Redução do ph do Solo e Produtividade da Cultura do Mirtilo Submetida à Adubação Nitrogenada

Documentos relacionados
ADUBAÇÃO NPK DO ALGODOEIRO ADENSADO DE SAFRINHA NO CERRADO DE GOIÁS *1 INTRODUÇÃO

EFEITO RESIDUAL DE LONGO PRAZO DA ADUBAÇÃO DE PRÉ-PLANTIO COM TORTA DE MAMONA NA PRODUÇÃO DE AMOREIRA-PRETA

EFEITO DE ADUBAÇÃO NITROGENADA EM MILHO SAFRINHA CULTIVADO EM ESPAÇAMENTO REDUZIDO, EM DOURADOS, MS

RECOMENDAÇÃO DA DOSE DE BORO, EM SOLO HIDROMÓRFICO, PARA A CULTURA DO RABANETE.

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA E VIABILIDADE TÉCNICA DO PROGRAMA FOLIAR KIMBERLIT EM SOJA

PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA SOB INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E DOSES DE MATERIAL HÚMICO

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO FERTILIZANTE ORGANOMINERAL VALORIZA. VALORIZA/Fundação Procafé

A Cultura do Algodoeiro

CALAGEM E GESSAGEM DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE RORAIMA 1 INTRODUÇÃO

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

15 AVALIAÇÃO DOS PRODUTOS SEED E CROP+ EM

AGRISUS - RELATÓRIO MARÇO DE 2012

TEORES DE CÁLCIO, FÓSFORO E POTÁSSIO EM SOLO CULTIVADO COM AMEIXEIRA E SUBMETIDO À APLICAÇÃO DA MATRIZ FERTILIZANTE MBR

Avaliação de Doses e Fontes de Nitrogênio e Enxofre em Cobertura na Cultura do Milho em Plantio Direto

Palavras chave: doses de calcário, ph do solo, formas de manejo, produção.

CARACTERÍSTICAS FITOTÉCNICAS DO FEIJOEIRO (Phaseolus vulgaris L.) EM FUNÇÃO DE DOSES DE GESSO E FORMAS DE APLICAÇÃO DE GESSO E CALCÁRIO

Comportamento de plantas de açaizeiro em relação a diferentes doses de NPK na fase de formação e produção

USO DE FONTES MINERAIS NITROGENADAS PARA O CULTIVO DO MILHO

DOSES DE FERTILIZANTES PARA O ABACAXIZEIRO PÉROLA NA MESORREGIÃO DO SUL BAIANO

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 888

Doses de potássio na produção de sementes de alface.

Comunicado 68 Técnico

Soluções Nutricionais Integradas via Solo

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS EM GRÃOS DE SOJA E FEIJÃO CULTIVADOS EM SOLO SUPLEMENTADO COM LODO DE ESGOTO

Nutrição, Adubação e Calagem

SUMÁRIO. Capítulo 1 ESCOPO DA FERTILIDADE DO SOLO... 1

6 CALAGEM E ADUBAÇÃO

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

ADUBAÇÃO DA MAMONEIRA DA CULTIVAR BRS ENERGIA.

o custo elevado dos fertilizantes fosfatados solúveis em água

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

MANEJO DO SOLO PARA O CULTIVO DE HORTALIÇAS

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA EM FUNÇÃO DA CALAGEM, ADUBAÇÃO ORGÂNICA E POTÁSSICA 1

AVALIAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO LONGITUDINAL DE PLANTAS DE MILHO EM DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO

Fertilidade de Solos

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

BPUFs para milho em Mato Grosso do Sul informações locais. Eng. Agr. M.Sc. Douglas de Castilho Gitti

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

LEANDRO ZANCANARO LUIS CARLOS TESSARO JOEL HILLESHEIM LEONARDO VILELA

RELATÓRIO PARCIAL PARA AUXÍLIO DE PESQUISA. Interessado: Tânia Maria Müller, Dolvan Biegelmeier

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

Manejo da adubação nitrogenada na cultura do milho

Balanço de nutrientes em sistemas de produção soja-milho* Equipe Fundação MT Leandro Zancanaro

TEORES DE N, P e K EM SOLOS CULTIVADOS COM MORANGO NO MUNICÍPIO DE TURUÇU/RS. 1. INTRODUÇÃO

CALAGEM SUPERFICIAL E INCORPORADA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MILHO SAFRINHA AO LONGO DE CINCO ANOS

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 637

6.3 CALAGEM E ADUBAÇÃO

Café. Amostragem do solo. Calagem. Gessagem. Produtividade esperada. Espaçamento (m)

IRRIGAÇÃO BRANCA NA FORMAÇÃO DO CAFEEIRO

Palavras-Chave: Adubação mineral. Adubação orgânica. Cama de Peru. Glycine max.

