Curso Nutrição do Recém-Nascido Pré-Termo. Elsa Paulino Hospital dos Lusíadas



Documentos relacionados
Diagnóstico Imunológico das Infecções Congênitas

INFECÇÃO PELO CITOMEGALOVÍRUS DURANTE A GRAVIDEZ E NO RECÉM-NASCIDO

HIV no período neonatal prevenção e conduta

INFECÇÃO MATERNA x INFECÇÃO PERINATAL

CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DOS NEONATOS PREMATUROS NASCIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO OESTE DO PARANÁ H.U.O.P.

BANCO DE LEITE HUMANO DO CHLC - MAC PERGUNTAS FREQUENTES

Médicos da idoneidade e da capacidade formativa para ministrar o Ciclo de Estudos Especiais de Neonatologia.

Infecções e Gestação : Atenção ao Filho de Mãe com Toxoplasmose. I Encontro da rede Mãe Paranaense

O impacto da extrema prematuridade na vigilância europeia da paralisia cerebral

Papilomavírus Humano HPV

HIV/AIDS Pediatria Sessão Clínica do Internato Revisão Teórica. Orientadora: Dra Lícia Moreira Acadêmico: Pedro Castro (6 Ano)

ANTICORPOS. CURSO: Farmácia DISCIPLINA: Microbiologia e Imunologia Clínica PROFESSORES: Guilherme Dias Patto Silvia Maria Rodrigues Querido

Rastreio neonatal sistemático tico de infecção por CMV

Clostridium difficile: quando valorizar?

INDICAÇÕES BIOEASY. Segue em anexo algumas indicações e dicas quanto à utilização dos Kits de Diagnóstico Rápido Bioeasy Linha Veterinária

Gean Carlo da Rocha. Declaração de conflito de interesse

Informação pode ser o melhor remédio. Hepatite

VÍRUS CITOMEGÁLICO HUM ANO CMV

Módulo 4: NUTRIÇÃO. Por que a boa nutrição é importante para o bebê? Qual o melhor leite para eles? Como monitorar o crescimento dos recém-nascidos?

ENSAIOS IMUNOLÓGICOS NAS ENFERMIDADES VIRAIS ANTICORPOS MONOCLONAIS GENÉTICA MOLECULAR CITOMETRIA DE FLUXO

Patologia Geral AIDS

PLANEJANDO A GRAVIDEZ

Atraso na introdução da terapia anti-retroviral em pacientes infectados pelo HIV. Brasil,

Epidemia pelo Vírus Ébola

VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (VIH) PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO Gabinete do Vereador DR. JAIRINHO DECRETA:

Infermun em parvovirose canina

Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais

Ensinos aos pais da criança com doença crónica hospitalizada na UCI Pediátrica

Hepatites Virais. Carmen Regina Nery e Silva agosto 2011 Regina.nery@aids.gov.br

A importância da primeira infância

EPIDEMIOLOGIA. CONCEITOS EPIDÊMICOS Professor Esp. André Luís Souza Stella

Técnicas Moleculares

VIROLOGIA HUMANA. Professor: Bruno Aleixo Venturi

Cientistas anunciam descoberta de três substâncias candidatas a anti retroviral brasileiro

Aprofundar a Proteção das Crianças, das Famílias e Promover a Natalidade Comissão de Saúde da Assembleia da República Lisboa, 14/Jan/2015

Do nascimento até 28 dias de vida.

HIV. O vírus da imunodeficiência humana HIV-1 e HIV-2 são membros da família Retroviridae, na subfamília Lentividae.

Perguntas e respostas sobre imunodeficiências primárias

Conhecendo o vírus v. Vírus da Imunodeficiência Humana VIH

2. ETIOLOGIA CITOMEGALOVIRUS

Aspectos Clínicos Relevantes da infecção

VARICELA ZOSTER VARICELA E GRAVIDEZ

TROCANDO IDEIAS XIX HERPES NA GESTAÇÃO COMO CONDUZIR

Placa Acessório Modem Impacta

HEPATITES. Prof. Fernando Ananias HEPATITE = DISTÚRBIO INFLAMATÓRIO DO FÍGADO

QUE LEITE DAR AO MEU BEBÉ?

