O encontro de Carolina



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Transcrição:

O encontro de Carolina com o Dr. Mirta Esta cena aconteceu em uma rua totalmente apinhada de gente, carrocinhas, vendedores, lojinhas, cachorros, automóveis, transeuntes se esgueirando no meio da rua, um barulho, uma confusão. No meio disso tudo, uma moça caminha, pergunta pra um, pergunta pra outro, ninguém sabe, balançam a cabeça dizendo que não, a impressão que dá é que ninguém sequer imagina sobre o que ela está falando. De repente, ela olha pra calçada, do outro lado da rua, tem um senhor bem velho sentado em uma cadeira, cochilando, parece que olha para ela, ou não. Ela resolve atravessar a rua para perguntar se ele sabe. Ele sabe! Foi assim que ela chegou ao prédio em que o Dr. Mirta atende. Boa tarde, o senhor é Mirta Kassov? Sim, senhora. É o senhor quem trabalha com regressão? Eu mesmo. Posso subir? Preciso conversar com o senhor, saber se pode me ajudar.

Mauro Kwitko Entre, eu estava lhe esperando. O senhor estava me esperando? Como sabia que eu viria aqui? Vamos subir? Enquanto eu subia as escadas até o consultório onde atendia aquele homem estranho, que diziam que era um famoso terapeuta de regressão, recordava como não fora fácil lhe encontrar. E como ele sabia que eu estava indo lhe ver? Eu passara o dia andando pelo bairro, parecia que ninguém sequer ouvira falar nele, perguntara para várias pessoas, alguns nem paravam para me escutar, outros franziam a testa Mirta? Mirta o quê?, faziam cara de que não entendiam o que eu falava Mirta? Terapeuta de quê? O bairro era um labirinto de ruas, cheio de pessoas, parecia que todas estavam correndo, barulho, um monte de comércio, lojinhas, banquinhas, gente apressada, suando, bares fedorentos, botecos, crianças correndo, gente gritando, cachorros, automóveis se esgueirando por entre banquinhas e um milhão de pessoas que caminhavam no meio da rua. Que lugar para um terapeuta fazer regressão! Será que era ali mesmo? Talvez nem fosse, quem sabe eu estava procurando no lugar errado, não podia ser ali, muito barulho, ninguém conhecia esse terapeuta, sei lá, melhor desistir, voltar outro dia. E eu estava ali, parada na calçada, já meio desanimada, querendo desistir, ir pra casa. Chega! Azar mesmo, acho que esse cara nem existe, deve ser uma lenda, essas coisas que inventam que lá não sei onde tem um cara que cura as pessoas com regressão a vidas passadas, nem sei se acredito nisso, vidas passadas, essa minha atual é uma bagunça, imagine outras. Não sei se vou embora, se fico, meu Deus, como eu sou indecisa. Vejo um homem velho, de barba, sentado em uma cadeira de balanço, na calçada oposta, me olhando, ou talvez nem estivesse me olhando, mas já tinha perguntado pra tanta gente, um a mais, quem sabe ele, é velho, deve morar ou trabalhar 6

A Fascinante Vida de Mirta Kassov aqui há muito tempo, deve conhecer, se é que esse terapeuta é aqui, se é que existe. Desculpe, o senhor mora aqui? Há uns 30 anos, mais ou menos. O senhor conhece um terapeuta chamado Mirta Kassov? Sim, conheço. Está procurando por ele? Quase nem acreditei! Depois de horas procurando, perguntando, ninguém sabia, nem tinha ouvido falar, eu já achava que Mirta Kassov nem existia, e ele conhecia! E assim, calmamente, ele me diz: Sim, conheço. Está procurando por ele?. Fiquei nervosa, queria encontrar, queria falar com Dr. Mirta, queria fazer regressão, essa fobia me incomodava desde criança, diziam que ele podia curar, que poderia ser de uma vida passada, eu nem sei se acredito em vidas passadas, e o homem conhecia! Estou. O senhor sabe onde é o consultório dele? Sim. A senhora segue em frente. Está vendo aquele beco logo adiante? Aquele à esquerda? Sim. Entra nele. É no 3º edifício, do lado direito. Tem uma placa na frente. Ele atende ali. Muito obrigada, senhor...? Andrea Kassov. virou o rosto e fechou os olhos, encerrando a conversa. Que estranho! Será que é o pai dele? O avô? Bem, cheguei até aqui, vou em frente. O beco é logo ali. Agora azar. Entrei. Subi um lance de escada. É naquela porta. Eu não sabia se sentia medo ou se confiava. Com licença. Naquela sala, por favor. Obrigada. Onde eu sento? Pode sentar naquela poltrona. O que a senhora deseja? 7

