Cisto ósseo traumático em mandíbula: relato de caso

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Transcrição:

doi: http://dx.doi.org/10.5892/ruvrv.2012.102.308313 Cisto ósseo traumático em mandíbula: relato de caso Alexandre Augusto Sarto DOMINGUETTE 1 Henrique Mateus Alves FELIZARDO 2 Matheus Henrique Lopes DOMINGUETE 3 Bruno Henrique Figueiredo MATOS 4 Lucinei Roberto de OLIVEIRA 5 Paulo Roberto DOMINGUETE 6 1 Mestrando em Clínica Odontológica (Diagnóstico Bucal) pela Universidade Vale do Rio Verde - UninCor alexandre.dominguette@gmail.com 2 Graduando em Odontologia pela Universidade Vale do Rio Verde - UninCor 3 Especialistaem Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Faciais - Mestrando em Clínica Odontológica (Diagnóstico Bucal) pela UninCor 4 Professor da Universidade Vale do Rio Verde UninCor / Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo- Faciais - Mestrando em Clínica Odontológica (Diagnóstico Bucal) pela UninCor 5 Professor da Universidade Vale do Rio Verde - UninCor / Especialista em Periodontia Doutor em Patologia pela USP 6 Professor da Universidade Vale do Rio Verde UninCor / Especialista em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo- Faciais - Mestre em Clínica Odontológica (Diagnóstico Bucal) pela UninCor Recebido em: 30/10/2012 - Aprovado em: 23/12/2012 - Disponibilizado em: 30/12/2012 RESUMO O cisto ósseo traumático (cisto ósseo simples, cisto ósseo hemorrágico, cisto ósseo solitário) é uma lesão nãoneoplásica que representa aproximadamente 1% de todos os cistos maxilares, acometendo as regiões de corpo e sínfise de mandíbula com maior frequência. Trata-se de uma cavidade intra-óssea delimitada por fina camada de tecido conjuntivo frouxo, sem revestimento epitelial. É uma lesão assintomática comumente identificada em exames radiográficos de rotina, apresentando imagem radiolúcida unilocular bem definida. Sua etiopatogênese não está bem esclarecida, mas acredita-se que o trauma local seja um fator relacionado ao seu desenvolvimento. O objetivo do presente trabalho foi relatar um caso clínico de cisto ósseo traumático, descoberto em um exame radiográfico panorâmico de rotina para avaliação de terceiros molares inclusos, bem como realizar uma revisão da literatura acerca desta patologia. Palavras-Chave: Cisto ósseo simples. Cistos maxilomandibulares. Mandíbula/patologia. ABCTRACT The traumatic bone cyst (simple bone cyst, hemorrhagic bone cyst, solitary bone cyst) is a non-neoplastic lesion which represents about 1% of all jaw cysts, affecting regions of the body and symphysis of mandible more often. It is a cavity delimited intraosseous thin layer of loose connective tissue with no epithelial lining. It is commonly an asymptomatic lesion identified on routine radiographic examination, unilocular radiolucent lesion well defined. Its etiopathogenesis is not well understood, but it is believed that the local trauma is a factor related to its development. The aim of this study was to report a case of traumatic bone cyst, discovered in a routine panoramic radiographs for evaluation of third molars, as well as to review the literature on this disease. Keywords: Simple bone cyst. Maxillomandibular cysts. Jaw / pathology. INTRODUÇÃO O cisto ósseo simples, também conhecido como cisto ósseo traumático, cisto ósseo hemorrágico e cisto ósseo solitário, foi inicialmente descrito por Lucas em 1929, sendo geralmente relatado na literatura científica médica e odontológica, desde então. Constitui uma lesão óssea não neoplásica que representa aproximadamente 1% de todos os 308

