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Transcrição:

Reitora Vice-Reitora Nádina Aparecida Moreno Berenice Quinzani Jordão Editora da Universidade Estadual de Londrina Diretora Conselho Editorial Maria Helena de Moura Arias Ângela Pereira Teixeira Victória Palma Edna Maria Vissoci Reiche Gilmar Arruda José Fernando Mangili Junior Maria Helena de Moura Arias (Presidente) Maria Rita Zoega Soares Marta Dantas da Silva Nilva Aparecida Nicolao Fonseca Pedro Paulo da Silva Ayrosa Rossana Lott Rodrigues A Eduel é afiliada à

Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina. Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) T681s Torezan, Zeila Cristina Facci. Sublimação, ato criativo e sujeito na psicanálise / Zeila Facci Torezan. Londrina: Eduel, 2012. 150 p. : il. ; 23cm. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7216-592-1 1. Sublimação. 2. Criatividade. 3. Psicanálise. I. Título. CDU 159.964.21 Direitos reservados à Editora da Universidade Estadual de Londrina Campus Universitário Caixa Postal 6001 86055-900 Londrina PR Fone/Fax: 43 3371 4674 e-mail: eduel@uel.br www.uel.br/editora Impresso no Brasil / Printed in Brazil Depósito Legal na Biblioteca Nacional 2012

Para Isabela e Laura, que já me dedicaram tantas das suas preciosas criações.

vii Nota preliminar e agradecimentos Este livro foi organizado a partir da minha tese de doutorado, uma pesquisa teórica que visou o recorte e o entrelaçamento dos três aspectos aqui apresentados: afirmar a presença do sujeito, na acepção psicanalítica do termo, na sublimação via ato criativo. Neste momento, o ato de publicar o trabalho em forma de livro é a expressão do desejo de compartilhar os caminhos percorridos e as formulações produzidas com todos os interessados pelo tema. Reitero os meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. Fernando Aguiar por suas sugestões, pela atenta e cuidadosa leitura do texto e, sobretudo, por sua postura sempre ética e respeitosa. De maneira especial, expresso minha profunda gratidão àqueles que, de diferentes maneiras, estiveram presentes no ato de criação que resultou neste livro por mim assinado: aos meus pais (in memorian), Pedro e Noêmia, por me transmitirem o dom da vida no mais amplo sentido; às minhas queridas irmãs, particularmente à Denise e Dionete (in memorian), pelas portas abertas que muito contribuíram para trilhar o caminho até aqui; ao Marcelo, pelo constante incentivo e renovável amor e às minhas filhas, Isabela e Laura, por existirem de maneira tão doce. Por fim, gostaria de registrar que a produção deste trabalho foi muito prazerosa e espero que a leitura possa ser também agradável a você leitor, assim como promotora de interlocução e diálogo.

Sumário xi 15 23 51 89 113 141 Prefácio Dos motivos e caminhos Capítulo 1 O sujeito em questão Capítulo 2 A sublimação: da construção ao resgate do conceito Capítulo 3 Ato criativo: o sujeito na sublimação Capítulo 4 Enlaces finais Referências

xi Prefácio Ao longo de dois semestres letivos, e a cada semana, Zeila percorreu ao menos 700 km, de Londrina, onde mora, a Florianópolis, sede do nosso Programa de Pós-graduação em Psicologia (UFSC), para cumprir os créditos necessários ao doutorado. Nos três anos seguintes, e sobretudo nos fins de semana pois, como professora em início de carreira e, em parte, provedora da família, não poderia dar-se ao luxo de prescindir de uma pesada carga horária de cursos ela realizou sua pesquisa com dedicação e responsabilidade. O resultado de tal esforço e sacrifício foi a defesa de sua tese em tempo hábil e com louvor, e que a partir de agora se encontra disponível ao grande público. Este trabalho de pesquisa, portanto, passou antes pelo crivo do orientador, defendido diante de uma banca de professores e, finalmente, depois de examinado como de praxe pelas pessoas competentes, foi aceito para publicação por esta editora universitária cuja importância vem sendo devidamente reconhecida e apreciada. Trata-se, assim, de um trabalho muito bem avaliado e merecedor de se eternizar em formato-livro, em lugar de permanecer oculto nas prateleiras de alguma de nossas bibliotecas universitárias. Mas não convém esperar, neste caso, mais um desses escritos acadêmicos herméticos e muitas vezes tediosos de alcance tão limitado quanto específico. Pelo contrário, junto com o rigor metodológico próprio do fazer universitário, devo justamente ressaltar sua clareza e concisão, características reveladoras do evidente talento de Zeila, e que ela soube aprimorar passo a passo no decorrer dessa tarefa de grande fôlego. Trata-se antes de tudo de um trabalho de pesquisa em consonância com seu tempo ao abordar a questão da subjetividade em nosso mundo contemporâneo, subjetividade esta que se manifesta, como tem sido apontado pelos autores concernentes e pela própria Zeila, mediante graus diversos de violência, de isolamento social em sua interface virtual nas relações humanas, enfim, em formas variadas de sofrimento psíquico que, embora existentes desde sempre, até nos aparecem como novidades depressão, hiperatividade,