Mauro Kwitko Eu sofro de fobia, desde criança, e me disseram que a regressão pode me curar. Pode mesmo? Geralmente, sim. Como é isso que chama de fobia? É de lugares com muita gente. E o senhor escolheu um lugar bem apropriado pra atender. Desculpe, é que quase entrei em pânico várias vezes, nem sei como não entrei. É um medo, não entendo, não sei o que é, só sei que sinto esse medo, é horrível! Me explique como é. Ele é direto, não deve ter fobia, pânico, depressão, essas coisas. Terapeutas nunca têm nada, são bem resolvidos, sem problemas, só a gente que é complicada, eles estão sempre bem, são sempre simpáticos, nos recebem super bem, sorriem pra gente com um ar compreensivo. Eu estou super nervosa, vamos em frente. Minha mãe conta que é desde quando eu era criança, que eu não queria ficar na escola, tinha medo das pessoas na rua, morria de medo quando chegava gente lá em casa, até em festa de aniversário, medo de barulho forte, ela acha que foi um susto que levou quando estava grávida de mim, um homem quis assaltá-la. A gente acha que é disso. Pode ser, mas geralmente isso vem de outras vidas. Ele parecia saber o que dizia, passava confiança, embora fosse mesmo meio estranho, como tinham dito que ele era. Ele estava vestido todo de branco, mas não era, digamos, arrumadinho. A gola da camiseta era como se ele tivesse mania de puxá-la pra afrouxar do pescoço. Na calça, tinha um risco de caneta que parecia que tinha tentado limpar, mas não saíra, e o sapato era meio descascado, meio velho. Ele tinha uma idade indefinida. Mas o que eu tinha a ver com isso? O senhor é Espírita? Eu gosto do Espiritismo, gosto do Budismo e de outras religiões. Mas lá em cima não tem Religião. Lá em cima? 8

A Fascinante Vida de Mirta Kassov No Mundo Espiritual. Quando chega lá, não tem religião, todo mundo é igual, isso é coisa da gente, mas não é o mais importante, o que importa é a pessoa, o caráter, o que a gente é, o que a gente faz, Deus não olha a religião, olha o coração. O senhor pode me ajudar? Posso tentar. Que tratamentos a senhora já fez? Já me tratei com vários profissionais, até melhorei, tomei medicamentos faixa preta, fiz várias terapias, mas ainda sinto esse medo. Pra chegar aqui, o senhor não imagina o que passei, esse bairro é horrível, desculpe, não é horrível, mas tem muita gente, é muito barulhento, muitas pessoas, me dá medo, vontade de sair correndo, eu sei que não vão me fazer mal, claro que pode ter um assaltante, mas não é isso, é medo de que alguma coisa aconteça, uma catástrofe, uma coisa horrível, não só pra mim, pra muitas pessoas, não entendo. O que o senhor acha que é? Eu queria uma mágica, queria que ele me dissesse o que era, fizesse algo misterioso, tipo estalar os dedos, colocasse a mão na minha testa, dissesse umas palavras mágicas, tipo alakasin, alakasan, e eu ficasse curada disso! EU estava cansada de ter esse medo. Me cuidava a todo o momento, até num restaurante, num show, eu precisava ficar perto da porta, se alguma coisa acontecesse, eu tinha por onde escapar, podia fugir, mas fugir de quê, meu Deus? Carolina, faz muitos anos que trabalho com regressão e geralmente trata-se de uma sintonia que a pessoa mantém com situações traumáticas de outras vidas. Podemos tentar, se os seus Mentores Espirituais entenderem que está na hora de se libertar disso, você recorda uma situação do seu passado, até o fim daquela vida, a sua morte, o seu desencarne, recorda a subida para o Plano Astral, recorda que tudo foi passando lá, até o momento em que já estava bem e não sentia mais nada, e aí fica livre dessa ressonância. Mas pode ser de mais de uma vida, talvez tenhamos de fazer duas ou três sessões de regressão. Você acredita em Reencarnação? 9

