Avaliação de eficiência de leito de secagem modificado utilizando piso de blocos drenantes

Documentos relacionados
Semana de Estudos da Engenharia Ambiental UNESP Rio Claro, SP. ISSN

II-089 ANÁLISE DO DESAGUAMENTO E SECAGEM DE LODO ANAERÓBIO EM LEITO COM PISO DE BLOCOS DRENANTES

16 Tratamento e disposição de lodos

Sistemas de Esgotamento Sanitário. Ernani de Souza Costa Setembro de 2016

PROCESSO DE TRATAMENTO

Tratamento e disposição de lodo de esgoto. TH029 - Saneamento Ambiental II - Prof. Regina Tiemy Kishi

Esgoto Doméstico: Sistemas de Tratamento

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE DESAGUAMENTO DE LODOS DE ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTOS DESAGUADOS EM BAG S DE MANTA GEOTÊXTIL

BIBLIOGRAFIA TRATAMENTO DE ESGOTO. Rodrigo Amado Garcia Silva. Engenheiro Ambiental M.Sc. Professor Universo EAD

II DESAGUADORES ESTÁTICOS VERTICAIS PARA REMOÇÃO NÃO MECANIZADA DA ÁGUA LIVRE DE LODOS DE REATORES UASB

II GESTÃO E TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE SANEAMENTO NA REGIÃO NORTE DO PARANÁ

TRATAMENTO DE LODO GERADO EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE COMPOSTAGEM UTILIZANDO PODAS VERDES E RESÍDUOS DO SANEAMENTO

Purificação das águas: tratamento de esgoto

Saneamento Ambiental I. Aula 15 Flotação e Filtração

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE LEITOS DE SECAGEM TRADICIONAL E MODIFICADO NA DESIDRATAÇÃO DE LODOS DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA

Química Ambiental Aula 5 Química das águas Parte 3b Antonio Pedro Guimarães Departamento de Química

9 Tanques sépticos e tratamentos complementares

DESINFECÇÃO E SECAGEM TÉRMICA DE LODO DE ESGOTO ANAERÓBIO PELO USO DE BIOGÁS

SABRINA MARIEL CORRÊA DA SILVA

Palestrante: Eng Josuel Batista dos Santos

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

ICTR 2004 CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM RESÍDUOS E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Costão do Santinho Florianópolis Santa Catarina

Tratamento de esgotos

Prof. Dr. Luciano dos Santos Rodrigues EV-UFMG. Contato: Telefone: (31)

Aula 5: Química das Águas Parte 3b

OTIMIZAÇÃO DE LEITOS DE SECAGEM PARA LODO GERADO EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO

AVALIAÇÃO DA ETE NATAL CENTRAL NA REMOÇÃO DE NITROGÊNIO

DESIDRATAÇÃO DE LODOS DE REATOR UASB EM LEITOS DE SECAGEM -DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS

DESINFECÇÃO E SECAGEM TÉRMICA DO LODO DE ESGOTO ANAERÓBIO EM LEITO DE SECAGEM PELO USO DE BIOGÁS.

Química das Águas - parte 3

AVALIAÇÃO DA OPERAÇÃO DA ETE DE GOIÂNIA

CONCEITOS GERAIS E CONCEPÇÃO DE ETEs

II-511 AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS PARA REDUÇÃO DOS VOLUMES DE LODO DA ETE GOIÂNIA

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DA CODISPOSIÇÃO DE LODO SÉPTICO EM LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO NO TRATAMENTO DE LIXIVIADO DE ATERROS SANITÁRIOS

II INFLUÊCIA DA UMIDADE E DA ESPESSURA DA CAMADA DE LODO SOBRE A DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DA TEMPERATURA

II AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DESAGUAMENTO DE DIFERENTES TIPOS DE LODOS DE ESGOTOS ATRAVÉS DE DRENAGEM NATURAL DA ÁGUA LIVRE

Aula 5: Química das Águas Parte 3b

Marina Andrada Maria Pesquisadora em Tecnologia, DSc

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS 2016

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS 2015

12 Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente

I AVALIAÇÃO DO DESAGUAMENTO DE LODO DE ETA EM LEITO DE SECAGEM

8 Tratamento de efluentes líquidos

ALTERNATIVES REUSE FOR WASTE OF TREATMENT PLANTS WATER AND SEWAGE: THE BRAZILIAN SITUATION NASCIMENTO, C. M. da S., EL-DEIR, S. G.

