1.1 Descrição do Problema

Documentos relacionados
1 Introdução A TV Digital no Brasil

Prof. Cláudio Henrique Albuquerque Rodrigues

PLANO BÁSICO DE DISTRIBUIÇÃO DE CANAIS DIGITAIS - PBTVD

1.1 Breve Histórico OFDM

TV Digital. Análise de Sistemas de Comunicações 2017/II Maria Cristina Felippetto De Castro

3 Sistemas SFN. 3.1 Características da SFN

Sistemas de Radiodifusão Sonora Digital Terrestre

IGIP 2011 MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA RECEPÇÃO DO SISTEMA ISDB-TB EM AMBIENTE INDOOR. Prof. Dr. Fujio Yamada. Valderez de Almeida Donzelli

4 Simulações LTE e SBTVD na faixa de frequência de 700 MHz

1 INTRODUÇÃO 1.1. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA

Figura 1: Modelo de referência em blocos de um transmissor de TV Digital qualquer

Redes de Difusão Digital Terrestre

5 EQUIPAMENTOS DE MEDIDAS

TE111 Comunicação Digital. Desempenho em Canais com Desvanecimento Rayleigh. TE111 Comunicação em Canais com Desvanecimento. Evelio M. G.

Técnicas de Acesso Múltiplo: FDMA e TDMA. CMS Bruno William Wisintainer

Distribuição de sinais para o sistema Brasileiro de TV Digital

Conferência Internacional Espectro, Sociedade e Comunicação IV. Rafael Diniz - Universidade de Brasília

SET 2017 PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DO LABORATÓRIO DE PESQUISAS EM TV DIGITAL DO MACKENZIE

Arquitetura do Sistema Brasileiro. Novos Recursos. Aplicações. Middleware

Sistema de Transmissão no Padrão Brasileiro de TV Digital

Medidas de Avaliação de Desempenho da Unidade Conversora para o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTVD)

5 Metodologia de Captura e Análise de Dados

Universidade de Pernambuco Escola Politécnica de Pernambuco

6 APLICAÇÃO DOS MODELOS DESENVOLVIDOS

Figura 39 Cobertura do transmissor 5 (autoria própria)

Medidas de Avaliação de Desempenho do Bloco Receptor/Demodulador de Conversores Digitais do Sistema Brasileiro de Televisão Digital

3.3 Interferências por Multipercurso - Simulação de canais com múltiplos ecos.

Reforçadores auxiliares

Propagação em Pequena Escala. CMS Bruno William Wisintainer

Qualidade. Confiança. Inovação.

Tabela 1 - Regulamentação Técnica dos Serviços de Radiodifusão Sonora no Brasil. Regulamentação Técnica

RÁDIO DIGITAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

Vetor Campo Elétrico

1.1. Objetivos e Contribuições

MPEG-2 TSP protegido pelo código RS

Tiago Guedes 10º 13ª

SRTV/Sul Quadra 701, Bloco H, Sala 502 Edifício Record CEP: Tel./Fax: (0xx-61) Brasília DF

Conceitos básicos de comunicação. Prof. Marciano dos Santos Dionizio

Televisão Digital Terrestre

PORTARIA n.º 475 de 12 de dezembro de 2008.

Uma abordagem educacional para o estudo de OFDM

WORKSHOP: O FUTURO DA TDT EM PORTUGAL

TRANSMISSOR DE TV DIGITAL. Francisco Januário Bacharel em Engenharia de Telecomunicações Mestrando em Engenharia Elétrica

ESTUDO DE COBERTURA TDT

ESTUDO DE COBERTURA TDT

TE111 Comunicação Digital

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE COMPUTAÇÃO. Professor Leonardo Gonsioroski

ESTUDO DE COBERTURA TDT

Cargas Úteis CTEE 20:59 1

Sistema de acesso a dispositivos eletrônicos através da TV Digital interativa. Aluno: Rodrigo Brüning Wessler Orientador: Francisco Adell Péricas

6 Análise dos Resultados das Medições

2 Padrões de TV Digital

AVALIAÇÃO DA COBERTURA TDT

Planeamento de uma Rede sem Fios IEEE e no Concelho da Covilhã

O TDT e as televisões interconectadas

ÍNDICE. ix xi xiii xxi

Norma de TV digital criada a partir do ISDB-T (Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial) e adicionando modificações Brasileiras

TV TRANSMITTER Transmissor de TV Digital UBX Line

Conceitos de Transmissão sem Fio

XIX Encontro de Iniciação à Pesquisa Universidade de Fortaleza 21 à 25 de Outubro de 2013

Introdução aos Sistemas de Comunicações

ESTUDO DE COBERTURA TDT

Caracterização do Canal de Propagação para Redes de TV Digital de Freqüência Única

NORMA TÉCNICA DE FM ATUAL

Acesso Múltiplo por Divisão de Código CDMA

TV Digital Interativa: Oportunidade ou Sonho? TV Digital

comum apresentando, em caráter informativo, os três padrões anteriormente mencionados.

