ANÁLISE MORFOLÓGICA DO AMBIENTE LAGUNAR DA PRAIA DO PECÉM-CE. Sílvio Roberto de Oliveira Filho, Universidade Estadual do Ceará UECE, silvim@gmail.com Jáder Onofre de Morais, Universidade Estadual do Ceará, jader@uece.br Lidriana de Souza Pinheiro, Universidade Federal do Ceará (Labomar), lidriana.lgco@gmail.com Davis Pereira de Paula, Doutorando da Universidade do Algarve, davispp@yahoo.com.br RESUMO A construção de grandes obras costeira como portos implicam numa readaptação do ambiente, em função da perda de fontes de sedimentos, como por exemplo das dunas. A construção de equipamentos urbanos normalmente se processa sobre ou defronte a estas dunas, deixando o perfil praial com déficit ou superávit de sedimentos. A área de estudo está localizada na praia do Pecém-CE, que após a implantação do porto do Pecém em 2002, apresentou uma readaptação de sua faixa praial, havendo uma progradação. Este trabalho teve como objetivo analisar a evolução morfológica da laguna bem como entender o processo de migração de sua barreira arenosa, visando a prevenção de futuros impactos ao retroporto. ABSTRACT The construction of major coastal ports means a new environment adaptation because of the loss of sources of sediments, such as the dunes. The construction of urban equipment normally takes place in front of or over these dunes, leaving the beach profile with surplus or deficit of sediments. The study area is located on the Pecém beach Ceará State, which after installation of the port of Pecém in 2002, had a readapting of its beach coast, with a progradation. This study aimed to examine the evolution of morphological lagoon as well as understand the process of migration of its sandy barriers, to prevent future impacts to the port. INTRODUÇÃO A construção de grandes obras costeira como portos implicam numa readaptação do ambiente, em função da perda de fontes de sedimentos, como por exemplo das dunas. A construção de equipamentos urbanos normalmente se processa sobre ou defronte a estas dunas, deixando o perfil praial com déficit de sedimentos. Porém, muitas vezes, podem ocasionar a progradação da praia, alterando sua morfologia, criando muitas vezes barreiras arenosas, que aprisionam águas marinhas, futuramente transformando este ambiente em uma laguna. Barreiras arenosas costeiras são feições importantíssimas, pois ocasionam a refração de ondas, impedindo que o prisma praial sofra eventos erosivos de grande porte na pós-praia, erodindo sua berma. A área de estudo está localizada na praia do Pecém (fig. 1), São Gonçalo do Amarante, Ceará. Possui como acesso a BR-222 e a Rodovia Estruturante, distando 50 km de Fortaleza, capital do estado. Desde 2002, após a conclusão do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, passou por uma progradação de praia devido a amortização das ondas pelo quebra mar do porto.
Figura 1: Mapa de Localização da área de estudo, tratada de imagem QUICKBIRD. Com a progradação da praia em questão, o ambiente se adaptou, gerando uma acumulação de água salgada (marinha) na berma, que ficava retida após a preamar. Com o passar dos anos, este ambiente foi expandindo-se até que se tornou uma laguna. Laguna esta que fica dividida entre duas barreiras arenosas (fig. 2). Este trabalho pretende analisar a evolução morfológica da laguna bem como entender o processo de migração de sua barreira arenosa. Figura 2: Imagem que evidencia o desenvolvimento de um ambiente lagunar dividido entre duas barreiras arenosas, na praia do Pecém-CE. MATERIAIS E MÉTODOS Georeferenciamento Para a análise e interpretação da laguna, foram realizados georeferenciamento em uma imagem de alta resolução (QUICKBIRD) do ano de 2004. Posteriormente foi realizado o georeferenciamento (caminhamento), em campo, nos meses abril de 2008 e fevereiro de 2009. Estes dados foram tratados e sobrescritos na imagem de alta resolução com o auxilio do software ArcGIS 9.1, para a criação de mapas temáticos, que demonstrassem a evolução morfológica da laguna.
Coleta Sedimentar e Análise Foram coletadas amostras de sedimentos da laguna em dois pontos distintos, em fevereiro de 2009, a fim de demonstrar que o sedimento daquele ambiente é característico de ambientes lagunares. As amostras passaram pelos procedimentos de analise segundo Wentworth (1922) apud Muehe (1996), que consiste em peneiramento dos grãos arenosos e procedimento de pipetagem, para saber o peso dos grãos de acordo com o tamanho do (phi). Os resultados foram processados pelo programa SAG, desenvolvido pelo LAGEMAR da Universidade Federal Fluminense. RESULTADOS E DISCURSSÕES Lagunas são ambientes que ocorrem em costas baixas ou em reentrâncias de linhas de costa alta. Resultam da oclusão, mais ou menos permanente, da abertura ou "barra de comunicação com o mar, de pequenas depressões localizadas no término de linhas de água temporárias ou permanentes com débitos muito irregulares. Lassere (1979), mostra um esquema classificatório de ambientes lagunares (fig. 3), utilizando a ação da amplitude das marés e a influencia da energia das ondas. (NETO et. al., 2004). FIGURA 3: Esquema classificatório de ambientes lagunares. (Fonte: NETO et. al., 2004). Analisando do ponto de vista holístico o ambiente lagunar do Pecém, foi percebido que, durante o ano de 2004, a laguna se enquadrava no modelo de laguna aberta, possuindo mais de uma entrada/saída de águas marinhas (fig. 4). Durante este período, a laguna possuía 160.301,30 m² de área. Figura 4: Morfologia da laguna em 2004.
