2º CILASCI Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança contra Incêndio Coimbra, Portugal, 29 de Maio a 1 de Junho, 2013

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Transcrição:

SEGURANÇA DAS ESTRUTURAS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO. UMA VISÃO DA AMÉRICA LATINA 1 INTRODUÇÃO Valdir Pignatta Silva 1 Professor USP São Paulo O primeiro edifício com estruturas metálicas dos Estados Unidos foi o edifício da The Home Insurance Company, inaugurado em 1885 em Chicago (Figura 1). Esse edifício, concluído em 1885 e demolido em 1931, utilizava em suas lajes perfis metálicos imersos em concreto e blocos cerâmicos para sua proteção contra o fogo. Na própria Figura 1 vê-se a composição da laje desse edifício; as vigas metálicas eram protegidas por blocos cerâmicos e concreto. O Reliance Building (Figura 2) construído entre 1890 (4 andares) e 1895 (10 andares), também em Chicago, foi o primeiro edifício a possuir fachada com grandes janelas de vidro. Ele tinha suas estruturas metálicas protegidas por terracota. No século XIX, quando edifícios de múltiplos andares de aço começaram a ser construídos, o concreto era utilizado, sem função estrutural, como material de revestimento do aço, para proteção contra fogo e corrosão. As espessuras de concreto eram grandes, em vista de o concreto não ser um isolante ideal. Anos após, o concreto também foi aproveitado como elemento estrutural, trabalhando em conjunto com o aço para resistir aos esforços, inicialmente na função de piso. Em seguida, surgem as estruturas mistas (vigas e pilares) de aço e concreto. Mais tarde, iniciou-se a construção de edifícios de múltiplos andares de concreto armado. Em publicação histórica, Freitag (1899) comenta sobre o comportamento do concreto a altas temperaturas. Ensaios demonstraram que havia redução de resistência, mas, não era preocupante, em vista do uso para lajes de pequenos vãos. Mörch (1948) escreve um artigo interessante, alertando para a necessidade de verificação de estruturas de concreto armado em incêndio, associando-as apenas à armadura no seu interior. Hoje, se reconhece que a capacidade resistente do concreto (EC2, 2004), do aço (EC3, 2003), das estruturas mistas (EC4, 2003), da madeira (EC5, 2004), da alvenaria estrutural (EC6, 2005) e do alumínio (EC9, 2007) em situação de incêndio é reduzida, em vista da degeneração das propriedades mecânicas dos materiais (Figuras 3 e 4) ou da redução da área resistente. 1 Autor correspondente Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Almeida Prado, trav2, n271 Edifício da Engenharia Civil - Cidade Universitária - 05508-900 São Paulo Brasil. valpigss@usp.br

Figura 1: The Home Insurance Company. Silva (2012) Figura 2: Reliance Building. Silva (2012) Figura 3: Variação da resistência dos materiais em função da temperatura. Figura 4: Variação do módulo de elasticidade dos materiais em função da temperatura. Os elementos de madeira sofrem carbonização na superfície exposta ao fogo, reduzindo a área resistente (Figura 5) e realimentando o incêndio. A região central recebe proteção proporcionada pela camada carbonizada, atingindo baixas temperaturas. Nas Figuras 3 e 4 apresentam-se a redução de resistência à tração e do módulo de elasticidade paralela à grã para espécies de madeira coníferas. O aço e o alumínio têm resistência e módulo de elasticidade reduzidos quando submetidos a altas temperaturas (Figuras 6). O concreto, além da redução da resistência, perde área resistente por causa do spalling. O spalling é um lascamento da superfície do elemento de concreto submetido a um incêndio. Em concretos com resistência convencional (fck 50 MPa), o spalling decorre do comportamento diferencial a altas temperaturas dos materiais componentes do concreto e da pressão interna da água ao evaporar-se, entre outros fatores. Sua ocorrência é aleatória e é antieconômico tentar soluções para evitá-lo. Em concretos com alta resistência, a causa do spalling é, preponderantemente, a pressão interna do vapor de água. Pode ocorrer o spalling explosivo (desplacamento do concreto acompanhado de forte ruído), pela maior dificuldade de