7 Comparação dos Resultados das Simulações e Medições 7.1. Introdução

2 Local Multipoint Distribution System LMDS

6 Cálculo de cobertura de sistemas de TV Digital

1 O esquema de Alamouti: Diversidade na transmissão

ECC/DEC/(04)05 COMITÉ DE COMUNICAÇÕES ELECTRÓNICAS

ESTUDO DE COBERTURA TDT

Redes de Computadores

6. Conclusões Estatística do sinal

UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS RESOLUÇÕES 284 E 398 COMO CRITÉRIO PARA A DEFINIÇÃO DA ÁREA DE COBERTURA PARA OS SISTEMAS DE TV DIGITAL ATSC, DVB-T E IDSB-T

DO PLANEJAMENTO ATÉ IMPLANTAÇÃO DA REDE: PREDIÇÃO DE COBERTURA AS BUILT DA INSTALAÇÃO MEDIDAS DE SINAL EM CAMPO CONFORMIDADE LEGAL.

PROJETO DE LEI N o 4799, DE 2009

Área de Serviço 2 Área de Serviço 1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CAROLINA DUCA NOVAES REDES DE REDISTRIBUIÇÃO DE SINAIS A PARTIR DE REDES DE FREQUÊNCIA ÚNICA (SFN)

ANEXO À RESOLUÇÃO N.º 455, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2006.

É POSSÍVEL MEDIR A OCUPAÇÃO EFICIENTE DO ESPECTRO?

para promover melhorias na transmissão, suportar o envio de televisão de

Planilha1. 11 Sistema de Transmissão de Sinais de Televisão Digital Terrestre

TDT Televisão Digital Terrestre

SUMÁRIO FUNDAMENTOS E VISÃO GERAL 19 CAPÍTULO 1 PROCESSOS ALEATÓRIOS 49

Utilização do LTE no Serviço Limitado Privado

Computação Móvel: Teoria da Informação e Modulação

Prof. Samuel Henrique Bucke Brito

ANEXO À RESOLUÇÃO N.º 398, DE 7 DE ABRIL DE 2005 ANEXO 1

Camada Física. Camada Física

Geraldo Neto Gerente de relações governamentais 700 MHz Convivência entre LTE e TV Digital

Resolução nº 625, de 11 de novembro de 2013

PANORAMA ATUAL A TV DIGITAL TERRESTRE NO BRASIL. ARA APKAR MINASSIAN Superintendente de Serviços de Comunicação de Massa - ANATEL

Radiodifusão Sonora Digital

ESTUDO DE COBERTURA TDT

TENDO EM VISTA: O Tratado de Assunção, o Protocolo de Ouro Preto e as Resoluções N 38/95, 15/96 e 20/96 do Grupo Mercado Comum.

ESTUDO DE COBERTURA TDT

Transcrição:

1 Introdução Os sistemas de televisão aberta estão passando, atualmente, por um processo de substituição de suas plataformas analógicas por plataformas e tecnologias digitais. Esta mudança está provocando forte impacto em todo o mundo e o Brasil não é exceção. Para a escolha do padrão a ser utilizado no Brasil foram realizadas diversas avaliações das tecnologias ISDB-T (japonesa), DVB-T (européia) e ATSC (norteamericana). Em junho de 2006, o governo brasileiro definiu que o padrão de televisão digital a ser adotado no país teria como base o padrão ISDB-T (Integrated Service Digital Broadcasting Terrestrial). O Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), cuja implantação foi iniciada em 2 de dezembro de 2007 em São Paulo, já está disponível nas maiores cidades brasileiras desde o final de 2008. Embora seguindo um padrão tecnológico similar ao sistema japonês, o SBTVD inclui diversas melhorias e inovações brasileiras. Estas modificações foram desenvolvidas e implementadas para atender a diretrizes estabelecidas pelo Governo Brasileiro, sendo particularmente importante aquela que visa garantir a utilização do Sistema Brasileiro de TV Digital como instrumento de inclusão digital e social. Assim, além de utilizar uma tecnologia de codificação de imagens que permite aumentar o número de canais transmitidos, o sistema inclui uma plataforma de software embarcado denominada middleware GINGA, de concepção e desenvolvimento inteiramente brasileiros, que permite a transmissão de programas interativos bastante sofisticados. A implementação da interatividade no Sistema Brasileiro de TV Digital criará um poderoso instrumento de inclusão, através de aplicações de governo eletrônico e educação à distância, contribuindo para reduzir a divisão digital e as desigualdades sociais no País. No Brasil, as características principais do sistema de TV digital são a recepção doméstica através de antenas internas e a recepção móvel em ambientes urbanos, que requer a utilização de múltiplos transmissores numa mesma frequência para garantir a cobertura de zonas de sombra. Isto torna necessário um

