A Importância da Madeira e o seu uso ao Longo da História

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Arquitetura e Urbanismo Engenharia V 7 P. Prof. William Torres A Importância da Madeira e o seu uso ao Longo da História A madeira talvez tenha sido a matéria mais versátil e mais utilizada pelo homem ao longo de sua história. Ainda hoje, basta um olhar em qualquer ambiente para descobrir algum objeto de madeira. Não podemos imaginar o avanço da humanidade sem o uso da madeira. Os cientistas presumem a existência de árvores há mais de duzentos milhões de anos, muito tempo antes, portando, do aparecimento do ser humano na terra, que teria acontecido em torno de dois milhões de anos atrás. Não é possível estabelecer com precisão quando a madeira começou a ser usada pelo homem. Existem vestígios de sua utilização como arma de defesa e como combustível, que devem ter entre quinze e vinte mil anos. Estudos arqueológicos permitem afirmar que a invenção do machado aconteceu há aproximadamente dez mil anos. Esta ferramenta permitiria que a madeira começasse a ser trabalhada. Podemos supor que, no início, os seres humanos utilizavam pedaços de galhos como lanças, cajados ou porretes, no seu dia-a-dia, mas, pouco a pouco os artefatos foram se tornando mais aprimorados. Aparecerá, então, toda sorte de ferramentas e utensílios domésticos, armas mais sofisticadas e, posteriormente, móveis,

carroças, embarcações e edificações que irão da simples palhoça a requintados edifícios. À maneira de ilustração, cabe relacionar algumas aplicações da madeira ao longo da história da humanidade, salientado alguns artefatos. Como se deu o uso da madeira nas civilizações antigas No campo das armas: lanças, maços porretes, arcos e flechas, bestas, catapultas, carros etc. No campo dos utensílios domésticos: gamelas, tigelas, talheres, pilões, pentes etc.

No campo da produção: ferramentas, rodas d águas para a geração de energia, máquinas de beneficiamento de produtos agrícolas executadas totalmente em madeira, postes, estacas etc. No campo dos transportes: carroças, canoas, barcos, dormentes para ferrovias, etc. No campo das artes: painéis para receber pintura, marchetaria, tetos decorados, retábulos, móveis artísticos, esculturas talha, elementos decorativos etc. Além disso, a madeira foi e ainda é fartamente utilizada na construção civil, na fabricação de móveis e, como complemento de outros materiais, em uma infinidade incalculável de produtos. Evolução da morfologia da habitação em Madeira O homem começou por se recolher em abrigos naturais como cavernas e grutas para se proteger do clima e dos animais. Em algumas partes do país, encontram-se abrigos com paredes de pedra, mas cuja cobertura é em materiais vegetais, e que se podem também considerar uma forma morfológica e cronologicamente primária de habitação Oliveira et al. 1969: 28. A evolução

das habitações não ocorreu apenas com o passar do tempo, mas também sofreu influências de outra natureza, como a modificação dos solos e do clima e a necessidade de proteção do homem face aos perigos externos. Desta forma, o homem começou a fazer as casas com os materiais disponíveis, adotando técnicas de construção dominadas por certos grupos através do planeamento e da arquitetura. Desde o aparecimento do Homem, a técnica e a arte de trabalhar a madeira têm evoluído, começando por um processo manual e primitivo, até à vasta e engenhosa indústria moderna. A madeira esteve sempre ao alcance do Homem desde os tempos remotos. A imaginação e a criatividade deste, permitiram-lhe tirar proveito para a execução de variados objetos, produtos e abrigos (Figura 1), através da mescla de troncos e ramos com as peles dos animais caçados. O elemento vegetal foi um dos primeiros materiais a ser utilizado pela Humanidade, para sua defesa, aquecimento, preparação de alimentos, iluminação, primeiras formas de habitação e primeiras embarcações. Fig. 1. Abrigos pré-históricos. O uso da madeira decorre em cada civilização, singular e independentemente, de acordo com as características e necessidades da mesma, até porque são alguns agentes próprios de cada época que determinam o método usado para a construção em madeira, como: o clima, os desastres naturais e a própria evolução, face às necessidades de cada comunidade. A madeira possui muitas