xii Sublimação, ato criativo e sujeito na psicanálise adicções, síndrome do pânico são aqui citados, bem como, em termos coletivos, mudanças evidentes na organização familiar. Em uma palavra, manifestações de fadiga crônica, conforme Pura Cancina, e de redução do espírito ou das cabeças, como assinala Dufour referências estas, entre tantas outras, bem escolhidas por Zeila, e que levam ainda em conta a ideia de um abalo na noção de sujeito de desejo proposta pela psicanálise, em função das condições específicas pelas quais o mundo contemporâneo é hoje regido e à revelia desse sujeito voltado para o consumo de bens tão supérfluos quanto passageiros. Por tudo isso, Zeila vê na sublimação, tal como proposta por Freud e desenvolvida por Lacan, um valor clínico inestimável, não sem antes precisar que o termo clínica é aqui utilizado de modo mais amplo que sua condição original de tratamento deixa entrever. A leitura da psicanálise levada a cabo pela autora inclui a ideia de uma clínica do social, assentada no fato de que os discursos e a organização social interferem de modo cada vez mais significativo na constituição e no funcionamento subjetivos. Zeila não se abstém nem mesmo de apontar um paradoxo em sua ousada e complexa proposta: se por um lado a apatia e a resistência à lei da falta que parecem caracterizar o sujeito contemporâneo podem criar dificuldades à sublimação e ao ato criativo, é também este destino pulsional sublimatório postulado por Freud que pode vir a permitir a emergência desse mesmo sujeito mediante o ato criativo. Cabe assim sublinhar aqui a originalidade da abordagem desse conceito psicanalítico o de sublimação tão importante quanto merecedor de esclarecimentos mais precisos. Sabe-se que Freud tinha a intenção de publicar uma coletânea de 12 artigos intitulada Elementos para uma metapsicologia, dos quais apenas cinco lograram êxito entre eles, hélas, não está aquele dedicado à sublimação como planejado no início. Tampouco o conceito voltaria a ser objeto de uma investigação exclusiva, ainda que jamais Freud deixasse de sublinhar sua importância capital para a doutrina psicanalítica (em particular, a sublimação como um dos destinos da pulsão). Embora teoricamente incompleta na investigação freudiana, o conceito sofreu desdobramentos e avanços na abordagem de Lacan, e por essa via outros autores contemporâneos

Prefácio xiii a ele retornassem visando a sua elucidação. O trabalho de Zeila inscreve-se honrosamente nesta tradição. Não se trata de toda maneira de algo fácil a cumprir. Para Antoine Vergote, psicanalista, filósofo, teólogo e professor emérito da Universidade Católica de Louvain (UCL), em seu livro publicado (La psychanalyse à l épreuve de la sublimation, 1997, p. 7-8), embora Freud jamais tenha deixado de afirmar para o homem a necessidade de sublimar uma parte importante das pulsões libidinais, parece-lhe vã a tentativa do fundador da psicanálise de elaborar, ao longo de sua obra, a articulação conceitual do que foi por ele designado com o nome de sublimação. Constata um paradoxo ( exorbitante ) que, a seu ver, atravessa todos os escritos freudianos: Uma sublimação requerida pela teoria psicanalítica e impensável no interior dessa teoria. Isso significa, em seus próprios termos, que um verdadeiro conteúdo de pensamento não seria recoberto pelo termo sublimação? Não passaria de uma ideia imaginária? Em uma palavra, não seria mais do que uma ideia mítica, reconfortante para o homem de cultura, mas não ajustável, numa configuração coerente, às outras ideias freudianas? Ora, chama a atenção do professor o fato de que apesar de tudo, Freud se obstina em manter a sublimação como um concept charnière, um ponto de junção, de articulação na construção teórica da psicanálise, nesse sentido de que ele diferencia e unifica o psicopatológico e a vida cultural, as forças pulsionais e as realizações do espírito (VERGOTE, 1997, p. 7-8). Não se trataria, contudo, a colocação de Freud deste conceito nesta posição, de uma operação puramente estrutural: para o professor, Freud quer pensar a real e essencial mutação psicológica que segundo ele a palavra designa. Parece-me ser esta, de alguma maneira, a posição de Zeila ao sustentar o valor clínico da ideia de sublimação. Também por isso (além do já referido sobre seu trabalho), estou certo de que este livro agradará não só aos especialistas de nossa disciplina que não deixarão de notar os avanços e precisões conceituais oferecidas pela autora, mas também ao leitor leigo interessado em psicanálise. Em uma palavra, como ex-orientador de Zeila, sinto-me orgulhoso de que este trabalho seja agora apreciado também por um leitorado mais amplo, tal como desde sempre foi o destino feliz de inúmeras obras psicanalíticas. É que a

xiv Sublimação, ato criativo e sujeito na psicanálise psicanálise, nascida no consultório de Freud e de suas prementes necessidades clínicas, é também fruto do interesse que seu fundador nunca deixou de evidenciar por vários campos do saber vem daí, igualmente, o interesse que esses campos sempre demonstraram pelas aquisições psicanalíticas. Boa leitura a todos! Fernando Aguiar Louvain-la-Neuve, Bélgica Setembro de 2011