Orações Subordinadas Relativas / Adjectivas (Bibliografia: Peres, J. e Móia, T., (1995), Áreas Críticas da Língua Portuguesa, Editorial Caminho, Lisboa) Não são argumentos de um predicador (ou seja, não são sujeitos nem complementos) Introduzem uma qualificação uma predicação acerca de uma ou mais entidades envolvidas. Os documentos que estão na pasta azul ainda não foram assinados. Atribui uma propriedade a documentos São introduzidas por um constituinte que contém um elemento que em si próprio não tem significado (que na frase acima) o pronome relativo. O pronome relativo está semanticamente dependente de uma expressão lexical da frase matriz (principal) o antecedente (por isso se diz que o pronome relativo, em si próprio, não tem qualquer significado). No entanto, este antecedente pode ser nulo, isto é, pode não estar foneticamente realizado (tendo na mesma conteúdo sintáctico e semântico). Pronome relativo A língua portuguesa apresenta 7 formas de pronomes e advérbios relativos consensuais: Que O que Quem O qual Onde Quanto Cujo Alguns autores consideram também que como e quando são advérbios relativos. o pronome relativo retoma a referência de um elemento que o antecede na ordem linear da frase, o antecedente. Há dois tipos de elementos que podem ser retomados pelo
pronome: um Nome ou uma expressão nominal ou uma Frase, respectivamente nos exemplos: Já li o livro que tu me ofereceste. Já li o livro fabuloso que tu me ofereceste. Ofereceste-me um livro fabuloso, o que me comoveu. Na primeira frase, o pronome relativo que retoma a referência de livro; na segunda, que retoma a referência de livro fabuloso; na última, o que retoma a referência de ofereceste-me um livro fabuloso. Nas duas primeiras frases, o antecedente é um nome (na segunda frase é a expressão nominal formada pelo nome e o adjectivo que o modifica); na terceira, o antecedente é uma oração). Este retomar de referência pelo pronome relativo torna-se bem visível se se tentar desdobrar a frase em duas frases distintas: Já li o livro fabuloso. Tu ofereceste-me o livro fabuloso. Ofereceste-me um livro fabuloso. Ofereceres-me um livro fabuloso comoveu-me. Assim, O antecedente da oração relativa pode ser um Nome ou uma Frase Relativa de Nome Os documentos que estão na pasta azul ainda não foram assinados. Relativa de Frase Os jovens interessam-se cada vez mais por questões ecológicas, o que constitui um facto muito positivo. Para identificarmos a função sintáctica do pronome relativo, podemos construir duas frases a partir da frase complexa que integra a relativa, substituindo numa delas o pronome relativo pelo antecedente (como fizemos acima): Uns documentos ainda não foram assinados. Os documentos estão na pasta azul os documentos é sujeito desta frase, logo é essa a função de que na frase relativa. Os jovens interessam-se cada vez mais por questões ecológicas
Os jovens interessarem-se cada vez mais por questões ecológicas constitui um facto muito positivo Os jovens interessarem-se cada vez mais por questões ecológicas é sujeito de constituir um facto muito positivo, logo o que é sujeito da frase relativa. Dentro das Relativas de Nome temos aquelas em que o antecedente e toda a relativa funcionam como aposto de nome ou de frase: Os jovens interessam-se cada vez mais pelas questões ecológicas, facto que é muito positivo. Relativa de aposto de frase apesar de ter um significado idêntico à frase anterior, sintacticamente é diferente: o antecedente é um nome facto O Paulo ofereceu à mãe um exemplar de Uma Abelha na Chuva, romance que muito aprecia. Relativa de aposto de nome romance Relativa sem antecedento expresso ou de antecedente implícito: Quem vai ao mar perde o lugar Na posição de sujeito da frase principal temos um sintagma nominal cujo núcleo (Nome) não está foneticamente realizado mas que traços semânticos [+ humano]. (Não confundir com outros casos em que temos uma oração em posição de sujeito; essa será uma oração completiva). As Relativas Sem Antecedente Expresso são sempre Relativas de Nome. As orações relativas podem ter diferentes funções no discurso Se a qualidade/propriedade restringe o domínio de objectos a que se aplica ou seja, a propriedade só se aplica a um número restrito das entidades existentes Relativas Restritivas; As Relativas Sem Antecedente Expresso são sempre Restritivas. Os gatos que vivem comigo detestam fígado. Não se está a dizer que todos os gatos detestam fígado, mas sim que apenas aqueles que vivem com o falante o detestam; restringe-se o conjunto de todas as
