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Julho, 2010 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Documentos 320 331 Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia ISSN 0102-0110 Embrapa Clima Temperado ISSN 1516-8840 Manual de Curadores de Germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs Marcos Aparecido Gimenes Rosa Lía Barbieri Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Brasília, DF 2010

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Endereço: Parque Estação Biológica - PqEB Av. W5 Norte (final) Caixa Postal: 02372 - Brasília, DF - Brasil CEP: 70770-917 Fone: (61) 3448-4700 Fax: (61) 3340-3624 Home Page: http://www.cenargen.embrapa.br E-mail (sac): sac@cenargen.embrapa.br Comitê Local de Publicações Presidente: Lucio Brunale Secretária-Executiva: Ligia Sardinha Fortes Membros: Diva Maria de Alencar Dusi Jonny Everson Scherwinski Pereira José Roberto de Alencar Moreira Regina Maria Dechechi G. Carneiro Samuel Rezende Paiva Suplentes: João Batista Tavares da Silva Margot Alves Nunes Dode Revisor técnico: Alessandra Pereira Fávero Supervisor editorial: Lígia Sardinha Fortes Revisor de texto: José Cesamildo Cruz Magalhães Normalização bibliográfica: Lígia Sardinha Fortes Editoração eletrônica: José Cesamildo Cruz Magalhães Foto da capa: Rosa Lía Barbieri 1ª edição (on line) Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Gimenes, Marcos Aparecido. Manual de curadores de germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs. / Marcos Aparecido Gimenes e Rosa Lía Barbieri. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia; Pelotas, RS: Embrapa Clima Temperado, 2010. 13 p. (Documentos / Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 320; Documentos / Embrapa Clima Temperado, 331) Revisão técnica: Alessandra Pereira Fávero. 1. Recursos Genéticos Vegetal Conservação. 2. Banco Ativo de Germoplasma. I. Barbieri, Rosa Lía. II. Título. III. Embrapa Clima Temperado. III. Série. 581.15 CDD Embrapa 2010

Autores Marcos Aparecido Gimenes Ph.D. em Genética, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia gimenes@cenargen.embrapa.br Rosa Lía Barbieri Ph.D. em Genética e Biologia Molecular, pesquisadora da Embrapa Clima Temperado lia.barbieri@cpact.embrapa.br

Apresentação Desde o início da década de 1970, há uma crescente conscientização mundial sobre a necessidade de preservação dos recursos genéticos, que são essenciais para o atendimento das demandas de variabilidade genética dos programas de melhoramento, principalmente aqueles voltados para alimentação. No Brasil, esta necessidade é especialmente importante, uma vez que a maioria dos cultivos que compõem a base alimentar do país é de origem exótica. Observa-se, por exemplo, que cerca de 95% dos acessos de cereais conservados em coleções do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) são de espécies exóticas. Portanto, a manutenção e o enriquecimento contínuo da variabilidade genética dessas coleções são prioritários e estratégicos, considerando, ainda, as atuais restrições internacionais ao intercâmbio de germoplasma. Na década de 1970, a Food and Agriculture Organization (FAO), órgão das Nações Unidas, estimulou o estabelecimento de uma rede mundial de Centros para a conservação de recursos genéticos situados em regiões consideradas de alta variabilidade genética. Em 1974, o Consultative Group for International Agricultural Research (CGIAR) criou o International Board for Plant Genetic Resources (IBPGR), hoje transformado no Bioversity International. No mesmo ano, a Embrapa reconheceu a importância estratégica dos recursos genéticos com a criação do Centro Nacional de Recursos Genéticos (CENARGEN), que mais recentemente adotou a assinatura-síntese Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. A criação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e a consolidação do SNPA estabeleceram ambiente propício para a formatação da Rede Nacional de Recursos Genéticos. A partir de então, paulatinamente, coleções de germoplasma foram estruturadas em diferentes Unidades Descentralizadas, predominantemente na área vegetal. Em 1993, por intermédio de deliberação da Diretoria Executiva, a Embrapa formalizou, como ferramenta de gestão das coleções, o Sistema de Curadorias de Germoplasma e definiu os papéis e as responsabilidades para os diversos atores envolvidos nesse Sistema, tais como: curadores de coleções de germoplasma, Chefes de Unidades Descentralizadas que abrigavam as coleções e a Supervisão de Curadorias. Os projetos em rede foram definidos como figuras programática e operacional, possibilitando o custeio de atividades de coleta, intercâmbio, quarentena, caracterização, avaliação, documentação, conservação e utilização de germoplasma, além da manutenção das coleções. De 1993 até a presente data, muitas coleções de germoplasma foram estabelecidas e, atualmente, o Sistema de Curadorias da Embrapa reúne 209 coleções, incluindo Bancos Ativos de Germoplasma Vegetal (BAGs), Núcleos de Conservação Animal, Coleções Biológicas de Microorganismos e Coleções de Referência, as quais abrangem espécies nativas e exóticas. Nas