14 Filtros biológicos

II SECAGEM SOLAR DE LODO EM LEITOS COM DIFERENTES CONFIGURAÇÕES E CARGAS APLICADAS

Saneamento Urbano II TH053

II-201 ESTUDO DO DESAGUAMENTO DE LODO ANAERÓBIO SUBMETIDO À ETAPA PRÉVIA DE TRATAMENTO TÉRMICO

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS

II EFICIÊNCIA NO TRATAMENTO DE EFLUENTE DE FÁBRICA DE PAPEL POR LAGOAS E RESERVATÓRIO DE ESTABILIZAÇÃO

Química das Águas - parte 3b

Recuperação de fósforo de efluentes através da precipitação de estruvita MAP

1. conhecimento. O processo de secagem é necessário como pré-tratamento de outros processos. Bloco desidratado (teor de água: 80%)

Documento Síntese da 1ª Oficina de Trabalho sobre Operação de Tratamento de Esgotos Sanitários da Câmara Temática de Tratamento de Esgotos da ABES

Gerenciamento e Tratamento de Águas Residuárias - GTAR

05/06/2012. Petróleo e Gás Prof. Sabrina

Sistema de tratamento e aproveitamento de resíduos gerados em estação de tratamento de água

SISTEMA DE TRATAMENTO INDIVIDUAL DE ESGOTO SANITÁRIO

Avaliação do Potencial e da Capacidade de Desnitrificação em Sistema Pós-D de Tratamento de Esgoto

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE UM SISTEMA ALAGADO CONSTRUÍDO DE ESCOAMENTO VERTICAL PARA O TRATAMENTO DE LODOS DE CAMINHÕES LIMPA-FOSSA

3. Revisão Bibliográfica

LODO BIOLÓGICO: CARACTERIZAÇÃO DE LODO BIOLÓGICO GERADO EM UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DE INDÚSTRIA DE EXTRAÇÃO DE CELULOSE.

Paul Anthony Woodhead e David Charles Meissner Centroprojekt do Brasil Outubro 2008

Determinação do melhor TDH em reator UASB

UTILIZAÇÃO DE RESÍDUO DE DECANTADOR DE ETA COMO AUXILIAR DE FLOCULAÇÃO

Tratamento, Minimização e Utilização:

Programa Analítico de Disciplina TAL470 Tratamento de Resíduos de Agroindústrias

ETE PIRACICAMIRIM NOVA CONCEPÇÃO DE SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS SANITÁRIOS PARTIDA, OPERAÇÃO E MONITORAMENTO DE DESEMPENHO

Disciplina: Poluição do Solo Aterro Sanitário - Conceito e infraestrutura Métodos de disposição no solo

Programa Analítico de Disciplina CIV446 Tratamento Biológico de Resíduos Sólidos Orgânicos

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DA ETE BARUERI

XX Encontro Anual de Iniciação Científica EAIC X Encontro de Pesquisa - EPUEPG

APLICAÇÃO DO GEOTÊXTIL BIDIM COMO CAMADA DE PROTEÇÃO DE GEOMEMBRANA EM ATERRO SANITÁRIO PORTO ALEGRE

II-019 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS SISTEMAS DE PÓS- TRATAMENTO PARA REATORES UASB EM ESCALA REAL

PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE REATOR UASB EM ESCALA REAL

LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS

Caracterização físico-química de efluente de indústria de laticínios tratado por sistema de lagoas de estabilização

Métodos de disposição final de resíduos sólidos no solo. Disposição final AVALIAÇÃO. Impactos ambientais. Lixão. Aterro Sanitário DOMICILIAR

4 Reciclagem do lodo para utilização final na agricultura

HYPOCAL ALTERNATIVA VIÁVEL AO CLORO GÁS NO TRATAMENTO DE ÁGUA POTÁVEL

17 a 20 de agosto de 2010, Rio de Janeiro. Aproveitamento Energético com Biogás Beatriz Blauth Schlobach

II ANÁLISE DA SECAGEM DE LODO DE REATORES UASB ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DE LEITOS DE DRENAGEM

Aluna do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo/RS 3

MEMORIAL INSTALAÇÕES SANITÁRIAS SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO OBRA ESCOLAR MONTE CARLO SC

TRATAMENTO DO EFLUENTES

GABARITO PROVA DE QUALIDADE DA ÁGUA E DO AR SELEÇÃO PPGRHS

II DISPOSIÇÃO DE LODO DE ESGOTO NO SOLO AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS SANITÁRIOS

IV YOSHIDA BRASIL 1 REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA E FÓSFORO DE EFLUENTE DE TRATAMENTO ANAERÓBIO POR PROCESSO FÍSICO-QUÍMICO

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Desaguamento e higienização do lodo da ETE Castelo utilizando estufa agrícola

APLICAÇÕES DE MEMBRANAS DE ULTRAFILTRAÇÃO E MBR SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS PARA TRATAMENTO DE EFLUENTES

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE PESQUISAS HIDRÁULICAS DEPARTAMENTO DE OBRAS HIDRÁULICAS

Influência das condições operacionais na eficiência de Estações de Tratamento de Esgotos.

GERENCIAMENTO DE GASES EM ESTAÇÕES SUSTENTÁVEIS DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO

RELATÓRIO TÉCNICO DE FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DE TRATAMENTO DO ESGOTO SANITÁRIO

II AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE UM FILTRO ANAERÓBIO COM RECHEIO DE BAMBU, EM ESCALA REAL, UTILIZADO COMO PÓS- TRATAMENTO DE REATOR UASB

TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS (LOB1225) G Aula 12 Tratamento secundário de esgotos Lagoas aeradas

AVALIAÇÃO DO DESAGUAMENTO DO LODO DE ESGOTO ANAERÓBIO TRATADO TERMICAMENTE EM LEITOS DE SECAGEM EM BANCADA

Transcrição:

