CONTRIBUIÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE ATIVIDADES FUNCIONAIS DE PFEFFER PARA O DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE ALZHEIMER

Documentos relacionados
Correlação entre Teste Gestáltico de Bender e MEEM: avaliação neuropsicológica em idosos

TESTE DE FLUÊNCIA VERBAL CATEGORIA ANIMAIS E FRUTAS EM IDOSOS ANALFABETOS

Análise comparativa entre CAMCOG, Fluência Verbal e o CASI-Short em idosos sem escolaridade

APLICAÇÃO DA ESCALA DE AVALIAÇÃO CLÍNICA DA DEMÊNCIA (CLINICAL DEMENTIA RATING - CDR) EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER DA CIDADE DE GUARAPUAVA-PR

Delírios e avaliação neuropsicológica no envelhecimento: um estudo de caso

Testes do desenho do relógio e de fluência verbal: contribuição diagnóstica para o Alzheimer

TÍTULO: RELAÇÃO ENTRE NÍVEIS DE COMPROMETIMENTO COGNITIVO E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM IDOSSOS

UPSA: ADAPTAÇÃO E APLICAÇÃO EM IDOSOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Aluno: Antonia Sigrist Orientador: Helenice Charchat Fichman

AVALIAÇÃO DA FUNCIONALIDADE DE ADULTOS E IDOSOS COM SÍNDROME DE DOWN: DADOS DE UM ESTUDO PILOTO.

TÍTULO: COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO COGNITIVO E ESTADO EMOCIONAL CONFORME CLASSIFICAÇÃO DO ÍNDICE DE MASSA CORPORAL EM IDOSOS DA COMUNIDADE.

DESCRIÇÃO E CORRELAÇÃO DAS QUEIXAS SUBJETIVAS DE MEMÓRIA, COGNIÇÃO, APRAXIAS E ATIVIDADES FUNCIONAIS EM IDOSOS COM COMPROMETIMENTO COGNITIVO LEVE

Poder preditivo do MoCa na avaliação neuropsicológica de pacientes com diagnóstico de demência

Correlação dos anos de escolaridade com o estado cognitivo em idosas

SOBRECARGA DO CUIDADOR DE DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL E DOENÇA DE ALZHEIMER.

FRAGILIDADE E CAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS

INTERVENÇÃO NÃO-MEDICAMENTOSA NA DOENÇA DE ALZHEIMER: EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO COGNITIVA

AS CONTRIBUIÇÕES DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA EM UM CASO DE ALZHEIMER LEVE

AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DE IDOSOS USUÁRIOS DE PSFs NA CIDADE DE RECIFE-PE*

PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO EM IDOSOS DE UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA 1

4 RESULTADOS. 4.1 Análise amostral Caracterização da amostra estudada. As características sociodemográficas da população estudada estão

SINAIS E SINTOMAS DA DOENÇA DE ALZHEIMER: CONSIDERAÇÕES DE UM AMBULATÓRIO DE GERIATRIA

TÍTULO: PERCEPÇÃO DA FUNCIONALIDADE EM IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER: VISÃO DO PACIENTE E SEU CUIDADOR

DEMÊNCIA? O QUE é 45 MILHOES 70% O QUE É DEMÊNCIA? A DEMÊNCIA NAO É UMA DOENÇA EM 2013, DEMÊNCIA. Memória; Raciocínio; Planejamento; Aprendizagem;

INSTRUMENTOS DE RASTREIO COGNITIVO PARA DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE ALZHEIMER EM IDOSOS

VII CONGRESSO BRASILEIRO DE NEUROPSIOUIATRIA GERIÁTRICA CONGRESSO BRASILEIRO DE AL2HEIMER CENTRO DE CONVENÇÕES FREI CANECA I SÃO PAULO I SP

Cristina Vieira Miranda

Adultos com Trissomia 21

RELATÓRIO ANUAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

TÍTULO: RELAÇÃO ENTRE COGNIÇÃO, HABILIDADE VISUOCONSTRUTIVA E ESCOLARIDADE EM IDOSOS DA COMUNIDADE DE SANTOS/SP.

Resultados e Discussão

RESUMO. Palavras-chave: Doença de Alzheimer. Cognição. Qualidade de vida. INTRODUÇÃO

Bateria Arizona para Desordens de Comunicação e Demência (ABCD): experiência brasileira.

COGNIÇÃO EM UM GRUPO DE IDOSOS ATIVOS: UM ESTUDO A PARTIR DE UM PROJETO INTERDISCIPLINAR

Declínio Cognitivo Leve. José Mourão de Aquino Neto 6º semestre - Medicina

TÍTULO: MOBILIDADE FUNCIONAL E VELOCIDADE DE MARCHA EM IDOSOS COM E SEM COMPROMETIMENTO COGNITIVO

Um Estudo das Funções Executivas em Indivíduos Afásicos

DEFÍCIT COGNITIVO DE IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER - DA

COMPARAÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSAS USUÁRIAS DAS ACADEMIAS DA TERCEIRA IDADE E NÃO PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO

OFICINA DE ESTIMULAÇÃO COGNITIVA PARA IDOSOS MAIS IDOSOS: ESTUDO LONGITUDINAL

TÍTULO: REPERCUSSÕES DA INSTITUCIONALIZAÇÃO NA MOBILIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS: UM ESTUDO LONGITUDINAL

Correlações entre Aspectos da Memória e Aprendizagem em População Idosa Correlation between Aspects of Learning and Memory in Elderly Population

Avaliação neuropsicológica de pacientes com queixa amnéstica na atenção básica de saúde: rastreamento precoce das doenças demenciais

Pseudo-demência / défice cognitivo ligeiro

Caracterização do status cognitivo de idosos com depressão: influência da idade e da escolaridade 1

FUNCIONALIDADE DE IDOSOS NÃO PORTADORES DE DEMÊNCIA ATENDIDOS EM SERVIÇO DE REFERÊNCIA

IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS: AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO FUNCIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS

DEPRESSÃO ASSOCIADO A DEMÊNCIA DE ALZHEIMER

TÍTULO: EFEITO DO SQUARE STEPING EXERCISE NO DESEMPENHO COGNITIVO DE IDOSOS COM DÉFICIT COGNITIVO PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO

TÍTULO: A INFLUÊNCIA DA DANÇA DO VENTRE NOS SINTOMAS DEPRESSIVOS EM IDOSAS DA COMUNIDADE

Sintomas depressivos e prejuízo funcional de idosos de um Centro-Dia Geriátrico

12/08/2009. Senescência. Demência. Reunião Clínica-H9J Dra. Flávia Campora CIMI H9J Serviço Geriatria HC-FMUSP. Senescência.

