Madrid, 10-11 Marzo 2016 La edición musical en el s. XXI en España y Portugal Problemática y situación actual de las editoriales musicales privadas Nuno Fernandes (AvA Musical Editions) 1 Este proyecto ha recibido una ayuda del Ministerio de Educación, Cultura y Deporte Colabora BNE
Problemática y situación actual de las editoriales musicales privadas Nuno Fernandes (AvA Musical Editions) Boa tarde a todos. Desculpem, vou falar em português e vou tentar falar devagar para todos perceberem. Eu sou professor de tuba no Conservatório Nacional de Lisboa. E nas minhas aulas depareime com os meus alunos que não havia música portuguesa a ser tocada nos conservatórios e nas escolas. Não é por acaso que dizem que a música portuguesa é completamente desconhecida, não é? É desconhecida pelo facto de nunca ter havido uma edição de música em Portugal. O que houve foram edições esporádicas das Universidades, Para terem uma ideia aqui em Espanha entram 3 mil pedidos de ISMN por Ano, eu comecei a editora em 2007 e consegui até agora editar 1.500 títulos, ou seja, em 8 anos fizemos 1.500 metade do que vocês fazem num ano. Em Portugal, existe a minha editora, existe a do João, existe a MPMP que também está a editar e não existe mais nada. Nada. É por este fato que a música portuguesa não é conhecida. Ou seja, se um escritor não for publicado, se não fizerem livros, se não o editarem, este escritor não existe. Ninguém vai ler os manuscritos, os livros escritos à mão hoje em dia com a falta de prática de leitura em manuscritos são impossíveis de ler. Na música, passa-se exactamente a mesma coisa. Se não houver uma edição, estes compositores, pura e simplesmente, não existem. Os problemas com que vivemos em Portugal são em primeiro lugar a falta de apoio, que o estado português dá nesta área. Não há salvaguarda nem protecção na edição da música escrita. Apesar de na lei estar devidamente protegida a edição, ninguém controla. A questão é que lá em Portugal eu publico uma partitura nova, vendo um exemplar e toda a gente tira uma fotocópia. A Lei da Cópia Privada, não funciona devidamente, a lei dá a possibilidade ao possuidor de um CD por exemplo de fazer uma cópia para ele usar no carro para não andar com o original. Nas partituras é completamente proibido. Assim os editores de discos recebem uma compensação pelo número de títulos que têm disponível, nós editores de Música não recebemos nada, porque é proibido. Não sei se aqui em Espanha acontece isso. Essa compensação é obtida através de um imposto, quando você compra um aparelho 2
electrónico ou de armazenamento de dados informáticos, por exemplo um disco rígido, uma fotocopiadora, uma impressora uma pen. Todos estes problemas acabam por criar uma bola de neve, não sendo rentável fazer edição música, pelo menos em Portugal. Em Espanha, não será... Acredito que não seja muito diferente, embora tenham outros apoios que lá não temos. Temos, depois, um outro problema que é... Como a música portuguesa não estava editada não estava disponível facilmente, não era muito tocada nem gravada, ou seja, em Portugal, a música Portuguesa é tocada esporadicamente. Existe uma mentalidade que só o que vem de fora é que é bom. Nós vivemos muitos anos numa ditadura em que estava tudo muito fechado, pouca coisa chegava de fora e pouca saia para fora. Era difícil. E, na música, nós... Eu costumo dizer que estamos atrasados. Ou estávamos atrasados na música 50 anos em relação a qualquer país da Europa em termos de nível musical. Por exemplo, eu acabei os meus estudos secundários e depois tive que ir para Paris estudar, porque em Portugal não havia curso superior. Eu tirei o máximo... O que havia era o liceu. Neste momento, já não se passa assim. O nível subiu exponencialmente, temos músicos a tocar muito bem, temos músicos a ganhar concursos nas principais orquestras mundiais. Mas aqui há dez anos não era bem assim. Por exemplo, um amigo meu, que é um colega clarinetista espanhol, que ganhou concurso de 2º clarinete na Orquestra Gulbenkian que é, talvez, a melhor orquestra portuguesa. Ele ficou a minha