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Transcrição:

Portfólio VER-SUS Uberlândia 2016-2 Vivente: Raiza Rangel Alves de Oliveira Dia 11 de novembro de 2016, hoje se inicia o VER-SUS Uberlândia no Acampamento Sem-Terra 1º de Maio. Ao acordar as 6 horas da manhã, pensei muito sobre o que me movia à sair de casa em busca de um novo horizonte. Pensei em desistir com medo dos obstáculos que estavam por vir. Logo pensei que aquela experiência seria única na minha vida e que poderia me trazer muito crescimento profissional, mas, principalmente, pessoal. Assim, me enchi de curiosidade e expectativa. Nos encontramos às 8 horas no Centro de Convivência da UFU-Umuarama de Uberlândia-MG. Lá recebemos algumas orientações, houve apresentação dos participantes, do cronograma, divisão dos núcleos de base (compostos por 4 pessoas cada um), estabelecimento de regras de convivência e divisão de tarefas para cada núcleo de base. Assim, as tarefas eram divididas em limpeza, refeição e alvorada e ao passar dos dias os núcleos de base iam se alternando entre as três tarefas. Ali estávamos todos com os mesmos direitos, deveres e oportunidades. Logo em seguida, pegamos um ônibus rumo ao Acampamento Sem Terra 1º de Maio que fica a 22 Km do local de saída. Dentro do ônibus fomos conhecendo as pessoas que também participariam dessa experiência única. A maioria dos viventes eram do curso de Medicina, assim como eu. Mas também haviam estudantes do curso de Psicologia, de Uberaba e de Uberlândia. Posso dizer que todos eram muito diferentes e cada um tinha suas particularidades e isso despertou ainda mais minha curiosidade. Ao chegar no Acampamento 1º de Maio, fomos direcionados ao alojamento. Os moradores do local haviam construído dois barracões para nossa estadia. Assim, nos dividimos em 2 grupos e nos acomodamos. Os barracões eram feitos de lona, chão de terra batida e havia apenas um chuveiro e uma pia em um deles. Para dormir, algumas pessoas armaram as barracas e outras preferiram estender apenas um colchão de ar.

Figura 1: Barracão do Acampamento 1º de maio. Posteriormente, fomos conhecer o acampamento 1º de Maio e foi ali que percebi o quanto as condições de vida daquelas pessoas eram precárias. Conversamos com alguns moradores do local que, por incrível que pareça, se diziam felizes por morar ali. Eles se queixavam, principalmente da dificuldade de acesso a serviços básicos, como saúde, pois não tinham como se locomover para a cidade. Às 18:30h, após jantarmos, nos reunimos com os núcleos de base e repassamos as experiências vividas até ali e, posteriormente, houve um momento de confraternização, o qual foi um espaço de sociabilidade em que podemos nos conhecer melhor. Figura 2: Viventes do VER-SUS de Uberlândia-MG.

No segundo dia, acordamos às 07:00, tomamos café da manhã e fomos para a oficina chamada O pulso ainda pulsa onde foi discutido sobre o que é saúde e seu conceito ampliado. A tarde houve outro debate sobre a formação do povo brasileiro. Todas as discussões eram feitas em uma plenária já existente, que era usada pelos participantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra para reuniões e repasses para comunidade local sobre a luta do movimento. Figura 3: Plenária onde eram feitas as discussões. Na segunda-feira (terceiro dia), participamos de um debate pela manhã sobre a formação econômica e política do Brasil. Esse debate foi guiado pelo historiador Diego e foi discutido a história do Brasil, desde à abolição da escravatura até os dias atuais e como isso interferiu no atual momento político e econômico do país. Posteriormente, houve um espaço com o professor de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Uberlândia, Nilton Pereira Junior, para analisarmos sobre a atual conjuntura econômica do Brasil e como ela afeta o SUS. Nesse espaço foi discutido sobre a dívida pública, sobre a PEC 55 e como ela interfere diretamente no Sistema Único de Saúde e, consequentemente, na população brasileira.