Mauro Kwitko Como ele sabe o meu nome? Acho que não lhe disse, ou será que eu tinha dito lá embaixo? Existem pessoas muito inteligentes que pegam nossas informações sem a gente perceber e ficamos pensando que são bruxos, que têm poderes, quando na verdade são uns impostores, tiram o dinheiro das pessoas. Será que esse Dr. Mitra, Mirta, é um desses? Nem sei, Dr. Mirta, talvez acredite, ou não, acho que sim. Um dia posso lhe contar uma história, do Concílio de Constantinopla, de 1.500 anos atrás, mas vamos ver o que podemos fazer com isso que lhe incomoda. Quando é que você pode vir fazer uma regressão? Confesso que senti um arrepio nessa hora, era tudo o que eu queria, me livrar disso, mas encontrar o meu medo, em outra vida, sei lá o que pode ter sido, uma vez uma cartomante me disse que tinha sido uma guerra, que um exército havia atacado a nossa aldeia, matado quase todo mundo e que eu morri com uma lança no peito. Ver isso? Será que esse cara não é um maluco, regressão, vida passada, que vontade de ir embora, deixar assim mesmo, sigo tomando os remédios, fazendo terapia, deve ter sido daquele susto da mãe quando estava grávida de mim, quem sabe passa com o tempo? Mas, ai, eu já estava com quase 30 anos e não passava. Podemos fazer hoje? Até eu me surpreendi com a minha coragem. Hoje não, hoje quero conversar, lhe conhecer, quero que você me conheça, quero saber um pouco da história da sua vida, da sua infância, vamos marcar para outro dia, tem de ser umas 2 horas e daqui a pouco tenho a regressão de uma pessoa que tem uma depressão muito forte, já está muito melhor, se desligou de três vidas passadas, acho que vai ficar curada. Ai, meu Deus, eu preciso confiar nesse cara, parece que ele é sério, a Jô me falou bem dele, uma prima dela tinha pânico, não tem mais, se tratou com ele, dizem que ele é espiritualista, atende um monte de gente de graça, ah, eu vou arriscar! 10

A Fascinante Vida de Mirta Kassov O que o senhor quer saber? Pode começar por hoje, ou pela sua infância, como quiser. O que você achar que é importante, da sua vida, seus sentimentos, desse medo, você é quem sabe. Eu lembro pouco da minha infância, mas é esse medo mesmo, não queria ficar na escola, me grudava na mãe, não queria que ela fosse embora, queria que ela ficasse lá comigo, chorava, me encolhia num canto, tinham que pedir pra ela vir me buscar, as crianças riam, debochavam de mim, era horrível. Hoje chamam de Bullying, é a mesma coisa. Podia ter feito regressão naquela época, em você mesmo ou na sua mãe ou seu pai, para você. Regressão quando eu era criança? Isso se faz? É possível, quando os Mentores Espirituais da criança permitem, é possível. Com a maneira pela qual eu faço regressão, são Eles quem comandam tudo. Ou, então, sem a criança presente, por isso se chama regressão à distância. Pede-se autorização para os Mentores da criança e, se for autorizado, a mãe ou o pai, ou outra pessoa, acessa a vida passada em que ela ainda está sintonizada e geralmente desliga-a daquela vida. Muitas vezes melhora muito ou até cura, e se a origem estiver em mais de uma vida, tem de fazer mais uma ou duas regressões. Você podia ter feito isso, mas naquela época ainda não se falava nisso como hoje. Eu podia ter feito regressão quando era criança? E não ficaria sofrendo toda a vida por causa isso? Não pode ser, pra ele, parece tão simples acessar uma vida passada, desligar-se de lá, melhorar na hora, curar... Podia, mas, como falei, a regressão, embora seja algo que já se fazia no Antigo Egito, há milhares de anos, agora é que está voltando. Na verdade, é a continuação do trabalho do Dr. Freud, que começou a realmente investigar o Inconsciente das pessoas, mas ele não lidava com a Reencarnação, agora nós estamos retomando esse 11

