções são notadas em 2.115, 2.314, 2.360, 2.386 e 2.422 µm. De acordo com a bibliografia consultada (Hunt 1977, Clark 1995), verifica-se que essa amostra possui características espectrais próximas a caoesmectita 2 (USGS), assim tratase de uma mistura entre caulinita e argilomineral do grupo das esmectitas. Essa amostra possui uma absorção acentuada em 1.413 e em 1.922 μm (presença de H 2 O). A amostra possui forte absorção em 2.208 μm (presença de Al-OH) e possui leve absorção dupla entre 2.36 μm e 2.385 μm (presença de mistura espectral, atribuído a presença de argilomineral do grupo das esmectitas). Percebe-se ao se comparar o espectro coletado a partir da amostra C e o espectro da caoesmectita (da biblioteca da USGS), que os 130

mesmos possuem perfis semelhantes (Figura 2). Pode-se observar que a faixa entre 0,4 e 0,6 µm apresenta picos em nosso material que não aparecem no espectro da caoesmectita, Esses picos, associados aos picos em 2,36 e 2,385 µm, indicam presença de magnésio na amostra, sugerindo que este material é uma mistura de caoesmectita e um dos minerais do grupo das esmectitas por possuir características de ambos. De fato, considerando que a caoesmectita é derivada da esmectita, é possível encontrar-se misturas desses minerais na natureza. Figura 1 - Espectro da amostra C mostrando as principais bandas observadas. Figura 2 - Comparação entre o espectro da amostra C [1], caoesmecita3 [2] e caoesmectita2 [3] e espectro da caoesmectita1 [4] 131

Amostra LS O espectro da amostra LS é mostrado na figura 3 e as comparações do mesmo com os espectros obtidos na literatura são mostradas nas figuras 4 e 5. O espectro coletado dessa amostra possui valores baixos de reflectância devido à presença de matéria orgânica. Absorções mais acentuadas são verificadas em 2.208 (media absorção); 1.912 μm (forte absorção) e 1.413 μm, média com fraca absorção em 0.513 μm. As absorções em 1,413 μm e 1,912µm são atribuídas a presença de água no material, a absorção em 2,209 μm é atribuída a Al-OH. Absorções são verificadas em 0.567, 0.590, 1.02 (transições eletrônicas de Fe +3 ), 1.116, 1.25, 1.331, 2.312 e 2.358 (caracterísitcas de minerais do grupo das esmectitas), 2.385 e 2.39 (causadas por misturas espectrais não identificadas). Essas bandas são atribuídas na literatura (Pontual e Ganson, 1997) a misturas de minerais, não sendo possível a identificação individual de cada um. Verifica-se que essa amostra possui características espectrais idênticas a caoesmectita 3 (da biblioteca da USGS) (Kiehl, 1979). Pode-se então supor que a amostra é uma mistura entre os argilominerais caulinita e esmectita. No entanto, a forma geral do espectro é clássica da caoesmectita. A fórmula química da caoesmectita é Al 2 Si 2 O 5 (OH) 4. A amostra possui absorções destacadas em 1.413 e 1912 μm (atribuídas a OH e H 2 O) características das esmectitas. Entre o intervalo 2.13 e 2.385 μm o espectro da amostra LS possui semelhança ao espectro da Halosita da biblioteca JPL (JPL library spectra), tendo semelhança na forma da curva e nos picos de absorções (Figura 5). Isso nos leva a crer que essa amostra pode ser composta de caoesmectita e halosita misturadas. Figura 3 - Espectro da amostra LS 132

Figura 4 - Espectros da amostra LS [1] e da Caoesmectita 3 [2] Figura 5 - Comparação entre o espectro da amostra LS [1] e de espectro da halosita [2] da biblioteca espectral JPL. 133