vantagens que não passaram despercebidas. Os primeiros barcos que surgiram foram construídos com este material, uma vez que este flutua, e foram-se aprimorando com o tempo. Cada local com os seus tipos de árvores foi-se adaptando às necessidades, assim como aos recursos que se encontravam disponíveis. A madeira era utilizada em bruto ou combinada com outros elementos construtivos como o barro, a palha, a pedra, o ferro, etc.. As construções modernas baseiam-se, estrutural e tecnicamente, nas antigas estruturas das casas de madeira, assim como nos seus conceitos de abrigo e proteção. A madeira, por ser um material bastante flexível, permite que a construção se faça em altura, como é o caso da arquitetura de madeira (integral) da Nova Guiné: igrejas e algumas casas têm mais de 18m de altura e 30m de comprimento. Pré-história Conhecem-se diversas construções que serviram de habitação ou abrigo temporário, desde os tempos mais remotos. Alguns exemplos são a cabana (formada por uma estrutura de suporte feita com ramos e canas, com uma cobertura composta por mistura de folhas com argila, colmo ou peles de animais), a palafita ou habitação lacustre de madeira (elevada sobre pilotis ancorados no fundo dos lagos ou em zonas pantanosas) e os terramares, descobertos em Itália (cabanas de madeira e argila que se encontrou em lugares pantanosos). Em qualquer lugar onde se encontrassem materiais provenientes da envolvente próxima, propícios à construção, eram aproveitados pelas tribos primitivas para serem utilizados na construção e revestimento de abrigos. Algumas das palafitas (hórreos) mais notáveis encontram-se em Espanha (Figura 2), na região da Galiza. Estas moradias, consideradas como pertencentes à época neolítica, tinham como propósito a defesa contra os animais selvagens e contra os agentes atmosféricos.

Fig. 2. Hórreo em Somiedo, Astúrias, com telhado de palha e estrutura em madeira. Em muitas partes do mundo, bastava uma armação de ramos ou de pequenos troncos, coberta com folhas ou cascas de árvores, para criar um habitáculo. Estes troncos foram os precursores das estruturas de madeira atuais. Os encaixes, que se faziam na estrutura de madeira de cada casa derivavam com o tipo de ferramenta que cada tribo possuía. Assim, as uniões das peças de madeira eram feitas através do uso de cordas tecidas com as fibras das folhas e com lianas. Estas uniões eram muito resistentes e possuíam grande flexibilidade, resistindo a ventos fortes e a temporais. As coberturas eram feitas com materiais vegetais (folhas e ramos) que foram substituídos por outros, como tecidos, esteiras feitas com fibras de palmeiras. Mais tarde, estes serviram de estrutura base para a colocação de camadas de barro e argila. Idade Antiga Esta época histórica coincide com o aparecimento e desenvolvimento das primeiras civilizações. Os Mesopotâmicos criaram uma rede comercial através dos seus rios e formaram uma hierarquização social forte, organizada em

pequenas mas poderosas cidades-estado. Habitavam áreas de planícies aluviais e não tinham acesso praticamente a matérias-primas. Quase sempre o recurso era a terra, pois a madeira era escassa uma vez que o seu território era árido e sem florestas. A nível habitacional, a casa era de planta circular ou quadrada disposta em torno de um pátio. A disposição das habitações encaixava sobre uma grelha ortogonal e os recursos principais de construção eram o adobe e as vigas de madeira. Fig. 2. Vista aérea (reconstituição) da cidadela de Corsabade, Assíria. No Egito, a arquitetura era composta por paredes e muros inclinados. As principais construções situavam-se nas margens do rio Nilo. Apenas os terraços das habitações possuíam um revestimento de troncos de palmeiras unidos. A madeira era usada unicamente em andaimes e assim considerava-se que não oferecia as qualidades para material de construção estrutural. Por essa razão, os edifícios eram construídos com materiais como a pedra e a argila. Na Noruega e na Escandinávia, foram descobertos vestígios de casas de madeira que datam do século IV, constituídas por troncos dispostos horizontal ou verticalmente.

