FORMULAÇÕES DE NÉCTARES DE FRUTAS NATIVAS DAS REGIÕES NORTE E NORDESTE DO BRASIL

Documentos relacionados
QUALIDADE E POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DE FRUTOS DE CAJAZEIRAS (Spondias mombin L.) ORIUNDOS DA REGIÃO MEIO-NORTE DO BRASIL

ATRIBUTOS FÍSICOS E QUÍMICOS DO ABACAXI CAYENNE CHAMPAC : INOCULAÇÃO DE MUDAS COM BACTÉRIA DIAZOTRÓFICA E ADUBAÇÃO ORGÂNICA. Maia3

ACEITAÇÃO SENSORIAL DE BEBIDA MISTA DE FRUTOS DO GÊNERO SPONDIAS A BASE DE ÁGUA DE COCO

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABACAXI PÉROLA CULTIVADO NO SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

Elaboração e avaliação da qualidade sensorial e fisico-química de geleia de cajá

AVALIAÇÃO DE POLPAS DE FRUTAS CONGELADAS PRODUZIDAS NO MACIÇO DE BATURITÉ

ACEITABILIDADE E AVALIAÇÃO FÍSICO QUÍMICA DE UM NÉCTAR MISTO DE PITANGA E CUPUAÇU.

FORMULAÇÃO E QUALIDADE DE NÉCTAR DE CAJÁ ADICIONADO COM LINHAÇA E EXTRATO DE SOJA

BEBIDA MISTA DE TAMARINDO A BASE DE AGUA DE COCO

ELABORAÇÃO E ACEITAÇÃO DE PÃO COM REDUÇÃO DE CLORETO DE SÓDIO E CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS

REDUÇÃO PERCEPTÍVEL E REDUÇÃO ACEITÁVEL DE AÇÚCAR EM NÉCTAR DE UVA: ANÁLISE SENSORIAL COMO FERRAMENTA PARA REFORMULAÇÃO

Determinação das Características Físico-Químicas e Sensoriais de Sucos Concentrados de Maracujá

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO SENSORIAL BEBIDA MISTA DE SERIGUELA (SPONDIAS PURPÚREA L.) COM ÁGUA DE COCO

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Amazônia Oriental Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

AVALIAÇÃO FISICO-QUIMICA E MEDIDAS INSTRUMENTAIS DO DOCE DE CORTE DE GOIABA E MARACUJÁ

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELADO COMESTÍVEL ELABORADO COM POLPA DO FRUTO DE MANDACARU ADICIONADO DE SORO DE LEITE

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS DE QUALIDADE FÍSICO- QUÍMICOS DE SUCOS TROPICAIS

AVALIAÇÃO DO EFEITO DA DILUIÇÃO NA POLPA DE MARACUJÁ PARA ELABORAÇÃO DE FRUTA ESTRUTURADA

COMPOTA DE ABACAXI ADICIONADO DE DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE CANELA EM PAU

Definição de Parâmetros Iniciais para Maceração de Película Comestível de Cajá (Spondias mombin L.)

Licor de jatobá: análise físico-química e sensorial

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS DE ABACATES DAS VARIEDADES MARGARIDA E BREDA

FORMULAÇÃO E AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELÉIA MISTA DE PITANGA (Eugenia uniflora L.) E ACEROLA (Malpighia sp)

ELABORAÇÃO DE BEBIDA A BASE DE EXTRATO HIDROSSOLÚVEL DE SOJA (Glycine max L.) E POLPA DE CUPUAÇU (Theobroma grandiflorum)

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E TESTE DE ACEITAÇÃO SENSORIAL DO SUCO DE PINHA E DO BLEND PINHA-LEITE

DETERMINAÇÃO DO PONTO DE COLHEITA DE TAPEREBÁ (Spondias mombin L.)

DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE REFRIGERANTE SABOR ABACAXI (ANANÁS COMOSUS) COM HORTELÃ (MENTHA X VILLOSA)

DESENVOLVIMENTO DE CREMES (SMOOTHIES) DE FRUTAS PARA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR, COM MENOR TEOR DE AÇÚCAR E COM USO DE COMPONENTES FUNCIONAIS.