Nos meses analisados em campo, a laguna teve mudanças significativas na sua morfologia, não mais se enquadrando como laguna aberta, mas sim, agora, como laguna parcialmente fechada. No mês de abril de 2008 (fig. 5), a laguna possuía 128.981,53 m² de área, ou seja, reduziu 31.319,77 m² de sua área. Figura 5: Morfologia da laguna em abril de 2008. No ultimo mês analisado (fig. 6), a laguna possuía área total de 77.683,28 m², uma redução na extensão da área de 51.298,25 m² em relação ao período anterior analisado. Assim como em 2008, a laguna continua se enquadrando como laguna parcialmente fechada, por possuir apenas uma entrada/saída de águas. Figura 6: Morfologia da laguna em fevereiro de 2009. De acordo como proposto por Muehe apud Fernandez (2008), lagunas costeiras, muita vezes possuem uma barreira arenosa costeira, do tipo transgressiva, difratando e refletindo as já enfraquecidas ondas (devido ao quebra mar do porto), impedindo que o clima de ondas influencie na laguna. Neste caso parece se enquadrar a laguna do Pecém. Em relação aos sedimentos, nos dois pontos coletados, foram analisados parâmetros como classificação pela média, e a classificação por freqüência simples. O resultado da análise destes sedimentos se encontram na tabela 1.
Tabela 1: Classificação por freqüência simples dos sedimentos da laguna do Pecém. PONTO 1 PONTO 2 Cascalho 0,995 Cascalho 0,583 Areia muito grossa 3,202 Areia muito grossa 0,474 Areia grossa 12,788 Areia grossa 8,198 Areia média 26,972 Areia média 26,669 Areia fina 32,403 Areia fina 33,179 Areia muito fina 18,262 Areia muito fina 20,595 Silte 0,541 Silte 0,395 Arqila 4,836 Arqila 9,907 Ambos os pontos demonstraram uma granulometria fina, apesar do sedimento da praia do Pecém, na feição berma, ser predominantemente grossa e média. Os pontos também mostraram uma quantidade significativa de argilas, não sendo parâmetros característicos de praias arenosas cearenses. Um fator importante que não pode deixar de ser citado, é o valor econômico que já está agregado à laguna, pois a população local realiza atividade de pesca constantemente na área. CONCLUSÃO A laguna do Pecém diminui sua área ao longo dos anos, porém não mostra indícios de que ela se extinta. Sua morfologia tem evoluído retrogradativamente, e sua barreira arenosa, do tipo transgressiva, tem se consolidado cada vez mais. Com a certeza de que o clima de ondas da região não atue fortemente devido ao quebra-mar do porto, a laguna vem se desenvolvendo, mostrando afloramentos de mangues, com fauna, flora e sedimentos característicos destes ambientes. O monitoramento desta laguna é imprescindível, por situar-se defronte ao porto, podendo vir a erodir o sedimento a montante da grade de proteção, acarretando prejuízos futuros. REFERÊNCIAS CORRÊA, I. C. S.; ALIOTTA, S.; WESCHENFELDER, J. Estrutura e Evolução dos Cordões Arenosos Pleistocênicos no Canal de Acesso à Laguna dos Patos-RS, Brasil. Revista Pesquisas em Geociências, 31 (2): 69-78, 2004. FARION. S. R. M. Litoral do rio grande do sul: rio, lago, lagoa, Laguna. Ágora, v. 13, n. 1, p. 167-186, 2007. FERNANDEZ, G. B. Indicadores Morfológicos para a Origem e Evolução das Barreiras Arenosas Costeiras no Litoral do Estado do Rio de Janeiro. In: VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOMORFOLOGIA. Minas Gerais, 2008. RUDORFF, F. M.; BONETTI, J.; PEIXOTO, J. R. V.; DE OLIVEIRA, U. R. & BONETTI, C. Setorização do Subsistema Sul da Lagoa da Conceição, Santa Catarina. Braz. J. Aquat. Sci. Technol., 9(2):49-56, 2005. SILVA, C. G.; PATCHINEELAM, S.M; NETO, J. A. B.; PONZI, V. R. A. Ambientes de Sedimentação Costeira e Processos Morfodinamicos Atuantes na Linha de Costa. In: NETO, J. A. B.; PONZI, V. R. A.; SICHEL, S. E. (Org.), Introdução a Geologia Marinha, Interciência, Rio de Janeiro, 2004. TOMAZELLI, L. J.; VILLWOCK, J. A. Mapeamento Geológico de Planícies costeiras: o Exemplo da Costa do Rio Grande do Sul. Gravel. 3:109-115, 2005.