EFEITO RESIDUAL DE HERBICIDAS PRÉ- EMERGENTES UTILIZADOS NA CULTURA DA SOJA SOBRE O MILHO SAFRINHA Hugo de Almeida Dan 1, Lilian Gomes de Moraes Dan 2, Alberto Leão de Lemos Barroso 3, Antonio Mendes de Oliveira Neto 4, Thiago Rezende Finotti 2, Emilene Cristina Guadanin 2, Cleriston Feldkircher 2, Naiara Guerra 4, Diego Gonçalves Alonso 5, Rubem Silvério de Oliveira Júnior 6, Gizelly Santos 7. 1. Introdução Em espécies cultivadas de maneira intensiva, como as culturas da soja e do milho, a utilização de herbicidas para controle de plantas daninhas é uma técnica indispensável. Porém, a complexidade do controle por meio de herbicidas tem aumentado substancialmente, devido à diversidade de espécies, surgimento de biótipos resistentes a herbicidas e as profundas mudanças no sistema de manejo cultural (Artuzi & Contiero, 2006). Pela importância da utilização de herbicidas e a variedade de produtos disponíveis 1 Eng. Agr., aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal da Universidade de Rio Verde-FESURV,<halmeidadan@gmail.com>; 2 Estudante da Faculdade de Agronomia da FESURV; 3 Eng. Agr., Dr., Prof. da Faculdade de Agronomia da FESURV; 4 Eng. Agr., aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Estadual de Maringá-UEM, Bolsista da CAPES; 5 Eng. Agr., M.S., aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Agronomia da Universidade Estadual de Maringá-UEM, Bolsista do CNPq; 6 Eng. Agr., Dr., Prof. do Departamento de Agronomia da UEM, Bolsista do CNPq. 7 Estudante da Faculdade de Agronomia da UEM. 406
no mercado para a realização de programas de rotação de produtos e de manejo de plantas daninhas, na cultura da soja e culturas sucessivas, é necessária a realização de pesquisas, a fim de detectar uma possível susceptibilidade da soja, bem como efeitos residuais de herbicidas sobre culturas semeadas em cultivos subsequentes (Pereira et al., 2000). Os efeitos residuais de herbicidas aplicados em pré-emergência da cultura da soja sobre as culturas de sucessão são comuns, principalmente quando são empregados os herbicidas inibidores de ALS, como imazaquim, imazetapyr ou diclosulan. Brigenthi et al. (2002) relataram que o herbicida diclosulan reduziu significativamente o estande de plantas de girassol quando aplicados 60 ou 90 dias antes da semeadura da cultura. Em contrapartida o herbicida imazaquim reduziu a altura das plantas, estande, teor de óleo e rendimento do girassol, quando foi aplicado 60 dias antes da semeadura. Smith et al. (2005) avaliaram o efeito residual de diferentes doses do herbicida imazaquin sobre a cultura milho cultivada em sucessão e observaram que as plantas de milho expressaram sintomas de fitointoxicação em todas as doses avaliadas (11, 22, 43, 86, 173 g ha -1 de imazaquim) tanto as 6 quanto as 8 semanas após o plantio da cultura. O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito residual de diferentes herbicidas pré-emergentes utilizados na cultura da soja sobre o desenvolvimento da cultura do milho safrinha, cultivado na região do cerrado. 2. Material e Métodos O experimento foi conduzido no Campus da Faculdade de Agronomia da FESURV-Universidade de Rio Verde, em Rio Verde, GO, localizada nas coordenadas 17 48 S, 55 55 W e altitude de 760 m, durante o período de novembro de 2008 a julho de 2009. A implantação ocorreu em LATOSSOLO VERMELHO distroférrico, de textura argilosa com 510 g kg -1 Argila, 50 g kg -1 de Silte, 440 g kg -1 de Areia e 28,84 g kg -1 de MO, em área sob condições de pousio, manejada com 1,8 kg ha -1 de glyphosate + 0,5 kg ha -1 de 2,4D cerca de 15 dias antecedendo a semeadura. O cultivar de soja M-soy 6101 foi semeado em espaçamento de 0,5 m, de forma mecanizada, com população final de 230 mil plantas ha -1. Utilizou-se adubação de base com 80 kg ha -1 de P 2 O 5 (super fosfato simples), 20 kg ha -1 de K 2 O (cloreto de potássio) e 30 kg ha -1 de K 2 O em cobertura aos 30 dias após a emergência. Os demais tratos culturais convencionais, segundo as recomendações da Embrapa (2008). O ensaio foi disposto no delineamento de blocos ao acaso com quatro repetições. Os tratamentos corresponderam a quatro herbicidas pré-emergentes sendo imazaquim (0,161 kg ha -1 ), diclosulan (0,035 kg ha -1 ), sulfentrazone (0,6 kg 407