ADEQUAÇÃO TECNOLÓGICA DE FRUTOS DA AMAZÔNIA: LICOR DE ARAÇÁ-BOI (Eugenia stiptata) McVAUGH

Caracterização de polpas de frutas tropicais congeladas comercializadas no Recôncavo Baiano 1

BLENDS OBTIDO DE JAMBO VERMELHO COM TOMATE

ELABORAÇÃO DE GELEIA TRADICIONAL E LIGHT DE GUABIROBA BRUNA NAPOLI¹; DAYANNE REGINA MENDES ANDRADE²; CRISTIANE VIEIRA HELM³

ACEITABILIDADE SENSORIAL DE GELEIA DE AÇAÍ E BANANA

ELABORAÇÃO DE DOCE EM PASTA DO TIPO EM MASSA A PARTIR DE FRUTAS DO SEMIÁRIDO

APROVEITAMENTO DA CASCA DE ABACAXI NA CONFECÇÃO DE GELEIA

Efeito Do Tempo De Armazenamento Na Qualidade De Geleias De Duas Cultivares De Uva

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DE SUCO DE CAJU. Iwalisson Nicolau de Araújo 1 Graduando em Licenciatura em Química pela Universidade Estadual da Paraíba.

Utilização de maracujá integral no desenvolvimento de sobremesa láctea (flan) e avaliação de suas características físico-químicas e sensorial.

ALTERNATIVA PARA CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda)

Redução da viscosidade da polpa de acerola

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E ACEITAÇÃO SENSORIAL DO SUCO DE PINHA E DO BLEND PINHA-LEITE

TÍTULO: AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE POLPAS DE FRUTAS COMERCIALIZADAS EM MONTES CLAROS-MG

AVALIAÇÃO SENSORIAL DA FIBRA DO PEDÚNCULO DO CAJÚ (Anacardium occidentale L.) EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES COMO RECHEIO EM PASTEIS

REPV - Revista Eletrônica Polidisciplinar Voos - ISSN Núcleo de Estudos da Sociedade Contemporânea - NESC

DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS E SENSORIAIS DE NÉCTAR DE MANGA E ACEROLA

EFEITO DA CONCENTRAÇÃO NA CINÉTICA DE DEGRADAÇÃO DA VITAMINA C DO SUCO DE ACEROLA CLARIFICADO E CONCENTRADO DURANTE A ARMAZENAGEM.

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE DOCE DE LEITE PASTOSO ADICIONADO DE FARINHA DE LINHAÇA

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTARES DE MANGA DE DIFERENTES MARCAS COMERCIALIZADAS EM FORTALEZA/CE

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE NÉCTARES

O completo amadurecimento do tomate coincide com o teor máximo de

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELEIA DE ACEROLA COM MARACUJÁ

INTENÇÃO DE COMPRA DE BISCOITOS TIPO COOKIE SABOR CHOCOLATE COM DIFERENTES TEORES DE FARINHA DE UVA

Obtenção e avaliação de parâmetros físico-químicos da polpa de goiaba (Psidium guajava L.), cultivar Paluma

Caracterização físico-química e avaliação sensorial de sobremesa láctea tipo mousse enriquecida com casca de maracujá do cerrado

QUALIDADE DE FRUTOS DE LIMEIRA ÁCIDA TAHITI EM COMBINAÇÃO COM DIFERENTES PORTA-ENXERTOS

DESENVOLVIMENTO DE LICOR À BASE DE CASCAS DE ABACAXI

Geleia de Araçá-boi com Mamão

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABÓBORA E MORANGA CRISTALIZADAS PELO PROCESSO DE AÇUCARAMENTO LENTO.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DE POLPAS DE FRUTAS CONGELADAS COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE NOVA CRUZ-RN

CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E FÍSICO-QUÍMICA DE NOVOS HÍBRIDOS DE MARACUJÁ AMARELO

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE GELEIA DE POLPA E CASCA DE MANGA (Mangifera indica L) ESPADA EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES

NÉCTAR MISTO DE MANGABA (Hancoria speciosa Gomes) E CAGAITA (Eugenia dysenterica): PERFIL SENSORIAL E CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICAS

Avaliação sensorial do efeito de tratamento térmico prévio à desidratação osmótica na textura de cascas de manga desidratadas osmoticamente

Caracterização físico química e sensorial de doce de manga (Mangifera indica L.) em massa com adição de casca

AVALIAÇÃO SENSORIAL DE FRUTA LAMINADA MISTA DE UMBU E MANGA

Avaliação da qualidade de polpas de frutos industrializadas e comercializadas no município de Boa Vista RR

