Estudo Experimental e Numérico de um Solo Argiloso Reforçado com Borracha Moída de Pneus Inservíveis para Aplicações em Obras Geotécnicas

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Transcrição:

Estudo Experimental e Numérico de um Solo Argiloso Reforçado com Borracha Moída de Pneus Inservíveis para Aplicações em Obras Geotécnicas Gary Durán Ramírez Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, gduran@pucp.pe Michéle Dal Toé Casagrande Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, michele_casagrande@pucrio.br RESUMO: Apresenta-se o estudo experimental do comportamento de um solo argiloso reforçado e não reforçado com borracha moída de pneus inservíveis, através da realização de ensaios de caracterização, bem como ensaios de compactação e ensaios triaxiais isotropicamente adensados drenados (CID). A borracha moída é obtida do processamento de pneus inservíveis e o solo é de origem coluvionar, retirado do campo experimental da PUC-Rio. Foram estabelecidos padrões de comportamento para explicar a influência da adição de borracha moída de pneus, relacionando-a com os parâmetros de resistência ao cisalhamento e deformação do solo. Os ensaios foram realizados em amostras compactadas na densidade máxima seca e umidade ótima, com teores de borracha moída de 5%, % e 2%, em relação ao peso seco do solo. Observa-se um incremento na resistência ao cisalhamento das misturas solo-borracha com 5% e % de teor de borracha, que se reflete no aumento dos parâmetros coesão e ângulo de atrito interno das misturas reforçadas, em relação ao solo argiloso puro. Apresenta-se também a análise numérica de uma barragem fictícia e a influência nas deformações e tensões no final da construção quando usadas as misturas soloborracha no núcleo. PALAVRAS-CHAVE: Borracha moída de pneus, obras geotécnicas, estudo experimental, análise numérica. INTRODUÇÃO A disposição final de pneus inservíveis representa um problema de difícil solução, pois são resíduos que ocupam grande volume e que precisam ser armazenados em condições apropriadas. A disposição inadequada dos pneus inservíveis produz um impacto duradouro no meio ambiente, já que a degradação destes resíduos é muito lenta. A permanência dos pneus no meio ambiente gera focos de infeção, proliferação de insetos e roedores, sendo prejudicial para a saúde humana. Com a presente pesquisa procura-se conhecer a viabilidade do emprego deste resíduo triturado (especificamente a borracha moída) como material de reforço em obras de terra, através de ensaios experimentais de laboratório e análise numérica. A utilização deste como material alternativo pode potencializar a diminuição da exploração de recursos naturais, contribuir com a minimização de passivos ambientais, agregar valor ao resíduo e evitar problemas ambientais, tais como, poluição do ar e o assoreamento de rios e lagos, eliminando problemas atuais de disposição de resíduos em lixões e aterros sanitários. 2 MATERIAIS 2. Solo Argiloso A argila utilizada neste trabalho é um solo maduro, coluvionar, argilo-arenoso, não saturado. Este foi coletado no Campo

Experimental II, localizado no interior do campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O material foi retirado entre, m e 2, m de profundidade, desde a superfície da encosta. Este solo possui características de tonalidade vermelha amarelada, textura micro-granular e com aspecto homogêneo, sendo constituído basicamente por quartzo, granada alterada, argilominerais (essencialmente caulinita) e óxidos de ferro e alumínio, como produto do intemperismo dos minerais primários da biotita gnaisse (Soares, 25). A presença imperante de certos minerais como a caulinita, a gibsita e a goetita sugerem que o solo tem um alto grau de intemperismo (Sertã, 986). A Figura apresenta uma foto do solo argiloso utilizado. Figura. Argila utilizada solo residual maduro. 