percolação da água. O spalling reduz a área resistente do concreto e expõe a armadura ao fogo (Figura 7). Apesar de a redução das propriedades mecânicas do concreto e da madeira, em função da temperatura, ser mais acentuada do que a do aço, deve-se lembrar de que a temperatura média atingida por um elemento isolado de aço em incêndio é geralmente maior do que a dos outros dois materiais. Os chamados países desenvolvidos têm exigências para a segurança contra incêndio das estruturas. Tem também normas ou recomendações para bem projetar a estrutura conforme tais exigências. Esta pesquisa teve o objetivo de investigar como estão os países latinoamericanos nessa área. Figura 5: Carbonização da madeira. Figura 6: Elemento isolado de aço. Fonte: Pinto (2005) Fonte: Silva et al., 2008 Figura 7: Spalling em pilar de concreto. 2 AMÉRICA LATINA Foram pesquisados alguns dos mais importantes países da América Latina e as informações obtidas são apresentadas a seguir. 2.1 Argentina Na Argentina, existem requisitos de resistência ao fogo das estruturas, que são fornecidos na Lei de Higiene e Segurança no Trabalho (19587/78) e no Código de Edificação da Cidade de Buenos Aires. Os requisitos têm por base o risco do local e a carga de incêndio. O CIRSOC - Centro de Investigacion de los Reglamentos Nacionales de Seguridad para las Obras Civiles, do INTI - Instituto Nacional de Tecnologia Industrial, organismo descentralizado atuante no âmbito do Ministerio de Industria e o Instituto Nacional de Prevencion Sismica (INPRES), da Secretaria de Obras Publicas do Ministerio de Planificacion Federal, Inversion Publica Y Servicios, são os organismos responsáveis pelo estudo, desenvolvimento, atualização e difusão dos Regulamento Nacionais de segurança estrutural e de segurança sismorresistentes, respectivamente. Na documentação pesquisada foram encontradas 5 páginas destinadas a resistência ao fogo de elementos de concreto, indicando cobrimentos mínimos associados a dimensões mínimas para vigas e lajes e cobrimentos (sem dimensões mínimas) para pilares (INTIa, 2005). Para as estruturas de aço há apenas recomendação que elas devem ser protegidas contra o fogo, entretanto, sem detalhes de quanto ou como (INTIb, 2005). Nada se encontrou sobre madeira ou alvenaria estrutural (INTI, 2007).

A Argentina possui um forno vertical (Figura 8) localizado no INTI. Não possui atuadores de carregamento. Figura 8 Forno vertical do INTI Argentina 2.2 Bolívia Não foram encontrados documentos legais com exigências de resistência ao fogo para as estruturas das edificações. 2.3 Brasil A segurança contra incêndio no Brasil é atribuição estadual. Não havendo regulamentação estadual, passam a valer as normas técnicas brasileiras. O Estado de São Paulo possui o mais completo código de segurança contra incêndio do Brasil. Trata-se de um Decreto com força de lei (São Paulo, 2011), complementado por 44 Instruções Técnicas que abordam os mais variados aspectos da segurança contra incêndio, entre eles a segurança das estruturas. Vários outros estados se inspiraram no código paulista para elaborarem seus próprios códigos Na Instrução Técnica referente a estruturas (IT 8, 2011), há exigências de resistência ao fogo de estruturas de até 180 min. Edificações de pequeno risco são isentas de verificação estrutural. Edificações com boas características de segurança contra incêndio podem reduzir a exigência em até 30 min. A fim de respeitar a legislação, os engenheiros devem seguir as normas brasileiras de projeto em situação de incêndio. Há normas específicas para estruturas de aço e mistas (ABNT NBR 14323:2013 e outra para concreto (ABNT NBR 15200: 2012). Na norma para projeto de estruturas de madeira à temperatura ambiente (ABNT NBR 7190:2012), há um capítulo exclusivamente para madeira em incêndio. No total são 130 páginas. Não há norma para alvenaria estrutural. As normas brasileiras para estruturas de concreto ou para aço incluem formulações ou tabelas para dimensionamento simplificado em situação de incêndio. Fornecem também elementos para que se possam desenvolver procedimentos mais avançados (computacionais). As normas brasileiras têm por base os Eurocodes, no entanto, há inclusões de resultados de pesquisa brasileira tanto para aço quanto para concreto. A legislação/normatização brasileira é a mais completa entre os países pesquisados. O Brasil possui 3 fornos para ensaios em incêndio. Um novo, já instalado e em fase de testes, função de convênio da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Escola de Engenharia de São Carlos da USP e Universidade Estadual de Campinas. Localiza-se no campus da USP de São Carlos (Figura 9), Estado de São Paulo. É horizontal, alimentado a gás e tem atuadores de carregamento.

Figura 9 Forno horizontal para ensaios de estruturas a altas temperaturas, no campus da USP - São Carlos, Brasil. (foto: Julio C. Molina) Há um forno elétrico vertical que possui atuadores de carregamento, localizado na Universidade Estadual de Campinas, em Campinas, Estado de São Paulo (Figura 10). Figura 10 Forno vertical da Unicamp, Brasil. Foto: Armando Moreno Figura 11 Forno vertical do IPT, Brasil. Um terceiro, vertical, sem atuadores de carregamento para estruturas, localiza-se no Instituto de Pesquisa Tecnológicas, em São Paulo (Figura 11).

