O tempo da academia ou o frenesi das redações? Reflexões sobre a periodicidade das revistas laboratoriais

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FÓRUM NACIONAL DE PROFESSORES DE JORNALISMO (FNPJ) 4º ENCONTRO PAULISTA DE PROFESSORES DE JORNALISMO MODALIDADE DE TRABALHO: Relato de Experiência GRUPO DE TRABALHO: Revista O tempo da academia ou o frenesi das redações? Reflexões sobre a periodicidade das revistas laboratoriais André C. T. Santoro 1 andresantoro@mackenzie.com.br Resumo: A publicação de jornais e revistas faz parte dos projetos pedagógicos e das matrizes curriculares dos cursos de jornalismo. Mas a dinâmica da sala de aula ou das oficinas de redação raramente se aproxima do ritmo de produção das empresas jornalísticas, o que impõe aos veículos algumas restrições, como a dificuldade em se estabelecer uma periodicidade fixa. A partir da análise da revista Narrativa, produzida pelos alunos do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, são propostas reflexões sobre essas limitações e sobre os caminhos possíveis para um melhor aproveitamento dos veículos impressos laboratoriais. Palavras-chave: Revista-laboratório; periodicidade; jornalismo impresso Desde 2004, os alunos do curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) têm a oportunidade de participar do processo de elaboração da revista Narrativa. Trata-se de uma publicação com periodicidade semestral e tiragem aproximada de 1.000 exemplares, distribuídos majoritariamente na própria universidade, mas também em empresas, organizações não-governamentais e instituições de ensino. Com pautas variadas, a revista é voltada principalmente ao formato que se convencionou chamar de Grande Reportagem matérias com apuração mais aprofundada e textos mais extensos, que passam por um processo de edição mais cuidadoso que os textos noticiosos. Atualmente, a revista tem oito edições publicadas e uma em processo de finalização, com lançamento previsto para outubro de 2008. As matérias são realizadas individualmente pelos alunos, que são os repórteres, fotógrafos, diagramadores, revisores e, em alguns casos, editores da revista. Os professores são os editores-chefes. As pautas são decididas conjuntamente entre alunos e professores, sendo que cabe aos mestres a palavra final sobre o foco de cada edição e a aprovação das pautas. Fica a cargo dos alunos, com supervisão dos professores: levantar as informações para a elaboração dos textos, incluindo pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo, entrevistas etc.; produzir as 1 Professor do Curso de Jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie (Centro de Comunicação e Letras).

fotografias; redigir e editar os textos; fazer a revisão final das matérias; diagramar, preparar as provas para impressão e distribuir os exemplares cabe salientar que, apesar de o projeto original prever essas tarefas, nem sempre elas são realizadas nesses termos, devido a inúmeros fatores, dos quais a escassez de tempo é sempre o preponderante. O autor deste relato participa do projeto desde a primeira edição, como professor e editor. Os resultados são louváveis: em oito edições, foram publicadas mais de uma centena de grandes reportagens que, em maior ou menor escala, permitiram aos alunos vivenciar, de fato, o processo de elaboração de grandes reportagens. Do ponto de vista pedagógico, é inquestionável a importância da revista na formação dos alunos. Mas, às vésperas da finalização das matérias da décima edição, que corresponde ao segundo semestre do quinto ano do projeto original, algumas reflexões são bem-vindas, não só no sentido de aprimorar o produto jornalístico em si, mas também para oferecer uma visão particular que pode ser útil à discussão sobre a viabilidade e a relevância de projetos semelhantes em outras instituições de ensino aspecto enfatizado neste relato. Tempos distintos A produção de revistas semanais, quinzenais, mensais ou com qualquer outra periodicidade exige uma dinâmica específica, com matizes que variam bastante entre as redações. Além da preocupação com a manutenção do projeto editorial original, as publicações ditas comerciais, feitas com o objetivo de gerar receitas para as respectivas editoras, não podem prescindir de uma característica essencial: a periodicidade. Uma revista mensal, aconteça o que acontecer, precisa chegar às bancas todos os meses em um período definido previamente. Em geral, o lançamento segue um fluxo semanal: a cada quatro semanas, aproximadamente, uma nova edição deve estar pronta, entregue aos assinantes ou disponível para compra em bancas. Entre outras conseqüências, a publicação que não logra esse ritmo constante de lançamentos pode perder leitores. Na academia, o princípio da rentabilidade não se aplica de forma direta, embora faça sentido afirmar que um curso privado de Jornalismo que não tenha veículos sólidos e periódicos pode comprometer, com isso, a qualidade da formação dos seus alunos, o que pode ter algum tipo de reflexo na procura pelo próprio curso e, em última análise, no retorno financeiro do mesmo. E os processos internos de produção dos veículos laboratoriais não são montados com