2.2 Borracha Moída de Pneus A borracha moída (Figura 2) utilizada nesta pesquisa é proveniente da trituração de pneus inservíveis na composição de 5% em peso de veículos de passeio e 5% de pneus de veículos de carga. Este material foi obtido através da empresa de reciclagem de pneus Ecobalbo Reciclagem de Pneus S.A, situada na região de Cravinhos, interior de São Paulo. A borracha de pneu utilizado na presente pesquisa é classificada como pó de borracha malha 2, obtido por moagem e selecionado em peneiras apropriadas (Szeliga, 2), sendo este preto, com um diâmetro médio de, mm, variando de,2 mm a 2, mm. Figura 2. Borracha moída utilizada. 2.3 Mistura Solo-Borracha Utilizando-se cada tipo de solo foram preparadas misturas com diferentes teores de borracha, com o objetivo de determinar o teor ótimo para a inserção deste material como reforço. As misturas utilizadas com o solo argiloso foram 5%, % e 2% de borracha moída de pneu, calculados em relação ao peso do solo seco. A escolha destes teores foi feita com o intuito de analisar a evolução ou retrocesso dos parâmetros de resistência de cada misturas em relação ao solo puro. Desta manera estabelecer qual mistura obtem o melhor comportamento com o maior volume de resíduo. Um dos objetivos do uso deste material como reforço, é dar uma destinação ambientalmente correta para a maior quantidade possível. Na Tabela são apresenados os símbolos utilizados para identificar o solo argiloso e as misturas. Tabela. Símbolos utilizados. Material / Solo (%) Borracha Símbolo Mistura Moída (%) Solo Argiloso S Mistura 95 5 S95/B5 Mistura 2 9 S9/B Mistura 3 8 2 S8/B2 3 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL 3. Caracterização Física Com o fim de determinar as propriedades índice das amostras de solo argiloso

proveniente do Campo Experimental II do campus da PUC-Rio foram executados ensaios de caracterização física no Laboratório de Geotecnia e Meio Ambiente da PUC-Rio. O solo foi preparado segundo o normatizado nas normas técnicas brasileiras (Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT). Os ensaios realizados seguiram os métodos indicados pelas seguintes normas: o NBR 6457/986 Amostras de Solos Preparação para ensaios de compactação e caracterização; o NBR 78/984 Solo Análise Granulométrica; o NBR 658/984 Solo Determinação da densidade real dos grãos; o NBR 6459/984 Solo Determinação do Limite de Liquidez; o NBR 78/984 Solo Determinação do Limite de Plasticidade. utilizado o sistema de aquisição de dados composto pelo hardware QuantumX de oito canais da empresa alemã HBM e pelo software CatmanEasy. Para a confecção dos corpos de prova do solo argiloso puro e as misturas com os diversos teores de borracha, compactou-se inicialmente um corpo cilíndrico com o cilindro do Procto Normal, utilizando a energia característica deste cilindro, a umidade ótima e o peso específico seco máximo obtidos para cada tipo de mistura e solo puro. Com o material compactado moldou-se o corpo de porva de 7,82 cm de altura e 3,8 cm de diâmetro para finalmente ser colocado dentro da cámara triaxial como se observa na Figura 3. 3.2 Proctor Normal Os ensaios de compactação foram realizados para o solo argiloso puro e em misturas com 5%, % e 2% de borracha moída de pneu, com o intuito de se determinar a umidade ótima de compactação (w ótm ) e o peso específico aparente seco máximo (γ dmáx ) das misturas e do solo puro. Estes ensaios foram realizados segundo as diretrizes da norma NBR 782 da ABNT, utilizando-se a energia de compactação Proctor Normal e com reúso de material. 