CONSERVAÇÃO DA POLPA DO FRUTO DO IMBUZEIRO (Spondias tuberosa Arruda) EM TEMPERATURA AMBIENTE

QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE ABACAXI PÉROLA CULTIVADO SOB DIFERENTES DOSES DE ADUBAÇÃO

DETERMINAÇÃO DO PONTO DE COLHEITA DE CAMU-CAMU (Myrciaria dúbia (H.B.K.) McVaugh)

PERFIL SENSORIAL DE NÉCTARES MISTOS COM CASCA DE ABACAXI E DE POLPAS DE FRUTAS

QUALIDADE DE DOCE EM MASSA DE BANANA ADICIONADO DE COMPONENTES FUNCIONAIS

QUALIDADE DE POLPAS CONGELADAS DE FRUTAS, FABRICADAS E COMERCIALIZADAS NOS ESTADOS DO CEARÁ E RIO GRANDE DO NORTE

ELABORAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE GELEIADA DE JUÇARA

Aceitação sensorial de bebida láctea, sob diferentes concentrações de soro

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE BLEND À BASE DE ACEROLA (Malpighia emarginata) E GOIABA (Psidium guajava)

OBTENÇÃO E AVALIAÇÃO DE LICOR DE CAJÁ-MANGA OBTAINING AND EVALUATION OF LIQUOR CAJA-MANGA

QUALIDADE DE FRUTOS DE CAJAZEIRA EM DIFERENTES ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO PROVENIENTES DE CLONES CULTIVADOS NO CEARÁ - CE 1

ACEITAÇÃO SENSORIAL DE BATATAS FRITAS COM REDUÇÃO DE GORDURAS

Parâmetros Físico-Químicos dos Frutos de Mangabeira. ISSN X ISSN online X Março, 2010

IV Semana de Ciência e Tecnologia IFMG - campus Bambuí IV Jornada Científica 06 a 09 de Dezembro de 2011

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DE VARIEDADES DE ACEROLAS EM DOIS ESTÁDIOS DE MATURAÇÃO

EXPECTATIVAS E PREFERÊNCIAS DO CONSUMIDOR EM RELAÇÃO AO CAFÉ TORRADO E MOÍDO Parte 1: TESTE DO PRODUTO EM 10 CIDADES BRASILEIRAS (1)

USO DE SORO DE QUEIJO NA FORMULAÇÃO DE DOCE DE LEITE PASTOSO EM SUBSTITUIÇÃO AO LEITE

Produção e estudo da aceitabilidade sensorial do licor de jambo vermelho

CARACTERIZAÇÃO FISICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELEIA DE MAMÃO COM ARAÇÁ-BOI 1

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E VIGOR DE SEMENTES EM PROGÊNIES DE CAMUCAMUZEIRO ESTABELECIDAS NO BAG DA EMBRAPA AMAZÔNIA ORIENTAL

AVALIAÇÃO QUÍMICA E ANÁLISE SENSORIAL DE GELEIAS DE TOMATE.

ELABORAÇÃO E AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE GELEIA DE ACEROLA E TAMARINDO EM DIFERENTES CONCENTRAÇÕES

AVALIAÇÃO DO TEOR PROTÉICO E ACEITAÇÃO GLOBAL DE BARRAS ALIMENTÍCIAS PRODUZIDAS COM VEGETAIS DESIDRATADOS E RESÍDUO DO EXTRATO DE SOJA

APROVEITAMENTO DE SORO DE LEITE: perfil sensorial de doce de leite pastoso com polpa de marolo

PROCESSAMENTO E AVALIAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE CASCA DA MANGA

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E DO ABASTECIMENTO

AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DE TRATAMENTO PRÉVIO NA ACEITAÇÃO DA APARÊNCIA E DO SABOR DE CASCA DE MELANCIA DESIDRATADA OSMOTICAMENTE

DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO SENSORIAL DE NÉCTAR MISTO DE MARACUJÁ (Passiflora edulis Sims ) E ARATICUM (Annona crassiflora)

QUALIDADE EM BLENDS DE FRUTAS TROPICAIS ADICIONADOS DE EXTRATOS VEGETAIS

I SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA EMBRAPA ACRE ACEITAÇÃO SENSORIAL DE BOLO ELABORADO COM FARINHAS DE CASTANHA- DO-BRASIL E BANANA VERDE

Vitória da Conquista, 10 a 12 de Maio de 2017

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Caracterização físico-química de geléia de pitanga roxa (Eugenia uniflora L.)