base na estrutura empresarial de uma editora, com departamentos específicos para cuidar de cada um dos segmentos do negócio, além da produção jornalística em si: marketing, circulação, assinaturas etc. Esses dois fatores específicos publicação sem fins lucrativos e ausência de estrutura empresarial são alguns dos motivos, mas não os únicos, pelos quais as revistas laboratoriais, como a própria Narrativa, enfrentam dificuldades de se manter em um fluxo contínuo de produção. Desde o primeiro semestre de 2004, quando a revista em análise foi lançada, apenas as duas primeiras edições foram publicadas no fim dos respectivos semestres de produção. E como se trata de uma revista semestral produzida por alunos do último (8º) semestre do curso, julgamos que o resultado geral do processo de produção não é satisfatório quando a publicação chega às mãos dos leitores no semestre seguinte. O motivo é evidente: a avaliação da revista pronta, impressa e, eventualmente, distribuída, faz parte do conteúdo da disciplina Revista-Laboratório, na qual ela é produzida. E quando o produto não é finalizado antes do fim do semestre, essa atividade não é realizada, prejudicando o desenvolvimento dos alunos. Em se tratando de uma revista produzida no último semestre, o prejuízo é ainda maior, pois quase todos os alunos concluem o curso e obtêm a graduação antes de ver o resultado do seu trabalho. Propostas para reflexão Diante das limitações e conseqüências apresentadas, faz-se necessário buscar soluções para tentar equacionar o problema. Veículos impressos laboratoriais constituem uma formação necessária ao profissional que pretende ingressar no mercado de jornalismo. E a periodicidade, que é um dos aspectos relacionados à produção dos mesmos, se impõe como um dos principais desafios à realização dos projetos editoriais. Como sair do impasse? Apresento a seguir três propostas de reflexão baseadas na experiência docente do autor e no acompanhamento dos demais veículos produzidos dentro do curso de Jornalismo da UPM, bem como de produtos laboratoriais desenvolvidos em outras instituições de ensino. É importante enfatizar que o objetivo deste relato não é apontar soluções, mas estimular o debate sobre o problema. 1) Atividades voluntárias

Em muitos cursos de Jornalismo, entre os quais o da UPM, os projetos pedagógicos e as estruturas curriculares prevêem a realização dos veículos laboratoriais dentro de disciplinas específicas. No caso da revista Narrativa, a produção é imposta, como atividade obrigatória, aos alunos da disciplina Revista-Laboratório. A mesma situação é verificada no processo de produção de outros periódicos desenvolvidos pelos alunos da referida instituição. As vocações individuais, portanto, nem sempre são levadas em conta na definição das equipes de produção. E essa situação, muitas vezes, deflagra problemas perceptíveis. Um aluno com inclinação ou vocação para a área de comunicação empresarial, por exemplo, pode sentir-se desconfortável quando obrigado a desenvolver uma grande reportagem, em função da necessidade de aprovação em uma disciplina específica. E a situação oposta, embora não seja objeto deste relato, também se verifica. A solução pode passar pela transformação das atividades práticas ao menos daquelas que devem resultar em produtos específicos e com periodicidade definida em tarefas complementares realizadas por equipes de alunos voluntários, com aptidão real para os projetos que desejam desenvolver. 2) Redação experimental Especificamente na UPM, não há uma redação que centraliza a produção de todos os veículos impressos desenvolvidos pelos alunos do curso. O que se verifica é a dispersão de iniciativas em salas de aula e laboratórios capitaneados por professores diferentes que, cada um a seu modo, se valem dos recursos disponíveis e apelam para a criatividade quando não há recurso algum para produzir os periódicos sob sua responsabilidade. Na interpretação do autor deste relato, esse modelo de produção traz uma série de limitações, entre elas a já citada falta de periodicidade fixa dos veículos. Aqui, uma das soluções possíveis é a criação de redações experimentais com a estrutura típica das redações tradicionais, em que diversos alunos possam interagir com professores responsáveis pelas publicações em um universo comum, criado com o objetivo único de viabilizar a produção dos veículos impressos. 3) Identidades assumidas Jornalistas profissionais que trabalham em revistas e jornais devem lidar com os desafios impostos pelo ofício, entre eles o de cumprir prazos muitas vezes inexeqüíveis para que as publicações se mantenham dentro de uma periodicidade definida. E o debate em torno da necessidade de realização de atividades práticas por parte de estudantes de Jornalismo muitas vezes aponta para a importância da apropriação de algumas rotinas tipicamente profissionais e não-acadêmicas pela universidade, para que o aluno seja treinado e se familiarize com os

processos típicos do mercado de trabalho. Essa premissa, aplicada em muitas universidades, tem a sua razão de existir. Afinal, espera-se que um jornalista recém-formado conheça minimamente as dinâmicas internas das redações antes de pisar em uma delas. Mas há controvérsias sobre a necessidade de aplicação inflexível das práticas das empresas jornalísticas às tarefas que devem ser realizadas pelos alunos. E vale ressaltar que numa discussão democrática e acadêmica não se deve levar em conta, ao pé da letra, as diretrizes curriculares dos cursos de Comunicação Social, que indicam a produção laboratorial como um item indispensável à formação do aluno e à aprovação do curso pelas instâncias governamentais. Em relação à periodicidade dos veículos, cabe um questionamento: até que ponto ela é realmente necessária? Qual seria o resultado de uma revista ou jornal laboratorial vinculado ao projeto pedagógico de um curso de jornalismo que não exigisse de alunos e professores uma periodicidade fixa, mas flutuante, que se definisse de acordo com a produção de reportagens relevantes? Não há fórmulas aplicáveis, de forma homogênea, a todos os projetos pedagógicos vigentes. Mas a reflexão é bem-vinda. Bibliografia SCALZO, M. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2003 TRAQUINA, N. Teorias do Jornalismo. 2. ed. Volumes 1 e 2. Florianópolis: Insular, 2005 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO / CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Parecer CNE/CES nº. 492 com as diretrizes curriculares dos cursos de Comunicação Social. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/ces0492.pdf>. Acesso em 30/09/2008. UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE. Curso de Jornalismo / Centro de Comunicação e Letras: Plano de Ensino da disciplina Revista-Laboratório. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/graduacao/ccl/jornalismo/plano_ensino_2o_2008/8a_etap a/revista_laboratorio.pdf>. Acesso em 30/09/2008.