Produção de tijolos leves com a utilização de materiais alternativos

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Transcrição:

Produção de tijolos leves com a utilização de materiais alternativos Arthur Maffei Angelotti 1 (UNESPAR-CAMPUS DE CAMPO MOURÃO) arthur_angelotti@hotmail.com Bruna dos Santos 2 (UNESPAR-CAMPUS DE CAMPO MOURÃO) brunadosantos@hotmail.com Ederaldo Luiz Beline 3 (DEP/UNESPAR-CAMPUS DE CAMPO MOURÃO) - lajes.altonia@gmail.com Tania Maria Coelho 4 (DEP/ UNESPAR-CAMPUS DE CAMPO MOURÃO) coelho_tania@yahoo.com Nabi Assad Filho 5 (DEP/UNESPAR-CAPUS DE CAMPO MOURÃO) nabiassadfilho@hotmail.com Resumo: Com o aumento da demanda na construção civil, sendo o concreto o material mais utlizidado, e com a estimativa de até 20% de perdas de materiais causadas pela fragilidade dos elementos que o constituem, buscamos nesse trabalho uma alternativa que visa auxiliar o setor. As empresas têm reconhecido a necessidade da criação de novos materiais com características de leveza, resistência e baixo custo. De acordo com essa realidade e partindo de pesquisas bibliografica e de campo, constatamos que é possível desenvolver produtos mais leves e resistentes substituindo parte dos agregados do concreto por materiais mais leves, o concreto leve, que é caracterizado pelo peso específico reduzido e a elevada capacidade de isolamente térmico e acústico. Assim o objetivo do trabalho é o desenvolvimento de tijolo com a utilização de materiais alternativos como argila, gesso recilcado e carvão vegetal. Ressaltando que é amplo o emprego do concreto leve que pode atender as exigências específicas de obras, fabricação de blocos, regularização de superfície e envelopamento de tubulações. Os tijolos foram fabricados e os ensaios preliminares como o de massa específica foi realizado e se mostra satisfatórios de acordo com as normas vigentes reguladoras do produto no Brasil. Palavras-chave: Tijolo Leve; Concreto; Construção Civil. 1. Introdução Segundo Watalabe (2008) o concreto é o material mais utilizado na construção civil, tornando-se justificável a pesquisa sobre materiais alternativos para a fabricação do 1 Acadêmicodo curso de Eng. de Produção Agroindustrial da Universidade Estadual do Paraná Campus Campo Mourão (UNESPAR/Fecilcam), Campo Mourão, Paraná, bolsista pela Fundação Araucária. 2 Acadêmicado curso de Eng. de Produção Agroindustrial da Universidade Estadual do Paraná Campus Campo Mourão (UNESPAR/Fecilcam), Campo Mourão, Paraná, bolsista pela Fundação Araucária. 3 Mestrado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Professor do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da UNESPAR/Fecilcam, Campo Mourão, Paraná. 4 Doutora em Física pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. Professora do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da UNESPAR/Fecilcam, Campo Mourão, Paraná. 5 Mestre em Ciências Ambientais de Ambientes Aquáticos Continentais pelo Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Lctiologia e Aquicultura NUPELIA. Professor do departamento de Engenharia de Produção (DEP) da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam), Campo Mourão, Paraná.