Vitória da Conquista, 10 a 12 de Maio de 2017

Transcrição:

FORMULAÇÕES DE NÉCTARES DE FRUTAS NATIVAS DAS REGIÕES NORTE E NORDESTE DO BRASIL MEN DE SÁ MOREIRA DE SOUZA FILHO * JANICE RIBEIRO LIMA * RENATA TIEKO NASSU * CARLOS FARLEY HERBSTER MOURA ** MARIA DE FÁTIMA BORGES * O presente trabalho visou avaliar formulações de néctares de frutas (araçá boi, ata, cajá, camu camu, ciriguela, mangaba e sapoti) nativas das regiões Norte e Nordeste do Brasil. As formulações foram desenvolvidas a partir da polpa dos frutos, empregando se de 30 a 35% de polpa, conforme as características de sabor e aroma. Para cada fruto foram testados dois níveis de sólidos solúveis, variando de 12 a 16 ºBrix, ajustados com adição de sacarose. Os frutos que apresentaram baixos níveis de acidez tiveram seus néctares corrigidos com adição de ácido cítrico, de maneira que a acidez ficasse entre 0,25 e 0,30%. As formulações foram avaliadas por meio de análises de ph, acidez total titulável, vitamina C, açúcares solúveis totais e redutores, sólidos solúveis totais, razão ºBrix/acidez e análise sensorial. De forma geral, somente os sólidos solúveis totais e os açúcares totais apresentaram diferenças estatísticas entre as formulações de cada fruta, o que se justifica pela adição de sacarose no desenvolvimento das formulações. A relação ºBrix/acidez manteve se na faixa de 20 a 60 para todos os néctares. Os maiores níveis de vitamina C foram encontrados nos néctares de camu camu (455,2 e 470,5 mg/ 100 g) e mangaba (48,4 e 52,7 mg/100 g), enquanto os demais apresentaram níveis inferiores a 20 mg/100 g. A exceção do camu camu, todos os atributos sensoriais para os outros néctares receberam notas superiores a 6,0. Os resultados preliminares evidenciaram boa aceitação e possibilidades promissoras no aproveitamento dos frutos. * Pesquisadores, Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza CE. (e mail: sa@cnpat.embrapa.br). ** Bolsista, Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza CE. B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, p. 275 283, jul./dez. 2000

1 INTRODUÇÃO O Brasil, devido à sua vasta extensão territorial e ampla variação climática, apresenta uma das maiores diversidades de espécies frutíferas do mundo. As regiões Norte e Nordeste do Brasil em especial, pelas condições climáticas, produzem grande número de frutos tropicais com boas perspectivas para exploração econômica (3, 4). Poucas frutas brasileiras, como a laranja, o abacaxi e o maracujá conseguiram lugar de destaque no mercado nacional e internacional, na forma de frutas frescas, sucos integrais ou concentrados, néctares e geléias. No entanto, outras frutas deveriam ser melhor estudadas e divulgadas, como araçá boi (Eugenia stipitata Mc Vaugh), ata (Anonna squamosa L.), cajá (Spondias mombin L.), camu camu (Myrciaria dubia H.B.K. Mc Vaugh), ciriguela (Spondias purpurea L.), mangaba (Hancornia speciosa Gomes) e sapoti (Manilkara ackras L.). Estas frutas apresentam textura, aroma e sabor agradáveis e são comercializadas em mercados locais na forma de frutas frescas, polpa congelada, sucos e sorvetes. Em razão do potencial econômico e da importância social destas espécies de frutos, vários centros e instituições de pesquisa localizados nestas regiões vêm tentando identificar as melhores opções para o desenvolvimento de plantações comerciais. As possibilidades tecnológicas de processamento industrial destas frutas têm sido relatadas em alguns estudos (3, 6, 10, 12). O processamento na forma de néctares representa alternativa tecnológica para diversificação dos produtos derivados de frutas, que auxiliará no desenvolvimento agroindustrial dos produtores das regiões Norte e Nordeste brasileiras. O presente trabalho visou avaliar formulações de néctares de frutas (araçáboi, ata, cajá, camu camu, ciriguela, mangaba e sapoti) nativas das regiões Norte e Nordeste do Brasil. 2 MATERIAL E MÉTODOS Os néctares foram formulados a partir das polpas congeladas dos frutos, utilizando se de 30 a 35% de polpa, segundo suas características funcionais. Para cada fruto foram formulados dois néctares, com porcentagens de sólidos solúveis totais diferentes, na faixa de 12 a 16 ºBrix. Em alguns casos foi necessária a correção da acidez do néctar (Tabela 1). Os néctares foram avaliados mediante análises físico químicas de ph e sólidos solúveis totais (ºBrix) (1), acidez total titulável (%) (5), vitamina C (mg/100 g) (11), açúcares solúveis totais (%) (14), açúcares redutores (%) (8) e razão ºBrix/acidez. 276 B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000