Avaliação de eficiência de leito de secagem modificado utilizando piso de blocos drenantes Eng. Sabrina Mariel Corrêa da Silva 1, Eng. Dr. Marcelo Pohlmann 2 1 Fac. de Eng. de Bauru, Unesp (sabrina-mcs@hotmail.com) 2 Brasworld Engenharia (map@brasworld.net) Resumo Leitos de secagem sofrem com diversos problemas operacionais (elevada área necessária, influencia do clima, lenta remoção da torta de lodo, maus odores e vetores) que tem feito suas desvantagens se sobressaírem em relação as vantagens. O uso de piso com o bloco drenante combinando com a dosagem de polímero e cobertura tipo estufa agrícola são alternativas que podem solucionar a maior parte dos problemas dos leitos convencionais. O objetivo deste estudo foi avaliar as condições operacionais e os resultados de teor de sólidos obtidos em um leito de secagem modificado com piso constituído por blocos drenantes em substituição ao meio filtrante convencional, comparando com referências de resultados obtidos em um leito convencional. Para isso foi descartado 8 m³ de lodo com dosagem em linha de polímero em um leito com blocos drenantes e cobertura tipo estufa agrícola, onde no período de 22 dias foram anotados valores de temperatura e umidade interna e externa ao leito, além das coletas de amostra de lodo uma vez por semana para análise de teor de sólidos A utilização da combinação de dosagem de polímero em linha, piso com os blocos drenantes e cobertura plástica se mostrou uma excelente alternativa para secagem de lodo. O teor de sólidos final obtido foi de 96,24% em 22 dias de secagem, mesmo com grande parte dos dias com condições climáticas desfavoráveis. Os blocos drenantes substituem com vantagens a camada filtrante de um leito convencional conforme comprovado neste estudo. Abstract : The usual drying beds problems such as the area demanded, weather action, costly removal of the sludge cake, bad odors and presence of vectors, largely overpass their advantages. The utilization of the draining blocks over the floor combined with polymer dosage and protection against rain by canopy type agricultural greenhouse give conditions to overcome most of the problems occurring with the conventional drying beds. This study is targeted to evaluate the operational conditions and the total dry solids content in a drying bed in which the floor is paved with draining blocks in replacement to the usual gravel/sand of the conventional filtering bed and compare to the results obtained with the conventional sand bed. In this study, 8m3 of sludge duly treated with polymer were discarded in a drying bed with draining blocks, agricultural greenhouse type roofing, where, during a period of 22 days were registered the internal and externals air temperature and moisture content, besides sludge sampling once a week to determine the solids content. The combined action of draining blocks, polymer and greenhouse proved to be an excellent option for sludge dewatering and drying. The total solids content at the end of the 22 days reached 96,24%, in spite of the adverse weather conditions. The draining blocks can replace with large advantage the usual filtering layers in a drying bed, as demonstrated in this study. Palavras-chave: Leito de secagem, Lodo de esgoto, Bloco drenante. Área Temática: Resíduos Sólidos

1 - Introdução Desde a Agenda 21, o tratamento e disposição final do lodo de estação de tratamento de esgoto tem sido um dos maiores investimentos nas ETE s já existentes. A fiscalização e cobrança de órgãos ambientais tem incentivado a busca por melhores alternativas para o gerenciamento deste resíduo. Apesar de o lodo representar de 1% a 2% do volume de esgoto tratado, gerenciá-lo é um processo complexo e geralmente custa entre 20% a 60% do gasto total de uma ETE (Marcos Von Sperling, 2001). O lodo também causa impactos ambientais quando não tratado e disposto de forma corretamente, pois dentre os seus componentes pode conter metais pesados, poluentes orgânicos e organismos patógenos. As etapas do gerenciamento do esgoto são: adensamento, estabilização, condicionamento, desaguamento, higienização e disposição final. O desaguamento do lodo é a etapa de desidratação onde se reduz o volume do lodo quando se perde umidade. Um dos mais conhecidos processos utilizados para o desaguamento de lodo é o leito de secagem. O processo caracteriza-se por um tanque retangular, com paredes e fundo de concreto. No interior do tanque são incluídos dispositivos para permitir a drenagem da água presente no lodo: camada filtrante (areia e pedregulho) e camada de suporte (tijolos). O funcionamento dos leitos de secagem é baseado em um processo natural de perda de umidade, ele depende dos fenômenos: liberação de gases dissolvidos; liquefação, devido à diferença de peso específico do lodo e da água; da evaporação natural da água devido ao contato com a atmosfera e evaporação devido ao poder calorífico do lodo (Jordão, 1995). Apesar de que o leito de secagem ter a vantagem de um baixo custo de investimento e operacional, as desvantagens hoje se sobressaem pela elevada área requerida, necessidade da estabilização do lodo, influência do clima no desempenho operacional, lenta remoção da torta seca, liberação de odores e proliferação de vetores, risco de contaminação do lençol freático caso o fundo do leito e a drenagem não seja bem executado, e por fim se mal operado deve ocorrer a troca mais rápida da camada filtrante devido a colmatação. Novas pesquisas tem apontado com sucesso a utilização de blocos drenantes em substituição as camadas de areia, pedregulho e tijolos. O sistema de piso filtrante compreende um tanque raso impermeável aonde serão montados blocos diretamente sobre piso de concreto alisado. O piso com os blocos possui elevada capacidade de carga, permitindo o tráfego de máquinas até 1600kg, o que viabilizaria a remoção mecânica da torta de lodo. Cada bloco mede 5 cm de altura x 30 cm x 30 cm. França (2012) avaliou um sistema de leito de secagem piloto com o bloco drenante que apresentou excelente desempenho, fazendo observação que a implementação em larga escala depende de uma análise de custo/benefício, uma vez que operacionalmente se mostrou uma possível solução interessante para desaguamento do lodo removido. Almeida (2012) desenvolveu duas unidades piloto e nelas inseriu lodo aeróbio e anaeróbio de reatores da unidade de tratamento de esgoto, as coletas foram realizadas num ciclo de 24 horas e foram analisadas quanto a Sólidos Suspensos Totais, Umidade da Torta e Captura de sólidos. Os resultados obtidos para umidade de torta variam entre 80 e 90% e a captura de sólidos variou acima dos 90%. Conseguindo satisfazer os resultados esperados e comprovando a eficiência do bloco drenante. Segundo a USEPA (1987) o teor de sólidos usualmente fica entre 8-12% após a etapa de 24 horas de drenagem da água livre, quando dosado polímero. 2 - Objetivo O presente trabalho tem como objetivo avaliar a operação de descarte de lodo biológico de ETE com dosagem de polímero em linha em leito de secagem com piso constituído por blocos drenantes em substituição ao meio filtrante convencional. Mais especificamente objetiva-se avaliar o teor de sólidos final obtido, comparando com referências de resultados obtidos em um leito convencional.