casa, quando foi lá fazer o concurso, durante os dias que lá esteve foi ver a Orquestra Sinfónica Portuguesa, que era, na altura, a única orquestra sinfónica que existia em Portugal. Quando chegou a casa perguntou-me porque se chamava Orquestra Sinfónica Portuguesa a esta orquestra. Eu perguntei porque? Ele respondeu-me, que esteve a ver a formação da orquestra e que reparou que os músicos são todos estrangeiros que apenas têm cinco ou seis portugueses e na temporada não tocam música portuguesa, não havia um programa na temporada normal... Isto há quinze anos atrás. Desde que nós AvA Musical Editions, surgimos, e passamos a editar e a disponibilizar as obras para poderem ser tocadas em qualquer lugar do mundo, podendo ser adquiridas através do nosso site, a música tem sido cada vez mais solicitada e tocada em Portugal e em todo o mundo. Ajudou a isto as gravações que o maestro Português Alvaro Cassuto tem feito para a editora NAXOS. Com estas gravações que têm distribuição mundial os principais compositores 3
portugueses começaram a ser um bocadinho, mais conhecidos. De facto, as coisas começam a sair além-fronteiras. Este é um mercado que, se tudo funcionasse, poderia gerar muito dinheiro. Poderia ser, para todos, sustentável. Neste momento, ainda não é. Existe outro grande problema em Portugal que é a Sociedade Portuguesa de Autores, que não funciona devidamente, deveria ser uma entidade, que deveria proteger os autores e apoiar os autores em novas criações, mas não apoiam. Com a nossa actividade, são eles os principais beneficiados, porque no momento em que a música começa a ser mais tocada, mais direitos geram, mais dinheiro a SPA recebe. A profissão de compositor em Portugal não existe. Há um hobbie que é a composição, não existe um compositor em Portugal que viva da sua composição. São todos professores na sua actividade principal, e a segunda é a composição. Neste momento com a nossa editora a editar e publicar as obras destes compositores, começa a ver-se o seu trabalho mais conhecido e mais tocado. Eu posso dar um exemplo. Um dos maiores compositores que nós temos, Joly Braga Santos, um grande sinfonista, teve a sua 5ª Sinfonia tocada três vezes em 50 anos. A 5ª Sinfonia foi tocada na sua estreia 1948, foi tocada em 92 ou 93 e foi tocada há um mês pela Orquestra Sinfónica Portuguesa, porque nós editamos a obra e estava disponível para ser tocada. Senão, nem assim seria tocada. E isto é um grande problema, a música não ser tocada. Com estes problemas todos eu vivo do salário de professor... Eu não tenho salário de editor. Todo dinheiro que entra é para voltar a investir. A edição de uma sinfonia de 40 minutos, para grande orquestra, custa só a cópia e são preços baratos, à volta de 3 a 4 mil euros. Depois a revisão custa se calhar, outros 3 mil a 4 mil. Depois há todo um trabalho de edição e custo de gráfica. Quando alugar esta obra, para uma orquestra, custa 500 euros, destes 500 euros, 40% é para o autor, eu fico com 300. Imaginem quantas vezes eu tenho que alugar aquilo para pagar só o investimento, se aquela sinfonia apenas foi tocada três vezes em 50 anos. Nem os meus netos vão receber dinheiro daquilo, isto, sem apoios, é complicado. É complicado eu disponibilizar ou fazer para ter as minhas partituras em lojas na Europa toda. Por exemplo, aqui em Espanha, eu consigo ter as partituras na Casa Beethoven, em Barcelona. Mas mandei para lá as partituras há dois anos e até hoje, nunca mais me responderam. Nem disseram que venderam, nem que não venderam. 4
Basicamente quero dizer, que aqui há coisas que não funcionam. A falta de comunicação, a falta de... Não sei, a música portuguesa, acho que tem sido muito desconsiderada, a nível europeu e mundial. Passa, essencialmente, por... Não precisa ser grande, mas um investimento e uma mudança de visão do poder político. Com uma mudança na política em que se proteja e promova esta actividade. Os editores existem para poder disponibilizar, divulgar a música dos compositores. Basicamente... Estes são os problemas com que vivemos em Portugal. Têm alguma pergunta? 5