TABELA 1 FORMULAÇÃO DE NÉCTARES DE FRUTOS TROPICAIS Fruto % de polpa º Brix Observações Araçá boi (Eugenia 30 14 e 16 stipitata Mc Vaugh) Ata (Anonna squamosa L.) 35 14 e 16 Acidez corrigida para 0,25% Cajá (Spondias mombin L.) 30 12 e 14 Camu camu (Myrciaria 30 14 e 16 dubia H.B.K. Mc Vaugh) Ciriguela (Spondias purpurea L.) 35 14 e 16 Acidez corrigida para 0,30% Mangaba (Hancornia 30 12 e 14 speciosa Gomes) Sapoti (Manilkara ackras L.) 35 12 e 14 Acidez corrigida para 0,30% Na avaliação sensorial foram empregados testes de aceitação global, aceitação da aparência, do sabor e do aroma, utilizando escala hedônica estruturada de 9 pontos, com variações de gostei extremamente (nota 9) a desgostei extremamente (nota 1) (7). As amostras foram apresentadas codificadas em copos plásticos transparentes, em temperatura de geladeira e entregues, separadamente, para cada provador (apresentação monádica). Trinta provadores não treinados avaliaram os néctares. Os resultados foram avaliados pela análise de variância e pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Tabelas 2 a 8 são apresentados os resultados das avaliações físicoquímicas e sensoriais dos néctares. De modo geral, somente os sólidos solúveis totais e os açúcares totais e/ou redutores apresentaram diferenças significativas entre as formulações para cada fruto, o que se justifica pela adição de sacarose na preparação dos néctares. Todos os valores de ph ficaram abaixo de 4,0, conforme recomendado para néctares de frutos (10). Diferenças nos teores de vitamina C entre as formulações foram observadas para os néctares de araçá boi, cajá e sapoti, no entanto, estas diferenças não são importantes visto que para estes néctares os teores de vitamina C foram baixos (menores que 8 mg/100 g). Os maiores teores de vitamina C foram observados para os néctares de camu camu (455,2 e B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000 277

470,5 mg/100 g). Os valores obtidos mostraram se bem abaixo da faixa relatada na literatura para suco de camu camu, entre 1900 a 4000 mg/ 100 g (2, 13). No entanto, estes valores ainda são bastante altos quando comparados às doses recomendadas para ingestão diária, que variam de 30 a 50 mg/dia (9). TABELA 2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE ARAÇÁ BOI Sólidos solúveis totais (º brix) 14,0 b 16,3 a Acidez total titulável (%) 0,67 a 0,68 a º brix/acidez 20,7 23,8 Vitamina C (mg/100 g) 7,3 b 8,0 a ph 2,5 a 2,5 a Açúcares totais (%) 14,1 b 16,1 a Açúcares redutores (%) 0,1 a 0,1 a Global 6,9 a 7,3 a Aparência 7,5 a 7,5 a Aroma 7,0 a 6,9 a Sabor 6,5 a 6,7 a TABELA 3 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE ATA Sólidos solúveis totais (º brix) 14,0 b 16,3 a Acidez total titulável (%) 0,25 a 0,27 a º brix/acidez 56,3 59,1 Vitamina C (mg/100 g) 13,4 a 16,1 a ph 4,0 a 4,0 a Açúcares totais (%) 14,8 b 16,8 a Açúcares redutores (%) 9,2 a 9,3 a Global 7,3 a 7,4 a Aparência 7,1 a 7,3 a Aroma 6,3 a 6,7 a Sabor 6,9 a 7,1 a 278 B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000