3 - Metodologia A avaliação do leito de secagem com os blocos drenantes foi feita na ETE da indústria Emicol Eletro Eletrônica situada no município de Itu-SP. O lodo descartado é oriundo da etapa biológica do tratamento dos esgotos sanitários da indústria constituída por valo de oxidação seguido de decantador secundário. O leito de secagem é constituído por três células de 6,10 x 4,30 m, totalizando uma área de 26,23 m² cada célula. O leito de secagem possui um sistema de drenagem onde o clarificado volta para o valo de oxidação, e a camada drenante é constituída apenas pelos blocos drenantes. O leito também possui cobertura plástica, tipo estufa agrícola, com cortinas laterais que permitem abertura e fechamento. Foi descartado aproximadamente 8m 3 de lodo diretamente do decantador secundário com dosagem de polímero catiônico em linha e floculação tubular para uma única célula do leito, conforme ilustra a figura 1. A dosagem e tipo de polímero mais adequado foram determinados em testes de jarro, sendo obtida ótima floculação com diluição de 0,2% de Praestol K133L dosado na concentração de 25 ppm. Figura 1 - Fluxograma do desaguamento do lodo. Foram feitas 5 coletas de amostra, sendo a primeira do lodo no momento do descarte, a segunda após 24 horas e as demais semanalmente nas 3 semanas seguintes. As amostras foram conduzidas ao laboratório para análise de teor de sólidos de acordo com a NBR 10.005. Foram registradas diariamente as condições climáticas (nublado, chuvoso, ensolarado). Durante 22 dias foram anotados valores da temperatura e umidade externa e interna ao leito de secagem, três vezes ao dia, pela manhã, hora do almoço e final da tarde. Para isso um termo-higrômetro digital foi colocado dentro da célula do descarte e outro do lado de fora a estufa. A água drenada apresentou qualidade visual satisfatória não apresentando sólidos suspensos (Figura 2). Figura 2 Processo de descarte de lodo com polímero com destaque a agua drenada obtida.