Amostra SJ O espectro da amostra SJ é mostrado na figura 6 e a comparação deste espectro com vários espectros da literatura é mostrada na Figura 7. O espectro coletado dessa amostra possui valores elevados de reflectância, que indicam menor presença de matéria orgânica que a observada nas amostras obtidas nos outros sítios de coleta. Absorções são verificadas em 2.499; 2.446; 2.385; 2.360; 2.312; 2.312; 2.265; 2.207 e 2.184µm. Estes picos são diagnósticos da presença de caulinita o que reforça a idéia de que essa amostra também é uma mistura entre caulinita e minerais do grupo das esmectitas. A absorção em 2.115 µm é associada a minerais do grupo das canditas, no entanto neste espectro o pico não apresenta a profundidade característica desses minerais, assim, não podemos atribuí-lo com precisão. A absorção média e alongada em 1.925 µm indica presença de moléculas de H 2 O; as absorções em 1.841 e 1.799 µm indicam a presença discreta de sulfatos e caulinita; os picos em 1.413 e 1.389µm são atribuídos a presença de H 2 O e OH; os picos a 1.329; 1.269; 1.111; 1.019 e 1.000 µm são considerados transições eletrônicas de Fe +3, bem como os picos em 0.907 e 0.477 μm (óxidos e hidróxidos de ferro). A absorção entre 2.200 e 2.380 μm é devido à presença de argilominerais misturados, não identificados individualmente. De acordo com a bibliografia consultada (Hunt 1977, Clark 1995, Senna 2008), verificase que essa amostra possui características espectrais idênticas a Caulinita/Esmectita (Caoesmectita). Analisando detalhadamente o intervalo entre 1.413 e 2.207 μm verifica-se a semelhança com o espectro das caoesmectitas 1 e 2. Mesmo assim, percebe-se em baixa frequência que a amostra SJ possui uma absorção discreta que não se encontra no espectro da caoesmectita 2. Essa situação ocorre pela possível presença de outro mineral associado. Em pesquisa realizada na biblioteca espectral da USGS, com apoio de bibliografia específica (Gomes 1988, Clark 1999), o espectro da amostra SJ foi comparado com espectros dos minerais do grupo da caulinita, como dicta; nacrita e halosita além de minerais do grupo das esmectitas, montmorilonita, nontronita, saponita e por fim argilominerais aluminosos por serem propícios a associação com a caoesmectita. Ao serem comparados os espectros da caoesmectita 2, da nacrita e da amostra SJ (figura 7), verifica-se uma absorção na amostra SJ que não é verificada no espectro da caoesmectita2, no entanto é verificado na nacrita (USGS). Entende-se que além da caoesmctita (caulinita + argilomineral do grupo das esmectitas) a amostra SJ contém em sua composição a nacrita que tem formula química Al 4 [Si 4 O 10 ] (OH) 8,. Figura 6 - Espectro da amostra SJ 134

Figura 7 - Comparação entre espectro da amostra SJ [1], com os espectros da Nacrita [2] caoesmectita 5[3]; caoesmectita 4[4]; caoesmectita 3[5], caoesmectita 2[6], e caoesmectita 1[7] Figura 8 - Comparação entre o espectro da amostra OF [1] e o espectro da amostra LS [2] 135

Amostra OF Essa amostra possui as mesmas características da amostra LS, como se pode ver na figura 8. A amostra LS foi caracterizada como uma mistura de caoesmectita 3 e halosita. Assim, a amostra OF também foi identificada como uma mistura de caoesmectita 3 e halosita 4 CONCLUSÕES As argilas coletadas foram analisadas por espectrorradiometria e foram identificadas como sendo parte do grupo das caoesmectitas. Também foram identificadas misturas de minerais existentes na amostra. Assim, a amostra C (Candeal) é constituída por uma caoesmetita 2; as amostras LS (Lagoa Salgada) e OF (Onça Flor) são idênticas e constituem uma mistura de caoesmectita 3 e halosita, o que já era esperado, devido a proximidade dos sítios de coleta; e a amostra SJ (São José) é constituída de uma mistura de caoesmectita e nacrita. Pode-se ver que a análise espectral foi de grande utilidade na identificação prévia dos materiais, permitindo inclusive a decisão sobre análises posteriores. Por exemplo, como as amostras LS e OF são constituídas do mesmo material, torna-se desnecessário a análise detalhada das duas amostras, o que diminui o tempo do trabalho e proporciona economia de recursos. Embora permita a identificação de materiais através do espectro, a espectrorradiometria não possui um mecanismo de quantificação dos componentes da amostra, sendo necessária a complementação da análise com outras técnicas, como difração de raios X (DRX), fluorescência de raios X (FRX), etc. No entanto, a realização de um estudo prévio por espectrorradiometria permite o melhor direcionamento do trabalho, otimizando a utilização dos recursos disponíveis. A espectrorradiometria apresenta-se, então, como uma técnica útil para a identificação preliminar de amostras de argilominerais, diminuindo o tempo de processamento das amostras, visto que as mesmas não precisam de nenhum tratamento para serem analisadas, exceto moagem e secagem. A técnica permite uma seleção das amostras a serem encaminhadas a processamento posterior para separação da fração argila, diminuindo os custos com reagentes e o tempo de processamento. Além disso, por se constituir em técnica não destrutiva, não produz resíduos a serem lançados no ambiente, reduzindo a contaminação de efluentes provocada pelo uso de reagentes químicos no tratamento do material. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, José Antonio. P. 1992. Estudo Morfodinâmico do Sitio Urbano de Feira de Santana Ba. Dissertação de Mestrado, Instituto de Geociências, UFBA, Salvador, 140p. ANJOS, Nelson da Franca Ribeiro dos; BASTOS, Carlos Alberto de Miranda. 1968. Estudo das possibilidades hidrogeologicas de Feira de Santana - Bahia. Recife, SUDENE, Div. Documentação, 125p. BASTOS, Gracinete Souza. 2000. Uso de Sistemas de Informações Geográficas para zoneamento Geotécnico do Município de Feira de Santana. Feira de Santana, Sitientibus, 23 (1): 113-136. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). 2006. Censo demográfico. Disponível em: www.ibge.br/municipios. Acessado em: 10/01/1010. SUPERINTENDÊNCIA DE RECURSOS HÍDRICOS DA BAHIA (SRH). 2003. Banco de dados geográficos. Salvador, CD-Rom SIG- BA. CLARK, R.N. 1995. Reflectance Spectra, AGU Handbook of Physical Constants, 178-188. Disponivel em: http://www.clarkvision.com/rnc/publist.html. Acesso em: dezembro de 2009. CLARK, R. N., Chapter. 1999. Spectroscopy of Rocks and Minerals, and Principles of Spectroscopy, in Manual of Remote Sensing, 136