Quando se compara os resultados dos testes de aceitação sensorial dos néctares, para cada fruto, pode se observar que praticamente não houve diferença significativa de aceitação entre as formulações. Apenas para os atributos de sabor, nos néctares de ciriguela e mangaba, e para aceitação global do néctar de sapoti verificou se maior aceitação para as formulações com maior teor de sólidos solúveis totais (néctares mais doces). TABELA 4 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE CAJÁ Sólidos solúveis totais (º brix) 12,2 b 14,0 a Acidez total titulável (%) 0,36 a 0,35 a º brix/acidez 33,8 39,9 Vitamina C (mg/100 g) 6,0 b 7,1 a ph 2,9 a 2,9 a Açúcares totais (%) 10,4 b 12,2 a Açúcares redutores (%) 10,9 b 12,9 a Global 8,0 a 8,1 a Aparência 8,0 a 7,9 a Aroma 7,8 a 7,8 a Sabor 7,4 a 8,0 a TABELA 5 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE CAMU CAMU Sólidos solúveis totais (º brix) 14,0 b 16,2 a Acidez total titulável (%) 0,61 a 0,61 a º brix/acidez 22,7 26,5 Vitamina C (mg/100 g) 455,2 a 470,5 a ph 2,4 a 2,3 a Açúcares totais (%) 13,9 b 15,9 a Açúcares redutores (%) 1,5 a 1,5 a Global 4,7 a 5,0 a Aparência 7,4 a 7,4 a Aroma 6,1 a 6,1 a Sabor 4,9 a 5,0 a B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000 279

TABELA 6 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE CIRIGUELA Sólidos solúveis totais (º brix) 13,9 b 16,2 a Acidez total titulável (%) 0,33 a 0,3 a º brix/acidez 42,1 50,6 Vitamina C (mg/100 g) 13,3 a 12,5 a ph 3,1 a 3,1 a Açúcares totais (%) 10,7 b 12,7 a Açúcares redutores (%) 1,5 a 1,4 b Global 7,3 a 7,5 a Aparência 7,7 a 7,5 a Aroma 6,9 a 6,8 a Sabor 7,1 b 7,5 a TABELA 7 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE MANGABA Sólidos solúveis totais (º brix) 12,0 b 14,1 a Acidez total titulável (%) 0,42 a 0,5 a º brix/acidez 28,3 30,7 Vitamina C (mg/100 g) 52,7 a 48,4 a ph 3,2 a 3,1 a Açúcares totais (%) 11,7 b 14,1 a Açúcares redutores (%) 4,0 a 3,9 a Global 6,3 a 6,9 a Aparência 7,5 a 7,7 a Aroma 7,3 a 7,5 a Sabor 7,4 b 7,8 a 280 B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000

TABELA 8 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO QUÍMICA E SENSORIAL DE NÉCTAR DE SAPOTI Sólidos solúveis totais (º brix) 12,1 b 14,0 a Acidez total titulável (%) 0,24 a 0,23 a º brix/acidez 50,3 58,9 Vitamina C (mg/100 g) 4,5 b 5,6 a ph 3,6 a 3,6 a Açúcares totais (%) 10,3 b 11,7 a Açúcares redutores (%) 4,7 a 4,8 a Global 6,4 b 7,0 a Aparência 7,2 a 7,2 a Aroma 7,1 a 7,4 a Sabor 6,7 a 7,5 a A representação gráfica (Figura 1) mostra o somatório das freqüências das notas de aceitação global mais altas (7, 8 e 9), que correspondem na escala hedônica a avaliações de "gostei moderadamente" a "gostei extremamente". Pode se observar que, para algumas formulações, os néctares de araçá boi, ata, cajá e ciriguela apresentaram mais de 80% das notas dos provadores acima de "gostei moderadamente", o que eviencia alto potencial de comercialização destes produtos. FIGURA 1 SOMATÓRIO DAS FREQÜÊNCIAS DAS NOTAS 7, 8 E 9 DE ACEITAÇÃO GLOBAL DOS NÉCTARES DE FRUTOS TROPICAIS somatório das freqüências (%) 100 80 60 40 20 0 araçá boi camu camu ata mangaba cajá ciriguela sapoti néctar 12ºBrix 14ºBrix 16ºBrix B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000 281