ADENSAMENTO DE SEMEADURA EM TRIGO NO SUL DO BRASIL

Caraterísticas agronômicas de híbridos experimentais e comerciais de milho em diferentes densidades populacionais.

Calagem no Sistema Plantio Direto para Correção da Acidez e Suprimento de Ca e Mg como Nutrientes

A melhor escolha em qualquer situação

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

DESENVOLVIMENTO RADICULAR DA SOJA EM CAMADAS SUBSUPERFICIAIS DO SOLO SOB APLICAÇÃO DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO. Apresentação: Pôster

AVALIAÇÃO DA APLICAÇÃO TARDIA DE COBALTO, NA ABSCISÃO DE FLORES E COMPONENTES DE PRODUTIVIDADE DO FEIJOEIRO COMUM (Vigna unguiculata).

38º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA E POTÁSSICA NA PRODUTIVIDADE DE CAFEEIROS NAS MATAS DE MINAS

Impacto Ambiental do Uso Agrícola do Lodo de Esgoto: Descrição do Estudo

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

ADUBAÇÃO NITROGENADA DE COBERTURA E FOLIAR ASSOCIADAS A DOIS TIPOS DE COBRETURA MORTA NA PRODUTIVIDADE DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris)

PRODUTIVIDADE DA BATATA, VARIEDADE ASTERIX, EM RESPOSTA A DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO NA REGIÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ-SC

Vanderson Modolon DUART 1, Adriana Modolon DUART 2, Mário Felipe MEZZARI 2, Fernando José GARBUIO 3

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

Professora Doutora do Departamento de Estudos Agrários da UNIJUÍ, orientadora, 4

Eficiência agronômica de inoculante líquido composto de bactérias do gênero AzospirÜ!um

PRODUÇÃO DE BIOMASSA E EFICIÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE MACRONUTRIENTES PRIMÁRIOS POR VARIEDADES DE CANA NO PRIMEIRO CICLO Apresentação: Pôster

Avaliação da Eficiência Agronômica do Milho Em Função da Adubação Nitrogenada e Fosfatada Revestida com Polímeros

RELATÓRIO DE PESQUISA 11 17

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE UM POLIFOSFATO SULFORADO (PTC) NO ALGODOEIRO EM SOLO DE GOIÂNIA-GO *

PRODUTIVIDADE DE FEIJÃO E ACIDEZ DO SOLO AFETADAS PELA APLICAÇÃO E REAPLICAÇÃO DE RESÍDUO DE RECICLAGEM DE PAPEL EM SOLO ÁCIDO INTRODUÇÃO

Fertilidade do solo para culturas de inverno

ATRIBUTOS AGRONÔMICOS DA CULTURA DO MILHETO EM SISTEMA AGROECOLÓGICO SUBMETIDAS A DIFERENTES ADUBAÇÕES ORGÂNICA

DENSIDADE DE SEMEADURA E DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO TRIGO DE SEQUEIRO CULTIVADO EM PLANALTINA-DF

Enriquecimento de substrato com adubação NPK para produção de mudas de alface

Igor Rodrigues Queiroz. Bacharel em Agronomia pela Faculdade Dr. Francisco Maeda (FAFRAM) Anice Garcia

IX Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí IX Jornada Científica

FONTES DE ADUBOS FOSFATADOS EM ARROZ DE TERRAS ALTAS.

1 ADUBAÇÃO E MANEJO DO SOLO. George Wellington Melo Gustavo Brunetto

NUTRIÇÃO DA MAMONEIRA CONSORCIADA COM FEIJÃO COMUM EM FUNÇÃO DO PARCELAMENTO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

Recomendação de correção e adubação para tomate de mesa. Giulia Simioni Lívia Akasaka Patrick Oliveira Samara Barbosa

5. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES DE SOLOS

POTENCIAL DE ROCHAS SILICÁTICAS NO FORNECIMENTO DE NUTRIENTES PARA MILHETO. 1. MACRONUTRIENTES (1)

PRODUTIVIDADE AGRÍCOLA DO MILHO HÍBRIDO AG7088 VT PRO3 CULTIVADO SOB DIFERENTES DOSES DE NITROGÊNIO

AVALIAÇÃO AGRONÔMICA DOS FOSFATOS NATURAIS DE ARAD, DE DAOUI E DE GAFSA EM RELAÇÃO AO SUPERFOSFATO TRIPLO. Resumo

V Semana de Ciência e Tecnologia do IFMG campus Bambuí V Jornada Científica 19 a 24 de novembro de 2012

Requisitos de Clima e Solo da espécie

Manejo da Fertilidade do Solo para implantação do sistema ILP

TÍTULO: EFEITO DO ESTERCO DE GALINHA APLICADO EM COBERTURA NO SOLO CULTIVADO COM ABACAXI.