Umidade (%) Temperatura ( C) 4º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente 4 - Resultados obtidos 4.1 - Temperatura e Umidade Na Figura 3 nota-se que houve significativa variação de temperatura durante os ensaios, a temperatura externa mínima anotada foi 12,8 C na manhã do dia 25/09 e a máxima foi 28,4 C na tarde do dia 09/10. Já a temperatura mínima interna com as cortinas fechadas foi de 14,3 C no mesmo dia 25/09 e a máxima foi de 36,5 C no dia 02/10. A cobertura plástica tipo estufa retém o calor dentro do leito, fazendo com que haja um aumento de temperatura interna, a maior diferença encontrada foi de 8,2 C, ficando na média a temperatura interna cerca de 3 C superior a externa. 40 35 Figura 3 Temperatura média interna e externa do leito. Temperatura C Externo Temperatura C Interno Média Externo Média Interno 30 25 20 15 10 17/set 18/set 19/set 20/set 21/set 23/set 24/set 25/set 26/set 27/set 28/set 30/set 01/out 02/out 03/out 04/out 05/out07/out 08/out 09/out Hora e dia da anotação Na Figura 4 nota-se que no período inicial de secagem do dia 25 a 27/09 a umidade interna chegou a fica acima da umidade externa, 55% 52%, respectivamente. Do dia 30/09 em diante, mesmo nos dias chuvosos em que a umidade externa atingiu 100%, a umidade interna sempre apresentou resultados inferiores. 100 90 80 Figura 4 - Umidade média interna e externa do leito. Umidade % Externo Umidade % Interno Média Externo Média Interno 70 60 50 40 30 20 17/set 18/set 19/set 20/set 21/set 23/set 24/set 25/set 26/set 27/set 28/set 30/set 01/out 02/out 03/out 04/out 05/out07/out 08/out 09/out Hora e dia da anotação

4.2 - Aspecto Visual Na Figura 5 observa-se a torta de lodo após 24 horas do descarte, ficando a altura média da camada em 6 cm. A água livre já tinha sido totalmente drenada e o lodo apresentou um aspecto pastoso. Figura 5 - Torta de lodo após 24 horas. Durante a primeira semana houve predominância de dias nublados e chuvosos. Assim as cortinas da estufa ficaram sempre fechadas. Na Figura 6 observa-se que o lodo com uma semana de secagem já apresentou uma aparência escura e seca na parte superior, com consistência pastosa na parte inferior. Nesta data foi feito um revolvimento manual com rastelo. Figura 6 - Aspecto do lodo após 8 dias do descarte.

Na segunda semana as condições climáticas seguiram intercalando dias de sol e dias chuvosos. Na figura 7 nota-se que houve significativa redução do volume do lodo. Foi realizado novo revolvimento de lodo. Figura 7 - Lodo com 16 dias de secagem. Observa-se na Figura 8, após 22 dias de secagem o lodo seco e quebradiço, com grande redução de volume. Nesta data foi coletada a última amostra de lodo e a avaliação foi encerrada. Figura 1 - Lodo com 22 dias de secagem.

17/set 18/set 19/set 20/set 21/set 22/set 23/set 24/set 25/set 26/set 27/set 28/set 29/set 30/set 01/out 02/out 03/out 04/out 05/out 06/out 07/out 08/out 09/out Teor de solidos secos (%) 4º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente 4.3 - Teor de sólidos secos Na Figura 9 observa-se que o teor de sólidos inicial do lodo descartado era de apenas 0,7%, atingindo 8,12% após 24 horas, ficando dentro do preconizado pela USEPA. Após 8 dias do descarte o teor de sólidos aumentou a 14,85%, apesar da predominância de dias nublados no período. No 16 o dia o teor de sólidos aumentou para 63,07% atingindo a marca de 96,24% (3,76% de umidade) após 22 dias no leito de secagem. Figura 9 - Teor de sólidos secos e a influencia do clima. 100 96,24 80 63,07 60 40 Chuvoso Nublado Ensolarado Teor de sólidos secos 20 14,85 8,12 0 0,7 Dias Comparando-se os resultados obtidos com um leito de secagem convencional, para atingir de 30-40% de teor de sólidos secos são necessários de 12-20 dias de secagem em condições ótimas de clima (Jordão, 1995). A faixa de 30-40% de sólidos é o usualmente requerido para descarte em aterros, portanto em cerca de 12dias o lodo já estaria em condições de ser enviado para aterro mesmo com 7dias de condições climáticas desfavoráveis neste período. O aumento do teor de sólidos acima do regulamentado para aterros proporcionou redução nos custos de transporte e disposição. Antes da implantação do leito de secagem o lodo era descartado diretamente do decantador secundário para caminhões tanque que levavam para posterior tratamento. A média de gastos da empresa era de R$185/m 3 de lodo somado ao custo de transporte, o que gerava gastos de R$7800 por bimestre. Após a implantação do leito de secagem o descarte foi reduzido para uma caçamba com 4m 3 de lodo seco no período de 4 meses com um custo de R$500, apenas 3,2% do custo anterior.

