Cidade Antiga Antonio Castelnou
Introdução Do VI ao IV século a.c., todo o Oriente Médio foi unificado pelo IMPÉRIO PERSA, que se estendeu do Egito até o Vale do Indos e cujo centro político concentrava-se na região onde atualmente se encontra o Irã. A partir de então, iniciou-se o processo de helenização com o avanço de Alexandre, o Grande, que disseminou os ideais gregos e culminou com a afirmação e a ascensão do IMPÉRIO ROMANO, no século I d.c.
Império Persa (c. 490 ac) Até o século V a.c., toda a região do IMPÉRIO PERSA gozou de um longo período de paz e administração uniforme, permitindo a circulação de homens, mercadorias e idéias de uma extremidade a outra (Benévolo, 2001).
PERSÉPOLIS, a cidadepalácio dos reis persas, reunia a combinação dos modelos arquitetônicos dos vários países do império, segundo um rígido esquema cerimonial, marcado pela exatidão racional e pela ortogonalidade compositiva. A religião persa tinha como livro sagrado o Avesta, de autoria atribuída a Zaratustra, que dispensava templos e defendia uma crença na vida extraterrena e na imortalidade da alma. Persépolis (518-331 ac, atual Irã)
Cidade de Persépolis (518-331 ac, atual Irã)
Eram estas as características das CIDADES ANTIGAS do Oriente Próximo: Localização estratégica, derivada de condicionantes naturais (clima, fertilidade do solo, proximidade com rios, etc.) e da afirmação simbólica (sede de poder, de riqueza e de proteção militar); Inexistência de um conceito unitário de planejamento urbano, resultando em uma planimetria irregular e um traçado espontâneo predominante; Segregação nítida entre o recinto da cidade e o campo, devido à muralha, mas completa dependência entre ambos; Apesar da variedade, os palácios, os templos e as principais moradias apresentavam forte configuração geométrica e simetria axial; Imponência das edificações que representavam o poder e a presença de uma avenida monumental destinada a desfiles triunfais e cortejos religiosos.
Mohenjo-Daro Parque arqueológico de Mohenjo-Daro (Paquistão) Criada por volta de 3000 a.c., MOHENJO-DARO, situada no Vale do Indos (Paquistão), possuía duas zonas distintas: a alta e a baixa, apresentando traçado mais regular do que se apresentava nas cidades primitivas. Identificam-se três ruas principais orientadas no sentido Norte-Sul e outra perpendicular a elas, que cortam pequenas ruelas que constituem núcleos mais primitivos. Vale do rio Indos Civilização que floreceu entre 2600 e 1800 ac.
O traçado uniforme da cidadela de MOHENJO- DARO e as ruínas de construções em ladrilho (cerâmica artesanal) e adobe (tijolos de barro cru) apontam para uma civilização emergente, cuja cidade já apresentava preocupações com a pavimentação de ruas e com o escoamento das águas, assim como balneários públicos (Goitia, 2003). Mohenjo-Daro
Cidade de Mohenjo-Daro (3000 ac, Paquistão)
Principalmente a partir do século XX a.c., as civilizações do EXTREMO ORIENTE e também da AMÉRICA PRÉ-COLOMBIANA desenvolveram-se, criando suas próprias cidades, as quais seriam ditadas tanto por novas condições geográficas como por características culturais e religiosas distintas das demais cidades do Médio Oriente. Rub al Khali (Shiban, atual Iêmen)
Pueblo Bonito (900 dc, N. Mexico) Na América do Norte, os assentamentos urbanos mais antigos são Pueblo Bonito (900 dc) e Mesa Verde (1200 dc), além de outras construções também localizadas no Canyon de Chaco, New Mexico. O rigor do deserto fez com que os aposentos também se tornassem subterrâneos, feitos em pedra e barro, com aproveitamento dos ventos nas moradias. Casa
Cidade de Pueblo Bonito (900 dc, N. Mexico EUA) A maior das 09 (nove) edificações de PUEBLO BONITO tem a forma de um D e provavelmente contava com 05 (cinco) andares e mais de 650 aposentos. Distribuídas em semi-círculo, as moradias foram aumentando de número com o passar do tempo, criando um grande complexo.
Mesa Verde (Colorado EUA) Pueblo Bonito (New Mexico EUA) Cidade de Mesa Verde (1200 dc, Colorado EUA)
Cidade de Mesa Verde (1200 dc, Colorado EUA)
Cidade oriental No EXTREMO ORIENTE que abrange a Índia, a Indochina, a China e o Japão, a civilização urbana começou mais tarde do que a zona compreendida entre o Mediterrâneo e o Golfo Pérsico (Oriente Médio), por volta de 2000 a.c. Isto ocorreu devido às diferenças geográficas (territórios tropicais), às opções econômicas de agricultura (plantações extensivas) e às diretivas culturais (preceitos religiosos) (Jellicoe & Jellicoe, 1995).