CONSTRUÇÃO DA FERTILIDADE E MANUTENÇÃO DE AMBIENTES DE ELEVADO POTENCIAL PRODUTIVO. Álvaro Resende

OBJETIVO SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DA ADUBAÇÃO NPKS MINERAL (QUÍMICA) POR ORGÂNICA COM E. GALINHA MAIS PALHA DE CAFÉ

Heterogeneidade da fertilidade de um Argissolo sob pomar de pêssego em função da irrigação e posição de amostragem

Otrigo é uma das principais culturas para produção

DOSES E FONTES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO MILHO SAFRINHA

Transcrição:

Redução do ph do Solo e Produtividade da Cultura do Mirtilo Submetida à Adubação Nitrogenada Leonardo Oliboni do Amaral 1 ; Elaine Damiani Conte 2 ; Endrigo Soares Golin 3 ; Diego da Rocha Cavalleti 4 ; Lucas de Ross Marchioretto 5 1 Universidade do Estado de Santa Catarina CAV/UDESC, loamaral@ucs.br; 2 Universidade de Caxias do Sul UCS, edconte@ucs.br; 3 Pomar Blueberry Pequenas frutas, esgolin@hotmail.com; 4 Universidade de Caxias do Sul UCS, drcavalleti@ucs.br; 5 Universidade do Estado de Santa Catarina CAV/UDESC, lucasdeross@hotmail.com Resumo: O cultivo de pequenas frutas vem se destacando como atividade de importância econômica na região sul do Brasil. Com grande potencial, a cultura do mirtilo chama a atenção de produtores, devido à possibilidade de alto retorno econômico e de consumidores sobretudo pelas propriedades nutracêuticas da fruta. No entanto, há uma carência de informações técnicas, sobre vários aspectos de produção, visando principalmente a adaptação do manejo nutricional às condições edafoclimáticas locais da região de Vacaria/RS. O trabalho teve como objetivo avaliar os efeitos da adubação nitrogenada na cultura do mirtilo após três anos consecutivos de aplicação dos tratamentos, com diferentes doses e fontes de nitrogênio. O experimento foi conduzido em um pomar comercial localizado no município de Vacaria, RS, sendo utilizada a cultivar Bluecrop. Os tratamentos consistiram na aplicação de nitrogênio nas doses de 0, 50, 100 e 150 kg por hectare, em cobertura. Como fontes do nutriente, comparou-se o uso de ureia e sulfato de amônio, nas doses supracitadas. Avaliou-se o ph e a saturação de alumínio do solo e os efeitos na produtividade da cultura. Verificou-se que doses crescentes de nitrogênio reduzem o ph, aumentando a saturação por alumínio do solo, sobretudo com utilização de sulfato de amônio como fonte do nutriente e que essas alterações resultam em queda da produtividade da cultura do mirtilo. Palavras chave: nitrogênio; pequenas frutas; Vaccinium corymbosum INTRODUÇÃO A cultura do mirtilo encontra-se em fase de desenvolvimento no Brasil. O manejo nutricional praticado atualmente é baseado nas recomendações de outros países onde a cultura possui maior expressão e já se encontra adaptada às condições edafoclimáticas. Estas por sua vez, diferem das encontradas nas regiões de cultivo brasileiras e podem estar exercendo influência nas necessidades nutricionais das plantas e consequentemente na produtividade e qualidade dos frutos. Devido a sua distinta exigência nutricional, muitas práticas de adubação que são comuns à maioria das espécies frutíferas não são indicadas para o mirtilo. (FREIRE, 2006). Isso se deve em parte à origem da planta, que nos remete a locais de solos ácidos onde os níveis de muitos nutrientes se mantém baixos. Portanto, o mirtilo requer pouca fertilidade, tornando seu manejo nutricional específico e diferenciado. (PARRA, 2007). Em seu habitat natural, o mirtilo do tipo highbush (Vaccinium corymbosum) tolera relativamente bem níveis elevados de alumínio (Al), ferro (Fe) e manganês (Mn). A maioria dos solos de locais de ocorrência natural dessa espécie são de ph baixo, textura francoarenosa, baixa fertilidade natural e teor de matéria orgânica elevado, onde os metais antes 1