Cartilha da Influenza A (H1N1)

ACOMPANHAMENTO DA PUÉRPERA HIV* Recomendações do Ministério da Saúde Transcrito por Marília da Glória Martins

Nota Técnica: Prevenção da infecção neonatal pelo Streptococcus agalactiae (Estreptococo Grupo B ou GBS)

FATORES DE RISCOS OBSTÉTRICOS E NEONATAIS PARA OCORRÊNCIA DE PREMATURIDADE NO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR

PROJETO DE REDUÇÃO DOS RESÍDUOS INFECTANTES NAS UTI S DO HOSPITAL ESTADUAL DE DIADEMA

Atualização do Congresso Americano de Oncologia Fabio Kater

INSTRUÇÃO NORMATIVA REFERENTE AO CALENDÁRIO NACIONAL DE VACINAÇÃO POVOS INDÍGENAS

Tabela 1. Fatores de Risco para Perda Neurossensorial (Bailey)

ANEXO II. 1 HEPATITE B VÍRUS DA HEPATITE B (Hepatitis B Vírus HBV)

Sigla do Indicador. TDIHCVC UTI Adulto. TDIHCVC UTI Pediátrica. TDIHCVC UTI Neonatal. TCVC UTI Adulto

Os anticorpos são proteínas específicas (imunoglobulinas) capazes de se combinarem quimicamente com os antigénios específicos.

PROJETO DE LEI N.º 624, DE 2011 (Da Sra. Nilda Gondim)

Gravidez na Adolescência

C O M P E T Ê N C I A S A D E S E N V O L V E R :

PAPILOMA VÍRUS HUMANO

Vacinação contra o HPV

PROCEDIMENTOS SEQUENCIADOS PARA O DIAGNÓSTICO, INCLUSÃO E MONITORAMENTO DO TRATAMENTO DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C.

ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO E/OU PERFUROCORTANTES ENTRE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, Interino, no uso de suas atribuições, resolve:

Dengue NS1 Antígeno: Uma Nova Abordagem Diagnóstica

Promover Competências no Sector Alimentar

Nível 2: Descrevendo seu sistema de APS e identificando os indicadores-chave

MYCAMINE MYCAMINE. micafungina. micafungina. Guia de Prescrição. e Monitorização. de Prescrição. Guia e Monitorização

IMUNOBIOLÓGICOS UTILIZADOS NA UNIDADE NEONATAL

- Vacina monovalente contra a poliomielite (VIP)

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

DESAFIOS NO DIAGNOSTICO LABORATORIAL DO SARAMPO NA FASE DE ELIMINAÇÃO. Marta Ferreira da Silva Rego

VARICELA OU HERPES ZOSTER EM CRIANÇAS INTERNADAS

ESTUDO DE CASOS DAS DOENÇAS EXANTEMÁTICAS

ESTADO DE GOIÁS PREFEITURA MUNICIPAL DE CAVALCANTE SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE PROJETO ALEITAMENTO MATERNO

QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO INICIAL - HOMEM VIH POSITIVO

Alexandre O. Chieppe

A LINGUAGEM DAS CÉLULAS DO SANGUE LEUCÓCITOS

Virulogia. Vírus. Vírus. características 02/03/2015. Príons: Proteína Viróides: RNA. Características. Características

Protocolos de Diagnóstico e Terapêutica em Infecciologia Perinatal SÍFILIS

CIRCULAR. ASSUNTO: Prevenção da Gripe A Orientações para a concepção de um plano de contingência

Aos bioquímicos, técnicos de laboratório e estagiários do setor de imunologia e hematologia.