cistos maxilares, acometendo as regiões de corpo e sínfise de mandíbula com maior freqüência (SAPP et al., 1990; SHEAR, 1999; TONG et al., 2003). É uma lesão que possui a característica peculiar de geralmente não apresentar abaulamento cortical, com respostas positivas aos testes de vitalidade pulpar (LAGO et al., 2006). Este cisto ocorre em indivíduos jovens, principalmente durante a segunda década de vida. Sua etiologia e patogênese ainda não são bem conhecidas, mas acredita-se em uma origem traumática, que levaria à hemorragia intra-óssea e consequente liquefação do coágulo, levando ao desenvolvimento do cisto (SHEAR, 1999). Por ser assintomático, freqüentemente é diagnosticado em exames radiográficos de rotina, apresentando imagem radiolúcida unilocular, delimitada por uma fina cortical, muitas vezes contornando as raízes dos dentes adjacentes, resultando em um aspecto festonado ou recortado (MATSUMURA et al., 1998). Em 2003, GUERRA et al., relataram a alta prevalência de cisto ósseo traumático em pacientes submetidos a tratamento ortodôntico, enfatizando que os exames radiográficos rotineiros realizados nesta população permitem a detecção mais freqüente de lesões. A escassez de conhecimento sobre sua natureza e comportamento biológico reflete a divergência existente na literatura em relação às formas de tratamento (LOKIEC et al., 1998). Este trabalho tem como objetivo relatar um caso clínico de cisto ósseo traumático em mandíbula e o tratamento proposto. CASO CLÍNICO Paciente V.O.R., 18 anos, gênero masculino, melanoderma, residente na cidade de Varginha-MG, foi encaminhado ao cirurgião buco-maxilo-facial, devido a uma imagem radiolúcida na região de sínfise mandibular, observada pelo ortodontista, em uma radiografia panorâmica. Na anamnese o paciente referiu ter sofrido queda da própria altura há cerca de sete anos, não lembrando ter traumatizado o mento. Ao exame extrabucal, não foi observado aumento de volume na região do mento. Não apresentava sintomatologia dolorosa. Na avaliação da radiografia panorâmica (figura 1), observouse imagem radiolúcida, unilocular, em região de sínfise mandibular, que se estendia das raízes dos elementos 33 ao 45 (figura 2), sem expansão das corticais óssea vestibular ou lingual (figura 3). Ao teste de vitalidade pulpar percussivo e térmico, obteve-se resposta positiva em todos os elementos dentários, cujas raízes apresentavam-se envolvidas na lesão. Com os dados clínicos coletados e análise radiográfica, a hipótese de cisto ósseo traumático ficou evidenciada, 309

sendo proposta uma biópsia excisional. Foi prescrito Decadron 4mg 01 hora antes do procedimento como medicação préoperatória. Com o paciente sob anestesia local, procedeu-se incisão em fórnice de vestíbulo estendendo do elemento 34 ao 44, e descolamento mucoperiosteal. Foi realizada inicialmente punção na lesão, sendo observado presença de sangue de coloração escura (figura 4). Realizou-se a exposição da área da lesão, acessada através da cortical óssea vestibular, com a utilização de peça reta e broca esférica n o 6 sob irrigação contínua de soro fisiológico 0,9%, onde se observou presença de secreção sanguinolenta intralesional. Realizou-se então curetagem do leito cirúrgico com regularização dos bordos, irrigação com soro fisiológico 0,9% e sutura com fio Vicryl 5-0. Foi feita prescrição de antibiótico (Amoxicilina 500mg), antiinflamatório (Nimesulida 100mg) e analgésico (Dipirona 500mg). Após 07 dias, paciente retornou para avaliação, onde notouse boa cicatrização e ausência de sintomatologia dolorosa. Paciente em proservação para avaliação de neoformação óssea. Figura 2: Radiografia Panorâmica em aumento evidenciando lesão radiolúcida em sínfise mandibular Figura 3: Radiografia de perfil, notando ausência de abaulamento das corticais vestibular e lingual. Figura 4: Punção sangue de coloração escura DISCUSSÃO Figura 1: Radiografia Panorâmica Para se diagnosticar um cisto ósseo traumático deve haver uma associação entre história clínica, exame físico e imaginológico, e exploração cirúrgica. Deve-se discutir 310