mesmo, para ser utilizado na confecção de elementos não estruturais, resistentes, leves e com custos competitivos. Desta forma as empresas têm reconhecido a necessidade de utilização de concreto leve na construção civil. Esse já vem sendo utilizado em edificações onde se deseja reduzir o peso das construções e evitar sobrecargas nas estruturas da obra. Os concretos leves são reconhecidos pelo seu reduzido peso específico e elevada capacidade de isolamento térmico e acústico. Enquanto os concretos normais têm sua densidade variando entre 2300 e 2500 kg/m 3, os leves chegam a atingir 500 kg/m 3. (REDEMIX, S.D.) Outra necessidade é a redução de prejuízos causados por perdas pela fragilidade de materiais de vedação e fechamento, como tijolos e blocos, que de acordo com Hirschfeld (1996), apresentam perdas que vão de 3% a 20%. Para que os requisitos de resistência, leveza, facilidade de manuseio e baixo custo sejam alcançados há diversos materiais para execução do concreto leve. No entanto, neste trabalho, foram utilizados argila, gesso reciclado e carvão vegetal. 2. Fundamentação Teórica A fundamentação teórica foi embasada em autores que realizaram estudos similares a este, e foram abordados os seguintes subitens: concreto; concreto leve não estrutural; e bloco de concreto leve. 2.1 Concreto O concreto surgiu da necessidade de aliar a durabilidade da pedra com a resistência do aço, com as vantagens do material composto poder assumir qualquer forma, com rapidez e facilidade (NICOLA, 2010). Segundo Almeida (2002), o concreto é um material de construção resultante da mistura, em quantidades racionais, de aglomerante (cimento ou argila), agregados (betume, gesso, cal, pedra brita) e água. Esses elementos são posteriormente misturados, fazendo com que a mistura possua plasticidade suficiente para as operações de manuseio, transporte e lançamento em formas. Segundo Watabe (2008), o concreto tem resistência a compressão entre 10 Mpa e 50 Mpa. De acordo com Almeida (2002), para se obter um concreto resistente, durável, econômico e de bom aspecto, deve-se estudar: As propriedades de cada um dos materiais componentes; As propriedades do concreto e os fatores que podem alterá-las; O proporcionamento correto e execução cuidadosa da mistura; O modo de executar o controle do concreto durante a fabricação e após o endurecimento. Watanabe (2008), afirma que as principais deficiências do concreto são: baixa relação resistência-peso, dificuldade de preencher peças esbeltas muito armadas, retração plástica, baixa ductilidade e permeabilidade em ambientes úmidos, além do problema da geração de entulhos de construção que contribui com o impacto ambiental. Devido a essas deficiências do concreto é que foram surgindo modificações no mesmo, assim buscando atender à necessidade encontrada. 2

2.2. Concreto leve As primeiras indicações da aplicação dos concretos com agregados leves datam aproximadamente 3000 anos, quando utilizaram uma mistura de pedra pome com um ligante à base de cinzas vulcânicas e cal para a construção de elementos estruturais (WATANABE, 2008). Desde a sua invenção, a tecnologia do concreto teve grande evolução, devido principalmente à melhora de técnicas de produção, a evolução da instrumentação e ao desenvolvimento de novos materiais (MELO, 2009). Sendo uma dessas evoluções o concreto leve. Sua utilização, segundo Rossignolo (2003), se faz necessária em obras onde se requer uma estrutura mais leve e redução da carga sobre as fundações, já que é reconhecido pelo seu baixo peso específico e sua elevada capacidade de isolamento térmico e acústico (NICOLA, 2010). Devido a essa característica, e por ser de fácil modelagem, o concreto leve facilita os projetos arquitetônicos (STOCCO, RODRIGUES e CASTRO, 2009). O concreto leve possibilita o aproveitamento de resíduos industriais, além da substituição de materiais de uso generalizado por outros artificiais, com características semelhantes e principalmente preservando os recursos naturais (FERREIRA e RIBEIRO, 2008). Segundo Neville (1997) o concreto convencional apresenta massa específica de até 2600 kg/m3. Já o concreto leve pode reduzir essa massa específica para cerca de 2000 kg/m3 (BAUER e TOLEDO apud. FERREIRA e RIBEIRO, 2008). Segundo ABCP ET-86 (1996), existe uma maneira de produzir concreto leve, que é a de incorporar ar além do normal à sua composição. Essa maneira só é conseguida de três maneiras: 1. Eliminando as partículas mais finas dos agregados; 2. Substituindo a pedra britada por um agregado oco, celular ou poroso; e 3. Introduzir grandes vazios no interior da massa de concreto. Segundo Souza et al. (2006), o concreto leve pode ser aplicado em vários tipos de construções, como: Pré-fabricados; Elementos de vedação internos (paredes); Isolante térmico e acústico de lajes; Resistência à propagação do fogo; Muros exteriores sem carga; Casas pré-fabricadas; Tijolos ou blocos de concreto leve; Revestimento de fachadas com concreto leve; Elementos vazados de concreto leve. Para a produção do concreto leve pode ser utilizado diversos agregados como: argila expandida; poliestireno expandido (EPS); e carvão vegetal. 2.2.1 Argila Expandida 3