Os troncos horizontais eram unidos entre si nas esquinas, com diferentes sistemas de aparelhamento. A disposição horizontal foi mais usada que a vertical, pela sua maior estabilidade. Mas a disposição horizontal criava nesgas por onde se infiltravam os ventos e as águas. A estanqueidade das mesmas era conseguida através da calafetação por telas tecidas na cor da madeira. Nas casas mais pobres era usado o musgo, a argila ou a terra Idade Média Na Europa, os princípios básicos da construção em madeira, remontam à Idade do Bronze. As grandes pranchas, cortadas com formato quadrangular não estavam ao alcance devido à inexistência de ferramentas necessárias para a sua elaboração, e assim o sistema de troncos foi o adotado. A madeira mais usual era o Castanho. Durante este século, iniciou-se o processo de triangulação, a união de uma madeira horizontal com uma vertical por meio de uma diagonal ou cruzadas formando as Cruzes de Santo André (Figura 3). Fig. 3. Parede de frontal onde são visíveis as cruzes de Santo André, Portugal.

A arquitetura românica foi sobretudo religiosa, mas durante os séculos XI e XII desenvolveu-se a arquitetura civil e militar de características defensivas. As construções em madeira foram sendo substituídas pela pedra, devido à sua precariedade. As moradias e os palácios urbanos na arquitetura gótica, como na românica, foram inicialmente construídos em madeira, funcionando como casas-forte. Estas habitações foram-se tornando mais requintadas e elegantes, procurandose um maior conforto, com a aplicação de novos materiais como a pedra. Na Europa, houve uma evolução constante, e na Escandinávia, a construção feita à base de estruturas em aduela, a partir do século XV, foi substituída pelos troncos. Neste século, com o desenvolvimento de técnicas de serragem foi possível criar uma nova solução para os troncos horizontais que nos seus topos ficavam a descoberta à mercê da deterioração. Por conseguinte, as casas de troncos foram sendo substituídas por casas de tábuas ou troncos de secção retangular que permitiam uma maior estanqueidade e estabilidade às construções. Casos como as casas da Nova Guiné (Figura 4) e algumas na Índia representam a tipologia de construção no alto das árvores. Estas casas têm uma altura e comprimento consideráveis e a sua construção é integralmente em madeira. O seu processo construtivo consiste em enterrar no solo pilares de bambu erguidos no ar, sob a forma de arcos que sustentam a cobertura do teto.

Fig. 4. Casa na árvore Korowai, Nova Guiné. Idade Moderna Nos finais da Idade Média, a destreza dos carpinteiros e artífices permitia construir edifícios até 5 e 6 pisos. Deste modo, muitos edifícios da Idade Média e Renascimento foram construídos em madeira e resistiram tanto ou mais que os construídos em pedra e tijolos. As construções sobre estacas, cravadas na terra ou nos areais dos lagos servem para proteção contra o ataque dos animais e como proteção contra as águas, como nas primeiras construções primitivas, as palafitas e as construções lacustres. Exemplos destas

construções são as habitações na Indonésia, Filipinas, Peru, China, África, América do Sul e Sudoeste da Ásia. As paredes eram construídas enchendo simplesmente os espaços existentes entre os elementos em madeira, com areia e argila, que se aplicava sobre um entrelaçado de ripas e tecido firmemente preso á estrutura de madeira, tanto pelo interior como pelo exterior. Quando para a estrutura do edifício se utilizava madeira pouco seca, que sofria torções e contrações, este enchimento estalava, sendo necessário um reenchimento posterior para solucionar este problema. Depressa, este sistema de enchimento foi substituído pela utilização de alvenaria e tijolos, que permitiam, além do mais, suprimir as telas e os entrelaçados de ripas. Na Suécia e mais tarde na Holanda, para este enchimento, no princípio, adotou se a alvenaria, mas logo substituída pelo tijolo que permitia efeitos decorativos e originais. De salientar a Paycockes House em Coggeshall, Essex, com as suas paredes formadas por tijolos dispostos em espinha de peixe. No caso da arquitetura nacional, mais propriamente após o sismo de 1755, a baixa de Lisboa foi reconstruída segundo um plano de reconstrução pelo engenheiro militar Manuel da Maia, sob alçada de Marques de Pombal. Iniciou-se em Lisboa a aplicação do sistema de gaiolas pombalinas. Com uma estrutura de madeira, as paredes tornaram se mais leves e flexíveis, em caso de sismo, ao contrário das tradicionais paredes de alvenaria de pedra ou de tijolo Mascarenhas 2009: 83. Estas estruturas são constituídas por molduras de madeira retangulares, contraventadas com tabuados horizontais e verticais longos, e tabuados diagonais curtos que formam as cruzes de Santo André. O enchimento destas estruturas era feito com alvenaria de pedra, de modo a que caso houvesse um abalo sísmico, a estrutura manter-se-ia estável apesar do enchimento cair, não colocando em risco a vida dos moradores. Apesar de não ser um sistema original, o objetivo desta construção era ser económica, rápida e resistente a sismos.