ANÁLISE DA ASSOCIAÇÃO DOS SINTOMAS DEPRESSIVOS NA FUNÇÃO COGNITIVA EM IDOSOS

Perfil dos idosos moradores do Condomínio Morada do Sol da Cidade de Maringá-PR

INSTRUMENTOS COMBINADOS NA AVALIAÇÃO DE DEMÊNCIA EM IDOSOS

ENVELHECIMENTO E QUALIDADE DE VIDA NOS GRUPOS DE CONVIVÊNCIA PARA IDOSOS

Graduada em Fisioterapia pela Faculdade de Ciências Médicas de Campina Grande- FCM,

Vantagens e limitações de alguns instrumentos de rastreio cognitivo usados no brasil na avaliação da demência

PERFIL NEUROPSICOLÓGICO E FUNCIONAL DE IDOSOS BRASILEIROS FREQUENTADORES DE CENTROS DE CONVIVÊNCIA

INCIDÊNCIA DA DEPRESSÃO NA PESSOA IDOSA EM CONDIÇÃO ASILAR NA CIDADE DE JOÃO PESSOA

Linguagem e Memória: uma revisão sobre a avaliação neurocognitiva em sujeitos com doença de Alzheimer

EFEITOS DE UM PROGRAMA DE EXERCÍCIOS EM DUPLA-TAREFA SOBRE O EQUILÍBRIO E A COGNIÇÃO DE MULHERES IDOSAS

COMUNICAÇÃO PARA NECESSIDADES BÁSICAS ENTRE IDOSOS DEPENDENTES EM COMUNIDADE Patrícia Maria Lima da Silva 1 ; Vanessa de Lima Silva 2

ASSOCIAÇÃO ENTRE O DECLÍNIO COGNITIVO E A CAPACIDADE FUNCIONAL DE INDIVÍDUOS PORTADORES DE DOENÇA DE PARKINSON.

Camila A. Campos¹; Cláudia C. Gama¹; João Pedro S.S. Carvalho¹; Julia M. Neves¹; Marcela G.C. Carneiro¹; Mariana C. Costa¹ ; Aniette C.

IMPACTO DA ARTROPLASTIA TOTAL DE QUADRIL SOBRE A QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS PORTADORES DE ARTROSE INCAPACITANTE.

TÍTULO: ANÁLISE DO CONTROLE POSTURAL ENTRE IDOSAS COM E SEM DECLÍNIO COGNITIVO POR MEIO DO SHORT PHYSICAL PERFORMANCE BATTERY: UM ESTUDO TRANSVERSAL

Escola Superior de Altos Estudos

CAMCOG Valores das subescalas em idosos normais com níveis diferentes de escolaridade Aspectos preliminares

RENATA ÁVILA. Reabilitação neuropsicológica dos processos de memória e das atividades da

Verônica Carvalho de Araujo. Influência da idade e da escolaridade na cognição de idosos da comunidade. Dissertação de Mestrado

Testes do desenho do relógio e de fluência verbal: contribuição diagnóstica para o Alzheimer

ARTIGOS COMENTADOS março 2018

A AUTONOMIA DO IDOSO

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE COGNITIVA E DESEMPENHO DE ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIAS DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS E NÃO INSTITUCIONALIZADOS

PERFIL FUNCIONAL DOS PACIENTES COM AVE ATENDIDOS NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO E NA CLÍNICA ESCOLA DE FISIOTERAPIA DA UFPB

RENATA ÁVILA. Correlação entre memória e volume de estruturas cerebrais. em idosos deprimidos: um estudo de morfometria baseada no voxel

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

IMPACTO FUNCIONAL E SINTOMAS DEPRESSIVOS EM PACIENTES COM DOENÇA DE ALZHEIMER

Doença de Alzheimer: o cuidado no diagnóstico

VI Seminário de Pesquisa em Gerontologia e Geriatria Tema: Demências 22, 23 e 24 de setembro de 2010

Propriedades psicométricas de um protocolo neuropsicológico breve para uso em populações geriátricas

Título do Trabalho: Autores: Instituição: Introdução

Compiladores: Lidia V. Cabello Domínguez y Mª Teresa Ramiro ISBN: ISBN:

AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM E MEMÓRIA NAS FASES INICIAIS DA DOENÇA DE ALZHEIMER: O PONTO DE VISTA DA NEUROLINGÜÍSTICA DISCURSIVA

18º Congresso de Iniciação Científica DEPRESSÃO E DEMÊNCIA EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Marcelo de Freitas Mendonça

TATIANA PIZZATO GALDINO RISCO DE DESNUTRIÇÃO EM IDOSOS COM DÉFICIT DE MEMÓRIA OU SINTOMAS DEPRESSIVOS

Validade da versão em português da Clinical Dementia Rating Validity of the Portuguese version of Clinical Dementia Rating

Avaliação Cognitiva. Avaliação Inicial 04/04/2017. Impacto das Alterações Cognitivas. Alteração Cognitiva X Envelhecimento Normal

ASSOCIAÇÃO ENTRE PRESSÃO ARTERIAL E CAPACIDADE FUNCIONAL DE IDOSOS DE UM CENTRO DE ESPECIALIDADES MÉDICAS DE BELO HORIZONTE-MG