2.4 Colômbia A Directiva Presidencial Número 01 de 2010 fornece o tempo de resistência ao fogo mínimo das estruturas das edificações, em função do uso, altura e área da edificação. Há exigências que poderiam ser abrandadas, pois, por exemplo, para edifício de escritórios com 3 andares, o tempo requerido de resistência ao fogo deve ser de 90 min e com 6 andares 120 min. Este autor fica com a impressão de que essas exigências não foram testadas na prática. Para o dimensionamento de estruturas de aço, há 7 páginas nas quais são incluídas informações que permitem um dimensionamento analítico simplificado. Equações para a determinação de esforços resistentes e tabela com os redutores de resistência em função da temperatura estão incluídas no documento normativo. Para o dimensionamento do material de revestimento contra fogo é recomendado simplesmente seguir informações dos fabricantes dos materiais. Para as estruturas de concreto, são 3 páginas com tabelas com dimensões mínimas para pilar (nada se encontrou sobre cobrimentos) e cobrimentos mínimos associados a dimensões mínimas para vigas e lajes; também são fornecidas espessuras mínimas de paredes de concreto ou argila. Nada se encontrou sobre madeira ou alvenaria estrutural. 2.5 Chile A legislação chilena (Ordenanza General de Urbanismo y Construcción) estabelece requisitos de resistencia ao fogo para as estruturas. As edificações se classificam segundo sua altura, área, uso e carga de incêndio. Ponderando esses fatores se obtém o requisito de resistência ao fogo. Não á normas que elenquem procedimentos para projeto das estruturas conforme as exigências legais. No Chile, há um forno no DICTUC, filial da Pontifícia Católica PUC-Chile, Santiago, basculante horizontal-vertical, com atuadores de carregamento, a gás. Figura 5 Forno basculante no DICTUC - Chile A Universidade do Chile, Santiago, no laboratório IDIEM, possui vários fornos, como podem ser vistos às Figuras 6 (o forno para pilares possui atuadores de carregamento) e 7, este sem atuadores de carregamentos.

(a) (b) Figura 6 Fornos verticais do IDIEM Chile (a) para paredes de compartimentação e (b) para pilares Figura 7 Forno horizontal pertencente ao IDIEM - Chile 2.6 Cuba Em Cuba há uma diretriz geral com exigências de resistência ao fogo de estruturas, mas não há normas técnicas com procedimentos para o dimensionamento das estruturas em situação de incêndio. 2.7 México No México, há exigências de resistência ao fogo de estruturas, mas não há normas técnicas com procedimentos para o dimensionamento das estruturas em situação de incêndio. É difícil acreditar que as exigências sejam cumpridas, pois são exageradas. Por exemplo, para as

estruturas de edifício com mais de 25 metros de altura são exigidos 180 min de resistência ao fogo. 2.8 Panamá A cidade do Panamá é uma das cidades latino-americanas que mais constroem edifícios de maior altura, no entanto, não há exigências legais ou normas para dimensionamento. É prática, os bons projetos seguirem códigos norte-americanos. 2.9 Paraguai Como na maioria dos países pesquisados, não há normas para dimensionamento de estruturas em situação de incêndio. Há exigências legais de resistência ao fogo, entretanto, para a maioria das edificações é requerido uma resistência ao fogo de 120 min, o que é exagerado e difícil de ser respeitado. 2.10 Peru Não foram encontrados documentos legais com exigências de resistência ao fogo para as estruturas das edificações. 2.11 Uruguai Há exigência de segurança das estruturas em situação de incêndio, sem qualquer referência a valores de resistência ao fogo. O engenheiro do projeto é o responsável por propor soluções 2.12 Venezuela Não foram encontrados documentos legais com exigências de resistência ao fogo para as estruturas das edificações. 3 Considerações finais Doze países foram pesquisados. Resume-se na Tabela a seguir os resultados encontrados. País Exigência Procedimentos para projeto Páginas Forno Materiais (normas) Argentina Sim Simples 5 Concreto Sim Bolívia Não Não - - - Brasil Sim Avançados 130 Concreto, aço, Sim madeira Colômbia Sim Intermediário 10 Aço, concreto - Chile Sim Não - - Sim Cuba Sim Não - - - México Sim Não - - - Panamá Não Não - - - Paraguai Sim Não - - - Peru Não Não - - - Uruguai Sim/Não Não - - - Venezuela Não Não - - - Conclui-se que, em geral, a América Latina não dispõe de códigos adequados à segurança das estruturas contra incêndio. Há códigos que são inaplicáveis e os aplicáveis não são acompanhados de procedimentos para dimensionamento, de forma a que o engenheiro de estruturas possa respeitar a legislação. O Brasil é o país mais avançado nesse aspecto, no entanto, como a legislação é por estados, pode-se dizer que o Estado de São Paulo é bem servido pela legislação, mas é arriscado