ha -1 ), flumioxazin (0,025 kg ha -1 ) e uma testemunha. A aplicação dos tratamentos herbicidas foi realizada na pré emergência da cultura, em parcelas de 20m 2 (5x4m), utilizando-se um pulverizador costal com pressurização por CO 2, munido de barra de 2,5 m, contendo seis pontas de pulverização do tipo AI110-02 (0,5 m entre pontas), pressão de serviço de 2,5 kgf cm -2, proporcionando um volume de calda equivalente a 150 L ha 1. A condição ambiental no momento da aplicação foi à seguinte: Temperatura média de 27,2ºC, UR média de 79% e velocidade do vento média de 6,1 km h -1 ). O híbrido de milho 30K75Y foi semeado numa população de 50 mil plantas ha -1 em espaçamento de 0,5 m, de forma manual. A semeadura ocorreu após a colheita da soja (112 dias após a aplicação dos herbicidas). Realizou-se uma adubação de base composta de 150 kg de N-P-K, 04-14-08, com posterior adubação de cobertura (15 kg ha -1 de nitrogênio na forma de sulfato de amônia nos estádios V4 e V8). O controle de plantas daninhas na cultura do milho foi realizado de forma manual, através de capina. Foi utilizada irrigação suplementar. Após a emergência da cultura foram realizadas avaliações de fitointoxicação aos 7, 15 e 28 DAE, utilizando-se escala percentual de 0 (zero) a 100%, onde 0 (zero) representa ausência de sintomas e 100% representa morte de todas as plantas (ALAM, 1974). Determinou-se o estande e acúmulo de biomassa seca da parte aérea aos 50 dias após a emergência das plantas. Para isso foram coletadas 4 plantas ao acaso de cada parcela, sendo esse material secado em estufa com circulação de ar a 65 o C durante um período de 72 horas. Ao final do ciclo da cultura foi avaliada a altura das plantas e inserção da primeira espiga, utilizando-se uma trena graduada. O rendimento de grãos foi determinado através da colheita manual das espigas presentes na área útil da parcela de 8m 2 eliminado se a bordadura, sendo que logo após a colheita o material foi trilhado, pesado e a umidade dos grãos corrigida para 13%. Os resultados referentes aos níveis de fitointoxicação, altura de planta, inserção da espiga foram submetidos a uma transformação ( x+1) para seguir os pressupostos necessários para a análise de variância, que foi realizada com o programa estatístico Sisvar. Os resultados significativos foram comparados pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. 3. Resultados e Discussão Na Tabela 1 estão apresentados os resultados de fitointoxicação apresentados nas avaliações de 7, 15 e 28 dias após a emergência da cultura do milho. O herbicida flumioxazin mostrou-se seletivo para a cultura do milho cultivada em sucessão a cultura da soja, onde sintomas de fitointoxicação foram observados somente na avaliação de 7 DAE e mesmo assim, foi significativamente igual à 408
testemunha. O efeito residual dos herbicidas diclosulan e imazaquim sobre a cultura do milho foi observado em todas as avaliações de fitointoxicação, sendo que aos 28 DAE as maiores porcentagens de fitointoxicação foram de 8,2% e 6,7%, para diclosulan e imazaquin. Já o herbicida surfentrazone provocou sintomas de fitointoxicação aos 7 e 15 DAE, no entanto, aos 28 DAE as plantas de milho recuperaram das injúrias apresentando médias de fitointoxicação significativamente iguais a testemunha. Tabela 1. Fitointoxicação apresentadas pelas plantas de milho cultivadas em sucessão a cultura da soja. Rio Verde-GO. Safra 2008/2009. Tratamentos Dose (kg de i.a. ha -1 ) Fitointoxicação (%) 7 DAE 1 15 DAE 28 DAE testemunha - 0,0 a 0,0 a 0,0 a imazaquim 0,161 15,0 b 10,7 c 6,7 b diclosulan 0,003 13,2 b 12,2 c 8,2 b sulfentrazone 0,6 10,2 b 6,5 b 2,2 a flumioxazin 0,025 2,7 a 0,0 a 0,0 a DMS 5,254 4,75 3,21 CV% 20,33 14,3 12,3 Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey p 0,05. *DAA: 1 Dias após a