14 estudo minucioso dos efeitos de propagação na faixa de VHF e UHF nestas condições. Além do uso de modelos propostos na literatura técnica, é de grande importância a realização de experimentos de campo para a coleta de dados de propagação em diferentes tipos de ambiente, que permitam a criação de métodos mais precisos e ferramentas computacionais mais eficientes para os projetos de engenharia e simulações computacionais. Adicionalmente, as condições de propagação no Brasil limitam o uso de modelos desenvolvidos com base em dados coletados em outras regiões, tanto por nossas características climáticas (climas tropical e equatorial) como pelas características arquitetônicas e construtivas das edificações. 1.1 Descrição do Problema O serviço de televisão aberta por radiodifusão (broadcasting) utiliza, além do transmissor principal de cada canal, uma rede de estações retransmissoras para expandir sua área de cobertura. No Brasil, para o serviço de televisão analógica atual adota-se o sistema MFN (Multi Frequency Network), onde uma determinada programação é transmitida em diferentes canais por repetidores em localidades próximas mas não cobertas pelo transmissor principal (estação geradora). O reuso de frequências para este sistema foi estabelecido, originalmente, pelo comitê técnico do FCC (Federal Comission Communication) norteamericano. Definiu-se que emissoras transmitindo num mesmo canal de UHF devem manter uma distância mínima para se evitar interferência mútua. Devido às dificuldades de controlar a interferência entre canais adjacentes com filtros simples e de baixo custo, adotou-se a estratégia de utilização alternada de canais para a transmissão numa mesma localidade. No Brasil, tem-se para a televisão analógica, aproximadamente 434 canais para estações geradoras e cerca de 5223 canais para estações retransmissoras [1]. Assim, os canais utilizados para retransmissão superam em cerca de doze vezes os canais utilizados para geração de programação. Esse sistema não preserva o espectro eletromagnético e aumenta muito o problema de interferência em locais congestionados, ou seja, grandes centros urbanos que requerem muitos canais em uma área restrita.

15 Considerando o atual processo de implantação do sistema de TV digital brasileiro, onde a cada concessionária autorizada a prestar o serviço de radiodifusão de TV analógica, é atribuído um canal adicional de radiofrequência com largura de banda de 6 MHz a fim de permitir a transição para a tecnologia digital, pode-se se esperar uma situação de interferência ainda mais crítica do que a existente. Caso o modelo MFN seja adotado no Brasil para a TV digital, pode-se prever que o novo sistema irá herdar as interferências presentes no sistema analógico e estará preso a todas as limitações do atual plano de frequências. Além disso, uma característica marcante do sistema digital é que o limiar da potência de recepção, embora mais baixo se comparado ao de recepção analógica, é muito abrupto. Isto significa que em situações onde existe um sinal analógico muito precário, caracterizado por uma imagem chuviscada, mas ainda é possível de ser assistida, pode não haver sinal decodificável para o receptor digital. Caso o sinal supere o limiar de forma intermitente a programação não terá condições de ser assistida, pois a falta de continuidade irá gerar os conhecidos efeitos de bloco, congelamento, tela preta e corte de áudio, ao contrário do sinal analógico fraco que, embora gere uma imagem ruim, pode ser assistido devido à sua continuidade de vídeo e áudio. A figura 1.1 ilustra o problema dos limiares de recepção analógica e digital, também conhecido por efeito cliff ou efeito knee. Figura 1.1 Comportamento da qualidade de vídeo digital e analógico em função da intensidade de Campo Devido a este efeito, diferentemente do que ocorre num planejamento analógico, no sistema digital áreas com baixo nível de sinal devem ser tratadas como áreas de sombra (sem sinal). A solução para este problema consiste em utilizar um retransmissor, denominado gap-filler, para garantir a cobertura no local, sendo que muitos poderão ser necessários dentro da área de cobertura do