demais Instituições do SNPA, estima-se que são mantidos pelo menos outros 243 Bancos Ativos de Germoplasma Vegetal. Como duplicata de segurança dos acessos mantidos nos BAGs, a Embrapa Cenargen abriga a Coleção de Base (COLBASE) de germoplasma vegetal, projetada para conservar sementes à temperatura de -20 C por longo período de tempo. Como consequência desses 30 anos de atividades relacionadas ao manejo dos recursos genéticos, os curadores adquiriram uma bagagem de conhecimentos práticos na área, conhecimentos estes que foram, em parte, sistematizados e disponibilizados para a sociedade por intermédio da presente obra: Manual de Curadores de Germoplasma. Esperamos que esta publicação em série torne-se um guia para os curadores de germoplasma no Brasil e no exterior, e que contribua efetivamente para o aprimoramento da gestão dos recursos genéticos deste país. Mauro Carneiro Chefe Geral Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

Sumário Introdução e definição 08 Como e o que conservar 08 Espécies de sementes ortodoxas 08 Espécies de sementes recalcitrantes 10 Conservação in vitro 10 Criopreservação 10 Conservação in vivo 11 Referências 13

Conservação em BAGs Marcos Aparecido Gimenes Rosa Lía Barbieri Introdução e definição A conservação de recursos genéticos em Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs) pode ser realizada das seguintes maneiras: na forma de sementes, in vitro, criopreservação ou em campo. O principal critério para a seleção do método de conservação é o tipo de semente da espécie que se quer conservar, com relação ao seu comportamento quando submetida a condições de baixa umidade e baixa temperatura, isto é, se a semente é ortodoxa ou recalcitrante. Sementes ortodoxas são aquelas que se mantêm viáveis quando desidratadas (5 a 7% de água) e submetidas à baixa temperatura (-20 C); portanto, podendo ser armazenadas por longos períodos sem perda de viabilidade. As sementes que não podem ser armazenadas nas condições descritas logo acima são denominadas recalcitrantes. A maior parte das sementes das espécies cultivadas já foi estudada e facilmente encontrase na literatura se uma dada espécie possui semente ortodoxa ou não. Caso essa informação ainda não exista, estudos devem ser realizados, em que se deve reduzir a umidade (5 a 7% de água) das sementes da espécie que se quer conservar e checar o poder de germinação após a redução. Caso o poder de germinação seja alto, a espécie é ortodoxa. No caso de não ser, estudos adicionais devem ser realizados, pois o poder germinativo baixo ou nulo pode ser devido a diferentes fatores, como o fato da espécie ser recalcitrante ou a semente possuir algum tipo de dormência. A conservação por meio de sementes, em alguns casos, tem como consequência a segregação na progênie e a não manutenção de determinados genótipos. Em alguns casos, isso não é desejável, e o germoplasma de algumas espécies, apesar de ortodoxas, não é mantido como sementes, como, por exemplo, o de cana-de-açúcar (Saccharum officinarum). Como e o que conservar Espécies de sementes ortodoxas Caso seja uma espécie de semente ortodoxa, a conservação ocorre pela manutenção de sementes em câmaras frias a -20 C, em condições de umidade controladas. Este tipo de conservação é o mais utilizado, pois permite a conservação por períodos longos (acima de 10 anos) de um número grande de genótipos em um pequeno espaço. Segundo a FAO,

Manual de Curadores de Germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs 09 90% dos seis milhões de acessos conservados ex situ no mundo são mantidos em bancos de sementes. (http://www.bioversityinternational.org/scientific_information/themes/genebanks/overview. html). Foto: Rosa Lía Barbieri Figura 1. Capsicum chinense, uma espécie de pimenta com sementes ortodoxas. O monitoramento das coleções mantidas a baixas temperaturas é fundamental e deve ser realizado regularmente. A frequência do processo de monitoramento é determinada levando-se em consideração dados de literatura e dados de monitoramento realizados no próprio banco, pois a sua estrutura física e suas normas para inclusão de material na coleção terão consequências na maior ou menor manutenção da viabilidade de um dado lote de sementes. Trigo (Triticum aestivum), arroz (Oryza sativa), milho (Zea mays), melancia (Citrullus lanatus), ervilha (Pisum sativum) e feijão (Phaseolus vulgaris) são exemplos de sementes ortodoxas.