Figura 4: Foto dos viventes com o professor Nilton Pereira Junior. Já no quarto dia, confesso que batiam o cansaço e a saudade de casa, principalmente, por ser feriado (15 de novembro) e saber que todos da família estariam reunidos. Porém, ao mesmo tempo, a vivência estava sendo tão produtiva que isso me enchia de energia para conhecer mais sobre aquela comunidade e sobre os moldes do SUS. Nesse dia, vivenciamos como é a vida do assentado da Reforma Agrária, participamos de colheitas de mandioca, cuidamos de hortas e trocamos experiências com vários moradores do acampamento. Esse momento foi de suma importante, pois pude perceber o quanto a vida daquelas pessoas é difícil, o quanto elas trabalham dia-a-dia sob o sol quente para o sustento de suas famílias. Ali, percebi o quanto sou uma pessoa favorecida, percebi tamanho o privilégio de poder ter uma casa com condições adequadas de moradia, por poder ter acesso à saúde de qualidade, segurança e educação em uma faculdade federal renomada. Naquele momento, compreendi o quanto a desigualdade ainda está presente no nosso país e isso me alimentou a ideia de que eu tenho que fazer algo para mudar aquela situação. Entendi que o dever para lutar contra a desigualdade social não é só do Estado, mas sim de toda a população.

Figura 5: Viventes participando da colheita da mandioca. Figura 6: Horta presente no acampamento 1º de Maio. Logo após vivenciarmos como é a vida do assentado, fomos conhecer o acampamento Ernesto Che Guevara onde moravam mais de 20 famílias. Nesse momento, conhecemos os moradores e participamos de um grupo de discussão sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra com o professor Abrahão Nunes. Na quarta-feira, pela manhã, nos dividimos em dois grupos. Um grupo foi conhecer a Unidade de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde e outro foi fazer uma vivência no Horto de Uberlândia, para que depois ambos pudessem trocar experiências. Eu participei do grupo que foi conhecer a Unidade de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde e lá podemos conhecer mais sobre técnicas ainda pouco conhecida pelos profissionais de saúde, entre elas: Reiki, Massoterapia, Musicoterapia, Dança Circular, Acupuntura, ente outros. Essa experiência foi de grande importância,

visto que são técnicas que podem amenizar ou até curar patologias, diminuindo o uso de medicamentos pelos pacientes e diminuindo a sobrecarga de postos de saúde e hospitais tradicionais. Figura 7: Vivência na Unidade de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde. No período da tarde, cada Núcleo de Base ficou responsável por conversar com um participante do Movimento Sem Terra e discutir com ele O que é saúde?. O Núcleo de Base o qual eu era integrante conversou com a Maria, uma acampada de 40 anos, que morava com seus 4 filhos e seu marido em um barracão de lona no acampamento 1º de Maio. O marido era pedreiro e enquanto ele passava o dia fora para dar condições de vida dignas para sua família, Maria ficava em casa cuidando dos filhos. Seus filhos estudavam em uma escola da zona rural próxima ao acampamento, chamada EM Dom Bosco. Maria era uma pessoa com múltiplas patologias (HAS, DM, tabagismo, obesidade), mas quando questionada sobre o que é saúde, Maria respondeu que saúde para ela é viver feliz e tranquila. Ela se dizia feliz por viver em um local tranquilo, sem barulho, trânsito e poluição, e aquilo, para ela, era saúde. A resposta de Maria me trouxe muitos questionamentos acerca do quanto o conceito de saúde é amplo. Eu considerava saúde um estado de não-doença, em que a pessoa não era portadora de nenhuma patologia, mas para Maria, saúde é poder estar perto da família, em um lugar agradável, vendo seus filhos crescerem e se desenvolverem.