Mauro Kwitko trabalho, aqui no Brasil, em vários países do mundo, tem muita gente trabalhando com isso. Eu estava decidida: ia fazer! No máximo, não ia adiantar nada, ia ficar igual, o que tinha a perder? E todo mundo consegue fazer regressão? Quase todo mundo, a grande maioria. De vez em quando alguém não consegue, aí geralmente é porque não consegue relaxar, não abre mão do comando ou não confia no terapeuta, mas quase todo mundo consegue. Será que eu ia conseguir? Como é que eu lhe chamo? Mirta, Dr. Mirta, o senhor é médico? Me disseram que o senhor pediu licença. Por quê? Na verdade, eu estava era querendo saber se ele havia sido cassado, se tinha acontecido alguma coisa, queixa de paciente, se alguém tinha morrido, sei lá, eu estava a fim de fazer a regressão, mas, no fundo mesmo, estava louca de medo! Pode me chamar de Mirta, é o nome da minha casca. Que idade você tem? Eu? Já estou com 28 anos. Não. Que idade você tem? 28. Não a Carolina, você, o seu Espírito. Que idade você tem? O que isso tinha a ver com regressão? E como assim, eu, a Carolina? E Mirta é o nome da casca dele, acho que esse cara é maluco mesmo, já estou ficando em dúvida se faço. O senhor está falando do meu Espírito? Que idade o meu Espírito tem? Isso, que idade você tem? Sei lá, como é que eu vou saber? Que idade eu tenho? Que idade o senhor tem, quer dizer, o seu Espírito? Confesso que eu estava ficando curiosa com esse papo de casca, Espírito, idade. Lá em casa, com minhas amigas, a gente fala de 12

A Fascinante Vida de Mirta Kassov coisas normais, novela, reality show, namorado, de quem está a fim, quem ficou com quem, quem pegou quem, quantos pegou, e eu, aqui, em plena quarta-feira à tarde, falando de casca, Espírito, vidas passadas... O Homo erectus existiu há cerca de 500.000 anos. Sabe, aquele que ficou em pé? E a gente estava lá, somos todos muito antigos. Nesta vida, eu sou o Mirta, você é a Carolina. Você acha que eu sou homem? Isso é cantada! Eu devia desconfiar, esse papo de casca, Homo erectus, ficou em pé, nem pensar que eu vou fazer regressão com esse cara! O senhor não é homem? Bem, se ele não levantar e me atacar, vou ver onde isso vai dar. Eu não, o Mirta é. E você não é mulher, a Carolina é que é. Os orientais chamam a isso de Maya, as ilusões. Já me vi em outras vidas, fui um escritor russo, até mendigo eu fui, já fui negro, já fui índio, e era eu, em outras cascas. As pessoas acham que são brancas, negras, de certo país, de certa raça e lutam entre si, até se matam por isso, depois morrem e, um dia, percebem que caíram nas ilusões das cascas. Na regressão, você vai se ver em outra vida, em outra época, uma outra pessoa, mas sempre você. Entende isso? Olha, pra falar a verdade, eu estava entendendo mais ou menos, era muita viagem pra mim. Dr. Mirta, quando vamos fazer a regressão? Eu posso segundas, quartas e sextas à tarde, o senhor pode nesses dias? E quanto custa? Preciso ser assim, mais direta, menos nhém, nhém, nhém, que mania que eu tenho de ficar enrolando. Carolina, podemos fazer na segunda-feira à tarde. Você pode às 18 horas? Eu ia perder a novela, mas um dia só, depois a mãe me contava. Posso. Marcado! Quanto custa? 13

Mauro Kwitko Carolina, eu não vou lhe cobrar a regressão. Um dia lhe explico o porquê, deixe assim. Não é certo, Dr. Mirta, trabalho é trabalho. Se for caro e eu não puder pagar tudo, tudo bem se o senhor deixar por menos, mas não me sinto bem assim, de graça. Não é de graça, Carolina. Não se estresse, vamos fazer a regressão, depois a gente vê isso. Bem, o senhor é quem sabe. Então, segunda-feira, às 18 horas, isso? Tenho de fazer alguma preparação, alguma coisa em especial, alimentação, algum cuidado, cor da roupa, sei lá? Não, vem tranquila, a regressão é uma meditação, você fica acordada, consciente, eu lhe ajudo a relaxar, a elevar a sua frequência para ficar mais ao acesso dos seus Mentores Espirituais. Você me escuta falando, ouve a música, algum barulho da vizinhança, e dali uns 15 ou 20 minutos começa a ter a impressão de que está inventando, é como uma ideia de uma pessoa, em outra época, vem um sentimento, aí começa a me contar e vamos falando o tempo todo, você me contando o que vem na sua mente, eu lhe ajudo a recordar até o fim daquela vida, para lhe desligar de lá. Você fica sabendo de onde vinha esse medo e se desliga de lá. É simples. Simples, simples pra ele, eu estava marcando, concordando com tudo, mas até segunda-feira eu ia ver se vinha ou não, sei lá, tem de tudo nesse mundo, vamos ver. Está bem, Dr. Mitra, digo, Mirta, então, segunda-feira eu chego um pouco antes das 18 horas, pode ser? Claro, Carolina. Aí depois a gente vê se tem de fazer mais uma regressão ou não, mas vamos fazer essa e depois falamos sobre isso. Vou lhe levar lá embaixo. Descendo as escadas, parecia que ia me dando uma tristeza, não sei o que era, ele parecia meio maluco, mas saindo de lá, vi que estava me sentindo bem conversando sobre o meu medo. A explicação dele parecia racional, se era de uma vida passada, estava escondido dentro do meu Inconsciente, eu ia acessar, recordar, desligar daquela 14

