ANÁLISE DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENTRE HIPOGLICEMIANTES ORAIS E PSICOTRÓPICOS UTILIZADOS POR UMA UNIDADE DE ABRIGO DE FORTALEZA-CE

Documentos relacionados
de Estudos em Saúde Coletiva, Mestrado profissional em Saúde Coletiva. Palavras-chave: Reações adversas, antidepressivos, idosos.

GERENCIAMENTO DE ESTOQUE: IMPLANTAÇÃO DE CURVA ABC EM UM ABRIGO DE IDOSOS EM FORTALEZA-CE

INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS GRAVES COM AMITRIPTILINA EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS DE BOA VISTA/RR

EMENTAS DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA EAD

AVALIAÇÃO DA PRESCRIÇÃO, DISPENSAÇÃO E USO DE QUETIAPINA EM UMA FARMÁCIA DE MEDICAMENTOS EXCEPCIONAIS DE TERESINA, PI.

TÍTULO: A ENFERMAGEM E A FARMACOTERAPIA DE ALTA COMPLEXIDADE: IDENTIFICANDO INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS POTENCIAIS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA

Titulo do trabalho: INTOXICAÇÕES POR MEDICAMENTOS EM IDOSOS NA REGIÃO NORDESTE NO PERÍODO DE 2001 A 2010

Autor(es) MILENE FRANCISCHINELLI. Orientador(es) FÁTIMA CRISTIANE LOPES GOULARTE FARHAT. Apoio Financeiro FAPIC/UNIMEP. 1.

SEMINÁRIO: IDOSOS... UM OLHAR PARA O FUTURO! PAINEL 4: CUIDAR E PROTEGER - CUIDADOS DE SAÚDE DIÁRIOS - VANESSA MATEUS FAÍSCA

recomendações Atualização de Condutas em Pediatria

ASSISTÊNCIA MULTIDISCIPLINAR PARA O ATENDIMENTO AOS PACIENTES DIABÉTICOS INTERNADOS

PERFIL DO USO DE MEDICAMENTOS E POTENCIAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM UMA IDOSA INSTITUCIONALIZADA: RELATO DE CASO 1

MEDICAMENTOS INAPROPRIADOS PARA IDOSOS: UMA REVISÃO

INTOXICAÇÃO MEDICAMENTOSA NA TERCEIRA IDADE: UMA VULNERABILIDADE?

PERFIL DE USUÁRIOS DE PSICOFÁRMACOS ENTRE ACADÊMICOS DO CURSO DE FARMÁCIA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO DO SUL DO BRASIL

PROBLEMAS RELACIONADOS À FARMACOTERAPIA E INTERVENÇÕES EM CONSULTAS FARMACÊUTICAS EM UNIDADES DE SAÚDE

farmácias e drogarias

HOSPITAL DA CIDADE DE PASSO FUNDO PREFEITURA MUNICIPAL DE PASSO FUNDO PREFEITURA MUNICIPAL DE MATO CASTELHANO

PERFIL DEMOGRÁFICO, EPIDEMIOLÓGICO E FARMACOTERAPÊUTICO DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS EM BOA VISTA/RR

PLANO DE ENSINO (2011-1)

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA EM SAÚDE MENTAL: OTIMIZAÇÃO DE RECURSOS NO SUS RAFAEL SOARES CORRÊA ANDREIA RIBEIRO DE SOUZA

ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO EM VISITAS DOMICILIARES COM A PRÁTICA DA FARMÁCIA CLÍNICA

Gestão da Medicação nas Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI)

PROGRAMA DE DISCIPLINA

DISPENSAÇÃO DE MEDICAMENTOS PELO PROGRAMA AQUI TEM FARMÁCIA POPULAR : UM RELATO DE EXPERIÊNCIA 1

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Farmácia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) 2

ANÁLISE DA FARMACOTERAPIA DE PACIENTES ONCOLÓGICOS HOSPITALIZADOS

Electroconvulsivoterapia de Continuação e Manutenção

PROGRAMA DE MEDICINA PREVENTIVA E QUALIDADE DE VIDA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE FARMACOLOGIA PLANO DE ENSINO (2018-2)

SEGURANÇA NA PRESCRIÇÃO, USO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS. Facilitadora: Enf. Daniella Honório

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Diabetes Mellitus Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

racecadotrila Biosintética Farmacêutica Ltda. Cápsula Dura 100 mg

Atenção farmacêutica especializada. Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica. Para poder... Objetivos dos tratamentos

Selecção dos medicamentos psicotrópicos.