citados encontram-se complexados. (SILVEIRA et al., 2016). Esta complexação por sua vez, está relacionada com a presença de micorrizas específicas, as quais além de promover maior eficiência na absorção de nitrogênio e fósforo, conferem tolerância aos metais pesados, impedindo a absorção e translocação para a parte aérea das plantas. Após alguns anos desde a introdução da cultura no país, verificou-se que as plantas apresentavam crescimento lento e até morte. Posteriormente constatou-se que o ph naturalmente ácido dos Argissolos, com teores elevados de Al, Mn e Fe tóxicos, associado à não ocorrência de micorrizas para complexação destes metais podem estar contribuindo para o desempenho insuficiente nas condições de cultivo até então empregadas. (SILVEIRA et al., 2016). Devido à estas constatações, foram sugeridas medidas à curto prazo, sendo a principal delas, a correção do ph para 5,5 na implantação de pomares novos e incorporação de calcário na reposição do mulching em pomares já estabelecidos. Esta modificação no ph de referência para a cultura do mirtilo foi incluída na nova edição do Manual de Adubação e Calagem para o RS e SC (CQFS-RS, 2016). Nesse contexto, um fator extremamente importante a ser considerado é de que a adubação de reposição na cultura, especialmente a nitrogenada, pode reduzir ainda mais o ph do solo, aumentando a disponibilidade de elementos tóxicos às plantas, reduzindo o potencial produtivo da cultura. Este trabalho teve como objetivo investigar os efeitos de doses e fontes de N nas características de solo e a influência desta condição na produtividade da cultura do mirtileiro. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi conduzido em um pomar comercial, na empresa Blueberry Mudas e Sementes Ltda, que está localizada no município de Vacaria/RS, sob as coordenadas geográficas latitude sul 28 26 30, longitude oeste 50 56 35 e altitude de 907 metros. A cultivar escolhida para o ensaio foi a Bluecrop, a qual tem apresentado boa adaptação às condições de clima local. O solo onde foi instalado o experimento apresentava as seguintes características químicas: ph 4,8; índice SMP 4,4; MO 11,6%, Ca 5,7 comol c.dm -3 ; Mg 2,0 comol c.dm -3 ; Al 1,7 comol c.dm -3 ; H+Al 27,4 comol c.dm -3 ; CTCefetiva 10 comol c.dm -3 ; CTCpH7,0 35,7 comol c.dm -3, saturação Al 17%; saturação bases 23,1%; P 22,9 mg.dm -3 S 28,7 mg.dm -3 e K 220 mg.dm -3. Os tratamentos foram aplicados na mesma área experimental por três anos consecutivos, com início em 2014 e repetições em 2015 e 2016, para observação do comportamento produtivo das plantas de mirtilo submetidas às aplicações consecutivas de N. O experimento foi alocado em parcelões, utilizando-se oito filas do pomar, totalizando 0,19 ha. As filas possuem 100 metros de comprimento, foram divididas em quatro repetições de 25 metros, sendo que foram desconsideradas bordaduras de 2 metros entre cada repetição. As adubações de manutenção e reposição foram realizadas através da fertirrigação, exceto a adubação nitrogenada nos tratamentos, a qual seguiu conforme os mesmos. Os tratamentos consistiram na aplicação em cobertura, de duas fontes de N: ureia e sulfato de amônio, nas doses de 50, 100 e 150 kg ha -1 para cada fonte, além de testemunha, a qual não recebeu adubação nitrogenada. O momento de aplicação dos fertilizantes nitrogenados se deu em duas etapas, com a metade das doses em cada uma delas. A primeira aplicação foi feita por ocasião da abertura das gemas florais, e a segunda 30 dias após a primeira. (CQFS - RS/SC, 2004). 2

