Nação do Maracatu Porto Rico: Um Estudo do Carnaval como Drama Social. Autor: Anna Beatriz Zanine Koslinski. Titulação: Mestranda em Antropologia

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Transcrição:

Nação do Maracatu Porto Rico: Um Estudo do Carnaval como Drama Social Autor: Anna Beatriz Zanine Koslinski Titulação: Mestranda em Antropologia Instituição: Universidade Federal de Pernambuco Orientador: Maria Aparecida Lopes Nogueira Titulação: Doutora em Antropologia Instituição: Universidade Federal de Pernambuco Resumo: O estudo da categoria de performance na antropologia teve seu início nas décadas de 60 e 70 numa parceria de estudos de Richard Schechner e Victor Turner que se tornou conhecido por seus estudos acerca de rituais. Ainda no início de sua obra Turner passa a utilizar o conceito de drama social como método de análise de certos eventos pois ele acreditava que a forma pelas quais as pessoas interagiam e as conseqüências de sua interação eram dramáticas. O presente artigo tem por objetivo analisar o período do carnaval como sendo um drama social para um maracatu-nação de Recife, no caso a Nação Porto Rico. Durante o carnaval desta cidade, diversas nações de maracatu competem através de um desfile pelo título de campeã do carnaval. Nesta competição diversos valores e aspectos culturais dos grupos são revelados através de um rico simbolismo. Deste modo utilizaremos os métodos de análise elaborados por Turner para entender a configuração deste drama social. Para isso levaremos em consideração as categorias de ritual, visto que os mesmos emergem de dramas sociais, communitas, configuração específica de interação social recorrente dentro de rituais, e performance, já que dramas sociais se tratam de performances culturais. Palavras-chave: drama social, performance, ritual, carnaval, maracatu. 1

O estudo de rituais e seus simbolismos se tornou um tema recorrente dentro da antropologia a partir de meados da década de 60. Um de seus principais expoentes foi Victor Turner que, além de ter elaborado toda uma metodologia para se analisar os símbolos rituais também estabeleceu um diálogo com outras áreas das ciências humanas, utilizando-se de conceitos como o de drama social e o de performance como ferramentas para se entender diferentes eventos que ocorrem nas sociedades tanto tradicionais quanto complexas. O presente artigo tem por objetivo analisar o período do carnaval como sendo um drama social para um maracatu-nação de Recife, no caso a Nação Porto Rico. Durante o carnaval desta cidade, diversas nações de maracatu competem através de um desfile pelo título de campeã do carnaval. Nesta competição diversos valores e aspectos culturais dos grupos são revelados através de um rico simbolismo. Deste modo utilizaremos os métodos de análise elaborados por Turner para entender a configuração deste drama social. Para Turner drama social se trata da representação de papéis sociais pré determinados em um campo específico de ação através de atores que incorporam determinados gêneros de desempenho. O caráter simbólico de um drama pode ser cristalizado em um ou mais ritos de passagem, remetendo a sua propriedade de reprodução inconsciente de ações e papéis num determinado palco (Turner, 2008). Um drama social é geralmente expresso em situações de crise ou iminência de ruptura de um sistema. Como resultado do drama pode haver uma continuidade da estrutura social, então abalada, ou sua ruptura. Turner define estrutura como um sistema de relações sociais estabelecidas por normas, regras e posições que os indivíduos ocupam numa hierarquia. Deste modo a estrutura se apresenta como fixa, rígida, estática, hierárquica e cotidiana. Em oposição a estrutura Turner define um outro tipo de sistema denominado communitas que seria um sistema de relações sociais onde as pessoas são unidas por um vínculo geral e universal de humanidade, logo a communitas destaca-se por ser espontânea, não normativa, existencial, dinâmica e não institucionalizada. O que une os sentimentos das pessoas na communitas é a humanidade e a sua maior função é a de juntar e integrar quem está presente. Situações como a de dramas sociais podem gerar communitas, sendo que, após ela pode haver, como já mencionamos, um retorno a estrutura ou a ruptura da mesma; apesar de sua rigidez, a estrutura também é suscetível a mudanças (Turner, 2008). 2

Nesse estudo entendemos o período do carnaval como a expressão de um drama social para a Nação do Maracatu Porto Rico. Antes de focalizar o drama em si precisamos definir a manifestação que protagoniza este drama. Maracatu-Nação ou maracatu de baque virado é uma manifestação popular afro-brasileira com forte presença no estado de Pernambuco. Essa manifestação denomina um ritmo que é produzido pela orquestra ou batuque, composta apenas de instrumentos de percussão, e também a dança executada ao som desse batuque. Geralmente os grupos de maracatu formam blocos de apresentação composto pelos batuqueiros (percussionistas) e pelos dançarinos, vestidos com trajes nobres, já que se trata de uma corte com rei, rainha, princesas, duques, etc. Os grupos se apresentam nas ruas da cidade e também em eventos particulares mas o evento mais importante é o Concurso das Agremiações Carnavalescas que ocorre no período do carnaval onde os grupos competem entre si, tendo seu desfile avaliado por uma comissão julgadora, composta pela elite intelectual local. Aquele que vencer será considerado o melhor dos grupos além de receber um prêmio em dinheiro. O drama em questão é a busca pelo título de campeã deste Concurso das Agremiações Carnavalescas promovido pela prefeitura do Recife. Turner afirma que os dramas sociais podem ser divididos em quatro fases: ruptura, crise, ação reparadora e desfecho (Turner, 2008). No caso estudado a ruptura ocorre uma semana antes do desfile das agremiações, quando a Nação Porto Rico realiza uma obrigação para o carnaval. Essa obrigação ocorre no terreiro (que é a sede da nação) e consiste numa série de sacrifícios e oferendas para as calungas do maracatu e para os santos da casa para que os mesmos tragam proteção para o maracatu e ajudem-no a vencer o concurso. Antes da obrigação os batuqueiros da nação ainda estão no estado de campeões ou perdedores do carnaval que ocorreu no ano anterior; agora um novo período se inicia, eles entram numa crise, pois, a validade do título do ano anterior se expirou, eles já não são nem campeões nem perdedores e, além disso tudo entram num resguardo que só irá se encerrar após a contagem de pontos e o resultado do concurso. O desfile do carnaval se trata da ação reparadora da crise pois é ele que poderá trazer a resolução do drama, ou seja, a conquista do título. Por fim o desfecho ocorre com a divulgação do resultado do concurso onde pode ocorrer uma mudança de status dos batuqueiros, que de 3

