AVALIAÇÃO DOS FUNGOS ENTOMOPATOGÊNICOS Metarhizium anisopliae E Beauveria bassiana NO CONTROLE DE Thrips tabaci NA CEBOLA Dalprá, Leandro 1 ; Campos, Fernando Joly 2 Instituto Federal Catarinense, Rio do Sul/SC INTRODUÇÃO O Alto Vale do Itajaí é a principal região produtora de cebola do Estado de Santa Catarina, destacando-se as microrregiões dos municípios de Ituporanga, Rio do Sul e do Tabuleiro, onde se concentra 85% da produção do Estado. Devido à característica fundiária desses municípios, que é formada por pequenas propriedades, o cultivo de hortaliças representa uma importante opção econômica, sendo que a cebola é a principal hortaliça plantada nessa região e é responsável pelo emprego direto de aproximadamente 20 mil famílias. Outro fator relevante é a geração de renda de 40 milhões de reais por ano (IBGE, 2003). Dos principais problemas fitissanitários da cultura a cebola destaca-se o tripes ou piolho da cebola, Thrips tabaci (Linderman, 1888) (Thysanoptera: Thripidae), que causa sérios danos à cultura devido a seu hábito alimentar. Os adultos e ninfas de T. tabaci instalamse em colônias na parte interna das folhas, na região da bainha, raspando a sua superfície e alimentando-se de seiva e grãos de pólem. O seu ataque pode facilitar o ataque de patógenos e também pode reduzir o tamanho e o peso dos bulbos em mais de 50% (SAINI et al., 1989). Devido aos sérios problemas causados pelo seu ataque é comum a utilização intensa de agrotóxicos na época de maior densidade populacional da praga (alta temperatura e baixa precipitação pluviométrica), o que resulta na pulverização de agrotóxicos uma ou duas vezes por semana, mesmo em populações abaixo do nível de dano econômico. Os principais produtos utilizados são organofosforados, piretróides, que são produtos pouco seletivos, e neonicotinóides, que são produtos mais seletivos, porém de custo de aplicação mais alto, 1 Acadêmico do Curso de Agronomia 2 Eng. agr., Dr., Instituto Federal Catarinense - Câmpus Rio do Sul
tornando a sua utilização menos viável para os agricultores. A utilização desses inseticidas representam riscos tanto ao meio ambiente quanto ao produtores e consumidores. Por serem inseticidas não seletivos, a utilização dos organofosforados e o piretróides resulta e diminuição bastante drástica dos inimigos naturas das pragas que ocorrem na cultura, causando assim desequilíbrios e ressurgência de pragas, além dos riscos ambientais, como contaminação de animais silvestres, lençóis freáticos, solo, etc. Dessa forma a utilização do controle biológico de pragas tem sido mostrada como uma alternativa viável para a adoção de estratégias mais racionais para o controle de pragas, diminuindo assim os riscos ambientais, de contaminação do produto final e também de intoxicação do agricultor. Como agente biológico para o controle de pragas destaca-se a utilização de fungos entomopatogêncicos, isto é, fungos que causam doenças em insetos. Segundo ALVES (1998) os fungos são responsáveis por 80% das doenças dos insetos, sendo esses fungos pertencentes a cerca de 90 gêneros e mais de 700 espécies. No Brasil os fungos mais utilizados no controle de pragas são Metarhizium anisopliae, Beauveria bassiana e Lecanicillium longisporum. Diversos pesquisadores trabalham com controle microbiano de insetos e esses estudos apresentam grande relevância atualmente, devido principalmente a exigência dos consumidores, o que tem forçado uma mudança na forma de condução das culturas, principalmente devido as exigência quanto a produtos livres de resíduos de agrotóxicos e por métodos de cultivos que minimizem os riscos ambientais resultantes da atividade agrícola. Sendo assim a possibilidade de utilização do controle microbiano dos tripes na cultura da cebola no Estado de Santa Catarina atenderá tanto a exigência dos consumidores, como poderá trazer benefícios aos agricultores, por permitir a utilização de produtos que não afetam os inimigos naturais e que não resultam em resíduos no produto final, além de poder ser utilizado tanto no cultivo orgânico quanto no cultivo convencional, já que esses fungos são compatíveis com muitos dos fungicidas utilizados na cultura da cebola. MATERIAL E MÉTODOS Sementes de cebola da variedade Thesis (262) (cultivar de verão) formam semeadas no dia 5 de maio de 2014 em vasos plásticos com capacidade para cinco litros. Foram semeados 50 vasos contendo substrato comercial para hortaliças (Plantmax ) misturado com terra na proporção de 2:1. Foram semeadas 10 sementes por vaso e após duas semanas do 2
plantio foi realizado o desbaste, sendo deixadas cinco plântulas por vaso. Os vasos foram mantidos em casa de vegetação e molhados diariamente. Para avaliar a eficiência dos fungos entomopatogênios no controle de tripes foram utilizadas as formulações comerciais Boveril (B. bassiana) e Metarril (M. anisipliae). O experimento foi constituído por cinco tratamentos: (1) pulverização com água destilada, (2) thiomethoxan (Actara 250 WG, Syngenta), (3) Boveril (05 g P.C./50 ml calda - 1x10 9 de conídios viáveis por grama do P.C.), (4) Metarril (01 g P.C./50 ml calda - 1,39x10 8 de conídios viáveis por grama do P.C.) e (5) Metarril (02 g P.C./50 ml calda). As pulverizações foram realizadas no dia 17 de junho de 2014, no final da tarde, com umidade relativa do ar acima de 70%,já que os fungos entomopatogênicos são fotossensíveis, tendo a sua