Foram selecionadas aleatoriamente três plantas dentro da parcela para compor a repetição, de onde foram coletados frutos e amostras de solo na profundidade de 0-20 cm para análise. Compararam-se os resultados de ph e saturação por Al do solo e seus efeitos na produtividade de frutos (Kg ha -1 ). Os resultados das avaliações foram submetidos à análise de variância (p 0,05) e, nos casos de significância, os efeitos de doses foram comparados pela análise de regressão e de fontes (ureia x sulfato de amônio) pelo teste F (p 0,05), com uso do Sistema de Análise Estatística-WinStat. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados demonstram uma redução nos valores de ph com o aumento das doses de nitrogênio aplicadas no solo conforme a Figura 1a. Já a saturação de Al do solo teve aumento com o incremento nas doses de N (Figura 1b). De acordo com Malavolta (2006), quando a percentagem de saturação por Al passa de 20% pode ser considerada prejudicial, sendo que valores acima de 45% são altamente danosos às plantas. Os resultados obtidos com o experimento demonstram que apenas no tratamento sem aplicação de adubação nitrogenada (testemunha), a saturação de Al ficou abaixo de 20%, chegando a 40% na maior dose de N aplicada (150 Kg ha -1 ). Figura 1 ph (a) e saturação por Al do solo (b) em função das diferentes doses de N aplicadas em cobertura. Vacaria RS, 2016. a) b) Quando comparadas as fontes de N, o uso de sulfato de amônio proporcionou maior queda do ph, elevando mais acentuadamente a saturação por Al do solo em relação à ureia (Tabela 1): Tabela 1 ph e saturação por Al do solo em função das fontes de N aplicadas. Vacaria-RS, 2016 Fontes ph (H2O) Sat. Al (%) Ureia 4,55a 22,26b Sulfato de Amônio 4,18b 38,62a CV (%) 5,60 47,78 Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste F (p<0,05). A produtividade de frutos por hectare foi influenciada de forma negativa conforme o aumento das doses de nitrogênio aplicadas em cobertura (Figura 2). Já na comparação 3

das fontes de nitrogênio utilizadas (ureia e sulfato de amônio), não foi observado efeito significativo com análise de variância (p<0,05) para a variável analisada. Figura 2 Produtividade por hectare em função das doses de nitrogênio aplicadas em cobertura. Vacaria RS, 2016. A redução de produtividade com as aplicações de N já havia sido observada no segundo ano de realização do experimento. Em estudo semelhante testando as mesmas doses de N no estabelecimento da cultura, Bañados et al. (2012) apontaram a dose de 50 Kg ha -1 de N como a que obteve maior produção de frutos para sua condição de solo. O efeito negativo na produtividade, em todas as doses utilizadas neste experimento, pode ser resultado do ph inicial do solo mais baixo, da maior acidez potencial e dos teores elevados de Al em relação ao trabalho mencionado. CONCLUSÕES A redução no ph e aumento na saturação de Al provocadas pela aplicação de nitrogênio no solo reduziram a produtividade da cultura do mirtilo. Estudos sobre faixas ideais de ph e métodos de correção das áreas já existentes precisam ser realizados para aumentar o potencial produtivo da cultura na região sul do Brasil. AGRADECIMENTOS À Universidade de Caxias do Sul e à empresa Blueberry Mudas e Sementes Ltda. pela disponibilização do local e estrutura para condução do experimento. REFERÊNCIAS BAÑADOS, M. P; STRIK, B. C; BRYLA, D. R; RIGHETTI, T. L. Response of Highbush Blueberry to Nitrogen Fertilizer During Field Establishment, I: Accumulationand Allocation of Fertilizer Nitrogen and Biomass. In: Hortscience. v. 47(5). Maio 2012. 648-655. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO (CQFS) - RS/SC. Manual de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 10. ed. Porto Alegre, 2004. 394 p. COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO (CQFS) - RS/SC. Manual de adubação e de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 11. ed. Porto Alegre, 2016. 212 p. 4

FREIRE, C. J. S. Nutrição e adubação para o mirtilo In: ANTUNES, L.E.C; RASEIRA, M. C.B. Cultivo do Mirtilo (Vaccinium spp). Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2006. 99 p. 60-74 (Sistemas de Produção 8). MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Editora Agronômica Ceres, 2006. 638p. PARRA, I. V. Fertirrigación de arándanos. In: Seminário Brasileiro Sobre Pequenas Frutas, 4, 2007, Vacaria. Anais... Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2007. 71 p. 23-28 (Embrapa Uva e Vinho. Documentos, 59). SILVEIRA, C. A. P.; MARTINAZZO, R.; ARAÚJO, V. F. Considerações sobre recomendação de adubação, uso racional de nutrientes e implicações no manejo da adubação das culturas do morango e mirtilo. In: Anais. VII Encontro Sobre Pequenas Frutas e Frutas Nativas do Mercosul Palestras e resumos, Pelotas. 2016. 414-416p. 5