Declínio Cognitivo Leve. José Mourão de Aquino Neto 6º semestre - Medicina

Estudo psicométrico da Escala de Avaliação de Demência e sua aplicabilidade em instituições de longa permanência no Brasil

Título Compreensão da Linguagem Oral em idosos: Estudo de base populacional

ANÁLISE DO EQUILÍBRIO POSTURAL EM IDOSOS COM DIFERENTES NÍVEIS DE CAPACIDADE COGNITIVA

Teste do Tempo & Troco

QUALIDADE DE VIDA DE CUIDADORES DE IDOSOS

DECLÍNIO DA CAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS NOS DIFERENTES ESTÁGIOS DA DOENÇA DE ALZHEIMER

LIGA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA DA UFRGS

TREINO DE DUPLA TAREFA MOTORA-COGNITIVA EM IDOSOS COM COMPROMETIMENTO COGNITIVO LEVE: RELATO DE EXPERIÊNCIA NA FACISA/UFRN

Transcrição:

CONTRIBUIÇÃO DO QUESTIONÁRIO DE ATIVIDADES FUNCIONAIS DE PFEFFER PARA O DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DE ALZHEIMER Pfeffer Functional Activities Questionnaire contribution to the Alzheimer's disease diagnosis Contribuición del cuestionario de la actividad funcionales de Pfeffer para el diagnóstico de la enfermedad Juliana F. Cecato Faculdade de Medicina de Jundiaí José Eduardo Martinelli Faculdade de Medicina de Jundiaí Endereço para correspondência: Rua Prudente de Moraes, 111, Vl Argos Jundiaí-SP. CEP 13201-004. e-mail: cecatojuliana@hotmail.com Juliana F. Cecato Professora colaboradora do Departamento de Clínica Médica da disciplina de Geriatria e Gerontologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ) José Eduardo Martinelli Professor do Departamento de Clínica Médica e responsável pela disciplina de Geriatria e Gerontologia da Faculdade de Medicina de Jundiaí Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 230

Resumo Capacidade em desempenhar atividades de vida diária são importantes aspectos que devem ser avaliados, pois o declínio na funcionalidade pode ser um indicador de senilidade. Objetivou-se avaliar a contribuição do Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP) para o diagnóstico de doença (DA). Foram avaliados 85 pacientes, acima de 60 anos, ambos os sexos; 49 com diagnóstico de DA e 36 idosos saudáveis. Os testes cognitivos utilizados foram: Cambrigde Cognitive Examination (CAMCOG), Mini-exame do Estado Mental (MEEM), fluência verbal e desenho do relógio (TDR). Para avaliar a capacidade funcional foi utilizado o questionário QAFP. Os resultados demonstraram que o QAFP foi capaz de diferenciar estatisticamente os idosos saudáveis dos pacientes com doença. Os resultados desta pesquisa estão em concordância com a literatura encontrada e a aplicação de escalas funcionais devem fazer parte dos critérios diagnósticos para a demência por contribuir com o processo de investigação. Palavras-chave: idosos; testes neuropsicológicos; doença de alzheimer; diagnóstico. Abstract Ability to perform daily activities are important aspects that must be evaluated as the decline in functionality can be an indicator of senility. This studt aimed to evaluate the contribution of Pfeffer Functional Activities Questionnaire (PFAQ) to Alzheimer s disease (AD) diagnosis. We evaluated 85 patients, above 60 years old, both sexes; 49 with AD diagnosis and 36 healthy elderly. The cognitive tests were, Cambrigde Cognitive Examination (CAMCOG), Mini-mental State Exam (MMSE), verbal fluency and clock drawing (CDT). To evaluate functional abilities it were applied PFAQ questionnaire. The results showed that PFAQ was capable of differentiating statistically healthy elderly from those with Alzheimer's disease diagnosis. The results are in agreement with literature and the administration of functional scales should be part of the diagnostic criteria for dementia to enrich research process. Key-words: elderly; neuropsychological tests; alzheimer s disease; diagnosis. Resumen (Falta resumo em Espanhol) Capacidade em desempenhar atividades de vida diária são importantes aspectos que devem ser avaliados, pois o declínio na funcionalidade pode ser um indicador de senilidade. Objetivou-se avaliar a contribuição do Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP) para o diagnóstico de doença (DA). Foram avaliados 85 pacientes, acima de 60 anos, ambos os sexos; 49 com diagnóstico de DA e 36 idosos saudáveis. Os testes cognitivos utilizados foram: Cambrigde Cognitive Examination (CAMCOG), Mini-exame do Estado Mental (MEEM), fluência verbal e desenho do relógio (TDR). Para avaliar a capacidade funcional foi utilizado o questionário QAFP. Os resultados demonstraram que o QAFP foi capaz de diferenciar estatisticamente os idosos saudáveis dos pacientes com doença. Os resultados desta pesquisa estão em concordância com a literatura encontrada e a aplicação de escalas funcionais devem fazer parte dos critérios diagnósticos para a demência por contribuir com o processo de investigação. Palabras clave: idosos; testes neuropsicológicos; doença de alzheimer; diagnóstico. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 231