Apesar dos néctares de sapoti e mangaba terem recebido notas acima de "gostei moderadamente" de aproximadamente 60% dos provadores, seria interessante testar outras formulações. Os néctares de camu camu apresentaram baixa aceitação. 4 CONCLUSÃO Os resultados mostraram excelente aceitação sensorial para os néctares de araçá boi, ata, cajá e ciriguela, com possibilidades promissoras no aproveitamento destes frutos, indicando a necessidade de ampliação do estudo sobre os aspectos de vida de prateleira destes produtos. Abstract This work aimed to evaluate nectar formulas from tropical fruits (araca boi, sugar apple, red mombin, camu camu, yellow mombin, mangaba, sapoti) indigenous of North and Northeast regions of Brazil. The formulations were developed from fruit pulp using 30 to 35% according to their flavor and aroma characteristics. For each fruit two levels of total soluble sugar were used ranging from 12 to 16 ºBrix and adjusted by sucrose addition. Citric acid was added in fruits nectars which had low acidity in order to reach 0.25 to 0.30% acidity. Samples were evaluated by analysis of ph, titratable acidity, total soluble solids, ºBrix/acidity ratio, vitamin C, total sugars, reducing sugars and sensory analysis. Only total soluble solids and total sugars showed statistical differences among formulations for each fruit, due to sucrose addition during nectars preparation. ºBrix/acidity ratio ranged from 20 to 60 for all nectars evaluated. Vitamin C highest levels were observed for camu camu (455.2 and 470.5 mg/100 g) and mangaba (48.3 and 52.7 mg/100 g) nectars. Excluding camu camu, all sensory scores for fruit nectars were higher than 6.0. Results showed good acceptability of fruit nectars and possibilities for industrial processing. REFERÊNCIAS 1 ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTRY. Official methods of Analysis of the Association of Official Analytical Chemistry. 11 th.ed. Washington, 1992. 1115 p. 2 ARAGÃO, C.; IKEGAKI, M.; SATO, H.; OLIVEIRA, I. M.; PARK, Y. K. Determination of ascorbc acid concentration in acerola and camu camu fruit juices by ascorbate oxidase method. Ciência e Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 16, n. 2, p. 175 176, 1996. 3 ARCKOLL, D. B. Some lesser known Brazilian fruits unexploited commercial potential. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM OF THE INTERNATIONAL FEDERATION OF FRUIT JUICE PRODUCERS, 19., 1987, Den Haag. Proceedings... Den Haag, 1997. p. 27 34. 282 B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000

4 CLEMENT, C. R. Aspectos de fruticultura da Amazônia. Informativo da Sociedade Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal, v. 1, n. 2, p. 2 5, 1982. 5 INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas analíticas, métodos químicos e físicos para análise de alimentos. 3. ed. São Paulo, 1985. 533 p. 6 JOAS, J. Spanish plums: significant technological possibilities Spondias mombin, pulp extraction. Fruits, Paris, v. 37, n. 11, p. 727 729, 1982. 7 MEILGAARD, M.; CIVILLE, G.V.; CARR, B.T. Sensory evaluation techniques. Florida: CRC, 1987. v. 2. 8 MILLER, G.L. Use of dinitrosalicylic acid reagents for determination of reducing sugars. Analytical Chemistry, Washington, v. 31, p. 426 428, 1959. 9 MITCHELL, H. S.; RYNBERGEN, H. J.; ANDERSON, L.; DIBBLE, M. V. Nutrição. 16. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1978. 567 p. 10 PELTRINIERI, G.; FIGUEROLA, F. Procesamiento a pequeña escala de frutas y hortalizas amazonicas nativas y introducidas. Lima: Secretaria Pro Tempore, Tratado de Cooperacion Amazonica, 1997. 214 p. 11 STROHECKER, R.; HENNING, H.M. Analisis de vitaminas: métodos comprobados. Madrid: Paz Montalvo, 1967. 428 p. 12 TREVAS FILHO, V. Frutas típicas do Nordeste: naturais ou aclimatadas: sua industrialização. Revista de Química Industrial, v. 17,n. 491, p. 5 9, 1973. 13 VILLACHICA, H. Frutales y hortalizas promisorios de la Amazonia. Lima: Secretaria Pro Tempore, Tratado de Cooperacion Amazonica, 1996. 367 p. 14 YEMN, E.W.; WILLIS, A.J. The estimation of carbohydrate in plant extracts by anthrone. The Biochemical Journal, London, v. 57, p. 508 514, 1954. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao apoio financeiro da União Européia (EU INCO DC/Contrato ERBIC 18CT970182). B.CEPPA, Curitiba, v. 18, n. 2, jul./dez.2000 283