entidades «gato» apenas àquelas que têm a propriedade expressa pela relativa (viver com o falante) Se a qualidade/propriedade introduz uma informação suplementar (ou explicação) ou seja, não serve para identificar entidades de entre um conjunto maior Relativas Não-Restritivas ou Apositivas. Estas surgem geralmente entre virgulas. As Relativas de Frase são sempre Apositivas. Os gatos, que são animais mamíferos, são carnívoros. Aqui já se está a falar de todas as entidades que pertencem ao conjunto dos gatos; não há uma restrição a um subconjunto. Em síntese: Oração Relativa de Frase Apositiva com antecedente expresso de Nome Restritiva sem antecedente expresso O pronome relativo está contido num constituinte maior, a que se dá o nome de constituinte relativo. o Pode ser formado apenas pelo pronome relativo o Pode ser introduzido por uma preposição («de que», «para onde», etc.) o Pode ser mais complexo («os filhos dos quais», «para comprar os quais», etc.) Nas orações relativas não se observa a ordem básica do português SVO, sendo O qualquer complemento, pois o constituinte relativo tem de ser sempre o primeiro elemento da oração. O constituinte relativo está sintáctica e semanticamente associado a uma posição dentro da oração relativa de que faz parte, ou seja, tem função sintáctica dentro da oração relativa, podendo aí ser argumental ou não (Adjunto). Quer isto dizer que quer o pronome relativo quer o constituinte relativo têm função sintáctica dentro da oração
relativa. Quando o constituinte relativo é formado apenas pelo pronome relativo, a função de ambos é a mesma, mas, quando é mais complexo, as funções são diferentes. Função sintáctica do constituinte relativo Para as funções sintácticas de sujeito ou de complementos (directo, indirecto, oblíquo) não há muitas dificuldades na identificação da função sintáctica do constituinte, mas há casos mais complexos: Como Adjuntos do SV da oração relativa (deve-se imaginar a frase como frase simples e aplicar mentalmente os testes de distinção de complementos e adjuntos) Não consigo lembrar-me da loja onde i comprei esta caneta [cv] i Oração Relativa de Nome, Restritiva, com antecedente expresso («loja»); o constituinte relativo «onde» tem a função sintáctica de adjunto ao SV (SV = comprei esta caneta) O solista do grupo adoeceu, pelo que i o concerto será adiado [cv] i Neste caso o constituinte relativo tem também a função de adjunto está a substituir uma oração adverbial causal, trata-se de um adjunto oracional. Será equivalente a dizer «O concerto será adiado porque o solista do grupo adoeceu» Oração Relativa de Frase, Apositiva, com antecedente expresso («O solista do grupo adoeceu»); o constituinte relativo «pelo que» tem a função sintáctica de adjunto ao SV (SV = o concerto será adiado) O país enfrenta múltiplos problemas, para solucionar os quais i se impõem algumas mudanças [cv] i Trata-se mais uma vez de uma adjunto oracional (uma adverbial final). Oração Relativa de Nome, Apositiva, com antecedente expresso («múltiplos problemas»); o constituinte relativo «para solucionar os quais» tem a função sintáctica de adjunto ao SV (SV = se impõem algumas mudanças); uma vez que o constituinte relativo é complexo, temos de nos distinguir a função do constituinte relativo
da do pronome (aqui o pronome «os quais» tem função de complemento directo de «solucionar»). Como complemento de um predicador nominal presente na oração relativa A conferencista, de quem i a Paula é uma velha amiga [cv] i, fica para jantar. Oração Relativa de Nome, Apositiva, com antecedente expresso («a conferencista»); o constituinte relativo «de quem» tem a função sintáctica de complemento de nome (amiga) A conferencista, de cujo marido i a Paula é uma velha amiga [cv] i, fica para jantar. Oração Relativa de Nome, Apositiva, com antecedente expresso («a conferencista»); o constituinte relativo «de cujo marido» tem a função sintáctica de complemento de nome (amiga); note-se que aqui há mais uma vez diferenças notórias na função do constituinte relativo em relação à função do pronome (o pronome «cujo» é complemento do nome «marido») Como complemento de um predicador adjectival presente na oração relativa A Ana só se dedica a assuntos pelos quais i se sinta entusiasmada [cv] i Oração Relativa de Nome, Restritiva, com antecedente expresso («assuntos»); o constituinte relativo «pelos quais» tem a função sintáctica de complemento de adjectivo (entusiasmada) Como complemento de um operador partitivo presente na oração relativa terço [cv] i Comprometi-me a ver até Domingo duzentos testes, dos quais i ainda só vi um
Oração Relativa de Nome, Apositiva, com antecedente expresso («duzentos testes»); o constituinte relativo «dos quais» tem a função sintáctica de complemento de operador partitivo (terço) O constituinte relativo pode ainda ter função sintáctica dentro de uma oração que esteja encaixada (subordinada ou coordenada) na própria oração relativa (e como tal faça parte dela) O único filme do Visconti que i o Paulo pensa que não viu [cv] i passa amanhã na Cinemateca Oração Relativa de Nome, Restritiva, com antecedente expresso («único filme de Visconti»); o constituinte relativo «que» com a função sintáctica de complemento directo do verbo (ver) O verbo «pensar» selecciona uma oração completiva (com função de complemento directo), «que não viu». Como tal, a oração relativa contém uma oração completiva. É da posição de complemento directo de «ver» que é movido o constituinte relativo. Recursivamente, o constituinte relativo pode ter qualquer tipo de função sintáctica dentro de uma oração subordinada na relativa, ou ainda dentro de uma oração subordinada à subordinada na relativa...