Farmacovigilância: notificar é preciso

INTERVENÇÕES FARMACÊUTICAS NO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES INSUFICIENTES RENAIS CRÔNICOS EM TRATAMENTO DIALÍTICO

Evento: XXV SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Promover padronização das prescrições médicas, referentes aos medicamentos/materiais; Estabelecer fluxo seguro de dispensação medicamentos/materiais.

ST+I - Há mais de 25 anos a pensar Saúde. Circuito do Medicamento. Ambulatório. Mais que ideias... Criamos Soluções... Saúde

RELATO DE EXPERIÊNCIA DA CAMPANHA PELO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E ADESÃO DAS PESSOAS IDOSAS

ESTUDO DA FARMACOLOGIA

Apresentar a importância do farmacêutico clínico no atendimento a pacientes de Clínica de Moléstias Infecciosas e Parasitárias.

1 ; 2 ; 3 ; 4 ; 5.

PALAVRAS-CHAVE Medicamentos; Idosos; Adesão à Medicação; Conhecimento do Paciente sobre a Medicação

Farmácia Clínica Farmácia Clínica

Escola de Artes, Ciências e Humanidades

CURSO DE ENFERMAGEM Reconhecido pela Portaria nº 270 de 13/12/12 DOU Nº 242 de 17/12/12 Seção 1. Pág. 20 PLANO DE CURSO

IDENTIFICAÇÃO DE INCONFORMIDADES NAS PRESCRIÇÕES MÉDICAS DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE GUIRICEMA, MG

Farmácia Clínica & Prescrição Farmacêutica

ESTUDO DAS INTERAÇOES MEDICAMENTOSAS ENTRE IDOSOS DE UM GRUPO DE VIVÊNCIA

INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA: ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UM HOSPITAL FILANTRÓPICO

SEGURANÇA DO PACIENTE: EXECUÇÃO DE AÇÕES APÓS O PREPARO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS ENDOVENOSOS EM PEDIATRIA

PORTARIA 1.918/2016 O CUIDADO FARMACÊUTICO NO ÂMBITO DA SMS SP

Michele Sandri 2, Daiana Meggiolaro Gewehr 3, Adriane Huth 4, Angélica Cristiane Moreira 5.

COMPLEX(IDADE) DA PSICOFARMACOLOGIA NOS ADULTOS DE IDADE AVANÇADA

Farmacêutica Priscila Xavier Farmacêutica Cynthia Palheiros

MANSIL. Cápsula. 250 mg

Fármaco 25/10/2015. Estudo da interação de drogas com. organismos vivos Propriedades dos medicamentos e seus efeitos nos seres vivos

RELAÇÃO ENTRE NÚMERO DE MEDICAMENTOS DE IDOSOS USUÁRIOS DE VARFARINA E A FUNÇÃO RENAL 1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, SAÚDE E TECNOLOGIA - IMPERATRIZ. CURSO: ENFERMAGEM PLANO DE ENSINO

MINISTÉRIO DA SAÚDE. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições legais, e

Contra indicações de Pratiprazol Estemedicamentoécontraindicadoempacientescomhipersensibilidadeaoomeprazolouaqualquer componente da fórmula.

O Farmacêutico na Atenção Primária a Saúde Parte I. Pheandro Barreto Farmacêutico

TÍTULO: ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPEUTICO EM PACIENTES COM PROBLEMAS NEUROLÓGICOS PELO MÉTODO DADER

Fármaco 05/03/2017. Estudo da interação de drogas com. Propriedades dos medicamentos e seus efeitos nos seres vivos.