Volume 3, Remote Sensing for the Earth Sciences, (A.N. Rencz, ed.) John Wiley and Sons, New York, p 3-58. Disponível em: http://www.clarkvision.com/rnc/publist.html. Acesso em: janeiro 2010. HOFF, Rosemary. 2002. Integração de dados geológicos de sensoriamento remoto, espectrorradiometricos e geofísicos aplicados à prospecção de depósitos filoneanos de fluorita hidrotermal no sudeste de Santa Catarina. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Geociências, UFRGS, Porto Alegre. HUNT, G.R. 1977. Spectral signatures of particulate minerals, in the visible and nearinfrared, Geophysics 42, 501-513. Disponivel em: http://econgeol.geoscienceworld.org/cgi/content /abstract/74/7/1613. Acesso em: janeiro de 2010. LYON, R. J.; P; KHU, H. 1989. Spectral Band Shapes as criteria for mineral discrimination in field spectroscopy. In: Thematic Remote Sensing for Exploration Geology, 7 ed, Calgary, Alberta, Canadá, Proceeding, KIEHL, Edmar José. 1979. Manual de edafologia: relações solo-planta. São Paulo, Agronômica Ceres, 204p. MELLO, Filipe Ramos; BRITO, Suzana Modesto Oliveira. 2009. Modelagem e caracterização mineralógica de argilas utilizadas em olarias de Feira de Santana. Relatório Técnico Parcial, FAPESB, Salvador, 2009, 90 p. PONTUAL, Sasha; MERRY, Nick & GAMSON, Paul. 1997. Spetral Interpratation Field Manual. Auspec International, 168p. RESEARCH SYSTEMS, Inc (RSI). 2009. ENVI User'sGuide. ENVI Version 4.7, 94 p. SENNA, Julio Alves. 2003. Caracterização de argilominerais de utilização na indústria cerâmica por espectroscopia de reflectância. Dissertação de mestrado, Instituto de Geociências, UNICAMP, Campinas-SP, X p. SENNA, J. A.; Souza Filho, C. R. 2005. Caracterização e modelagem de argilas utilizadas pela indústria cerâmica por espectroscopia de reflectância e dados multiespectrais ASTER - Um experimento no depósito de ball clay de São Simão, São Paulo. Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, p. 650-659. Disponível em: http://marte.dpi.inpe.br/col/ltid.inpe.br/sbsr/200 4/11.26.16.58/doc/1903.pdf. Acesso em: fevereiro de 2010. SENNA, Juliano Alves. 2008. Caracterização Espectro-mineralógica e aspectos sobre a gênese de matérias-primas cerâmicas clássicas do Brasil: estudo de caso em depósitos de pirofilita, talco, e caulinita. Tese de Doutorado, Instituto de Geociências, UNICAMP, Campinas-SP, 210 p. ULLMANN, Gustavo; LUDERITZ, Dejanira Saldanha, MONGUILHOTT, Michele. 2009. Caracterização espectral das rochas, suas alterações e solos associados localizados no escudo sul-rio-grandense, RS. construção de uma biblioteca espectral digital on-lineresultados parciais. Disponível em www.agbpa.com.br. acesso em outubro de 2009. [1] - Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Salvador-Bahia-Brasil. filipe.mello@ebda.ba.gov.br. Técnico em Desenvolvimento Rural, Mestre em Ciências Ambientais, Programa de Pós-graduação em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente. [2] - Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana-Bahia-Brasil. smobrito@uefs.br. Professora Doutora, Programa de Pós-graduação em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente. [3] - Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana-Bahia-Brasil. joselisa@uefs.br. Professora Doutora, Programa de Pós-graduação em Modelagem em Ciências da Terra e do Ambiente. 137