A argila expandida é um agregado leve que se apresenta em forma de bolinhas de cerâmica leves e arredondadas, com uma estrutura interna formada por um a espuma cerâmica com micro poros e com uma casca rígida e resistente (ABA ACÚSTICA, 2011). Na formação do concreto leve a argila expandida é utilizada, não apenas pela redução do peso, mas também pela diminuição de custos de fundação, e cada vez mais vem se mostrando vantajosa ao se comparar à utilização de estruturas em concreto convencional (CINEXPAN, 2013). A redução da massa específica ao utilizar o agregado do tipo Argila Expandida no concreto proporciona a redução da densidade que pode chegar a 1200 kg/m 3 (CORTESIA DO CONCRETO, 2005). 2.2.2 Poliestireno Expandido (EPS) O poliestireno expandido, ou espuma de poliestireno, que tem como nome comercial Isopor, é também conhecido como EPS. É um produto sintético proveniente do petróleo (BERLOFA, 2009). Ao agregar com o concreto convencional o EPS, o composto tem-se uma ótima resistência, impermeável e leve, não exigindo esforços técnicos muito intensos. Com baixo peso, torna os edifícios mais esbeltos (STOCCO, RODRIGUES e CASTRO, 2009). O concreto leve de EPS varia conforme as necessidades das aplicações, podendo ser obtidas densidades de 400kg/m 3 a 1.600kg/m 3 (ISOFÉRES, 2012). 2.2.3 Carvão Vegetal De acordo com MEIRA (2002), o carvão vegetal é definido como um resíduo sólido que se obtém da carbonização da madeira, na ausência de ar. A agregação de carvão vegetal ao concreto tem como finalidade a redução da densidade do concreto. 2.3 Tijolo Leve (Bloco de concreto leve) Segundo Filho (2013), os blocos de concreto leve são fabricados a partir de uma mistura de cimento, cal, areia, água e material leve (argila expandida, EPS, carvão vegetal, entre outros) que permite a formação de um produto leve, de alta porosidade, resistente e estável. Esses devem ser homogêneos e compactos, não apresentando trincas, fraturas ou outros defeitos (BLOCO, 2010). As principais vantagens de adicionar alguns materiais leves no lugar de materiais comuns em tijolos, de acordo com Melo (2002), são: Redução do peso próprio: menor peso da estrutura, consequentemente menor custo com fundação; Maior resistência térmica: proporciona a sua aplicação em elementos onde o desempenho térmico é decisivo; Acústica: pode conduzir uma melhoria no comportamento acústico; Durabilidade: com composições adequadas consegue-se impermeabilidade, aumentando, desta forma, sua durabilidade. Comparando uma alvenaria de tijolo cerâmico e a alvenaria com bloco leve, notase que o primeiro apresenta uma massa específica de, em média, 1.200 kg/m 3, e o segundo em média 500 kg/m 3 (RIBEIRO, 2007). 2.4 Ensaios 4