Introdução O envelhecimento populacional é um processo que está sendo amplamente estudado em todo o mundo (Neri, 2007; Quinn, 2008) inclusive nos países em desenvolvimento (Ferreira, César, Camargos, Lima-Costa & Projetti, 2009; Oliveira- Campos, Cerqueira & Rodrigues Neto, 2011) por ser considerado um desafio para as políticas públicas em se preparar para atender as consequências do envelhecimento (Oliveira-Campos e colaboradores, 2011). Neri (2007) descreve que o conceito de velhice vem sofrendo alterações nos últimos anos devido a consciência de ser um processo natural da vida e com isso o esteriótipo de incapacidade está sendo substituído pela visão otimista, considerando esta fase como um mercado de novas oportunidades. É interessante essa mudança na visão social do envelhecimento porque o próprio idoso está mudando o seu autoconceito (Neri, 2007). Pode se considerar nos dias de hoje, que os idosos brasileiros estão inseridos no mercado de trabalho e são mais saudáveis quando se comparados aos idoso de antigamente (Neri, 2007). O envelhecimento é um processo dinâmico onde ocorrem perdas e ganhos, e justamente o que chama a atenção das equipes de saúde são os processos de perda que caracterizam a velhice como um desafio social (Ribeiro & Yassuda, 2007). Um dos acometimentos mais preocupantes acerca da senilidade estão as síndromes demenciais. Estudos apontam para uma prevalência e incidência das demências que aumentam exponencialmente com a idade (Damasceno, 2010; Lopes, Bottino & Hototian, 2006; Machado, 2002), sendo que em pessoas acima de 60 anos as chances dobram a cada 5,1 anos (Machado, 2002), aumentando as chances em 20% em indivíduos com 80 anos e pode chegar a 45% em idosos acima de 90 anos (Damasceno, 2010). Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 232

Um importante estudo brasileiro realizado na cidade de Catanduva, por Herrera, Caramelli e Nitrini (1998), verificou uma prevalência de demência de 7,1%. Apesar de antigo, esse é um dos estudos brasileiros mais importantes em relação a epidemiologia de demência por ter pesquisado 1660 idosos acima de 65 anos (Machado, 2002). Dentre os tipos mais frequentes de demência, pode-se citar a demência do tipo Alzheimer (DA), representando cerca de 50 a 70% dos quadros demenciais (Lopes, Bottino & Hototian, 2006; Teixeira & Caramelli, 2008). Já os casos de demência por corpúsculos de Lewy e Frontotemporal correspondem a 5% e as demências vasculares correspondem aproximadamente a 20% dos casos (Lopes, Bottino & Hototian, 2006; Teixeira & Caramelli, 2008). Com relação ao gênero, há um predomínio considerável no número de casos de demência entre mulheres, com uma proporção de 2:1 (Graves e colaboradores, 1996; Pouza, Regla, Franch & Pinedo, 1995). Contudo, na pesquisa de Hebert e colaboradores (2001 citado por Lopes, Bottino & Hototian, 2006) sobre a prevalência e incidência de DA em uma população de Boston (EUA) não mostrou diferenças significativas entre o gênero. Os autores concluíram que o maior número de casos de demência encontrados em mulheres se dá pela expectativa de vida maior do sexo feminino e não por um fator de risco específico ligado ao sexo (Lopes, Bottino & Hototian, 2006). O termo demência refere-se a uma síndrome clínica, manifestada por comprometimento da memória e secundariamente de outros domínios cognitivos e alterações comportamentais (Luders & Storani, 1996; Sadock & Sadock, 2007). A doença (DA) é uma doença que acomete principalmente pessoas acima dos 60 anos de idade, não tem cura e o principal sintoma é a perda de memória recente (Damasceno, 2010; Silva & Damasceno, 2002). A evolução é progressiva, lenta e pode perdurar até 20 anos. A DA é uma condição neurodegenerativa e ocorre em estágios, em Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 233

casos leves, onde o paciente ainda apresenta áreas cognitivas preservadas mantendo certa independência, a estágios avançados, onde a doença causa uma incapacidade completa e o paciente necessita de auxilio para alimentar-se, vestir-se ou tomar banho (Damasceno, 2010; Silva & Damasceno, 2002). Os estágios da demência referem-se ao comprometimento cognitivo concomitante ao comprometimento de viver com independência, que são conhecidas como Atividades de Vida Diária (AVDs). A capacidade em desempenhar atividades básicas (tomar banho, vestir-se, alimentar-se, dentre outras) e instrumentais (usar o telefone, fazer compras, preparar alimentos, tomar remédios, etc) de vida diária são importantes aspectos que devem ser avaliados nos casos de suspeita de demência, pois o declínio na capacidade funcional pode ser um indicador de senilidade (Freitas, Miranda & Nery, 2002; Lawton & Brody, 1969; Teixeira & Guariento, 2010). Frente ao exposto, devido ao aumento do número de idosos na população brasileira, pela doença ser uma das doenças neurodegenerativas mais preocupantes por profissionais da área da saúde e pela importância das atividades de vida diária para o idoso, este estudo buscou avaliar a contribuição do Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer para o diagnóstico da doença. Método Participantes Foram avaliados 85 idosos atendidos no Instituto de Geriatria e Gerontologia e no Ambulatório de Geriatria da Faculdade de Medicina de Jundiaí, com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos e escolarizados. Para contemplar os objetivos, foram avaliados idosos saudáveis, ou seja, sem diagnóstico de síndrome demencial e idosos com diagnóstico de DA. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 234

Do total da amostra, 49 idosos receberam diagnóstico de DA, apresentaram média de idade igual a 78.16 (desvio padrão [dp] = 6.96; mínimo 64; máximo = 91), dos quais 32 (65.3%) eram do sexo feminino e 29 (69.4%) tinham alta escolaridade. Formaram o grupo controle (GC) 36 idosos, com media de idade igual a 71.64 anos (dp = 6.87; mínimo = 60; máximo = 89), sendo composto pela maioria do sexo feminino (75%) e 25 participantes (69.4%) apresentavam mais de 9 anos de estudo (Tabela 1). Tabela 1 Características entre os grupos diagnósticos com relação a idade, gênero e escolaridade. *p = x 2 GC DA *p Idade (anos) 71.64 (±6.87) 78.16 (±6.96) 0.364 Gênero Feminino 75% 65.3% 0.000 Masculino 25% 34.7% Escolaridade Grupo 1: 5 a 8 anos 30.6% 40.8% 0.013 Grupo 2: > 9 anos 69.4% 59.2% Instrumentos e Procedimentos Os participantes foram divididos em dois grupos, controles normais (GC) e com diagnóstico de DA, com o intuito de comparar os resultados dos idosos saudáveis com os resultados dos pacientes (DA). Todos os idosos participaram da pesquisa por livre e espontânea vontade, de acordo com a assinatura dos termos de consentimento, parecer 54/11. Todos os participantes passaram por anamnese clínica e avaliação neuropsicológica. Os testes neuropsicológicos que foram aplicados são: Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 235