A Fascinante Vida de Mirta Kassov vida e ia passar o medo. Bem, segunda-feira eu ia ver isso, quer dizer, se eu viesse, mas acho que eu iria vir, sim. Até mais, Carolina. Vá com Deus. Até mais, Dr. Mirta, segunda-feira estou aí. Gostei de ele dizer vá com Deus, me senti bem. Nenhum dos psiquiatras e psicólogos que eu fui me dizia na saída vá com Deus. Eles não gostam de misturar terapia com religião, dizem que não tem nada a ver uma coisa com outra. Uma vez, perguntei pra um psiquiatra o que ele achava de eu ir a um Centro Espírita, porque eu estava escutando umas vozes, ou acho que estava escutando, sei lá, parecia que era real mesmo. Ele me disse que isso não existia, que escutar vozes é imaginação, fantasia, projeção ou doença, e que ia me dar mais um remédio pra isso. Como eu já estava cheia de efeitos colaterais dos outros remédios, pedi pra ele deixar assim mesmo, mas ficou um tempão querendo me dar remédio pras vozes, queria que eu interpretasse o que era isso, que era eu falando comigo mesma, traumas, inseguranças, sei lá mais o quê. Um dia, fui num Centro Espírita sem minha mãe saber, ela é meio contra isso também, a Malu me levou, e lá me disseram que tinha um Espírito do meu lado, que era um inimigo de outra vida que queria se vingar de uma coisa que eu tinha feito pra ele naquela época. Eu não entendo dessas coisas, só sei que fui lá fazer desobsessão e a voz desapareceu. Me disseram que ele foi convencido a subir para o Mundo Espiritual. Sei lá, essas coisas são tão estranhas pra mim, e agora eu, aqui, com esse doutor, Mitra, Mirta, e parece a mesma coisa, vidas passadas, bem, seja o que Deus quiser, mas gostei dele dizer vá com Deus. Foi assim que tudo começou. Hoje, passados dois meses desse dia, já fiz três sessões de regressão com ele, encontrei quatro vidas passadas, recordei delas, meus medos estavam lá, me desliguei do passado e me sinto muito melhor. Como ele diz, vi minhas cascas lá, já não me sinto mais tanto Carolina, comecei a ler Allan Kardec. Esses dias, ele me recomendou o livro Autobiografia de um Iogue, do Yogananda, que estou adorando. Fui curar meu medo e a minha 15

Mauro Kwitko vida está mudando, parece que tudo está começando a fazer sentido. Antes, eu parecia cega, ele diz que a gente aqui na Terra entra numa espécie de cegueira, fica ligado num piloto automático, e é verdade, quero estudar esse lado espiritual, quero trabalhar numa obra de caridade, não sei se vou virar Espírita ou não, mas agora eu acredito em Reencarnação. Depois de cada vida, eu acessei o Mundo Espiritual, lembrei como é lá, ele diz que lá é a nossa Casa, aqui é só um lugar de passagem, que estamos aqui pra encontrar as nossas imperfeições, pra evoluir o nosso Espírito, que devemos aproveitar essa encarnação, voltar pra Casa melhor do que viemos. Tanta coisa eu aprendi, já não sou a mesma Carolina de antes. Entendi porque ele não me cobra as regressões. Bem, a grande viagem, como ele diz, começou naquela segunda-feira. 16