16 canal principal da estação geradora. O custo da implantação de gap-fillers deverá ser levado em consideração na implantação da TV digital, somando-se ao custo da substituição de toda a rede de retransmissão. Uma alternativa possível no caso de sistemas digitais com modulação OFDM é a utilização de uma rede SFN (Single Frequency Network). Este tipo de modulação, quando utilizada com a inserção de um intervalo de guarda sob a forma de prefixo cíclico de duração adequada, permite ao receptor processar corretamente múltiplos sinais de entrada de mesma frequência em um ambiente com desvanecimento por multipercursos. Isso cria a possibilidade de servir uma grande área com transmissores sincronizados, localizados ao longo da área de serviço, usando a mesma faixa de frequência (simulcasting). Desde que a resposta impulsional não apresente componentes significativas em instantes que excedam a duração do intervalo de guarda do sistema, a interferência inter-símbólica será desprezível [2]. Assim, a arquitetura de transmissão SFN, ou rede de frequência única, é uma alternativa vantajosa em relação à transmissão MFN (Multiple Frequency Network) ocupando muito menos espectro. Alguns países da Europa e Ásia já contam com redes SFN operacionais para expansão de suas redes de TV digitais terrestres [3,4]. Com a introdução da radiodifusão digital utilizando modulação OFDM que é robusta perante o ruído impulsivo [5] e ao multipercurso, as redes SFN deverão substituir as clássicas redes MFN de radiodifusão analógicas. O preço a pagar pelo ganho obtido com a alocação de espectro é a necessidade de um projeto eficiente de topologia de rede no lado do transmissor e um processamento mais sofisticado do sinal no lado do receptor. A transmissão simultânea cria um ambiente de radiodifusão equivalente à propagação de multipercurso com ecos fortes, que precisa ser considerado para evitar interferência inter-simbólica (ISI) e interferência entre portadora (ICI Inter-Carrier Interference). 1.2 Motivação A análise do desempenho dos serviços de radiodifusão requer medições em campo, mas seu uso exclusivo tem duas desvantagens significativas: em primeiro lugar, as medições tem alto custo tanto em termos financeiros como em

17 tempo de execução; em segundo lugar, seus resultados caracterizam o desempenho do sistema, em termos da qualidade de recepção, apenas na condição específica em que as medições foram realizadas. Este trabalho tem como objetivo caracterizar o canal de propagação de banda larga na faixa de TV digital para redes SFN, para garantir a viabilidade de que os sinais de uma estação geradora de programação e toda a sua rede de retransmissão utilizem em um único canal de frequência [6]. A caracterização será feita a partir medições em campo numa SFN real com dois transmissores, instalada no Rio de Janeiro. O desenvolvimento de modelos para o canal a partir destas medições permite executar simulações tanto para o teste do desempenho de receptores em diferentes condições de propagação como desenvolver ferramentas de software para o projeto e análise de sistemas. 1.3 Organização do Trabalho Em sequência a este capítulo introdutório, o capítulo 2 apresenta o modelo utilizado para análise da perda média de propagação no canal, bem como uma descrição resumida dos principais modelos existentes na literatura técnica que serão utilizados na caracterização de banda larga do canal SFN. No capítulo 3 é feita uma abordagem das variantes possíveis de uma configuração SFN e a geometria adequada para uma análise mais aprofundada destes sistemas para as faixas de freqüência de VHF e UHF. O capítulo 4 apresenta o setup utilizado para as medições, com a descrição de todos os equipamentos utilizados para transmissão, recepção, aquisição e análise dos dados. O capítulo 5 descreve o ambiente de medidas e a metodologia empregada no planejamento e execução dos testes. É feita uma análise da perda média de propagação e a comparação com as previsões fornecidas para os mesmos percursos pela implementação do modelo ITU-R. A seguir, são apresentadas as técnicas de processamento de dados utilizadas, bem como os modelos de canais obtidos e os resultados da caracterização em banda larga do canal. Por fim, o capítulo 6 relata todos os resultados obtidos, com as conclusões do trabalho e sugestões para trabalhos que podem ser desenvolvidos futuramente.