- The Cambridge examination for mental disorders of the elderly (CAMDEX) e sua bateria cognitiva Cambrigde Cognitive Examination (CAMCOG) (Roth e colaboradores, 1986): desenvolvido em 1986 para a avaliação de idosos com transtornos mentais. Ao final de sua aplicação, com duração de aproximadamente 90 minutos, o CAMDEX fornece os seguintes diagnósticos: idosos saudáveis, demência (do tipo Alzheimer, Vascular, Múlti-infarto e/ou por drogas ou álcool), delirium, depressão e pseudodemência depressiva. O CAMDEX é divididos em oito seções e cada seção avalia: informações sobre antecedentes pessoais e história pregressa, queixas depressiva, queixas ansiosas, sintomas cardiovasculares, anotações de resultados de exames laboratoriais e de neuroimagem, medicações em uso, além da bateria cogntiva (CAMCOG) e a entrevista com o acompanhante do idoso durante a consulta. A pontuação máxima da bateria cognitiva são 107 pontos e o ponto de corte é igual a 80 pontos. - Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) (Folstein, Folstein & Mchugh, 1975), é um teste de rastreio de simples correção e rápida aplicação. Tem uma pontuação máxima de 30 pontos e o ponto de corte varia de acordo com a escolaridade: analfabetos 20 pontos, 1 a 4 anos 25 pontos, 5 a 8 anos 26 pontos, 9 a 11 anos 28 pontos e > 11 anos 29 pontos; - Teste do Relógio de Desenho (TDR) (Mendez, Ala & Underwood, 1992; Shulman, Gold, Cohen & Zucchero, 1993) é um teste de rastreio que avalia a capacidade de organização, planejamento e memória de trabalho. Pela escala Mendez a pontuação máxima é igual a 20 pontos, sendo o ponto de corte igual a 18 pontos. Pela escala Shulman a pontuação máxima é igual a 5 pontos e o ponto de corte igual a 3 pontos; Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 236

- Teste de Fluência Verbal (FV) de acordo com as sugestões de Brucki, Nitrini e Caramelli (2003), onde o examinador solicita ao paciente falar o maior número de palavras de uma determinada categoria em um minuto. A pontuação consiste na soma das palavras, sem contar as repetições. O ponto de corte varia de acordo com a escolaridade: analfabetos 9 pontos, 1 a 8 anos de estudo 12 pontos e > 9 anos 13 pontos; - Escala de Depressão Geriátrica (EDG) abreviada com 15 itens (Yesavage e colaboradores, 1983), desenvolvida para avaliar sintomas depressivos em idosos; - Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP) (Pfeffer e colaboradores, 1982). A avaliação por meio do Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP), desenvolvido por Pfeffer e colaboradores (1982), possui 10 itens que avaliam principalmente as AIVDs, disposto em escala Likert, sendo que cada item possui uma variação de pontuação de 0 a 3, ou seja, onde a pontuação mais alta indica pior desempenho. O resultado final varia de 0 a 30 pontos, sendo o ponto de corte igual a 5 pontos (Pfeffer e colaboradores, 1982). Critérios de inclusão Fizeram parte da pesquisa idosos com diagnóstico de DA, de acordo com os critérios para demência baseados no DSM-IV (APA, 1994) e os critérios para doença de Alzheimer foram baseados no NINCDS-ADRDA (Mckhann e colaboradores, 2011). Os critérios de inclusão para os idosos que formaram o grupo de controles normais (GC) foram os pacientes que pontuarem acima do ponto de corte nos testes neuropsicológicos, não ter sintomas de demência, pontuação da EDG inferior a 6 e não ter comprometimento em desempenhar atividades de vida diária. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 237

Critérios de exclusão Foram excluídos da pesquisa os pacientes com demência grave (Clinical Dementia Rating 3), qualquer demência do tipo não-alzheimer (como por exemplo demência Frontotemporal, Corpúsculos de Lewy, demência Vascular, demências reversíveis) história de acidente vascular cerebral, paralisia em ambas as mãos, depressão (EDG 5), parkinsonismo, tremor importante, dificuldades visuais e auditivas, analfabetos e indivíduos que não aceitarem participar dos testes neuropsicológicos. Análise estatística Todas as informações foram analisadas pelo sistema SPSS 15.0 (2007), onde foram efetuadas estatísticas descritivas quanto a distribuição da amostra (idade, gênero e escolaridade), sendo utilizadas as provas t de Student e x 2. Um teste de distribuição da amostra foi feito por meio do Kolmogorov-Smirnov para os testes cognitivos (MEEM, CAMCOG e TDR) a fim de verificar se a amostra corresponde a uma distribuição paramétrica ou não-paramétrica. As diferenças significativas entre os grupos diagnósticos e os escores dos testes cognitivos foram realizadas por meio da analise ANOVA (post hoc), estabelecendo-se um nível de significância de 5%. Foram utilizadas a prova Mann-Whitney a fim de verificar diferenças significativas dos escores dos testes cognitivos entre os grupos diagnósticos e para verificar diferenças entre idade e escolaridade. Foram obtidos ainda coeficientes de correlação de Pearson (r), para comparar os dados do questionário de Pfeffer e os instrumentos normalmente utilizados para detecção de demência no Brasil, tais como TDR, MEEM e CAMCOG. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 238

