TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR ANAERÓBIO HORIZONTAL DE LEITO FIXO (RAHLF)



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Transcrição:

TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR... 65 TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR ANAERÓBIO HORIZONTAL DE LEITO FIXO (RAHLF) Ronan Cleber Contrera Doutorando do Depto. de Hidráulica e Saneamento da EESC-USP e-mail: ronancontrera@gmail.com Marcelo Zaiat Professor do Doutorando do Depto. de Hidráulica e Saneamento da EESC-USP Av. Trabalhador São-carlense, 4, Centro, CEP 13566-59, São Carlos-SP Valdir Schalch Professor do Doutorando do Depto. de Hidráulica e Saneamento da EESC-USP Av. Trabalhador São-carlense, 4, Centro, CEP 13566-59, São Carlos-SP Resumo Este trabalho avaliou a eficiência e a viabilidade da utilização de um reator anaeróbio horizontal de leito fixo (RAHLF) no tratamento de lixiviados coletados nos aterros sanitários de Bauru-SP e Rio Claro-SP. O reator, em escala piloto, constituiu-se de um tubo de PVC com 3, m de comprimento e 14,5 cm de diâmetro interno, perfazendo uma relação comprimento por diâmetro (L/D) de aproximadamente 2 e volume de cerca de 5 L. O reator possuía coletor de gases e amostradores intermediários ao longo do comprimento em posições correspondentes a L/D de 4, 8, 12 e 16. Como suporte de imobilização foi utilizada espuma de poliuretano com densidade de 2 kg.m 3 na forma de cubos de aproximadamente 1 mm de lado. Os lixiviados foram coletados e armazenados em uma câmara fria a 5 o C e o reator foi mantido com temperatura controlada em uma câmara a 3 o C. Ao se operar o sistema por 8 semanas, com o lixiviado coletado em Bauru-SP, não houve adaptação da biomassa em função, provavelmente, das altas concentrações de NH 3. Utilizando o lixiviado de Rio Claro-SP, o sistema apresentou inicialmente baixas eficiências, mesmo com tempo de detenção hidráulica de 25 dias. Após mudanças na estratégia de operação, utilizando-se um substrato sintético na adaptação e substituindose o lixiviado por outro coletado no mesmo aterro, o sistema reagiu muito bem, obtendo-se eficiências de aproximadamente 8% em termos de remoção de DQO, com tempo de detenção hidráulica de 2,5 dias e com DQO afluente da ordem de 5. mg/l. Palavras-chave: resíduos sólidos urbanos, lixiviados de aterros sanitários, aterro sanitário, tratamento biológico, reator anaeróbio horizontal de leito fixo. Introdução A inadequada disposição final dos resíduos sólidos gerados pela atividade humana vem, há muitos anos, se tornando um sério problema ambiental e até de saúde pública, causando poluição e degradação do meio ambiente, contaminando o solo e os corpos hídricos, gerando maus odores e contribuindo para proliferação de vetores de várias doenças. A construção de aterros sanitários é uma das formas mais adequadas e econômicas para disposição dos resíduos sólidos gerados pela atividade humana. Quando um aterro sanitário é bem projetado, construído e operado, com a conformação de células recobertas, impermeabilização do solo e sistemas para a drenagem de lixiviados e gases, a produção de lixiviados poderá ocorrer em poucas semanas após o início da operação. A inadequada disposição desses líquidos pode trazer conseqüências gravíssimas ao meio ambiente, em especial aos corpos hídricos (águas superficiais e subterrâneas), surgindo, assim, a necessidade de se ter