Lílian Maria Lapa Montenegro Departamento de Imunologia Laboratório rio de Imunoepidemiologia

Transcrição:

Curso Nutrição do Recém-Nascido Pré-Termo Elsa Paulino Hospital dos Lusíadas

Leite de mãe CMV positivo Como atuar 1. Aspectos gerais 2. Excreção no leite 3. Infecciosidade 4. Infecção sintomática 5. Processos de inactivação do vírus no leite 6. Atuação perante leite de mãe CMV +

CMV- vírus ubiquitário do grupo herpes. Infecção é assintomática no hospedeiro com sistema imunológico normal. No hospedeiro com imunodeficiência a infecção pode ser severa.

O vírus após infecção fica lactente no organismo do hospedeiro permanecendo nos monocitos e granulocitos. É excretado durante meses ou anos na saliva, urina, secreções genitais. Reactivação da infecção durante a lactação.

Taxa de prevalência 71% e 84% entre 15-44 anos. (2º inquérito serológico nacional 2001-2002, DGS) Taxa de seropositivas na grávida de 58%. (Maternidade do Hospital de Dona Estefânia,2003-2006)

É a transmissão do CMV para o RN por via não placentária. Fontes de infecção pós natal: Secreções maternas. 1980- Leite materno é a maior fonte de infecção a CMV no primeiro ano de vida. (Stagno,NEJM)

No RN termo a infecção adquirida através do LM não está associada a doença. Imunização passiva transplacentária. Imunização natural. (Stagno,1980,NEJM) A infecção pós natal não está associada a sequelas neurológicas a longo prazo, nem a surdez neurosensorial.

1990 - Nova preocupação entre os neonatologistas: O RN prematuro pode apresentar infecção sintomática a CMV que ocasionalmente pode ser grave. (Richter,1997) No RN prematuro a infecção adquirida através do leite materno pode estar associada a doença. (Vochem,1998)

Taxa de excreção no leite materno é de cerca de 98% das mães seropositivas. Taxa de prevalência de seropositividade Taxa de reactivação (98%) Taxa de excreção CMV no LM (98%)

Detecção do DNA viral Polymerase chain reaction (PCR) DNA lactea. Cultura viral viru-lactea Detecção da reactivação da infecção Quantificação da Infecciosidade Carga viral Detecção fraccionada (células e soro) aumenta a sensibilidade

Baixo níveis de excreção na primeira semana Máxima excreção 4-8 semana Declínio da excreção após 10-12 semanas Hamprechet, Pediatric research, 2004

A excreção precoce de DNA viral (PCR +) Excreção do vírus (e não apenas do DNA viral) cultura viral positiva Carga viral no leite alta As mães transmissoras tem IgG mais altos do que as não transmissoras Hamprechet, Lancet, 2001

Hamprechet, Lancet, 2001

Hamprechet, Lancet, 2001

Leite Fresco 100% Seropositivas 98% Reactivação Excreção no leite 20-30% Infecção Kurat, Clin Microbiol Infect, 2010

Leite Fresco 100% Seropositivas 98% Reactivação Excreção no leite 20-30% Infecção 5% Clínica Kurat, Clin Microbiol Infect, 2010

Kurat, Clin Microbiol Infect, 2010

Case-control study of symptoms and neonatal outcome of human milktransmitted cytomegalovirus infection in premature infants. Neuberger, Goelz, J Pediatrics,2006 40 MBP CMV + com grupo controlo 40 MBP CMV Emparelhados por sexo, IG, dia de nascimento. MBP CMV + associado a : Trombocitopénia Neutropénia PCR 10-20 mg/l 3 MBP CMV + Colestase (p<.001) Todos os parâmetros auto limitados

Case-control study of symptoms and neonatal outcome of human milktransmitted cytomegalovirus infection in premature infants. Neuberger, Goelz, J Pediatrics,2006 40 MBP CMV + com grupo controlo 40 MBP CMV Emparelhados por sexo, IG, dia de nascimento. MBP CMV + NÂO associado a : DBP NEC Alt. crescimento PCR > 20 mg/l