Resultados Com relação aos testes aplicados (MEEM, CAMCOG, TDR e QAFP) foi realizado um cálculo a fim de verificar a distribuição da amostra. A análise estatística Kolmogorov-Smirnov foi utilizada para verificar se os testes correspondiam uma distribuição normal ou não-paramétrica, como mostra a Tabela 2. Estes dados comprovam que a amostra segue uma distribuição não-paramétrica (p>0.05). Tabela 2 Análise do teste Kolmogorov-Smirnov da amostra. N=número de participantes, sd= desvio padrão Amostra MEEM CAMCOG Mendez Shulman QAFP N 85 85 85 85 85 Média 25.78 85.80 17.87 4.07 7.65 SD 2,4.18 13.86 3.34 0.90 9.22 p 0,017 0,175 0,000 0,000 0,000 Para verificar a contribuição dos testes neuropsicológicos e o questionário de atividades funcionais de Pfeffer no diagnóstico diferencial entre GC e DA, foi utilizado a análise de Mann-Whitney que mostrou diferenças estatisticamente significativas em diferenciar os grupos diagnósticos (Tabela 3). Pode-se observar que o GC apresenta médias superiores e desvio padrão menor quando comparados ao grupo com DA. Os testes MEEM (p>0.000), CAMCOG (p>0.000), o Teste do Desenho do Relógio escalas de Mendez (p>0.000) e Shulman (p>0.000), e o Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (p>0.000) demostraram ser capazes de diferenciar idosos normais e pacientes com doença. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 239

Tabela 3 Análises do teste Mann-Whitney entre os testes aplicados e os grupos diagnósticos Testes GC DA *p MEEM 29.11 (±1.14) 23.33 (±3.90) 0.000 CAMCOG 97.61 (±5.22) 77.12 (±11.63 0.000 TDR Mendez 19.50 (±0.88) 16.65 (±3.94) 0.000 TDR Shulman 4.67 (±0.53) 3.63 (±0.87) 0.000 QAFP 0,75 (±1.83) 12.71 (±9.19) 0.000 Foi realizado um teste de correlação entre os testes cognitivos e o questionário de atividades funcionais de Pfeffer. Pode-se observar, na tabela 4, correlações significativas, robustas e negativas entre o questionário de Pfeffer e os testes MEEM (r= -0,74; p=0,000) e o CAMCOG (r= -0,73; p=0,000). Coeficientes de correlações significativas, moderadas e negativas podem ser observadas em relação ao Teste do Desenho do Relógio escala de Mendez (r= -0.42; p=0,000) e Shulman (r= -0,45; p=0,000). Esse dado mostra que quanto menor a pontuação dos testes cognitivos, maior será a pontuação do questionário de atividades funcionais, ou seja, maior será a dependência em desempenhar as atividades de vida diária quando o paciente apresentar maior comprometimento cognitivo. Discussão A avaliação funcional em casos de suspeita de síndrome demencial contribui com a investigação diagnóstica, pois o declínio cognitivo causado pela demência Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 240

prejudica significativamente o desempenho do paciente nas atividades de vida diária (Caramelli, 2006). É fundamental compreensão das diferentes síndromes demenciais para o prognóstico e possíveis intervenções para a doença. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a contribuição da escala funcional de Pfeffer para o diagnóstico da doença. A relação entre comprometimento das atividades de vida diária e a demência está bem descrito na literatura tanto nacional quanto internacional (Abreu, Forlenza & Barros, 2005; Albert e colaboradores, 2011; Bustamante e colaboradores, 2003; Marra, Pereira, Faria, Pereira, Martins & Tirado, 2007; Mckhann e colaboradores, 2011). É importante salientar que o desempenho nas atividades de vida diária é um fator também avaliado nos critérios diagnósticos (Abreu, Forlenza & Barros, 2005). Abreu, Forlenza e Barros (2005) referem-se que a memória é um aspecto central em relação aos processos cognitivos e se correlaciona diretamente com as atividades do cotidiano do indivíduo. Este achado corrobora com os resultados desta pesquisa onde evidenciou-se coeficientes de correlação significativo e negativo entre escala de funcionalidade e testes cognitivos (Tabela 4), ou seja, é possível afirmar que quanto maior o declínio de memória, atenção, compreensão (dentre outras funções) definidamente observados após testagem neuropsicológica maior será a dificuldade que o paciente com doença terá em viver com independência. Tabela 4 Análises de correlação entre os testes cognitivos e o Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer (QAFP). r = correlação de pearson; p = x 2 Variáveis MEEM CAMCOG Mendez Shulman QAFP r -0,74-0,73-0,42-0,45 p 0,000 0,000 0,000 0,000 Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 241

Correlacionar um teste cognitivo e escalas de atividades funcionais na investigação das síndromes demências aumenta a acurácia diagnóstica. Segundo Bustamante e colaboradores (2003) a combinação dos testes cognitivos e os questionários que avaliam a funcionalidade aumentam a precisão diagnóstica nos casos de demência. Abreu, Forlenza e Barros (2005) evidenciam que o teste MEEM e a bateria cognitiva CAMCOG, consideradas as avaliações mais utilizadas em nosso meio, parecem se correlacionar com as escalas de funcionalidade IQCODE e índice Katz. Outro estudo que corroboram com os dados encontrados nessa pesquisa foi realizado por Marra e colaboradores (2007) em uma amostra de Minas Gerais. Analisaram 90 idosos atendidos no Centro de Referência do Idoso com diagnóstico de demência (doença, demência mista, demência vascular e frontotemporal) e diferenciando a gravidade da síndrome demencial. Utilizaram para a pesquisa as escalas funcionais de Lawton, o índice Katz e o Questionário de Atividades Funcionais de Pfeffer. A pesquisa evidenciou que os participantes apresentavam maior dificuldade em desempenhar atividades de vida diária quando o nível de demência apresentava-se com maior comprometimento. Esse dado corrobora com o que foi encontrado nesta pesquisa, onde a análise com o coeficiente de correlação de Pearson mostrou-se significativa, robusta e negativa, indicando quanto maior a pontuação no QAFP menor a pontuação dos testes cognitivos. Em 2011, o National Institute on Aging and Alzheimer's Association publicaram recomendações para os critérios diagnósticos de síndrome demencial, onde sugerem a utilização de exames de neuroimagem (como por exemplo evidências de redução volumétrica do hipocampo) e os biomarcadores, que podem ser acessados por meio de Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) e a Tomografia po Emissão de Fótons Único (SPECT). Além dos exames de neuroimagem, para a investigação diagnóstica o Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 242