Plano de Trabalho Docente Ensino Técnico

Acompanhamento farmacoterapêutico do paciente portador de Diabetes mellitus tipo 2 em uso de insulina. Georgiane de Castro Oliveira

Análise das prescrições médicas que chegam a uma drogaria na cidade de Muriaé (MG): uma abordagem farmacoepidemiológica

ESTUDO SOBRE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS DE UM PACIENTE DIAGNOSTICADO COM DEPENDENCIA QUÍMICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

EMENTAS DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM FARMÁCIA CLÍNICA EM INFECTOLOGIA EAD

PERFIL DO USO DE MEDICAMENTOS POR IDOSOS ASSISTIDOS PELO PROGRAMA HIPERDIA DE CAMPINA GRANDE PB

UFSC CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA PLANO DE ENSINO. ODT - Odontologia 7ª. Quarta feira 09h10min 11h50min

PESQUISA CLÍNICA (PESQUISA EM SERES HUMANOS) CNS/Res 196/1996

AVALIAÇÃO DA TÉCNICA DE PUNÇÃO VENOSA NA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM ADULTOS

ESPECIALIZAÇÃO LATO SENSU EM FARMÁCIA CLÍNICA E ATENÇÃO FARMACÊUTICA

ESTUDO DE UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS POR IDOSOS INTERNADOS NA UTI DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

PERCEPÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS RESIDENTES SOBRE IDOSOS CUIDADORES DE IDOSOS EM UM AMBULATÓRIO DE FISIOTERAPIA: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Patologias psiquiátricas mais prevalentes na atenção básica: Alguns sintomas físicos ocorrem sem nenhuma causa física e nesses casos,

PERFIL DA UTILIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS POR IDOSOS DIABÉTICOS EM UMA FARMÁCIA NA CIDADE DE CAJAZEIRAS

3ª Edição ESCOLA DE INVERNO DE FARMÁCIA A Farmácia Clínica Centrada na Segurança do Paciente

PALAVRAS-CHAVE: Homeopatia. Consumo. Práticas Alternativas.

Oi, Ficou curioso? Então conheça nosso universo.

Núcleo de Saúde PROGRAMA

Ambulatório. Circuito do Medicamento. Prescrição. Farmácia. Comunitária. Farmácia. Hospitalar. Validação Farmacêutica. Cirurgia de.

INTERVENÇÃO FARMACÊUTICA NOS PACIENTES DA UTI ADULTO DE UM HOSPITAL PÚBLICO

Análise da demanda de assistência de enfermagem aos pacientes internados em uma unidade de Clinica Médica

AVALIAÇÃO DAS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM UM HOSPITAL DO INTERIOR DO CEARÁ

TÍTULO: A IMPORTÂNCIA DA FISIOTERAPIA PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS COM DIABETES MELLITUS

AVALIAÇÃO DE POSSÍVEIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM UM GRUPO DE IDOSOS DO MUNICÍPIO DE POÇINHOS-PB

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR ENTRE HIPERTENSOS E DIABÉTICOS DE UMA UNIDADE DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA.

ARTIGO ORIGINAL INTRODUÇÃO. O diabetes mellitus (DM) é um grupo de distúrbios metabólicos caracterizados por hiperglicemia, resultante de defeitos na

ANÁLISES DE REAÇÕES ADVERSAS A ANTIBIÓTICOS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ALCIDES CARNEIRO

CH Teórica: 60 CH Prática: 20 CH Total: 80 Créditos: 04 Pré-requisito(s): - Período: III Ano:

terapêutica e da prescrição em Pediatria

Fármaco Qualquer substância alterar função de 20/05/2013. Estudo da interação de drogas com

Classificando as crises epilépticas para a programação terapêutica Farmacocinética dos fármacos antiepilépticos... 35

ESTADO NUTRICIONAL E FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

Transcrição:

CONEXÃO FAMETRO: ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE XII SEMANA ACADÊMICA ISSN: 2357-8645 ANÁLISE DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ENTRE HIPOGLICEMIANTES ORAIS E PSICOTRÓPICOS UTILIZADOS POR UMA UNIDADE DE ABRIGO DE FORTALEZA-CE Geyne Lima da Silva; Tiago D Angelo Pinheiro Gurgel; Alyne Santiago Queiroz; Rafaelly Maria Pinheiro Siqueira. RESUMO FAMETRO Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza. E-mail: geynelima@gmail.com Título da Sessão Temática: Processo de Cuidar. Os pacientes idosos constituem um grupo da população que está em maior crescimento e que consomem elevada quantidade de medicamentos quando comparados à população mais jovem. Trata-se de um estudo de delineamento quantitativo, observacional, transversal e prospectivo visando identificar as possíveis interações entre os medicamentos psicotrópicos e antidiabéticos utilizados por um grupo de idosos institucionalizados. O mesmo investigou as interações medicamentosas entre 34 medicamentos psicotrópicos e 3 medicamentos hipoglicemiantes utilizados pelos idosos do abrigo. As interações foram classificadas quanto a sua natureza e quanto a gravidade. Foram identificadas 16 interações, 75% (n=12) foram moderada quanto a gravidade e de efeito quanto a natureza, 12,5% (n=2) são interações leve de origem farmacocinética e 12,5% (n=2) são interações leves de origem farmacodinâmica. Portanto, diante desta problemática, nota-se a importância clínica deste estudo e do acompanhamento farmacoterapêutico destes pacientes, para que estes obtenham melhora na resposta terapêutica. Palavras-chave: Interações medicamentosas. Hipoglicemiantes. Psicotrópicos. INTRODUÇÃO Interações medicamentosas são tipos especiais de respostas farmacológicas que ocorrem quando os efeitos de um fármaco são alterados pela presença de outro fármaco, alimento, bebida ou algum agente químico ambiental e constituem causa comum de efeitos adversos (OLIVEIRA, 2009; SECOLI, 2001). De acordo com a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), as famílias brasileiras gastam cerca de R$ 4,3 bilhões, por mês, na compra de medicamentos, ou seja, R$ 51,6 bilhões ao ano. Esse montante é quase o orçamento do SUS e quase dez vezes superior ao investimento do governo federal, em 2009, para a compra de medicamentos: R$ 6,89 bilhões (INTERFARMA, 2011). A prescrição de múltiplas medicações é uma realidade que requer atenção e cuidado constante. Esse cuidado inclui a revisão das medicações em uso e o

conhecimento extensivo destas, sempre tentando minimizar o número de substâncias utilizadas, monitorando e valorizando efeitos colaterais e tóxicos (MIYASAKA, 2003) Segundo Marcolin (2004) novos medicamentos, novos indícios e novas interações aparecem diariamente, e interações medicamentosas são, portanto, uma questão cotidiana na prática médica. A politerapia é uma ferramenta útil para o tratamento de doenças coexistentes, mas a combinação de drogas pode reduzir a eficácia e/ou favorecer o aparecimento de reações adversas com diferentes graus de severidade (WILTINK, 1998). Os idosos constituem um grupo da população que está em maior crescimento e atualmente representa cerca de 8,17% da população brasileira (IBGE, 2016). Sabe-se que estes consomem elevada quantidade de medicamentos, quando comparados à população mais jovem. Os eventos adversos a medicamentos (EAM) e as reações adversas a medicamentos (RAM) constituem um desafio para os médicos e um problema para a saúde pública (OCAMPO et al. 2008). Entre os fatores de predisposição para o aparecimento de EAM e RAM podem ser citados: diminuição da reserva funcional, alterações na farmacocinética e farmacodinâmica que são associadas com o envelhecimento e o grande número de enfermidades crônicas, o que leva a necessidade de múltiplos tratamentos e esquemas farmacológicos (OCAMPO et al. 2008). Como consequência do crescimento da expectativa de vida, observa-se elevada prevalência de doenças crônicas em idosos, como hipertensão, diabetes, depressão e doenças neurológicas progressivas. Dessa forma, torna-se comum encontrar o uso de vários medicamentos associados em um mesmo horário, facilitando o manejo pelo próprio paciente ou cuidador. Essa politerapia exige um maior conhecimento das classes medicamentosas por parte da equipe de saúde, principalmente quanto às interações fármaco-fármaco. Diante desta problemática, o presente trabalho teve como objetivo analisar as interações medicamentosas entre hipoglicemiantes orais e psicotrópicos utilizados por idosos de uma unidade de abrigo em Fortaleza, Ceará. DESENVOLVIMENTO / PERCURSO METODOLÓGICO Trata-se de um estudo de delineamento quantitativo, observacional, transversal e prospectivo visando identificar as possíveis interações entre os medicamentos psicotrópicos e antidiabéticos utilizados por um grupo de idosos institucionalizados,