Os ensaios nas amostras foram realizados de acordo com a NBR 13278, que prescreve o método para determinação da densidade de massa e do teor de ar incorporado. Segundo Marques (s.d.), a massa específica dessa substância através da razão entre a massa (m) de uma porção compacta e homogênea dessa substância e o volume (V) ocupado por ela. Para o cálculo da massa específica conforme teste da norma da NBR utilizamos a Equação (1). ρ = m h l c (1) Sendo: m = massa; h = altura; l = largura; c = comprimento do tijolo; ρ = massa específica. 4. Metodologia A presente pesquisa se classifica como pesquisa aplicada, a qual tem por objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática dirigida à solução de problemas específicos (GIL, 2006). Neste trabalho as matérias primas fundamentais para produção do tijolo foram argila expandida da marca Colorgil, o cimento da marca Votorantim, gesso reciclado e o carvão vegetal que não passou pelos testes de qualidade para serem comercializados, todas adquiridas no comércio local. A moagem do carvão vegetal e do gesso ocorreu até atingirem a característica de pó. As amostras foram feitas misturando em diferentes proporções as matérias primas conforme mostra a Tabela 1: Tabela 1: matérias primas e proporções das misturas na confecção dos tijolos. Amostras Proporção do produto Carvão vegetal Argila Cimento Gesso 1 1 2 - - 2 4 2 1-3 4 2-1 4 4 2 1 1 O teor de água adicionado foi de 40% em massa a fim de verificar a influência na compressão dos compostos a serem misturados na amostra. Para a fabricação das amostras foram utilizados os moldes retangulares de 10 cm por 15 cm. Misturados os materiais, de forma homogênea e nas devidas proporções (Tabela 1), foram colocados nos moldes e deixados em repouso para a secagem, em temperatura ambiente durante 7 dias. Com os tijolos prontos efetuaram-se as medidas de comprimento, largura, altura e massa específica. 5. Resultados e Discussão Após o término do processo foram obtidos tijolos com característica de leveza. Ao serem comparados com tijolos convencionais, com as mesmas dimensões, que chegam a pesar 0,745 Kg, os tijolos leves podem chegar a massa de 0,305 Kg. Os tijolos podem ser observados na Figura 1. 5

Figura 1: amostras dos tijolos prontos. Fonte: elaborado pelo autor Nota-se que os tijolos apresentaram homogeneidade, principalmente as amostras 1, 2 e 4. Após a secagem dos tijolos, realizaram-se as medidas de suas dimensões para, assim, ser calculado, utilizando a Equação (1), a massa específica de cada tijolo. Os resultados podem ser analisados pela Tabela 2: Tabela 2: massa específica de cada uma das amostras produzidas Amostra Massa específica dos Tijolos Leve (Kg/m 3 ) Massa específica dos Tijolos Convencionais (Kg/m 3 ) 1 868,31 1655 2 807,14 1655 3 677,77 1655 4 927,38 1655 Com o cálculo da massa específica de cada tijolo pode-se notar que todas as amostras apresentaram um bom resultado ao serem comparadas com a teoria utilizada, já que nos materiais pesquisados a massa específica de concretos leves era entre 400 kg/m 3 e 1600 kg/m 3. Também se pode notar que apesar da amostra 4 ser a que apresentou a maior massa específica, ainda está bem abaixo da massa específica máxima permitida para tijolos leves (1600 kg/m 3 ). 6. Considerações Finais Pode-se notar que o concreto leve possibilita o aproveitamento de resíduos industriais, diminuindo a massa específica dos tijolos produzidos com a adição desses agregados leves. Concluiu-se também que os tijolos produzidos com carvão vegetal e cimento obtiveram uma baixa massa específica, dentro da faixa de tolerância da ABNT, assim atendendo aos requisitos de leveza. Percebe-se que o concreto leve é um material de crescente demanda no mercado e que, se os próximos ensaios continuarem sendo satisfatórios, o produto terá baixo custo de produção, com possibilidades de inserção no mercado. Referências ABA ACÚSTICA. Argila Expandida. 2011. Disponível em: < http://www.abaacustica.com.br/argila.pdf> acesso em 03 de Março de 2014 às 19:30 hrs. 6

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