estender essa afirmação a todo o País. Deve-se ressaltar que o conhecimento do engenheiro de estruturas sobre o assunto ainda é muito pequeno, mesmo no Estado de São Paulo. 4 Referências Bibliográficas Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15200: projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. Rio de Janeiro, 2012. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto para a revisão da NBR 14323: projeto de estruturas de aço e mistas de aço e concreto de edifícios em situação de incêndio. Rio de Janeiro, 2013. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7190: Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro, 2012. Colômbia, República da. Diário Oficial. Bogotá. 26/11/2010. Corpo de Bombeiros da Policia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP). Resistência ao fogo dos elementos de construção. Instrução Técnica (IT 08), São Paulo, 2011. European Committee for Standardization. EN 1992-1-2: Eurocode 2: design of concrete structures part 1.2: general rules - structural fire design. Brussels: CEN, 2004. European Committee for Standardization. EN 1993-1-2: Eurocode 3: Design of steel structures Part 1-2: General rules Structural fire design Eurocode 3: Design of steel structures Part 1-2: General rules Structural fire design. Brussels: CEN, 2005. European Committee for Standardization. EN 1994-1-2: Eurocode 4: design of composite steel and concrete structures part 1.2: general rules structural fire design. Brussels: CEN, 2005. European Committee for Standardization. EN 1995-1-2: Eurocode 5: Design of timber structures Part 1-2: General Rules Structural Fire Design. Brussels: CEN, 2004. European Committee for Standardization. EN 1996-1-2: Eurocode 6: Design of masonry structures Part 1-2: General Rules Structural Fire Design. Brussels: CEN, 2005. European Committee for Standardization. EN 1999-1-2: Eurocode 9: Design of aluminium structures Part 1 2: Structural Fire Design. EN 1999-1-2. Brussels: CEN. 2007. Freitag, J. K. The fire proofing of steel buildings. London: John Wiley. 1899. 319 p. Instituto Nacional de Tecnologia Industrial (INTI). Reglamento Argentino de Estructuras de Hormigón. CIRSOC 201. Buenos Aires. 2005a. Instituto Nacional de Tecnologia Industrial. Reglamento Argentino de Estructuras de Acero para Edificios. CIRSOC 201. Buenos Aires. 2005b. Instituto Nacional de Tecnologia Industrial. Reglamento Argentino de Estructuras de Mampostería. CIRSOC 201. Buenos Aires. 2007. México, Governo do Distrito Federal. Gazeta Oficial. 6/10/2004. México Uruguai, República Oriental. Ministerio do Interior. 23/07/2010. Montevidéu. Mörsch, E. Teoría y práctica del hormigón armado. Tradução Company, M. Barcelona: Editorial Gustavo Gili S. A., 1948. 476 p. Tomo 1. Pinto, E. M. Determinação de um modelo para a taxa de carbonização transversal a grã para a madeira de E. Citríodora e E. Grandis. Tese apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos da USP. São Carlos. 2005. SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 56.819, de 10 de março de 2011. Institui o regulamento de segurança contra incêndio das edificações e área de risco no Estado de São Paulo. São Paulo2011. Silva, V. Pignatta. Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. Blucher. São Paulo. 2012

Silva, V. Pignatta; Pannoni, F. D.; Pinto, E. Moura; Silva, A. A. Segurança das estruturas em situação de incêndio. In: Seito, A. I.; Gill, A. A.; Pannoni, F. D.; Ono, R.; Silva, S. B.; Carlo, U.; Silva, V. P. A segurança contra incêndios no Brasil. São Paulo: Projeto Editora, 2008. Agradecimentos Agradece-se as informações recebidas de: Geraldine Charreau (Argentina), Jorge Saúl Suaznábar Velarde (Bolívia) Rodrigo Aravena (Chile), Ricardo Cruz (Colômbia), Rafael Larrua Quevedo (Cuba), Ernesto Leopoldo Treviño Treviño (México), Oscar Ramirez (Panamá), Javier Migliore (Paraguai), Jose Luis Torero (Peru), Ana Zabala (Uruguai) e Otto Negron (Venezuela). Agradece-se à FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e ao CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo apoio à pesquisa