No Brasil Um país com tal extensão territorial como o Brasil, possuindo grandes reservas florestais, deveria ter na madeira um material com grande potencial de construção. Entretanto, o numero de construções em madeira é pequeno, devido a vários fatores que vão desde a forte tradição em construções de alvenaria, até a falta de valorização da madeira, como material de construção, nos cursos de arquitetura e engenharia. No Brasil, ao longo de sua história, o uso de técnicas construtivas inadequadas fizeram com que as construções em madeira sejam sinônimas de subhabitação ou de pouca durabilidade. Os novos paradigmas de sustentabilidade e as transformações que a sociedade vem passando, fazem com que esse estigma necessite ser revisto. (SZÜCS-2004) A partir da conferência mundial Rio-92, os países Europeus, como França, Finlândia e Alemanha, consideraram a aplicação da madeira na construção como um fator importante para o desenvolvimento sustentável. Políticas de incentivo ao uso da madeira foram implantadas, como por exemplo, a França irá aumentar em 25% o emprego da madeira na indústria da construção civil até 2010. Segundo Muller..aumentar o uso da madeira na construção dos edifícios promove uma iniciativa direta para a diminuição do efeito estufa, pois se diminuiria a quantidade de CO2 emitida... (MULLER,2005,p12). Possuímos uma forte tradição de construção em alvenaria de tijolos de barro, trazida pelos portugueses desde a sua colonização. A construção de madeira foi muito utilizada nas regiões sul e sudeste como habitação, onde a matéria prima utilizada, o pinho do Paraná, era abundante. Entretanto, em 1905, na cidade de Curitiba, o governo proibiu a construção de casas de madeira nas zonas centrais da cidade. Este fato contribui para gerar no meio técnico brasileiro, o preconceito contra as estruturas em madeira. (MEIRELLES, 2005) No período de 1950 a 1960, o Paraná foi um dos maiores produtores de madeira do mundo, e suas madeiras eram consideradas como uma das

melhores. Entretanto, nos anos seguintes, poucos exemplos foram projetados considerando todas as possibilidades deste material. Na cidade de Curitiba, dois projetos referencias em madeira, onde as potencialidades do material foram consideradas, foram às casas dos arquitetos Othelo Lopes filho em 1973 e Osvaldo Navarro Alves em 1977. (DUDEQUE, 2001) No período entre 1980 2006 destacam-se os trabalhos dos arquitetos Severiano Mario Porto, na região Amazônica e de Marcos Acayaba, na região sudeste. O trabalho de Marcos Acayaba, em conjunto com o engenheiro Hélio Olga, demonstra uma arquitetura onde a madeira é aplicada com toda a sua potencialidade. Trabalhada como um sistema pré-fabricado, industrializado, prima por manter a identidade de ser um projeto ímpar. No Brasil, a tecnologia das construções em madeira, muita vezes, foi perdida junto com os mestres carpinteiros que vieram da Itália, de Portugal, etc... O domínio das técnicas construtivas em madeira serve de instrumentos para a preservação e expansão de nossas florestas. Em geral as construções em madeira não são consideradas como duráveis, gerando uma dificuldade para a comercialização das construções feitas com este material. Novamente o domínio da tecnologia determina projetos em madeira, onde a durabilidade das construções são relatadas em mais de 100 anos, como em casas encontradas nos Estados Unidos. No Brasil, deve-se desenvolver a indústria de componentes e de produtos florestais, para que ocorra um salto de qualidade na construção e ainda procurar incentivar a criação e valorização das escolas técnicas ligadas ao oficio da carpintaria.