5 - Conclusões A utilização da combinação de dosagem de polímero em linha, piso com os blocos drenantes e cobertura plástica se mostrou uma excelente alternativa para secagem de lodos. O teor de sólidos final obtido foi de 96,24% em 22 dias de secagem, mesmo com grande parte dos dias com condições climáticas desfavoráveis. Recomenda-se que novas análises sejam feitas em condições climáticas mais favoráveis, pois o tempo de secagem poderá ser substancialmente reduzido com aumento da insolação. O bloco drenante apresentou uma ótima drenagem de água pelas ranhuras, sem escape de sólidos suspensos visíveis. O lodo não ficou aderido no bloco e não se constatou entupimento das ranhuras, sendo facilmente limpo com jato de água ao término do ciclo de secagem. A utilização do polímero dosado na linha de tubulação do descarte contribuiu para satisfatória floculação do lodo. Não houve proliferação de vetores nem exalação de maus odores durante o período de secagem. A cobertura plástica do leito mostrou-se essencial ao processo, pois tornou a operação de descarte independente das condições climáticas. As cortinas laterais não fecham totalmente a estrutura, permitindo ventilação parcial, todavia nos primeiros dias pode ser vantajoso mantê-las abertas para favorecer a evaporação, o que não foi possível neste estudo por causa das chuvas. Na medida em que a umidade do lodo vai reduzindo, fica interessante manter as cortinas fechadas para aumentar a temperatura interna favorecendo a secagem através do efeito estufa. Houve substancial redução nos custos de disposição do lodo ficando apenas 3,2% do valor que era anteriormente gasto pela indústria. Diante a este estudo, é possível afirmar que o bloco drenante é uma ótima opção para o desaguamento e secagem de lodo comparando à eficiência e a operacionalidade de um leito convencional. 6 - Referências bibliográficas ALMEIDA, R. de Q. Análise de processo alternativo Wedge-Wire para desaguamento de lodo de estação de tratamento de esgotos domésticos. Brasília. 2012. 29p. Dissertação Graduação em Engenharia Ambiental. Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2012. FRANÇA, J. T. L. Avaliação do desempenho da modificação de um sistema de tratamento de esgoto composto por tanque séptico e filtro anaeróbio por um modelo de aeração compartimentada, Tese de Doutorado em Engenharia Civil, UEC Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012, 254p. JORDÃO, Eduardo Pacheco; PESSÔA, Constantino Arruda. Tratamento de esgotos domésticos. Rio de Janeiro: ABES, 1995. 3 edição, 690 p. SPERLING, Marcos Von; ANDREOLI, Cleverson V.; FERNANDES, Fernando. Lodo de esgotos: tratamento e disposição final. Belo Horizonte: DESA-UFMG, SANEPAR 2001. 483p. USEPA Enviromental Protect Agency. Design manual: Dewatering Municipal Wastewater Sludge. 1a ed. Cincinnati: EPA, 1987.