66 CONTRERA et al. um sistema de tratamento adequado para esses líquidos, como já é exigido por normas. Atualmente, os sistemas de tratamento anaeróbio vêm se apresentando como uma alternativa econômica e tecnicamente viável para o tratamento de águas residuárias, principalmente em países de clima quente, como é o caso do Brasil. Seguindo essa tendência, uma nova configuração de reator anaeróbio, o Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo (RAHLF), foi desenvolvido por Zaiat (1996), que avaliou o seu desempenho no tratamento do efluente de indústria de papel reciclado e substrato sintético à base de glicose. O autor ainda sugeriu que se avaliasse a utilização do RAHLF no tratamento de outras águas residuárias mais complexas ou contendo resíduos tóxicos ou inibidores da atividade microbiana. Seguindo essa linha de pesquisa, a viabilidade do RAHLF foi avaliada por alguns pesquisadores utilizando diversos tipos de águas residuárias, dentre elas: esgoto sanitário sintético, por Sarti (1998); esgoto sanitário real, por Lima (21); fenol, por Bolaños Rojas (21); vinhaça, por Telh (21); e outras. Portanto, a presente pesquisa visou a dar continuidade ao trabalho iniciado por Zaiat (1996), avaliando-se a eficiência do RAHLF no tratamento de águas residuárias mais complexas, tal como o lixiviado de aterro sanitário, que constitui um grande problema ambiental em decorrência da existência de poucas pesquisas relacionadas ao tema. Material e Métodos O RAHLF em escala piloto utilizado no experimento foi confeccionado com um tubo de PVC com 3, m de comprimento e 14,5 cm de diâmetro interno, perfazendo uma relação comprimento por diâmetro (L/D) de aproximadamente 2. O reator foi construído em dois módulos de 1,5 m em série para que coubesse dentro da câmara que mantinha a temperatura controlada a 3 ±,1 o C. Na parte superior dos módulos, o reator possuía orifícios ligados por mangueiras para captação de gás. O volume total do reator era de aproximadamente 5 L, e o reator ainda apresentava amostradores intermediários ao longo do comprimento em posições correspondentes a L/D de 4, 8, 12 e 16. Para suporte de imobilização foi utilizada espuma de poliuretano com densidade de 2 kg.m 3 na forma de cubos de aproximadamente 1 mm de lado. A Figura 1 apresenta o reator utilizado no experimento e a câmara onde o reator foi mantido. O inóculo utilizado foi lodo proveniente de um reator UASB de um abatedouro de aves da cidade de Tietê-SP. Figura 1 Reator utilizado no experimento e câmara onde o reator foi mantido. Foram feitas três coletas de lixiviados, a primeira em Bauru-SP e as outras duas em Rio Claro-SP. Os lixiviados foram coletados e armazenados em galões de 2 L mantidos a 5 o C em uma câmara fria. O experimento foi desenvolvido em três etapas. Na primeira delas utilizou-se o lixiviado de Bauru-SP, sem ser diluído, com tempo de detenção hidráulica (θ h ) de 25 dias. O sistema foi operado por oito semanas até o colapso. Na segunda etapa, o inóculo do reator foi substituído e procedeu-se exatamente como na primeira etapa, porém, utilizando-se desta vez um novo lixiviado, coletado em Rio Claro-SP. Nesta segunda etapa o sistema foi novamente operado por oito semanas, tendo se estabilizado com baixa eficiência a partir da terceira semana de operação, sem nenhuma tendência de melhora. Assim, o sistema foi novamente paralisado na oitava semana de operação. Para o reinício de operação na terceira etapa, utilizouse o sistema tal como estava no final da segunda etapa, mantendo-se o mesmo inóculo. Decidiu-se partir o sistema com um substrato sintético, simulando esgoto sanitário com concentração, em termos de DQO, da ordem de grandeza da concentração do lixiviado utilizado na segunda etapa (aproximadamente 1.5 mg/l). Esse substrato era uma mistura de extrato de carne, amido, sacarose, celulose, óleo de soja, detergente, sais e água da torneira, como o substrato utilizado por Ribeiro (21). Nessa terceira etapa utilizou-se θ h de 2,5 dias em relação ao volume total do reator em decorrência da facilidade

TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR... 67 de degradação desse novo substrato. Decidiu-se que nessa etapa seriam feitas duas amostragens por semana e não somente uma como nas duas etapas anteriores. A terceira etapa teve início utilizando-se o substrato sintético puro durante três semanas e, depois de verificada a viabilidade da biomassa e a estabilização aparente do sistema, começou-se a introduzir o lixiviado na composição do substrato. O lixiviado utilizado foi o de Rio Claro-SP, o mesmo empregado na segunda etapa. Esse lixiviado foi utilizado até a proporção de 4%, mas como o sistema começou a perder eficiência, foi feita uma nova coleta em Rio Claro-SP e utilizou-se o novo lixiviado a partir da proporção de 6% até o final do experimento. Cada proporção de lixiviado no substrato foi mantida durante uma semana até a proporção de 4%, que assim permaneceu durante quatro semanas esperando-se uma reação do sistema. A proporção de 6% foi mantida durante uma semana e meia e, como o sistema reagiu positivamente ao novo lixiviado, aplicou-se diretamente 1% de lixiviado, porém diluído, por mais uma semana. Nas duas últimas semanas aumentou-se a carga aplicada, utilizando-se o lixiviado puro (sem diluição). Com exceção da cromatografia gasosa para determinação de ácidos voláteis, todas as demais análises foram feitas segundo o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater APHA, AWWA, WPCF (1998). A cromatografia gasosa para determinação de ácidos voláteis foi feita de acordo com Moraes (2), utilizando um microdestilador para purificação das amostras de lixiviado. Resultados e Discussão A Tabela 1 apresenta o resultado da caracterização dos lixiviados e a eficiência média do sistema nas duas últimas semanas de operação para as três etapas do experimento. Parâmetros Tabela 1 Caracterização dos lixiviados coletados e eficiências do sistema no final das três etapas (média nas duas últimas semanas de operação). 1 a Bauru Coletas de lixiviado 1 a Rio Claro 2 a Rio Claro Eficiência de remoção média no final das etapas (%) 1 a etapa 2 a etapa 3 a etapa DQO bruta (total) 5.34 1.45 4.8 3,3 (4,4) 25,9 (,8) 79,1 (,7) DQO filtrada 3.66 1.32 4.35 3,1 (1,3) 25,5 (3,5) 79,7 (,6) BDO 2.5 89 3.9 ph 8,1 8,2 7,65 Ácidos voláteis totais* 5 71 2. 1 () 1 () 1 () Alcalinidade total 7.64 3.13 2.78 3,1 (,4) 2,4 (,9),5 (3,4) Ferro 18, 8,5 3,45 81,2 (1,8) 8,4 (13,7) 62,8 (12,9) Zinco,18,2,29 38,2 (2,6) 63,9 (19,6) 77, (6,5) Manganês 1,37,6 1,52 26,5 (2,1) 63, (27,7) Sólidos totais 9.67 5.337 6.716 3,4 (1,8) 3,8 (5,6) 27,8 (1,7) Sólidos totais fixos 7.133 4.35 3.471 3,2 (,7) 1,9 (4,8) 6,8 (3,) Sólidos totais voláteis 1.933 1.33 3.245 3,8 (4,9) 9,7 (6,3) 51,5 (3,) Nitrogênio total 1.722 577 382, () 8,9 (2,3) Nitrogênio amoniacal 1.63 311 331, () 4,3 (6,9) Observação: Todas unidades em mg/l, exceto o ph (desvio-padrão indicado entre parênteses). *Análise de ácidos voláteis totais realizada por cromatografia gasosa.