Após essa vivência tão emocionante, fomos socializar com os outros Núcleos de Base sobre suas experiências. Fizemos uma roda de conversa sobre SUS e conceito ampliado de saúde em que nos dividimos em dois grupos e lemos dois textos, um sobre os determinantes de doença e outro sobre determinação social no processo saúde-doença. No sexto-dia, participamos de uma vivência na atenção primária da saúde. O Núcleo de Base o qual eu era membro, visitou a UBSF Rio das Pedras. A unidade de saúde atendia toda a população rural da região, porém funcionava apenas às terças e quintas-feiras. A unidade era pequena, faltava insumos básicos e faltava funcionários. A médica do local era de nacionalidade cubana e se mostrava muito empenhada na promoção da saúde. Porém, um problema que o Núcleo de Base encontrou foi que as pessoas naquela região não tinham como se locomoverem até a Unidade Básica de Saúde. Por mais que, teoricamente, elas tinham acesso à saúde, na prática, esse acesso não funcionava de forma efetiva. No período da tarde participamos de um debate sobre O que foi o Movimento da Reforma Sanitária? e sobre A história do SUS. Esse também foi um momento muito importante para consolidar o conhecimento teórico sobre o SUS e sobre suas abrangências. No debate houve a participação de dois moradores do acampamento e participantes ativos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra: Senhor Jaime e Dona Eni. Ambos, já desanimados com a luta pela Reforma Agrária, contatam experiências vividas e nos mostraram o quanto ainda há para fazer pelos trabalhadores rurais. Figura 8: Poema sobre a Ditadura Militar escrito por Dona Eni da Silva para a revista do MST.

No período da noite, fomos contemplados com a visita da professora de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Uberlândia e fundadora do ambulatório LGBT na Universidade, professora Flávia Teixeira. Neste espaço, foi exposto a história da luta antimanicomial no Brasil através de dois documentários: Em nome da razão e A casa dos mortos e, posteriormente, foi aberto um debate para discussão do assunto. Na sexta-feira, os Núcleos de Base se dividiram e cada um foi visitar um local diferente, entre eles: CAPS Oeste, CAPS infantil e Hospital Municipal. Meu Núcleo de Base visitou o Hospital Municipal de Uberlândia e eu, que não conhecia o local, fiquei espantada com o tamanho do espaço físico, mas o quanto ele é subutilizado. No período da tarde, nos dividimos novamente para conhecer melhor o ambulatório Em cima do salto, o ambulatório Herbert de Souza e o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Meu grupo se locomoveu até o CAPS AD, local especializado para apoio psicológico de usuários de álcool e drogas. O local tem porta aberta, ou seja, os pacientes entram e saem quando acharem necessário e lá eles têm acompanhamento multiprofissional com psicólogos, psiquiatra, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, entre outros. Além disso, os pacientes participam de oficinas terapêuticas, entre elas, roda de música, grupos terapêuticos e oficinas de artesanatos. Figura 9: Roda de música no CAPS AD de Uberlândia. No mesmo dia, porém no período da noite, participamos de um debate acerca da saúde da população LGBT. O assunto discutido foi de extrema importância para fixar os

conceitos sobre gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros. Além disso, foi de suma importância pois percebi que, quanto profissionais da saúde, nos falta conhecimento para lidar com essa população e o quanto esse assunto é pouco discutido no curso de Medicina e nos cursos de graduação em geral. No sábado, dia 19 de novembro, participamos de uma roda de conversa com a psicóloga e professora Mariana sobre As mulheres e a sexualidade onde discutimos sobre violência contra mulher, porque essa violência ainda é pouco denunciada, porque a rede de atenção à mulher ainda é pouco efetiva, entre outros tópicos. Posteriormente, participamos de uma Oficina de Bonequinhas Negras. Na tarde de sábado fizemos uma discussão sobre As tarefas revolucionárias da juventude e a noite socializamos os diferentes pontos de vistas sobre as atividades do dia. Ao acordar no domingo, último dia de vivência, percebi que por mais que estivesse com saudades de casa e da família, eu sentiria falta daquelas pessoas das quais nos tornamos tão próximos. Mas era hora de partir. O grupo fez uma avaliação coletiva do encontro, limpamos os barracões onde ficamos hospedados e nos despedimos dos acampados que nos receberam tão bem. Todos ficaram com o coração apertado e com vontade de voltar para outras vivências no local. Levo dessa experiência um imenso aprendizado teórico e prático. Acredito que esses 9 dias de vivência no Acampamento 1º de Maio foram muito importantes para meu crescimento profissional, mas principalmente, para meu crescimento pessoal. Aprendi muito sobre o funcionamento do SUS, sobre o conceito ampliado de SUS, sobre sua história, entre outros. Além disso, vou embora com a certeza de que quero voltar para ajudar aquelas pessoas, seja com doações, ações em saúde ou apenas para levar uma palavra de conforto.