National Institute sugerem ainda a utilização de avaliações neuropsicológicas que acessem o comprometimento da memória e outras funções cognitivas, e a coleta de informações de vida diária com um familiar ou cuidador de convívio diário a fim de se comprovar déficits em desempenhar atividades funcionais (Albert e colaboradores, 2011). O estudo conduzido por Mckhann e colaboradores (2011) também publicou recomendações para o diagnóstico de DA e sugerem que os exames com biomarcadores podem limitar a pesquisa devido a falta de acesso a esse tipo de exame. De acordo com McKhann e colaboradores (2011) além das comprovações neuropsicológicas e comportamentais, o declínio cognitivo deve também ser avaliado por entrevista clínica com informações relevantes de um dos familiares e/ou cuidadores. A importância da funcionalidade também pode ser evidenciada nesta pequisa onde o QAFP foi capaz de diferenciar os idosos do grupo controle dos pacientes com DA. Para finalizar, pode-se completar que os nossos achados estão em concordância com a literatura encontrada (Abreu, Forlenza & Barros, 2005; Albert e colaboradores, 2011; Bustamante e colaboradores, 2003; Marra e colaboradores, 2007; Mckhann e colaboradores, 2011), onde referem-se que as escalas funcionais devem fazer parte dos critérios diagnósticos para a síndrome demencial. Além disso, os testes utilizados, MEEM, CACMOG e o Teste do Desenho do Relógio foram capazes de diferenciar idosos normais dos cognitivamente comprometidos, e a escala funcional também utilizada evidenciou coerência com o diagnóstico. Pode-se inferir que o diagnóstico de doença deve combinar exames laboratoriais, exames de neuroimagem, testes cognitivos e escalas funcionais, o que precisa ser feito com um familiar e/ou cuidador com convívio diário. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 243

Considerações finais Profissionais da saúde devem ter uma visão ampla das capacidades, habilidades e contexto cultural de seus pacientes. Nesta pesquisa, buscou-se descrever a importância do questionário de atividade funcional; ser uma ferramenta de trabalho fundamental e esperado que seja bem aplicada, fazendo com que o examinando compreenda o que está sendo avaliado, ou seja, ter certeza que o paciente ou seu acompanhante entenderam o que foi perguntado. Em caso de dúvida, o profissional da saúde deve esclarecer suas próprias dúvidas a fim de evitar erros, necessitando estar atento e ouvir as queixas de seus pacientes e familiares. Dentre as limitações do estudo, pode-se exemplificar por meio da pesquisa de Dickerson e colaboradores (2001 citado por Sterling, Johnson, Taylor, Schmitz & Myers, 2008). Análises com exames de neuroimagem estão sendo desenvolvidas para tentar encontrar a relação entre declínio de memória e alteração da região hipocampal. O hipocampo é a região cerebral mais afetada por causa da DA (Jack e colaboradores, 2000). Dickerson et. al. (2001 citado por Sterling e colaboradores, 2008) realizaram uma análise quantitativa da estrutura hipocampal por meio da ressonância magnética em pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e verificaram a região do hipocampo por meio da neuroimagem, identificando uma redução no volume dessa região. Contudo, as análises volumétricas do hipocampo não evidenciaram resultados expressivos compatíveis com o declínio da funcionalidade. Os apontamentos descritos por Dickerson et. al. (2001 citado por Sterling e colaboradores, 2008) e os resultados do nosso estudo divergem em seus achados. Contudo, sugere-se que novas pesquisas com um número maior de participantes e utilizando metodologias diferentes são importantes para complementar os dados na literatura brasileira. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 244

Referências Abreu, I.D., Forlenza, O.V., & Barros, H.L. (2005). Demência : correlação entre memória e autonomia. Revista de Psiquiatria Clínica, 32(3): 131-36. Albert, M.S., Dekosky, S.T., Dickson, D., Dubois, B., Feldman, H.H., Fox, N.C. et al. (2011). The diagnosis of mild cognitive impairment due to Alzheimer's disease: recommendations from the National Institute on Aging-Alzheimer's Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer's disease. Alzheimer's & dementia, 7(3): 270-9. American Psychiatry Association. (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4ªed. Washington, DC. Brucki, S.M.D., Nitrini, R., & Caramelli, P. (2003). et. al. Sugestões para o uso do Miniexame do estado mental no Brasil. Arquivos de neuro-psiquiatria, 61(3-B): 777-781. Bustamante, E., Bottino, C.M.C., Lopes, M., Azevedo, D., Hototian, S.R., Litvoc, J. et al. (2003). Instrumentos combinados na avaliação de demência em idosos: resultados preliminares. Arquivos de neuro-psiquiatria, 61 (3-A): 601-606. Caramelli, P. (2006). Avaliação clínica e complementar para o estabelecimento do diagnóstico de demência In: Freitas EV, Py L, Cançado FAX, Doll J, Gorzoni ML. (Org.). Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, p. 238-241. Damasceno, B.P. (2010). Demências. In: Assistência Ambulatorial ao Idoso. Guariento, M.H.; Neri, A.L. Alínea, Campinas-SP, p. 243-254, pp. 454. Ferreira, F.R., César, C.C., Camargos, V.P., Lima-Costa, M.F., & Projetti, F.A. (2009). Aging and urbanization: the neighborhood percption and functional performance of elderly persons in Belo Horizonte metropolitan area-brazil. Journal of urban health, 87(1): 54-66, 2009. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 245