diagnósticos diferenciais, como cisto dentígero, ceratocisto odontogênico, tumor odontogênico adenomatóide, ameloblastoma (WOOD et al., 1991), ou granuloma central de células gigantes (CHIBA et al., 2002). Na literatura não há uma concordância a respeito de características como a predileção do gênero ou idade. No caso relatado, o paciente encontrava-se com 18 anos e era do gênero masculino. Segundo BAQAIN et al. (2005); HANSEN et al. (1974) e TONG et al. (2003), o cisto ósseo traumático acomete, principalmente, jovens na segunda década de vida, diferente de PEÑARROCHA-DIAGO et al. (2001), que relatam uma maior frequência numa faixa etária entre 12 e 15 anos. Em relação ao gênero, alguns autores relatam que há uma distribuição proporcional (DE TOMASI et al., 1985; PEÑARROCHA- DIAGO et al., 2001; PERDIGÃO et al., 2003), enquanto outros descrevem uma leve predileção pelo gênero masculino (BAQAIN et al., 2005). Existem, ainda, evidências de um maior acometimento do gênero feminino, principalmente em pacientes de idade mais avançada (SAPP et al., 1990; MATSUMURA et al., 1998; PEÑARROCHA-DIAGO et al., 2001; PERDIGÃO et al., 2003; TONG et al., 2003). No que diz respeito a região, a mandíbula é o osso do arcabouço facial, que responde pela grande maioria dos casos, podendo tal lesão ser encontrada também na maxila, porém com menor freqüência (AZEVEDO et al., 2002). Dentre os casos analisados no estudo de PEÑARROCHA- DIAGO et al. (2001), a região mentoniana foi a de maior prevalência, estando de acordo com o caso relatado neste trabalho. Porém, para NEVILLE (1998), pode ocorrer nas áreas de pré-molares, molar e ramo ascendente. Clinicamente, o cisto ósseo traumático pode se apresentar de diversas formas: assintomática, como relatado por SVERZUT et al. (2002), na qual a lesão comprometia a região dos elementos dentários 38 e 37; ou pode haver alteração local como no caso relatado por PURICELLI et al. (1997), no qual o paciente apresentava aumento de volume em rebordo alveolar, correspondendo à região de molar e retromolar. O caso deste trabalho apresentava-se assintomático e sem abaulamento das corticais ósseas vestibular e lingual. Em relação à vitalidade pulpar, estamos de acordo com alguns trabalhos na literatura, pois esta dificilmente é alterada (PEÑARROCHA-DIAGO et al., 2001; GAYOTTO et al., 1996). Porém, devido à expansão cística, pode ocorrer o aumento da pressão na raiz dos dentes envolvidos, que devido à força traumática poderia causar diminuição temporária da resposta ao teste elétrico da polpa (PILEGGI et al., 1996). Diversas formas de tratamento foram relatadas, como ressecção, curetagem, enxerto ósseo, injeção de corticosteróides e injeção de medula óssea autóloga (LOKIEC et al., 1998; 311

FIELDING et al., 1999). No entanto, a exploração cirúrgica da cavidade cística tem sido geralmente recomendada (SHEAR, 1999; PEÑARROCHA-DIAGO et al., 2001; TONG et al., 2003). A existência de relatos de cisto ósseo traumático que regrediram de forma espontânea revela uma opção de proservação clínico-radiográfica ao invés da intervenção cirúrgica (SAPP et al., 1990; SHEAR, 1999; TONG et al., 2003). Neste caso optou-se pela intervenção cirúrgica por curetagem, pois quando a cavidade é aberta, a hemorragia promovida resulta numa rápida obliteração da lesão (SHEAR, 1999) e nova formação óssea (NEVILLE et al., 1998). Fatores como tamanho da lesão e relatos do paciente quanto a ansiedade de dar início ao tratamento ortodôntico também foram levados a favor do ato cirúrgico. Embora sua recidiva seja rara (PEÑARROCHA-DIAGO et al., 2001; BAQAIN et al., 2005) e esteja relacionada a uma intervenção inadequada, recomenda-se um período de proservação para acompanhar a regressão da lesão (TONG et al., 2003). CONCLUSÃO De acordo com a literatura e o caso relatado, os achados clínicos, radiográficos e cirúrgicos são de grande relevância para o diagnóstico do cisto ósseo traumático. A biópsia excisional através da exploração cirúrgica por curetagem é uma forma de tratamento satisfatória para esta patologia. BIBLIOGRAFIA 1. AZEVEDO, R. A. et al. Cisto ósseo simples. Relato de Casos. BCI, Curitiba, v. 9, n, 34, p. 139-143, 2002. 2. BAQAIN, Z. H. et al. Recurrence of a solitary bone cyst of the mandible: case report. Br. J. Oral Maxillofac. Surg., Edinburgh, v. 43, no. 4, p. 333-335, Aug. 2005. 3. CHIBA, I. et al. Conversion of a traumatic bone cyst into central giant cell granuloma: implications for pathogenesis - a case report. J. Oral Maxillofac. Surg., Philadelphia, v. 60, n. 2, p. 222-225, 2002. 4. DE TOMASI, D.; HANN, J. R. Traumatic bone cyst: report of case. J. Am. Dent. Assoc., Chicago, v. 111, n. 1, p. 56-57, 1985. 5. FIELDING, A. F.; LOUDEN, R. D.; JOHNSON, A. R. D. H. Simple bone cyst. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol., St. Louis, v. 88, no. 3, p. 277-278, Sept. 1999. 6. GAYOTTO, M. V. et al. Cisto ósseo hemorrágico: relato de caso clínico. Rev. Inst. Ciênc. Saúde, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 45-47, 1996. 7. GUERRA, E. N. S.; DAMANTE, J. H.; JANSON G. R. P. Relação entre o tratamento ortodôntico e o diagnóstico do cisto ósseo traumático. Rev. Dental Press Ortodon. Ortop. Facial, Maringá, v. 8, n. 2, p. 41-48, mar./abr. 2003. 8. HANSEN, L. S.; SAPONE, J.; SPROAT, R. C. Traumatic bone cysts jaws. Oral Surg. Oral Med. Oral 312

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