3.3 Triaxial Adensado Isotrópicamente Drenado (CID) Realizaram-se ensaios triaxiais CID no solo argiloso e nas misturas com 5%, % e 2% de borracha moída. Para cada tipo de material foram executados quatro ensaios triaxiais, sendo que os níveis de tensão confinante utilizados foram 5 kpa, kpa, 2 kpa e 4 kpa. Para estes ensaios foi utilizada uma prensa da marca Wykeham-Ferrance, de velocidade de deslocamento controlada, com capacidade de toneladas. Para a gravação dos dados, obtidos por intermédio dos transdutores, foi Figura 3.Corpo de prova dentro da cámara triaxial. As técnicas de saturação utilizadas, para os corpos de prova de argila e misturas, foram de saturação por percolação de água através da amostra e de saturação por contrapressão. No caso da percolação a diferença da contrapressão entre o topo e a base do corpo de prova foi de 5 kpa, sendo que a água fluía da base para o topo do corpo de prova. Na saturação por contrapressão a pressão confinante, aplicada ao corpo de prova, excedia a contrapressão em kpa, onde o fluxo de água era permitido pelo topo e base. O grau de saturação foi controlado com o parâmetro de Skepmton, sendo que para valores maiores ou iguais a,97 se considerou o corpo de prova saturado. Depois da etapa de adensamento dos corpos de prova procediou-se com o cisalhamento, adotando-se uma velocidade de,3 mm/min em todos os casos. O cálculo da velocidade de

.... Porcentagem que passa (%) Peso Específico Seco (g/cm3) cisalhamento foi realizado com a seguinte expressão, proposta por Head (986): L = t f () f.6.5.4.3.2 onde: ν: velocidade máxima de cisalhamento em mm/min, L: altura do corpo de prova em mm, ε f : deformação axial estimada na ruptura em %, t f : tempo mínimo de ruptura em minutos. 4 RESULTADOS E ANÁLISE Os resultados do peso específico (Gs), dos Límites de Atterberg e um resumen da granulomentría do solo argiloso são apresentados na Tabela 2. Tabela 2. Caracterização física do solo. Gs Areia Silte Argila LL LP IP SUCS (%) (%) (%) 2.72 36.4.8 52.7 53 39 4 MH As curvas granulométricas do solo argiloso e da borracha são apresentadas na Figura 4. 9 8 7 6 5 4 3 2 Solo Argiloso Diâmetro dos Grãos (mm) Figura 4. Curvas granulométricas. Borracha moída Na Figura 5 apresentam-se as curvas de compactação Proctor Normal obtidas para o solo argiloso e misturas. Pode-se observar que a inserção da borracha diminui o peso específico seco máximo do material, e que esse valor decresce à medida que o teor de borracha das misturas aumenta. A umidade ótima também diminiu como o aumento da presença de borracha moída. 2 3 4 5 6 7 8 9 Porcentagem retida (%)...9 5 5 2 25 3 35 Umidade (%) S S95/B5 S9/B S8/B2 Figura 5. Curvas de compactação (Ramirez, 22). Na Tabela 3 apresenta-se um resumo dos valores de umidades ótimas (w ótm ) e pesos específicos secos máximos (γ dmáx ). Tabela 3. Pesos específicos secos máximos. Material / Mistura Wótm (%) γdmáx (g/cm 3 ) S 26,3,56 S95/B5 23,5,5 S9/B 23,,47 S8/B2 22,5,42 As curvas tensão-devio vs deformação axial e deformação volumétrica vs deformação axial resultantes dos ensaios triaxiais do solo argiloso e misturas são apresentadas nas Figuras 6, 7 e 8. A Figura 6 apresenta a comparação dos resultados do solo argiloso e a mistura S95/B5 nas tensões confinante efetivas de 5 kpa, kpa, 2 kpa e 4 kpa. As Figuras 7 e 8 apresentam a comparação dos resultados do solo argiloso e as misturas S9/B e S8/B2 respectivamente. Pode-se observar a influência que o teor de borracha moída tem nas características de resistência do solo puro. Na medida em que vai se acrescentando borracha no solo argiloso, o comportamento deste, durante o cisalhamento, melhora. Atinge-se uma melhora máxima quando a porcentagem da borracha moída, presente no solo argiloso, é de %, mostrandose uma degradação do comportamento a partir do teor de borracha de 2%. Embora % seja o teor que apresenta as maiores melhoras na resistência ao cisalhamento, não se pode confirmá-lo como teor ótimo. Assim, a porcentagem ótima poderia-se situar entre % e 2% de borracha moída.