campeões do ano anterior passam a ser perdedores do ano corrente ou uma continuidade, ou seja, a manutenção do mesmo status do ano anterior. O desfecho traz consigo também uma situação de communitas, independente do resultado. Se o grupo for campeão uma grande festa é realizada na sede da nação onde todos celebram juntos a vitória e caso o grupo não seja o vencedor as pessoas permanecem unidas na tristeza, abraçando-se e se consolando mutuamente durante o resto do dia. Em ambos os casos o sentimento que une a todos é espontâneo e humano e as posições de cada um dentro do grupo são momentaneamente esquecidas, ou seja, há uma suspensão da estrutura. Já a estrutura é afirmada no drama no momento do desfile pois nele percebemos que cada indivíduo tem seu lugar demarcado no grupo com diferença de prestígio entre as posições; alguns são príncipes e outros vassalos. Sendo assim a estrutura social do grupo tanto no maracatu quanto no terreiro é rígida, desigual e hierárquica. Observamos que com o término do drama, apesar do status dos indivíduos ter a chance de ser alterado, a estrutura do grupo continua a mesma, a ordem corrente é reafirmada. Percebemos que um drama social é um meio de se revelar visões de mundo e também a organização social de um grupo. Ele enfatiza fenômenos descontínuos e desarmônicos que emergem na sociedade e pode ser expresso por meio de performances, como é o caso do drama estudado. Turner entende por performance eventos como teatro, música, festa, dança, manifestações étnicas e também rituais, ele inclusive afirma que rituais podem emergir de drama sociais como forma de ação reparadora (Turner, 2008) que é exatamente o que observamos no ritual do desfile da nação Porto Rico. O desfile é a chave para a reparação da crise que se inicia antes do carnaval. Em seus estudos Turner desenvolveu uma vasta teoria acerca da análise de rituais. O antropólogo acredita que os rituais, através dos símbolos articulados por meio deles, reforçam os valores e a solidariedade social (Turner, 2005). Ele ainda afirma que símbolos rituais são polissêmicos, ou seja, podem condensar diferentes significados, além de serem classificados como símbolos dominantes ou instrumentais. Os símbolos dominantes são aqueles que possuem um alto grau de autonomia dentro do ritual e que podem ser analisados 4

sem levar em conta sua ordem de aparecimento num dado ritual, como fins em si mesmos, enquanto representativos dos valores axiomáticos da sociedade em questão. Já os símbolos instrumentais devem ser vistos em relação ao seu contexto mais amplo, isto é, ao sistema total de símbolos que constitui um dado tipo de ritual (Turner, 2005:63) os símbolos instrumentais são meios para atingir o objetivo de um ritual. O desfile da Nação Porto Rico é repleto de simbolismo. Um de seus símbolos dominantes é o título de campeã do carnaval, ele por si só representa o objetivo do ritual. O ritual estudado também é repleto de símbolos instrumentais. O carnaval possui símbolos para trazer proteção como é o caso das calungas, dos orixás, dos lanceiros e do Caboclo de Pena, símbolos de poder e prestígio como a realeza, a nobreza e os vassalos e símbolos que trazem legitimidade ao grupo como o estandarte. Sendo assim podemos observar que, como já foi mencionado, os símbolos instrumentais são meios auxiliares para se atingir o objetivo do ritual. A polissemia dos símbolos pode ser observada através do título que simboliza prestígio, a união do grupo (já que essa conquista é resultado de um esforço coletivo) e também sua estrutura hierárquica (já que no desfile as pessoas ocupam papéis diferentes com importâncias diferentes). Percebemos que momentos extra cotidianos de crise como os expressos nos dramas sociais tem muito a nos revelar sobre os valores de uma sociedade. Turner, durante toda sua obra, teve um forte interesse em momentos de ruptura e suspensão do cotidiano acreditando que essas situações dramáticas são inerentes as sociedades e que através de performances como os rituais, por exemplo, onde o drama é apresentado muitas vezes de forma acentuada, existe a possibilidade de uma ação reparadora para a crise, ocorrendo então uma compensação. Deste modo, ao analisarmos o drama vivido pelos maracatuzeiros da Nação Porto Rico durante o carnaval observamos como ele é importante para a manutenção da estrutura do grupo e para o reforço de seus valores e crenças. O ritual expressa a força da coletividade, reforça as posições que cada indivíduo possui dentro do grupo e também a importância das obrigações religiosas para o restabelecimento da ordem social. 5

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TURNER, Victor. Florestas de Símbolos: Aspectos do Ritual Ndembu. Niterói: EdUFF, 2005. TURNER, Victor. Dramas, Campos e Metáforas: Ação Simbólica na Sociedade Humana. Niterói: EdUFF, 2008. Anna Beatriz Zanine Koslinski biazk@hotmail.com 6