Case-control study of symptoms and neonatal outcome of human milktransmitted cytomegalovirus infection in premature infants. Neuberger, Goelz, J Pediatrics,2006 40 MBP CMV + com grupo controlo 40 MBP CMV Emparelhados por sexo, IG, dia de nascimento. Não encontraram diferença entre os 2 grupos: Necessidade de ventilação Necessidade de O2 Duração de internamento Peso á data da alta PC á data da alta

Case-control study of symptoms and neonatal outcome of human milktransmitted cytomegalovirus infection in premature infants. Neuberger, Goelz, J Pediatrics,2006 40 MBP CMV + com grupo controlo 40 MBP CMV Emparelhados por sexo, IG, dia de nascimento. A clinica associado a à infecção a CMV é transitória e não afectou o prognóstico.

Casos clínicos com doença grave: Wakabayashi H Low HCMV Copies Sign. Symptoms in EPI Am J Perinatol 2012 Hamele M Severe morbidity bm-ass. CMV-Infection Ped Inf Dis J 2010 Takahashi R Severe postnatal CMV-Infection Neonatology 2007 Gessler P Cytomegalovirus-associated necrotizing enterocolitis J Perinatol 2004;24:124-6

Não há evidencia de sequelas a longo prazo. Não estão descritas surdez neuro sensorial ou alterações do neuro desenvolvimento. As séries publicadas são de pequenas dimensões.

Pasteurização Hodter : aquecimento a 62,5º C, 30 min. Pasteurização Flash: aquecimento a 72ºC, 5 seg. Congelação: 20ºC, 4 dias Hamprechet, Pediatric Research, 2004

Hamprechet, Pediatric Research, 2004

Pasteurização Holder aquecimento a 62,5º C, 30 min. Altera a: Qualidade nutricional Factores crescimento Factores imunológicos Não executável na prática clínica diária Hamprechet, Pediatric Research, 2004

Pasteurização Flash aquecimento a 72ºC, 5 seg. Preserva : Perfil proteico Alguns factores imunológicos- IgA, lisosina Reduz: Actividade enzimatica Imunoglobulinas Não executável na prática clínica diária Hamprechet, Pediatric Research, 2004

Congelação a 20ºC, 4 dias Hidrolise lípidos Diminui a actividade dos macrófagos e linfócitos Reduz a capacidade oxidativa Reduz alguns factores imunológicos Executável na prática clínica diária Hamprechet, Pediatric Research, 2004

série Taxa de infecção Infecção clínica Yasuda, 2003 Jim WT, 2004 Hayashi, 2011 34 PT < 34 S 42 PT < 32 S 15% 22 PT < 28 S 10% 0 Sepsis Hiperbili ( não estat. Sign.) 4,3% 0 A congelação não inactiva o vírus na totalidade mas diminui a infecciosidade e a infecção sintomática

Leite Leite congelado Fresco 100% Mães Seropositivas 98% Reactivação Excreção no leite 205-15% - 30% Infecção 0-1% 5% Clínica

Perfil serológico das mães Leite fresco com monitorização da infecção CMV Leite congelado < 28 S Pasteurização flash

Leite fresco com monitorização da infecção CMV Kurat,2010

Perfil serológico das mães Leite congelado < 28 S Iniciar a partir de 2º semana de vida Até 32S IC ou 8 semanas de idade cronológica

Perfil serológico das mães Pasteurização flash < 28 S Iniciar a partir de 2º semana de vida Até 32S IC ou 8 semanas de idade cronológica

Melhor conhecimento dos factores imunológicos implicados na infecção modo a identificar as mães e RN com maior risco de infecção. Procura de métodos de inactivação do vírus sem compromisso das características biológicas do leite.

Obrigada.