ε v (%) σ v (kpa) ε v (%) ε v (%) σ v (kpa) σ v (kpa) 8 7 6 5 4 3 2 2 4 6 8 2 4 6 8 2 22 24 26 28 3 32 S 5kPa S95/B5 5kPa S kpa S95/B5 kpa S 2kPa S95/B5 2kPa S 4kPa S95/B5 4kPa 8 7 6 5 4 3 2 2 4 6 8 2 4 6 8 2 22 24 26 28 3 32 S 5kPa S8/B2 5kPa S kpa S8/B2 kpa S 2kPa S8/B2 2kPa S 4kPa S8/B2 4kPa 4 3 2 - -2 2 4 6 8 2 4 6 8 2 22 24 26 28 3 32 S 5kPa S95/B5 5kPa S kpa S95/B5 kpa S 2kPa S95/B5 2kPa S 4kPa S95/B5 4kPa Figura 6. Curvas tensão-desvio e deformação volumétrica x deformação axial das amostras S e S95/B5 em ensaios triaxiais de compressão axial. 5 4 3 2 - -2 2 4 6 8 2 4 6 8 2 22 24 26 28 3 32 S 5kPa S8/B2 5kPa S kpa S8/B2 kpa S 2kPa S8/B2 2kPa S 4kPa S8/B2 4kPa Figura 8. Curvas tensão-desvio e deformação volumétrica x deformação axial das amostras S e S8/B2 em ensaios triaxiais de compressão axial. 8 7 6 5 4 3 2 3.5 3 2.5 2.5.5 -.5 - -.5 2 4 6 8 2 4 6 8 2 22 24 26 28 3 32 S 5kPa S9/B 5 kpa S kpa S9/B kpa S 2kPa S9/B 2kPa S 4kPa S9/B 4kPa 2 4 6 8 2 4 6 8 2 22 24 26 28 3 32 S 5kPa S9/B 5 kpa S kpa S9/B kpa S 2kPa S9/B 2kPa S 4kPa S9/B 4kPa Figura 7. Curvas tensão-desvio e deformação volumétrica x deformação axial das amostras S e S9/B em ensaios triaxiais de compressão axial. O comportamento das misturas, além de depender da porcentagem de borracha, depende em grande parte, do nível de confinamento sob a qual as amostras estão sendo submetidas. Assim, as envoltórias e parâmetros de resistência não vão depender somente do teor de borracha moída presente do solo argiloso, mas também do nível de tensão confinante. Analizando a mistura S9/B (Figura 7) pode-se apreciar que até a tensão confinante efetiva de 2 kpa a mistura apresenta maior resistência ao cisalhamento, sendo que para 4 kpa de tensão confinante efetiva a presença de borracha moída no solo é prejudicial. Segundo Özkul e Baykal (27), este fenômeno pose ser explicado talvez pelo fato de que tensões de confinamento muito altas podem restringir a dilatação do compósito a qual é necessária para mobilizar a resistência à tração da borracha. Na Figura 9 pode-se apreciar a envoltória de resistência da mistura S9/B e do solo argiloso (S). O comportamento bi-linear da envoltória da mistura é devida á influência do nível de confinamento no comportamento da

q (kpa) resistência ao cisalhamento. No tramo inicial da envoltoria bi-linear o ángulo de atrito é 34,4, o qual é maior do que o ángulo de atrito do solo argiloso, pelo contrario a coesão da mistura apresenta um valor menor. Já no segundo tramo, a coesão da mistura alcanza 8,3 kpa em comparação à coesão do solo argiloso que é 25,4 kpa. O ángulo de atrito da mistura diminui em relação ao águlo de atrito do solo argiloso. 4 35 3 25 2 5 5 S: φ' = 27,3 c' = 25,4 kpa S9/B_I: φ' = 34,4 c' = 4,2 kpa S9/B_II: φ' = 2,9 c' = 8,3 kpa 2 3 4 5 6 7 8 9 p' (kpa) S S9/B_I S9/B_II Figura 9. Comparação entre as envoltórias do solo argiloso e da mistura S9/B. barragem se realizou tendo em conta 2 fases de construção. A barragem tem uma geometria simples, devido a que o objetivo principal desta modelagem é observar a influência nas deformações e nas tensões efetivas resultantes quando utilizado a mistura S9/B ou o solo argiloso S no núcleo. Na Figura se aprecia as tensões efetivas resultantes na barragem quando o núcleo é conformado pela mistura S9/B. Estas tensões efetivas são menores quando o núcleo é de solo puro, devido a que a mistura tem menor peso específico por causa da borracha adicionada. A dinimuição das tensões efetivas não é muito significativa, razão pela qual não foi apresentada uma figura da gradação de cores das tensões efetivas da barragem com núcleo de solo puro, devido a que visualmente não se percebe maior diferença. 