. 68 CONTRERA et al. O aterro de Bauru, local da primeira coleta, estava em operação há aproximadamente 1 anos e observouse que o seu lixiviado já apresentava características predominantes de lixiviados de aterros velhos, pois apresentava DQO relativamente baixa, concentração de ácidos voláteis também baixa, ph acima de 7,, relação DBO/DQO,47 e alta concentração de nitrogênio amoniacal, que era da ordem de 1.6 mg/l. Porém, na coleta seguinte realizada em Rio Claro, um aterro com apenas três meses de operação, verificou-se que o lixiviado apresentava DQO ainda mais baixa, ph também acima de 7,, baixa concentração de ácidos voláteis e relação DBO/DQO,61, contrariando a maioria das informações da literatura. Nesse caso, esse lixiviado pode ter sofrido diluição, que se deu, provavelmente, pelas águas das chuvas, que foram intensas meses antes da coleta do lixiviado e, como os sistemas de drenagem do aterro ainda estavam em construção, essas águas podem ter atingido os drenos, diluindo o lixiviado. Na terceira e última coleta, também realizada em Rio Claro, com o aterro já com cerca de sete meses de operação, o lixiviado apresentava características de lixiviados de aterros jovens, porém com DQO ainda relativamente baixa e ph acima de 7,, mas com alta concentração de ácidos voláteis e relação DBO/DQO,81. Os resultados das três etapas de operação do sistema são apresentados a seguir: Primeira etapa Na primeira etapa utilizou-se o lixiviado de Bauru- SP sem diluição e buscou-se adaptar a biomassa dentro do próprio reator, com a finalidade de acelerar a partida do sistema. As Figuras 2 a 6 apresentam os resultados obtidos na primeira etapa de operação do sistema. Nota-se claramente na Figura 2 o colapso do sistema na oitava semana de operação, com eficiência aproximadamente igual a zero, em termos de remoção de DQO. Na Figura 2 o volume decrescente de gás gerado pelo sistema a partir da segunda semana também confirma o fato. Acredita-se ainda que a eficiência de aproximadamente 6% atingida na primeira semana pode ter sido efeito da diluição do lixiviado na água do inóculo do sistema, o que poderia ter levado a uma falsa eficiência relativamente alta logo na primeira semana de operação. O mesmo problema pode ser notado ao observar-se a alcalinidade total, a alcalinidade a bicarbonato, os sólidos totais e os sólidos totais voláteis nas Figuras 5 e 6, respectivamente. Observa-se pela Figura 3 que o ph do sistema manteve-se aproximadamente constante e em torno de 7,8. Apesar da baixa geração de gás e da tendência de queda nessa geração com o desenvolvimento do experimento, nota-se pela Figura 4 que a composição do gás manteve-se aproximadamente constante durante a realização do experimento, com um ligeiro desvio na quarta semana. A proporção de 6% de metano detectada no gás do reator do experimento está de acordo com o encontrado na literatura para o gás de aterros sanitários e de reatores anaeróbios. Um fato que chamou bastante a atenção foi o odor forte de amoníaco apresentado pelo efluente do reator. Era bastante semelhante ao odor de alguns produtos de limpeza à base de amônio. Ao desmontar o sistema para a substituição do inóculo, observou-se o mesmo odor na biomassa, que apresentava coloração bem diferente da inicial e aspecto bastante desagradável, não tendo ocorrido praticamente nenhum crescimento celular. Assim, uma possível causa para a não adaptação e o colapso do sistema nessa fase pode ter sido a alta concentração de nitrogênio amoniacal observada nesse lixiviado, que era da ordem de 1.6 mg/l, como pode ser constatado na Tabela 1. DQO bruta (mg/l) 1. 8. 6. 4. 2. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 DQO filtrada (mg/l) 1. 8. 6. 4. 2. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 2 DQO bruta afluente e efluente; DQO filtrada afluente e efluente.

TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR... 69 Efic. de remoção (%) 1 8 6 4 2 DQO bruta DQO filtrada 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ph 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 3 Eficiência de remoção de DQO bruta afluente e efluente; ph afluente e efluente. 9,5 8,5 7,5 6,5 Volume (L/semana) 8 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Vol. de gás Composição do gás (%) 1 Figura 4 Volume de gás gerado; composição. 8 6 4 2 Nitrogênio e outros Metano Gás carbônico 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Alcalinidade total (mg CaCO /L) 3 1. 8. 6. 4. 2. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Alc. à bicarbonato (mg CaCO /L) 3 8. 6. 4. 2. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 5 Alcalinidade total afluente e efluente; alcalinidade a bicarbonato afluente e efluente. Sólidos totais (mg/l) 1. 8. 6. 4. 2. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sólidos totais voláteis (mg/l) 3. 2.5 2. 1.5 1. 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 6 Sólidos totais afluente e efluente; sólidos totais voláteis afluente e efluente. Segunda etapa Para o reinício da operação do sistema na segunda etapa o inóculo foi totalmente substituído e utilizou-se o lixiviado proveniente da primeira coleta realizada em Rio Claro-SP, novamente sem diluição. Os resultados obtidos na segunda etapa são apresentados nas Figuras 7 a 11. Nessa segunda etapa não ocorreu o colapso do sistema, mas, por outro lado, o sistema também não respondeu muito bem, apresentando estabilidade operacional aparente, com eficiências da ordem de 25% em termos de remoção de DQO. Nota-se pela Figura 8 que a partir da primeira semana o ph do efluente do sistema era ligeiramente menor que o ph do afluente, mas ainda da ordem de 8,, portanto, um pouco alto.

7 CONTRERA et al. Pela Figura 9 observa-se um pico na produção de gás de aproximadamente 8 L/semana na terceira semana de operação, mas esse valor não se sustenta, ficando em torno de 4 a 5 L/semana nas últimas semanas de operação do sistema. Na Figura 9 nota-se novamente que a composição do gás não apresentou variações consideráveis, mantendo-se praticamente as mesmas proporções. Verifica-se pela Figura 1 que o sistema não gerou alcalinidade total nem bicarbonato durante as 8 semanas de operação, como esperado nos sistemas anaeróbios. Provavelmente isso ocorreu em função das características do lixiviado utilizado na alimentação do sistema. Observase pela Figura 11 que o sistema também apresentou baixa remoção de sólidos totais e totais voláteis durante essa etapa. Na oitava semana de operação o sistema foi novamente paralisado. Decidiu-se não substituir o inóculo do reator e tentar dar partida no sistema adotando-se uma nova estratégia. Para se realizar avaliação visual da biomassa, o reator foi aberto e verificou-se que ela apresentava aspecto agradável e bem parecido com o do ato da partida do reator, e também não apresentava sinais de crescimento significativo nem de colmatação. DQO bruta (mg/l) 16 12 8 4 4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 DQO filtrada. (mg/l) 16 12 Figura 7 DQO bruta afluente e efluente; DQO filtrada afluente e efluente. 8 Efic. de remoção (%) 1 8 6 4 2 DQO bruta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 DQO filtrada ph 9,5 8,5 7,5 6,5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 8 Eficiência de remoção de DQO bruta afluente e efluente; ph afluente e efluente. Volume (L/semana) 1 Vol. de gás 8 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Composição (%) 1 8 6 4 2 Nitrogênio e outros Metano Gás carbônico 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 9 Volume de gás gerado; composição.

TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR... 71 Alcalinidade total (mg CaCO 3 /L) 4. 3. 2. 1. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 4. 3. 2. 1. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 1 Alcalinidade total afluente e efluente; alcalinidade a bicarbonato afluente e efluente. Alc. a bicarbonato (mg CaCO 3 /L) Sólidos totais (mg/l) 6. 5. 4. 3. 2. 1. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Sólidos totais voláteis (mg/l) 1.6 1.2 8 4 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Figura 11 Sólidos totais afluente e efluente; sólidos totais voláteis afluente e efluente. Terceira etapa Na terceira etapa a operação do sistema foi reiniciada com um substrato sintético que foi gradualmente substituído pelo lixiviado de aterro sanitário. As Figuras 12 a 22 apresentam os resultados da operação do sistema nessa última etapa. A utilização inicial do substrato sintético teve por objetivo avaliar a viabilidade da biomassa do sistema e também tentar promover a adaptação gradual da biomassa ao lixiviado. Nota-se pelas Figuras 12 a 14 que o sistema respondeu bem ao novo substrato, podendo-se considerar o sistema já em equilíbrio operacional aparente, a partir da primeira metade da segunda semana de operação. Assim, após a coleta das amostras para análise na terceira semana, o substrato passou a ter 1% de lixiviado em sua composição, em relação à carga orgânica aplicada. A partir daí verificouse tendência de queda contínua na eficiência do sistema, que foi se acentuando conforme a proporção de lixiviado ia aumentando. A proporção de 4% foi mantida por quatro semanas, esperando que o sistema reagisse nesse período, mas o sistema não apresentou nenhuma tendência de recuperação. A partir da nona semana, com proporção de lixiviado de 6%, utilizou-se o lixiviado da segunda coleta realizada em Rio Claro-SP. Com essa mudança de lixiviado, o sistema voltou a responder bem e a apresentar estabilidade aparente a partir da décima primeira semana de operação, com eficiências da ordem de 8% em termos de remoção de DQO, como pode ser observado na Figura 14, e da semana 12 à 13,5 o sistema foi operado com o lixiviado puro. DQO bruta (mg/l) 6. 5. 1 8 4. 6 3. 2. 4 1. 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Lixiviado (%) Figura 12 DQO afluente e efluente e porcentagem de lixiviado em relação à carga orgânica aplicada.

72 CONTRERA et al. DQO filtrada (mg/l) 6. 5. 4. 3. 2. 1. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 1 8 6 4 2 Lixiviado (%) Figura 13 DQO afluente e efluente e porcentagem de lixiviado em relação à carga orgânica aplicada. Efic. de remoção (%) 1 8 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 1 8 6 4 2 Lixiviado (%) DQO bruta DQO filtrada Figura 14 Eficiência de remoção de DQO no sistema e porcentagem de lixiviado em relação à carga orgânica aplicada. As variações do ph do sistema são apresentadas na Figura 15. Pelas Figuras 16 e 17 pode se verificar que o sistema gerou alcalinidade total e a bicarbonato e, ainda, comparando-se essas duas figuras nota-se que nas duas últimas semanas houve geração maior de alcalinidade a bicarbonato, o que comprova o bom tamponamento do sistema e sua estabilidade operacional. Observa-se pela Figura 18 que nessa etapa o sistema passou a produzir muito mais gás que nas etapas anteriores, chegando a produzir até 228 L em uma semana, com aproximadamente 8% de metano (Figura 19), contra os valores máximos de 7 e 8 L por semana das duas etapas anteriores, com cerca de 6% de metano. As Figuras 2 e 21 apresentam a variação das concentrações de sólidos totais e totais voláteis nessa etapa. Nota-se que a remoção de sólidos, mesmo ainda baixa nessa etapa, acabou sendo bem maior que nas etapas anteriores, atingindo-se em média 27,8% e 51,5% de remoção de sólidos totais e totais voláteis, respectivamente, nas duas últimas semanas de operação. Por fim, um dos fatores que também foi responsável pelo bom desempenho do sistema no final dessa etapa foram provavelmente as altas concentrações de ácidos voláteis totais do último lixiviado utilizado. A Figura 22 apresenta as variações das concentrações desses ácidos afluentes e efluentes ao sistema. Nota-se que, mesmo aumentando-se a carga de ácidos no afluente, estes eram quase totalmente consumidos pelo sistema. Outro fator que contribuiu para a não falência do sistema nas duas últimas etapas desse trabalho foi provavelmente a concentração de nitrogênio amoniacal do lixiviado de Rio Claro-SP, que apresentou concentrações bem menores que o a do lixiviado de Bauru-SP, como pode ser observado na Tabela 1. Ainda em relação às características dos lixiviados, vale ressaltar, como pode ser observado na Tabela 1, que os lixiviados não apresentaram diferenças significativas na concentração de metais, o que leva a descartar a hipótese de intoxicação do sistema por metais na primeira e segunda etapas. 8,5 ph 7,5 6,5 5,5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Figura 15 ph afluente e efluente.