Sudeste Asiático (Extremo Oriente) Essa região quente e úmida, isolada do resto da Ásia pelas montanhas do Himalaia e regada por rios inconstantes, devido ao clima de monções, permitiu o estabelecimento de populações numerosas em planícies irrigáveis (favoráveis ao cultivo do arroz), circundadas por montes em que permaneceram habitantes incultos e nômades não-civilizados.
Tal organização econômica permitiu a formação de grandes Estados unitários, onde a classe dirigente era composta por aqueles que concentraram em suas mãos um enorme excedente que garantia as condições de sobrevivência. Estabeleceu-se um contraste fundamental: ao Norte, as montanhas hostis e desconhecidas, de onde vinham ventos frios, animais selvagens e povos inimigos; e, ao Sul, a planície cultivada, o mar e o calor. Grande Muralha da China (c. 210 ac)
YIN YANG Cidade Proibida de Beijing (1406-1420 dc) Desde o início, a relação entre poder, prosperidade e virtude dominou a cultura oriental, que sempre buscou assegurar a paz e a harmonia social através da mediação entre os princípios opostos do YIN e do YANG (o frio e o calor, a sombra e a luz, o descanso e a atividade, o feminino e o masculino, etc.).
Esquema ilustrativo da cidade ideal chinesa Por esta razão, os assentamentos urbanos orientais deveriam garantir o justo EQUILÍBRIO entre o Norte e o Sul, mantendo à distância os perigos do primeiro, refreando em canais as águas que desciam dos altiplanos e transformando-as em elemento de vida no Sul. N
Cidade ideal de Zhou No EXTREMO ORIENTE, a ordem latente do universo tornou-se uma ordem visível, geométrica e arquitetônica, que se expressaria em suas cidades, onde: Os eixos de simetria ligavam a cidade aos pontos cardeais (o universo celeste ); Os muros imprimiam na cidade uma forma regular e a defendiam dos inimigos; A multiplicidade dos espaços e dos edifícios revelava a complexidade das funções civis e religiosas, com seu minucioso cerimonial (Benévolo, 2001).
Império Chinês A CIVILIZAÇÃO CHINESA nasceu às margens dos rios Amarelo (Huang-He) e Azul (Yang-Tsé-Kiang), sendo sua tradição cultural codificada após a unificação do império no século III a.c., permanecendo substancialmente a mesma em toda a sua história, apesar das crises e das revoluções políticas e religiosas, além da invasão mongol.
1 Estábulos do governo 2 Depósitos do governo mercado PALÁCIO IMPERIAL 1 2 Vias principais Vias secundárias Muralha armazéns Templo ancestrais Casas príncipes Comandantes MODELO DE CIDADE CHINESA IMPERIAL N As regras urbanísticas e de construção chinesas formaram-se na era Chu (1050-350 a.c.), sendo transmitidas até hoje. As CIDADES ORIENTAIS nasceram como refúgio, residência estável da classe dirigente (sacerdotes, guerreiros e técnicos) temporariamente capaz de acolher a população camponesa do distrito circundante (Ferrari, 1991).
As CIDADES CHINESAS eram rigorosamente quadradas e compostas por dois cinturões de muros: um interno, que encerrava a cidade habitada; e um externo, que rodeava um espaço vazio de hortas e pomares. As regras foram descritas pelo literato Meng-Tsi (372-289 a.c.), empregando a unidade de medida urbanística denominada LI, que corresponde a cerca de 530 m. Cidade de Chang (Dinastia Tang) Esquema da Cidade Ideal Chinesa
TSCHENG J I TU Categorias de cidades chinesas Segundo sua grandeza, de acordo com Benévolo (2001), as antigas cidades chinesas podiam ser de 03 (três) categorias: TSCHENG: cidade menor, cujo cinturão interno teria perímetro de 1 li e externo de 3 li, podendo chegar a 7 li; JI: cidade intermediária, com cinturão interno de 7 li e externo de 11 li; TU: cidade maior com cinturão interno de 11 li e externo de 14 li.
Casa chinesa em pátios canal N Os ambientes individuais ou coletivos da cidade chinesa conservavam sua forma regular e simétrica, mas o conjunto urbano adquiria um aspecto irregular devido às características do local. O paisagismo tornava-se então o elemento vinculador.
Essas regras repetiam-se tanto nos CONJUNTOS MONUMENTAIS (palácios do imperador) como nos edifícios e espaços para a vida privada, buscando a harmonia do ambiente cósmico. Algumas capitais imperiais da China como Chang- Na, Hang-Chu e BEIJING (que recebeu vários nomes, como Ki-Yen e Chung-Tu, além de Pequim) chegaram a superar um milhão de habitantes. Cidade de Beijing