5 ANÁLISE NUMÉRICA DE UMA BARRAGEM FICTÍCIA Através da análise numérica de uma barragem fictícia foi avaliado o comportamento da mistura S9/B como material do núcleo, comparando-se o comportamento desta mistura com o comportamento do solo puro. Para a modelagem se utilizou o software Plaxis 2D. As dimensões da barragem, na seção transversal, são 3 m de altura e 72,5 m de largura. A base do núcleo mede 2, m e o topo 5, m. O material para o núcleo foi definido como não drenado e com os parâmetros de resistência da mistura S9/B (γ = 8, kn/m 3 ) e do solo puro (γ = 9,7 kn/m 3 ). Nos dois casos o modelos constitutivo utilizado foi o Hardening Soil. A Tabela 4 resume as caracteristicas dos materiais utilizados para modelar a barragem fictícia. Para o material das ombreiras se utilizou o modelo constitutivo Mohr-Coulomb e comportamento drenado. Procurou-se comparar as deformações veticais no núcleo da barragem quando usado o solo argiloso e a mistura S9/B. Para este fim a modelagem da Figura. Tensões efetivas na barragem com o núcleo de mistura (S9/B). Os resultados das deformações verticais no centro do núcleo da barragem no final da construção são apresentados na Figura. Pode-se ver que as deformações verticais na barragem com núcleo de mistura (S9/B) são menores que as deformações verticais da barragem com núcleo de solo argiloso. Tabela 4. Caracteristicas dos materiais utilizados. Componente γ Tipo de Modelo do (kn/m 3 ) Material Material Núcleo S Núcleo S9/B 9,7 Não drenado Hardening Soil 8, Não drenado Hardening Soil Ombreiras 2, Drenado Mohr-Coulomb

Altura (m) 35 3 efetivas e deformações veriticais geradas na barragem, a mistura S9/B teria um melhor comportamento como material de núcleo. 25 2 5 5..2.3.4.5.6 Deslocamentos Verticais (m) S9B Figura. Deslocamentos verticais no centro do núcleo no final da construção da barragem. S - Embora para as misturas S95/B5 e S8/B2 o comportamento mecânico seja negativo em relação ao solo puro, estes compósitos possuem características de resistência que poderiam cumprir as exigências de determinadas obras geotécnicas como, por exemplo, camadas de aterros sanitários, aterros sobre solos moles, aterros temporários, núcleos de barragem, etc. Possibilitando desta forma o menor consumo de material natural e reduzindo consequentemente os custos de transporte e o volume de material mobilizado. REFERÊNCIAS 6 CONCLUSÕES - Os parâmetros de compactação das misturas solo argiloso-borracha, são influenciados pelo teor de borracha moída. Sendo que o peso específico seco e a umidade ótima decrescem para maiores teores de borracha. - O comportamento mecânico dos compósitos depende do teor de borracha inserido no solo. Existe uma tendência de melhorar a resistência ao cisalhamento com o aumento do teor, sendo que a partir de certo teor a inserção de borracha é prejudicial em relação às propriedades do solo puro. - A tensão de confinamento sob a qual é cisalhado o compósito influi grandemente no comportamento mecânico deste. Para tensões de confinamento excessivamente altas (> 2 kpa) a resistência ao cisalhamento diminui significativamente. Este fenômeno pose ser explicado talvez pelo fato de que tensões de confinamento muito altas podem restringir a dilatação do compósito a qual é necessária para mobilizar a resistência à tração da borracha. Head, K.H. (986). Manual of Soil Laboratory Testing: Effective Stress Test. 2nd ed., Wiley, West Sussex, Ingland, Vol. 3, p. 227. Özkul, Z.H. e Baykal, G. (27). Shear Behavior of Compacted Rubber Fiber-Clay Composite in Drained and Undrained Loading, Journal of Geotechnical and Environmental Engineering, ASCE, Vol. 33, p. 767-78. Ramirez, G.G.D. (22). Estudo Experimental de Solos Reforçados com Borracha Moída de Pneus Inservíveis, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 46 p. Sertã, H.B.C. (986). Aspectos geológicos e geotécnicos do solo residual do Campo Experimental II da PUC/RJ, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- Graduação em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Soares, R.M. (25). Resistência ao cisalhamento de um solo coluvionar não saturado do Rio de Janeiro, RJ, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- Graduação em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Szeliga, L. (2). Avalação do comportamento de solos reforçados com borracha moída de pneus inservíveis para aplicação em obras, Projeto final do Curso de Engenharia Ambiental, Departamento de Engenharia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janero. - Dos resultados da modelagem da barragem pode-se apreciar que em relação às tensões