TRATAMENTO BIOLÓGICO DE LIXIVIADOS DE ATERROS SANITÁRIOS UTILIZANDO REATOR... 73 Alcalinidade total (mg CaCO /L) 3 4. 3. 2. 1. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Figura 16 Alcalinidade total afluente e efluente. Alc. a bicarbonato (mg CaCO /L) 3 3. 2. 1. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 1 8 6 4 2 Lixiviado (%) Figura 17 Alcalinidade a bicarbonato afluente e efluente e porcentagem de lixiviado em relação à carga orgânica aplicada. Volume (L/semana) 25 2 15 1 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Vol. de gás Figura 18 Volume de gás gerado pelo reator. Composição (%) 1 8 6 4 2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Nitrogênio e outros Metano Gás carbônico Figura 19 Composição do gás gerado pelo reator. Sólidos totais (mg/l) 8. 6. 4. 2. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Figura 2 Sólidos totais afluente e efluente.

74 CONTRERA et al. 4 Sólidos totais voláteis (mg/l) 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Figura 21 Sólidos totais voláteis afluente e efluente. Ácidos voláteis totais (mg ac. acét./l) 2. 1.5 1. 5 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 12 13 14 Figura 22 Ácidos voláteis totais afluente e efluente, por titulação. Conclusões Os lixiviados de aterros sanitários velhos podem não conduzir a bons resultados quando tratados em reatores anaeróbios, em função, talvez, da baixa concentração de matéria orgânica de fácil degradação (ácidos voláteis) ou da presença de substâncias tóxicas (nitrogênio amoniacal), que podem inibir o processo. O RAHLF pode ser uma alternativa ao pré-tratamento para lixiviados de aterros sanitários que apresentem características de lixiviados de aterros jovens, ou seja, concentrações relativamente baixas de nitrogênio amoniacal, altas concentrações de ácidos voláteis e elevada relação DBO/DQO. Agradecimentos À FAPESP pela bolsa de estudos e pelo auxíliopesquisa concedidos aos pesquisadores. Referências Bibliográficas APHA; AWWA; WPCF. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 2 th edition. Washington-DC, USA, 1998. Bolaños Rojas, M. L. Tratamento de fenol em reator anaeróbio horizontal de leito fixo (RAHLF) sob condições mesofílicas. 21. 111p. + Anexos. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. Contrera, R. C. Tratamento biológico de líquidos percolados de aterros sanitários utilizando reator anaeróbio horizontal de leito fixo (RAHLF). 23. 149p. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. Lima, C. A. de A. Tratamento de esgoto sanitário em reator anaeróbio horizontal de leito fixo (RAHLF): escala piloto. 21. 158 p. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. Moraes, E. de M.; Adorno, M. A.T.; Zaiat, M. e Foresti, E. Determinação de ácidos voláteis por cromatografia gasosa em efluentes de reatores anaeróbios tratando resíduos líquidos e sólidos. VI Oficina e Seminário Latino-Americano de Digestão Anaeróbia, Recife, 2. v. 2, p. 235-238. Ribeiro, R. Influência do tipo de substrato na dinâmica do processo de formação do biofilme em matrizes de espuma de poliuretano. 21. 193 p. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. Sarti, A. Avaliação do desempenho do Reator Anaeróbio Horizontal de Leito Fixo (RAHLF), no tratamento de substrato sintético simulando esgoto doméstico. 1998. 113 p. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. Telh, M. Avaliação do uso de reator anaeróbio horizontal de leito fixo no tratamento de vinhaça sob condições termofílicas. 21. 63 p. Dissertação (Mestrado em Hidráulica e Saneamento) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. Zaiat, M. Desenvolvimento de reator anaeróbio horizontal de leito fixo (RAHLF) para tratamento de águas residuárias. 1996. 157 p. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.