acompanhados durante o estágio em Farmácia Clínica nos meses de agosto e setembro de 2016. O abrigo de idosos está localizado na cidade de Fortaleza, é uma unidade mantida pelo governo do estado do Ceará e administrada por Organização Não Governamental que conta com profissionais de diversas áreas para atender todas as necessidades dos idosos, como por exemplo: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogo, assistentes sociais, nutricionista, pedagogos, educador físico, fonoaudiólogo, dentista, farmacêutico e cuidadores. O abrigo dispõe de uma ampla área física com mais de oitenta leitos, abrigando atualmente 83 idosos que recebem todos os cuidados referentes às suas necessidades, como tratamento farmacológico, fisioterapia e lazer. Os dados foram coletados através de arquivos obtidos na Farmácia do abrigo de uso na assistência farmacêutica para a logística de aquisição e armazenamento em estoque de medicamentos. Estes dados são alimentados através de documento interno utilizado no controle da administração de medicamentos nos idosos e nomeado de Check-list. Este refere-se a uma tabela individual contendo a descrição de todos os medicamentos em uso de cada idoso juntamente com a dose, via de administração e posologia. Mensalmente ou sempre que alterada a prescrição do idoso em seu prontuário, o Check-list é atualizado e utilizado para notificar a Farmácia do abrigo quanto a necessidade em adquirir determinado medicamento e a respectiva quantidade e duração do tratamento. Dentre os critérios de inclusão foram selecionados os arquivos relacionados ao uso de um ou mais psicotrópicos e de hipoglicemiantes orais. Os critérios de exclusão foram os arquivos que referenciavam o uso de insulina ou arquivos que apresentavam o uso de psicotrópico, mas não apresentavam uso de hipoglicemiantes orais, e vice-versa. Para a análise das interações foram utilizadas plataformas seguras, gratuitas, disponíveis on line e através de aplicativos para smartphone como Drugs.com e Medscape. As interações medicamentosas entre psicotrópicos e hipoglicemiantes orais foram classificadas quanto a natureza e gravidade da interação. A natureza da interação foi identificada entre farmacocinética, farmacodinâmica ou de efeito. Quanto a gravidade, as interações foram classificadas como leve, moderada ou grave. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS A partir dos dados coletados foi verificado que 87,95% (n=73) dos idosos pesquisados faziam uso de psicotrópicos e 15,66% (n=13) faziam uso de

hipoglicemiantes. Destes 12,04% (n=10) faziam uso concomitante de psicotrópicos e hipoglicemiantes. A análise das informações permitiu a identificação de 16 interações entre os princípios ativos de ambas as classes de medicamentos. Quanto a natureza da interação medicamentosa, conforme demonstrado no gráfico 1, foi identificada que 75% (n=12) é classificada como de efeito, 12,5% (n=2) se apresentaram de origem farmacocinética e 12,5% (n=2) de origem farmacodinâmica. Gráfico 1: Classificação das Interações Medicamentosas quanto a sua Natureza. Ao analisarmos as interações medicamentosas quanto a gravidade foi possível classificar como: moderada 75% (n=12) e leve 25% (n=4), conforme apresentado no gráfico 2. Gráfico 2: Classificação das Interações Medicamentosas quanto a sua Gravidade.

No quadro abaixo é possível identificar que os princípios ativos dos hipoglicemiantes orais envolvidos em interações com psicotrópicos foram: Metformina, Glibenclamida e Glicazida. A classe terapêutica dos psicotrópicos envolvidos nestas interações são: antidepressivos, anticonvulsivantes, antipsicóticos, fármacos usados no tratamento de demências e transtorno bipolar. Quadro 1: Princípios ativos envolvidos nas interações medicamentosas entre psicotrópicos e hipoglicemiantes orais. Interações Medicamentosas Interações Gravidade Natureza Amitriptilina + Metformina leve farmacodinâmica Carbonato de Lítio + Metformina moderado efeito Clorpromazina + Metformina moderado efeito Fenitoína + Metformina moderado efeito Lamotrigina + Metformina leve farmacocinética Memantina + Metformina leve farmacocinética Olanzapina + Metformina moderado efeito Quetiapina + Metformina moderado efeito Risperidona + Metformina moderado efeito Topiramato + Metformina moderado efeito Trazodona + Metformina leve farmacodinâmica Clorpromazina + Glibenclamida moderado efeito Fenitoína + Glibenclamida moderado efeito Fenobarbital + Glibenclamida moderado efeito Fluoxetina + Glibenclamida moderado efeito Clorpromazina + Glicazida moderado efeito Dentre esses princípios ativos, alguns possuem janela terapêutica, estreita e, o fato de elevação nos níveis plasmáticos por interações farmacocinéticas, eleva o risco de eventos adversos como hipoglicemia, expõe os idosos a um risco maior para desenvolver intoxicações além de comprometer a segurança do tratamento (HANLON & SCHMADER, 2005; LOCATELLI, 2007). De acordo com Araújo (2002), aproximadamente 10% das interações resultam em eventos clínicos significativos, sendo frequentemente observado no paciente geriatra uma morbidade de baixo nível. Pereira (2002) sugere que os idosos recebam farmacoterapia individualizada uma vez que as alterações fisiológicas, as patologias, influências ambientais e genéticas, são variáveis que interfere diferentemente nos

aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos, contribuindo para a ocorrência de interações medicamentosas e eventos adversos a medicamentos. Além disso, segundo Bisson (2007), pacientes graves não raramente são portadores de insuficiência renal e/ou hepática, o que também favorece o desenvolvimento de várias interações. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo apresenta limitações como o fato de não analisar a relevância clínica no paciente das interações encontradas, visto que os pesquisadores não tiveram acesso aos prontuários que contém dados dos pacientes como exames laboratoriais e história clínica aprofundada. Contudo, conseguimos avaliar a relevância clínica referente ao risco de agravos das interações medicamentosas investigadas com a gravidade potencial da associação entre duas importantes classes de medicamentos usadas nos idosos do abrigo, bem como, na população em geral. Observa-se a importância clínica deste estudo e do acompanhamento farmacoterapêutico destes pacientes, para que estes obtenham melhora na qualidade de vida. Salienta-se a necessidade de realização de mais estudos relacionados, abordando outras classes terapêuticas. Conhecer a natureza da interação permite ao profissional a realização de intervenções de ajustes posológicos ou a busca de fármacos alternativos. É necessário que o Farmacêutico esteja integrado com a equipe multiprofissional de saúde com o importante papel de minimizar eventos negativos dos medicamentos e insucessos terapêuticos, garantindo uma melhora na qualidade do serviço de saúde prestado ao paciente. REFERÊNCIAS ARAÚJO RC. Interações medicamentosas no idoso. In: Silva P. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.162-5. ASSOCIAÇÃO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA DE PESQUISA (INTERFARMA). Proposta para a redução da lacuna em relação ao acesso da população a medicamentos: Possíveis aplicações ao caso brasileiro. São Paulo, 2011. BISSON MP. Farmácia clínica & atenção farmacêutica. 2. ed. São Paulo: Manole; 2007. HANLON JT, SCHMADER KE. Drug-drug interactions in older adults: which one matter? Am J Geriatr Pharmacother. 2005;3(2):61-3.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Projeções e estimativas da população do Brasil e das Unidades da Federação. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/index.html>. Acesso em: 23.09.2016. LOCATELLI J. Interações medicamentosas em idosos hospitalizados. Einstein Online Traduzida. 2007;5(4):343-6. MARCOLIN, M.A.; CANTARELLI, M.G.; GARCIA-JUNIOR, M. Drug interactions among clinical and psychiatric drugs. Rev Psiquiatr Clín (São Paulo) 2004; 31:70-81. MIYASAKA, L. S.; ATALLAH, A. N. - Risk of drug Interactions: Combination of Antidepressants and other Drug. Rev Saúde Pública 37: 212-5, 2003. MORAIS, J. A medicina doente. Super Interessante 2001; 15:48-58. OLIVEIRA, H. C. Guia prático das interações medicamentosas dos principais antibióticos e antifúngicos utilizados no Hospital Universitário Júlio Muller. Cuiabá - MT, 2009. PEREIRA SRM. Farmacoterapia geriátrica. In: Silva P. Farmacologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p.1220-5. SECOLI, S. R. Interações medicamentosas: fundamentos para a prática clínica da enfermagem. Rev Esc Enf USP, v.35, n. 1, p. 28-34, mar. 2001. WILTINK, E. H. Medication control in hospitals: a practical approach to the problem of drug-drug interactions. Pharm World Sci 1998; 20:173-7.