10 Manual de Curadores de Germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs Espécies de sementes recalcitrantes No caso de espécies recalcitrantes ou de espécies das quais se pretendem manter determinados genótipos, as estratégias de conservação são as seguintes: 1 conservação in vitro; 2 criopreservação; 3 conservação in vivo. Conservação in vitro Consiste na manutenção de plantas em meio de cultura, sob condições estéreis, em frascos de vidro. Deve ser utilizada no caso de espécies de sementes recalcitrantes ou de espécies de propagação vegetativa, como, por exemplo, mandioca (Manihot esculenta) e batata (Solanum tuberosum). A conservação in vitro não é sempre adequada para conservação a longo prazo, pois requer infraestrutura e equipamentos adequados e pessoal altamente treinado, o que eleva os custos desse tipo de conservação. Mais informações sobre como enviar material para armazenamento na coleção in vitro podem ser obtidas no volume Conservação in vitro. Criopreservação É um processo no qual células ou tecidos vivos inteiros são preservados por resfriamento a temperaturas negativas (-196 C). A essa temperatura, quaisquer atividades biológicas, incluindo reações bioquímicas envolvidas com a morte celular, são efetivamente paralisadas. No geral, os materiais criopreservados são sementes e gemas. Os fenômenos que podem causar danos às células durante a criopreservação ocorrem principalmente durante o estágio de congelamento (efeitos de soluções, formação de gelo extracelular, desidratação e formação de gelo intracelular). O uso de soluções crioprotetoras é fundamental, pois elas previnem que as células em preservação sejam danificadas durante os processos de resfriamento ou de descongelamento. Uma vez alcançado o estágio de congelamento, o material preservado fica relativamente seguro de danos extras. Protocolos de criopreservação foram desenvolvidos para mais de 150 espécies diferentes de plantas, como, por exemplo, banana (Musa spp.), mandioca (Manihot esculenta), espécies do gênero Solanum, café (Coffea arabica), dendê (Elaeis guineensis) e chá verde (Camellia sinensis) (http://www.bioversityinternational.org/scientific_information/themes/genebanks/overview. html). Mais informações sobre o processo de criopreservação e informações a respeito de como enviar material para armazenamento na Coleção de Base podem ser obtidas no volume Criopreservação.

Manual de Curadores de Germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs 11 Conservação in vivo A conservação de acessos em campo envolve a coleta e o plantio em uma área diferente daquela em condições in situ. O material para este tipo de conservação pode ser também obtido por meio de intercâmbio, principalmente no caso de espécies exóticas, como azeitona (Olea europeia), maçã (Malus domestica), pêra (Pyrus communis) e laranja (Citrus sinensis). Os bancos mantidos em campo são utilizados para os seguintes tipos de espécies perenes: 1 - que produzem sementes recalcitrantes; 2 - que produzem pouca ou nenhuma semente; 3 - que são preferencialmente mantidas como clones; 4 - que possuem um ciclo de vida muito longo. São comumente utilizados para espécies como cacau (Theobroma cacao), seringueira (Hevea brasiliensis), coco (Cocos nucifera), café (Coffea arabica), cana-deaçúcar, banana (Musa paradisiaca), tubérculos, frutas tropicais e temperadas; e cultivos vegetativamente propagados como cebola (Allium cepa), alho (Allium sativum) e gramíneas forrageiras (http://www.bioversityinternational.org/scientific_information/themes/genebanks/overview. html). Foto: Rosa Lía Barbieri Figura 2. Acessos de pessegueiros (Prunus persica), uma espécie frutífera temperada com sementes recalcitrantes, conservados em campo no Banco Ativo de Germoplasma de Prunoides da Embrapa Clima Temperado.

12 Manual de Curadores de Germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs No estabelecimento de um banco em campo, devem ser levados em consideração os seguintes fatores: custos de manutenção do banco ao longo dos anos; possíveis perdas por dificuldade de adaptação de alguns genótipos às condições edafo-climáticas da região em que o banco está localizado; acidentes ocasionados por intempéries climáticas, como enchentes e secas; e acidentes de outra natureza, como roubos e incêndios criminosos. Pelo exposto, sempre que possível, a conservação em campo deve ser acompanhada por outro método de conservação que se aplique a espécies recalcitrantes ou de propagação vegetativa, isto é, a conservação in vitro ou a criopreservação. Foto: Rosa Lía Barbieri Figura 3. Acesso de espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), uma espécie medicinal nativa, conservado em campo no Banco Ativo de Germoplasma de Espinheira-Santa.

Manual de Curadores de Germoplasma Vegetal: Conservação em BAGs 13 Referências BRAGA, M. R. Fitoalexinas e a defesa das plantas. Disponível em: < http://www.sbq.org.br/pn-net/texto5/defesa.htm >. Acesso em: 16 jul. 2003. HAY, R. K. M.; SVOBODA, K. P. Botany. In: HAY, R. K. M.; WATERMAN, P. G. (Ed.) Volatile oil crops: their biology, biochemistry and production. Essex: Longman, 1993. p. 73-92. SKORUPA, L. A.; VIEIRA, R. F. Coleta de germoplasma de plantas medicinais. In: WALTER, B. M. T.; CAVALCANTI, T. B. (Ed.). Fundamentos para a coleta de germoplasma vegetal. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2005. p. 435-468. VALLS, J. M. F. Caracterização de recursos genéticos vegetais. In: NASS, L. L. (Ed.). Recursos genéticos vegetais. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2007. p. 281-305. VIEIRA, R. F. Conservação de Recursos Genéticos de Plantas Medicinais e Aromáticas Brasileiras: um desafio para o futuro. Acta Horticulturae, ISHS, v. 569, p. 61-68, 2002. VIEIRA, R. F.; AGOSTINI-COSTA, T. S. Caracterização química de metabólitos secundários em germoplasma vegetal. In: NASS, L. L. (Ed.). Recursos genéticos vegetais. Brasília: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2007. p. 343-376.