emergência. Na Tabela 2 estão dispostos os resultados de altura de plantas, altura da inserção da espiga e acúmulo de matéria seca da parte aérea das plantas de milho. A única variável-resposta afetada negativamente pelo efeito residual dos herbicidas foi à altura de plantas, com destaque para os herbicidas diclosulan e imazaquim, principais respon aveis responsáveis pelo decréscimo. A altura de inserção da primeira espiga não foi afetada pelos tratamentos e apresentaram valores muito próximos independentemente do tratamento utilizado. Mesmo não havendo diferença significativa para o acúmulo de massa seca da parte aérea do milho, observa-se uma tendência consistente de redução dessa variável em plantas cultivadas nos solos contaminados pelos herbicidas imazaquim e diclosulan. O rendimento médio de grãos em função dos tratamentos utilizados está apresentado na Figura 1. Nota-se que o rendimento de grãos não foi afetado pelo uso dos herbicidas surfentrazone e flumioxazin. Em contra partida os herbicidas diclosulan e imazaquim 409
afetaram significativamente o rendimento de grãos. Resultados semelhantes foram obtidos por Artuzi & Contiero (2006), em que os herbicidas diclosulan e imazaquim provocaram sintomas mais intensos de fitointoxicação durante as avaliações e reduziram significativamente o rendimento de grãos. Tabela 2. Altura de plantas, altura de inserção da espiga e acúmulo de massa seca da parte aérea para o híbrido 30K75Y cultivado em sucessão à soja. Rio Verde-GO. Safra 2008/2009. Tratamentos Dose (kg de i.a. ha -1 ) Altura de planta (m) Inserção da espiga (m) Massa seca (g) testemunha - 2,27 b 1,17 a 67,37 a imazaquim 0,161 2,18 a 1,17 a 62,75 a diclosulan 0,003 2,19 a 1,17 a 57,54 a sulfentrazone 0,6 2,26 b 1,17 a 66,15 a flumioxazin 0,025 2,26 b 1,15 a 65,74 a DMS 0,085 0,243 23,24 CV% 7,54 9,22 10,02 Médias de tratamentos seguidas de mesma letra não diferem pelo teste de Tukey p 0,05. Rendimento (kg ha -1 ) 7000 6000 6612 a 5513 b 6165 a DMS: 549,43 CV%: 10,42 6277 a Rendimento (kg ha -1 ) 5000 4000 3000 2000 5058 b 1000 0 testemunha imazaquim diclosulan sulfentrazone flumioxazina Tratamentos Figura 1. Rendimento médio do híbrido 30K75Y cultivado em sucessão a cultura da soja. Rio Verde-GO. Safra 2008/2009. 410
4. Conclusões Com base no que foi exposto conclui-se que o desenvolvimento do milho safrinha na região dos cerrados foi afetado pela aplicação dos herbicidas diclosulan e imazaquim em pré-emergência da cultura da soja, reduzindo significativamente o rendimento de grãos. Em contra partida a utilização dos herbicidas surfentazone e flumioxazin na cultura da soja não afetaram o desenvolvimento e o rendimento de grãos, portanto, seu uso para o controle de plantas daninhas na soja não restringe a semeadura da cultura do milho safrinha. 5. Referências ARTUZI, J.P.; CONTIERO, R.L. Herbicidas aplicados na soja e produtividade do milho em sucessão. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.41, n.7, p.1119-1123, 2006. ASOCIATION LATINO AMERICANA DE MALEZAS. Recomendaciones sobre unificación de los sistemas de evaluación en ensayos de control de malezas. ALAM, Bogotá, v. 1, p. 35-38, 1974. BRIGENTHI, A.M.; MORAES, V.G.; OLIVEIRA JR., R.S.; GAZZIERO, D.L.P.; BARROSO, A.L.L.; GOMES, J.A. Persistência e fitotoxicidade de herbicidas aplicados na soja sobre o girassol em sucessão. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Brasília, v.37, n.4, p.559-565, 2002. EMBRAPA. Recomendações técnicas para a cultura da soja na região central do Brasil - 2008. Londrina: EMBRAPA-Soja. 254p. (Sistemas de Produção / Embrapa Soja, n.19). PEREIRA, F.A.R.; ALVARENGA, S.L.A.; OTUBO, S.; MORCELI, A.; BAZONI, B. Seletividade de sulfentrazone em cultivares de soja e efeitos residuais sobre culturas sucessivas em solos de cerrado. Revista Brasileira de Herbicidas, Pelotas v.1, p.219-224, 2000. SMITH, M.C.; SHAW, D.R.; MILLER, D.K. In-field bioassay to investigate the persistence of imazaquin an pyrithiobac. Weed Science, Champaing, v.53, p.121-129, 2005. 411