Folstein, M.F., Folstein, S.E., & Mchugh, P.R. (1975). Mini-Mental State: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. Journal of psychiatric research, 12: 189-198. Freitas, E.V., Miranda, R.D., & Nery, M.R. (2002). Parâmetros clínicos do envelhecimento e avaliação geriátrica global. In: Freitas, E.V.; Py, L.; Neri, A.L. et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 608-617. Graves, A.B., Larson, E.B., Edland, S.D., Bowen, J.D., McCormick, W.C., McCurry, S.M. et al. (1996). Prevalence of dementia and its subtypes in the Japanese American population of King County, Washington State. The Kame project. American journal of epidemiology, 144(8): 760-71. Herrera Jr, E., Caramelli, P., & Nitrini, R. (1998). Estudo epidemiológico populacional de demência na cidade de Catanduva estado de São Paulo, Brasil. Revista de Psiquiatria Clínica, 25: 70-73. Jack, C.R. Jr, Petersen, R.C., Xu, Y., O'brien, P.C., Smith, G.E., Ivnik, R.J. et al. (2000). Rates of hippocampal atrophy correlate with change in clinical status in aging and AD. Neurology, 55(4): 484-89. Lawton, M.P., & Brody, E.M. (1969). Assessment of older people: self maintaining and instrumental activities of daily living. Gerontologist, 9(3): 179-86. Lopes, M.A., Bottino, C.M.C., & Hototian, S.R. (2006). Epidemiologia das demências: análise crítica das evidências atuais. In: Demência e transtornos cognitivos em idosos. Bottino, C.M.C., Laks, J., Blay, S.L. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, p. 23-30. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 246

Luders, S.L.A., & Storani, M.S.B. (1996). Demência: impacto para a família e a sociedade. In: Gerontologia. PAPALÉO-NETTO, M. São Paulo, editora Atheneu. P.146-159. Machado, J.C.B. (2002). Doença. In: Freitas, E.V.; Py, L.; Neri, A.L. et. al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 133-147. Marra, T.A., Pereira, L.S.M., Faria, C.D.C.M., Pereira, D.S., Martins, M.A.A., & Tirado, M.G.A. (2007). Avaliação das atividades de vida diária de idosos com diferentes níveis de demência. Revista Brasileira de Fisioterapia, 11(4): 267-273. Mckhann, G.M., Knopman, D.S., Chertkow, H., Hyman, B.T., Jack, C.R., Kawas, C.H. et al. (2011). The diagnosis of dementia due to Alzheimer's disease: recommendations from the National Institute on Aging-Alzheimer's Association workgroups on diagnostic guidelines for Alzheimer's disease. Alzheimer's & dementia, 7(3): 263-9. Mendez, M.F., Ala, T., & Underwood, K. (1992). Development of scoring criteria for the clock drawing task in Alzheimer s disease. Journal of the American Geriatrics Society, 40:1095-99. Neri, A.L. (2007). Qualidade de vida na velhice e subjetividade. In: Neri AL, organizadora. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas: Editora Alínea, 13-62. Oliveira-Campos, M., Cerqueira, M.B., & Rodrigues Neto, J.F. (2011). Population dynamics and the profile of mortality in the municipality of Montes Claros, Minas Gerais State, Brazil. Ciência & Saúde Coletiva, 16, Suppl1,1303-10. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 247

Pfeffer, R.I., Kurosaki, T.T., Harrah, C.H. Chance, J.M., & Filos, S. (1982). Measurement of functional activities in older adults in the community. Journal of Gerontology, 37: 323-329. Pouza, S.L., Regla, J.L., Franch, V., & Pinedo, LF.L. (1995). The prevalence of dementia in Girona. Neurologia, 10:189-193. Quinn, A. (2008). Health, aging and cities. Journal of urban health, 85(2), 151-53. Ribeiro, P.C.C., & Yassuda, M.S. (2007). Cognição, estilo de vida e qualidade de vida na velhice. In: Neri AL, organizadora. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas: Editora Alínea, 189-204. Roth, M., Tym, E., Mountjoy, C.Q., Huppert, F.A., Hendrie, H., Verma, S., & Goddard, R. (1986). CAMDEX. A standardised instrument for the diagnosis of mental disorder in the elderly with special reference to the early detection of dementia. The British journal of psychiatry, 149: 698-709. Sadock, B.J., & Sadock, V.A. (2007). Classificação em psiquiatria e escalas de avaliação psiquiátrica. In: Compêndio de psiquiatria. 9ª edição. Porto Alegre: Artmed, pp. 319-349. Shulman, K.I., Gold, D.P., Cohen, C.A., & Zucchero, C.A. (1993). Clock-drawing and dementia in the community: a longitudinal study. International journal of geriatric psychiatry, 8: 487-96, 1993. Silva, D,W., & Damasceno, B.P. (2002). Demência na População de Pacientes do Hospital das Clínicas da Unicamp. Arquivos de neuro-psiquiatria, 60(4): 996-999. Sterling, C., Johnson, D., Taylor, W., Schmitz, B.S., & Myers C. (2008). Associative learning over trials activates the hippocampus in healthy elderly but not Mild Cognitive Impairment. Neuropsychology, development, and cognition. Section B, Aging, neuropsychology and cognition, 15(2): 129 145. Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 248

Teixeira, A.L., & Caramelli, P. (2008). Neuropsicologia das demências. In: Neuropsicologia: teoria e prática. Fuentes, Daniel; Malloy-Diniz, Leandro; Camargo, Cândida Pires; Cosenza, Ramon Moreira. Porto Alegre: Artmed, p.356-363. Teixeira, I.N.D.O., & Guariento, M.E. (2010). Fragilidade no idoso: possibilidades de avaliação e intervenção. In: Assistência Ambulatorial ao Idoso. Guariento, M.H.; Neri, A.L. Alínea, Campinas-SP, p. 45-56. Yesavage, J.A., Brink, T.L., Rose, T.L., Lum, O., Huang, V., Adey, M. et al. (1983). Development and validation of a geriatric depression screening scale: a preliminary report. Journal of psychiatric research, 17 (1), 37-49. Submissão: 17/07/15 Última revisão: 04/09/15 Aceite final: 08/09/15 Revista Sul Americana de Psicologia, v3, n2, Jul/Dez, 2015 249