viabilidade reduzida em situações de baixa umidade de incidência de raios solares. A pulverização foi realizada com o auxílio de um pulverizador manual quando a população de tripes atingiu o número médio de 13,8 ninfas de tripes por planta. Após cada pulverização o pulverizador foi lavado com água corrente para evitar que um tratamento influenciasse o outro. O número de ninfas por planta foi avaliado 6, 10, 21 e 29 dias após a pulverização com o auxílio de um microscópio estereoscópico. As plantas foram retiradas dos vasos para poder avaliar o número de tripes que ficam localizados na região da bainha das plantas. O delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, constituído por cinco tratamentos e cinco repetições. O número de insetos nas plantas de cebola, obtidos para cada avaliação, foram transformados utilizando a fórmula submetidos a análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, a nível de 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos no experimento evidenciam que não houve diferença estatística (p < 0,05) no número médio de tripes por planta entre os tratamentos (figura 1e tabela 1), sendo que os tratamentos com os bioensetidas Boveril e Metarril, nas duas concentrações utilizadas, não foram eficientes no controle de T. tabaci. O número de tripes foi semelhante ao tratamento com pulverização apenas com água destilada. O único tratamento que se mostrou eficiente no controle de tripes foi a utilização do inseticida neonicotinóide thiomethoxan (0,75 ml P.C./50 ml de calda). Este inseticida mostrou-se altamente eficiente até o 21º DAP (dias após pulverização), apresentando efeito residual de, ao menos, 21 dias, sendo que no 29º DAP a população de tripes nas plantas tratadas com este inseticida não foi estatisticamente 3
Número médio de tripes/planta diferente quando comparo com os outros quatro tratamentos. Apesar deste inseticida não ser registrado para o controle de T. tabaci na cultura da cebola, ele mostrou-se altamente eficiente no controle de tripes, sendo assim, novos experimentos com este inseticida, para avaliar a eficiência de diferentes doses, bem como o seu efeito residual, devem ser realizados. 30 25 20 15 10 5 Testemunha Actara Boveril Metarril 1 g/50 ml Metarril 2 g/50 ml 0 6 DAP 10 DAP 21 DAP 29 DAP Dias após pulverização Figura 1 - Número médio de adultos de Thrips tabaci na cultura da cebola após a aplicação de formulados comerciais de fungos entomopatogênicos no município de Rio do Sul, SC, em 2014. Tabela 1 - Número médio de adultos e ninfas vivos de Thrips tabaci por planta de cebola tratadas com diferentes formulados comerciais de fungos entomopatogênicos. Tratamentos 6 DAP* 10 DAP 21 DAP 29 DAP Testemunha 19,6 Aa 12,8 Aa 21,6 Aa 22 Aa Actara 0,0 Bb 0,6 Bb 0,8 Cb 27,4 Aa Boveril 25,8 Aa 23 Aa 7,4 BCb 12,6 Aab Metarril 1g P.C. 18,6 Aa 13,8 Aa 9,4 Ba 12,4 Aa Metarril 2 g P.C. 16,4 Aa 11,4 ABa 15 ABa 12,2 Aa * Dias após a pulverização. Médias seguidas pela mesma letra, maiúsculas na linha e minúsculas na coluna, não diferem estatisticamente (teste de Tukey, p < 0,05) Nenhum dos tratamentos com os formulados comerciais dos fungos entomopatogênicos foi eficiente no controle de tripes e também, na ocasião das avaliações, não foram observados insetos com sinais de infecção pelos fungos, como a presença de hifas 4
brancas, para o Boveril, ou hifas verdes, para o Metarril, evidenciando a ineficiência destes produtos aos tripes. Este resultado pode ser resultado da baixa viabilidade dos conídios das formulações comerciais, o que, segundo relatos de pesquisados que atuam na área de patologia de insetos, tem ocorrido devido a problemas no controle de qualidade na empresa produtora e formuladora destes bioinseticidas. Outro fator que pode ter influenciado o resultado foi a não utilização do espalhante adesivo na pulverização. Experimentos com formulações não comerciais destes fungos devem ser realizados em condições de casa de vegetação e campo para verificar quais fungos poderia ser utilizado no controle de tripes na cultura da cebola. CONCLUSÕES Neste experimento ficou evidenciado que os formulados comerciais dos fungos entomopatogênicos Boveril (Beauveria bassiana) e Metarril (Metarhizium anisopliae) (dose de 1 e 2 g do P.C./50 ml de calda) não diferiram estatísticamente do tratamento testemunha (pulverização de água destilada). Estes tratamentos com bioinseticidas diferiam estatisticamente apenas do tratamento com o inseticida thimethoxan, do grupo dos neonicotinóides, que mesmo não sendo registrado para o controle de Thrips tabaci na cultura da cebola, apresentou alta eficiência, proporcionando até 21 dias de controle após a pulverização. A ineficiência dos fungos entomopatogênicos pode ter ocorrido devido à baixa viabilidade dos formulados comerciais (POLANKI, 2014, comunicação pessoal) e devido à não utilização de espalhante adesivo para aumentar a eficiência de cobertura da calda sobre a planta. REFERÊNCIAS ALVES, S.B. Fungos entomopatogênicos. In: ALVES, S.B. (Ed.).Controle Microbiano e Insetos, 2ª edição. Piracicaba: FEALQ, 1998. 1163p. ANUÁRIO ESTATÍSTICO DO BRASIL - 20113. Rio de Janeiro: IBGE, v.53, 2013. SAINI, R.K.; DAHIYA, A.S.; VERMA, A.N. Field evaluation of some insecticides against onion thrips, Thrips tabaci (Lindeman, 1888) (Thysanoptera: Thripidae). Haryana Agriculture University Journal Research, v. 19, n. 4, p. 336-342, 1989. 5